Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

João Paulo II: Festa litúrgica a 22 de outubro

por Zulmiro Sarmento, em 18.04.11

Vaticano escolhe data da Missa de início de pontificado do futuro beato, eleito Papa em 1978

 

Cidade do Vaticano, 12 abr 2011 (Ecclesia) – O Vaticano escolheu o dia 22 de outubro para a celebração da memória litúrgica do futuro beato João Paulo II, inicialmente na diocese de Roma e dioceses da Polónia.

A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (CCDDS) publicou na segunda-feira um decreto sobre esta matéria, indicando como data da celebração litúrgica do Papa polaco o dia da Missa de início de pontificado de Karol Wojtyla (1920-2005), eleito em 1978.

A beatificação, que antecede a canonização (declaração de santidade), é o rito através do qual a Igreja Católica propõe uma pessoa como modelo de vida e intercessor junto de Deus, ao mesmo tempo que autoriza o seu culto público, normalmente em âmbito restrito.

João Paulo II vai ser beatificado no próximo dia 1 de maio, no Vaticano, numa cerimónia presidida por Bento XVI, o que acontece pela segunda vez no atual pontificado, dado que o Papa, por norma, apenas preside a canonizações.

O decreto da CCDDS dispõe um calendário próprio para a diocese de Roma (da qual todos os Papas são bispos) e as dioceses da Polónia (país natal de João Paulo II), regulando o “culto litúrgico” ao futuro beato.

A Santa Sé refere ainda que outras conferências episcopais, dioceses ou famílias religiosas podem apresentar um “pedido de inscrição” desta memória litúrgica nos seus calendários próprios.

No documento, admite-se o “caráter de excecionalidade” de que se reveste esta beatificação, pelo que a Santa Sé vai permitir que, no primeiro ano após esta cerimónia, seja possível celebrar uma “Missa de agradecimento a Deus” em locais e dias “significativos”, por decisão de cada bispo diocesano.

No último dia 14 de janeiro, Bento XVI aprovou a publicação do decreto que comprova um milagre atribuído à intercessão de João Paulo II, concluindo assim o processo para a sua beatificação do Papa polaco, que liderou a Igreja Católica entre 1978 e abril de 2005, quando faleceu.

A cerimónia vai ter lugar no Vaticano, no primeiro domingo depois da Páscoa, dia que o próprio João Paulo II dedicou à celebração da Divina Misericórdia.

OC

ECCLESIA

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:06

Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da Beatificação do Papa João Paulo II

por Zulmiro Sarmento, em 28.03.11

 

1.    Os santos actualizam o Evangelho

No próximo dia 1 de Maio, a Igreja vai beatificar o Papa João Paulo II. A beatificação de alguém é a celebração agradecida pela vida e testemunho cristãos de um homem ou de uma mulher, proclamando a sua virtude e oficializando o seu culto público. Reconhecido o seu alto grau de santidade, isto é, provadas as suas «virtudes heróicas» e confirmadas por um milagre, a pessoa beatificada é proposta à veneração dos crentes como modelo, estímulo e intercessora junto de Deus.

Só Deus é verdadeiramente Santo. Mas todos os baptizados tornam-se «santos», como com toda naturalidade lhes chama S. Paulo nas suas cartas, por participação na vida e santidade de Cristo. No amor e na fidelidade ao Espírito Santo e à missão recebida da Igreja, a santidade original reflecte-se na santidade de carácter moral, que é um caminho feito de entrega e aperfeiçoamento espiritual no serviço de Deus e do próximo. É essa santidade que a Igreja, tantas vezes ao longo dos séculos, propõe aos contemporâneos e vindouros, como testemunho de qualidade humana e desafio de crescimento, como nos recorda o Concílio Vaticano II: «Todos os cristãos são chamados à santidade e obrigados a tender à perfeição do próprio estado de vida» (LG, 42). O viver cristão é um caminho de perfeição, que leva à felicidade verdadeira.

Cada santo, a seu modo e no seu tempo, distingue‑se pelo grau elevado da sua comunhão pessoal com Cristo, que se revela sempre de um modo único e diferente, conforme os carismas e caminhos próprios com que respondeu à graça e aos sinais dos tempos.

Ao beatificar João Paulo II, a Igreja está a sublinhar certos traços de uma santidade particular, considerando que não só merece ser conhecida e admirada, como pode ser luz que guia e estimula a prosseguir nos caminhos da conversão ao amor de Deus e do serviço aos homens e mulheres dos nossos dias.

2.    Santidade: graça e liberdade em diálogo

Todos os santos foram pessoas que se tornaram notáveis sinais da presença de Deus, pela forma como responderam aos desafios da sua época. Esses nossos contemporâneos são muitas vezes gente comum e nem sempre são logo reconhecidos como quem está reflectindo o amor de Deus. Há, certamente, inumeráveis «santos desconhecidos», fora dos catálogos oficiais. Mas, quando conhecidos, logo nos apercebemos que as suas vidas adquiriram tal elevação que podem inspirar, de modo universal, os ideais cristãos de transformação do mundo em Reino de Deus, seja qual for o tempo e a geografia.

A santidade é fruto da relação entre a Graça de Deus e a Liberdade humana. Esse diálogo, cheio de mistério e de comunhão, exige sempre mais despojamento do próprio «eu», aumentando o ânimo para agir. É próprio do amor, dado e recebido, libertar a liberdade. A pessoa assim tocada nas suas actividades e passividades revela como o amor de Deus continua actuante e actual, vindo através dela, frágil instrumento, ao encontro das alegrias e tristezas de todos os que procuram a luz, a paz e o sentido da existência.

O santo é um pecador de tal modo agraciado e libertado que se tornou para o mundo um sinal de esperança e revelação de um Deus vivo com quem se pode contar, porque Ele conta connosco.

A vida do Papa João Paulo II é, sem dúvida, um desses sinais irradiantes de esperança.

3.    Traços da santidade de João Paulo II

Entre tantas qualidades e virtudes, apontamos quatro grandes traços da personalidade e da missão do Papa João Paulo II, indicando como nele se actualizou o Evangelho de Jesus Cristo.

3.1. Homem de intensa vida interior que se comunica

Quem não se lembra do modo intenso e profundo como celebrava a Eucaristia, como se recolhia longamente em oração, onde quer que chegasse, e a devoção com que falava espontaneamente de Cristo e de Nossa Senhora?

Ao mesmo tempo, manifestava uma invulgar capacidade de comunicação pessoal, tanto diante das multidões, como em particular, atraindo magneticamente tantos jovens, entre os quais muitos que se afirmavam estar distantes da Igreja.

A 14 de Maio de 1982, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, João Paulo II assim se dirigia aos jovens: «É sabido como sois sensíveis à tensão entre o bem e o mal que existe no mundo e em vós próprios… Contudo, caros jovens, para além destas tensões, possuís uma aptidão quase conatural para evangelizar. Porque a evangelização não se faz sem entusiasmo juvenil… sem alegria, esperança, transparência, audácia, criatividade, idealismo… Sim, a vossa sensibilidade e a vossa generosidade espontânea, a tendência para tudo o que é belo, tornam cada um de vós um aliado natural de Cristo… Só em Cristo encontrareis resposta aos próprios problemas e inquietações. E sabeis porquê: ele foi o homem que mais amou». E, no dia seguinte ao chegar a Coimbra, não hesitou em pôr aos ombros a capa preta que um estudante lhe ofereceu e, no pátio da Universidade, gritou à multidão: «Olá, malta! O Papa conta convosco! Melhor, Cristo conta convosco!».

 3.2. Profeta de audazes intervenções em nome da justiça e da paz

Nas primeiras palavras que disse ao povo reunido na Praça de S. Pedro, logo depois de ser eleito Papa, assim nos exortou: «Não tenhais medo!». E ele foi um homem sem medo, ao enfrentar muitas e difíceis situações políticas, sociais e morais, intervindo desassombradamente. Foi um homem corajosamente sem medo em relação às políticas internacionais, nomeadamente do Leste europeu. Não restam dúvidas acerca do seu papel na queda de regimes comunistas totalitários, na promoção dos direitos humanos e na defesa da vida e dos valores morais. Apontando sempre caminhos de reconciliação e paz, viajou por todo o mundo, correndo todos os riscos, na actualização da missão de Jesus Cristo, em incansáveis acções de nova evangelização.

3.3.   Servidor do amor e ternura pelos mais fracos e do perdão aos inimigos

João Paulo II manifestou sempre uma particular atenção e carinho para com as crianças, os mais pobres e frágeis. Era comovente quando, cheio de alegria e seriedade, ultrapassava o protocolo e tocava nas crianças e doentes. Mas deve sublinhar‑se aqui o gesto mais audazmente evangélico: a visita ao seu próprio agressor, na prisão, e a longa conversa que manteve com ele, num gesto ousado de perdão, repleto da compaixão de Deus amor.

 3.4.  Testemunha da alegria na saúde e na doença, com máximo respeito pela vida

Por fim, destacamos o modo humilde e sereno como encarou a sua doença, a aceitação da sua imagem desfigurada, e a própria incapacidade de falar, sem vergonha de apresentar a sua verdade publicamente, solidário com todos os que sofrem.

Lutou até ao fim sem desistir de estar presente para comunicar a fé, a certeza do amor de Deus, em todas as circunstâncias, mesmo naquelas que o mundo já não quer ver ou a que retirou a dignidade. Todas estas limitações são aceites por um homem com um passado em que cultivou a arte e o desporto, com saúde robusta e temperamento forte. Mesmo já gravemente doente e na despedida deste mundo, deu-nos eloquentes lições, como mestre e pastor até ao fim.

 4.    A santidade ao alcance de todos

O Papa, que agora vai ser beatificado, assim nos exortava numa Carta apostólica à entrada do novo milénio: «Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta “medida alta” da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direcção» (NMI, 31). A santidade não está reservada a um grupo restrito de génios e heróis da virtude. Com a graça de Deus, está ao alcance de todos dar alta qualidade de amor à vida comum.

A beatificação do Papa João Paulo II é um chamamento e uma oferta que a Igreja faz a todos os homens e mulheres de boa vontade. Somos convidados a dar graças a Deus pela vida e acção deste Papa, por todo o bem e estímulo que nos continua a transmitir pelo seu exemplo e intercessão.

Somos também convidados a agradecer e a acolher a bondade de Deus que, mais uma vez, se revela atento às nossas necessidades e alegrias, tristezas e esperanças, suscitando sempre, no momento certo, pessoas disponíveis a apontar, de forma renovada, Jesus Cristo, caminho seguro, verdade luminosa e vida abundante.

5.    Celebração nacional em Fátima

Para além das iniciativas que as diversas comunidades cristãs acharem por bem promover, os Bispos portugueses convidam os fiéis a associar‑se à comemoração, a nível nacional, da Beatificação do Papa João Paulo II, que terá lugar em Fátima, no próximo dia 13 de Maio.

João Paulo II cultivou uma devoção autenticamente cristã a Nossa Senhora, tornando vida a sua divisa episcopal: «Totus tuus. Todo teu. Tudo o que tenho vos pertence. Sois todo o meu bem. Dai‑me o vosso coração». É considerado o Papa de Fátima, que um ano depois do atentado na Praça de S. Pedro, em Roma, a 13 de Maio de 1981, veio à Cova da Iria agradecer à Rainha da Paz o ter providencialmente sobrevivido.

Que Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, nos inspire a progredir nos caminhos da santidade, a que Deus nos chama na vida comum do nosso quotidiano. 

Fátima, 14 de Março de 2011

ECCLESIA

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:33

Santo António nas palavras de Bento XVI

por Zulmiro Sarmento, em 13.06.10

Catequese sobre o Santo português, um dos «mais populares de toda a Igreja Católica»

 

Gostaria de falar de outro santo pertencente à primeira geração dos Frades Menores: António de Pádua ou, como é também chamado, de Lisboa, referindo-se à sua cidade natal.

Trata-se de um dos santos mais populares de toda a Igreja Católica, venerado não só em Pádua, onde foi construída uma maravilhosa Basílica que conserva os seus despojos mortais, mas em todo o mundo. São queridas aos fiéis as imagens e as imagens que o representam com o lírio, símbolo da sua pureza, ou com o Menino Jesus no colo, em recordação de uma milagrosa aparição mencionada por algumas fontes literárias.

António contribuiu de modo significativo para o desenvolvimento da espiritualidade franciscana, com os seus salientes dotes de inteligência, equilíbrio, zelo apostólico e, principalmente, fervor místico.

Nasceu em Lisboa numa família nobre, por volta de 1195, e foi baptizado com o nome de Fernando. Uniu-se aos cónegos que seguiam a regra monástica de Santo Agostinho, primeiro no mosteiro de São Vicente em Lisboa e, sucessivamente, no da Santa Cruz em Coimbra, famoso centro cultural de Portugal.

Dedicou-se com interesse e solicitude ao estudo da Bíblia e dos Padres da Igreja, adquirindo aquela ciência teológica que fez frutificar na actividade do ensino e da pregação. Aconteceu em Coimbra o episódio que contribuiu para uma mudança decisiva na sua vida: ali, em 1220 foram expostas as relíquias dos primeiros cinco missionários franciscanos, que tinham ido a Marrocos, onde encontraram o martírio.

A sua vicissitude fez nascer no jovem Fernando o desejo de os imitar e de progredir no caminho da perfeição cristã: então, pediu para deixar os Cónegos agostinianos e para se tornar Frade Menor. O seu pedido foi aceite e, tomando o nome de António, partiu também ele para Marrocos, mas a Providência divina dispôs de outro modo.

Após uma doença, foi obrigado a partir para a Itália e, em 1221, participou no famoso "Capítulo das Esteiras" em Assis, onde encontrou também São Francisco. Em seguida, viveu algum tempo no escondimento total num convento de Forli, no norte da Itália, onde o Senhor o chamou para outra missão.

Enviado, por circunstâncias totalmente casuais, a pregar por ocasião de uma ordenação sacerdotal, mostrou ser dotado de ciência e eloquência, e os Superiores destinaram-no à pregação.

Começou assim na Itália e na França, uma actividade apostólica tão intensa e eficaz que induziu muitas pessoas que se tinham afastado da Igreja a reconsiderar a sua decisão. António foi também um dos primeiros mestres de teologia dos Frades Menores, ou até o primeiro.

Iniciou o seu ensino em Bolonha, com a bênção de São Francisco, o qual, reconhecendo as virtudes de António, lhe enviou uma breve carta, que iniciava com estas palavras: "Agrada-me que ensines teologia aos frades".

António lançou as bases da teologia franciscana que, cultivada por outras insignes figuras de pensadores, teria conhecido o seu ápice com São Boaventura de Bagnoregio e com o beato Duns Escoto.

Tornando-se Superior dos Frades Menores da Itália setentrional, continuou o ministério da pregação, alternando-o com as funções de governo. Concluído o cargo de Provincial, retirou-se para perto de Pádua, aonde já tinha ido outras vezes. Após um ano, faleceu nas portas da cidade, a 13 de Junho de 1231.

Pádua, que o tinha acolhido com afecto e veneração durante a vida, tributou-lhe para sempre honra e devoção. O próprio Papa Gregório IX, que depois de o ter ouvido pregar o tinha definido "Arca do Testamento", canonizou-o só um ano depois da morte, em 1232, também após os milagres que se verificaram por sua intercessão.

Sermões

No último período de vida, António pôs por escrito dois ciclos de "Sermões", intitulados respectivamente "Sermões dominicais" e "Sermões sobre os Santos", destinados aos pregadores e aos professores dos estudos teológicos da Ordem franciscana.

Nestes Sermões ele comentava os textos da Escritura apresentados pela Liturgia, utilizando a interpretação patrístico-medieval dos quatro sentidos, o literal ou histórico, o alegórico ou cristológico, o antropológico ou moral, e o analógico, que orienta para a vida eterna.

Hoje redescobre-se que estes sentidos são dimensões do único sentido da Sagrada Escritura e que é justo interpretar a Sagrada Escritura procurando as quatro dimensões da sua palavra. Estes Sermões de Santo António são textos teológico-homiléticos, que reflectem a pregação bíblica, na qual António propõe um verdadeiro itinerário de vida cristã.

É tanta a riqueza de ensinamentos espirituais contida nos "Sermões", que o Venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou António Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de "Doutor evangélico", porque desses escritos sobressai o vigor e a beleza do Evangelho; ainda hoje os podemos ler com grande proveito espiritual.

Nestes Sermões Santo António fala da oração como de uma relação de amor, que estimula o homem a dialogar docilmente com o Senhor, criando uma alegria inefável, que suavemente envolve a alma em oração.

António recorda-nos que a oração precisa de uma atmosfera de silêncio que não coincide com o desapego do rumor externo, mas é experiência interior, que tem por finalidade remover as distracções causadas pelas preocupações da alma, criando o silêncio na própria alma.

Segundo o ensinamento deste insigne Doutor franciscano, a oração é articulada em quatro atitudes indispensáveis que, no latim de António, são assim definidas: obsecratio, oratio, postulatio, gratiarum actio. Poderíamos traduzi-las do seguinte modo: abrir com confiança o próprio coração a Deus; é este o primeiro passo do rezar, não simplesmente colher uma palavra, mas abrir o coração à presença de Deus; depois, dialogar afectuosamente com Ele, vendo-o presente comigo; e depois muito natural apresentar-lhe as nossas necessidades; por fim, louvá-lo e agradecer-lhe.

Caridade

Deste ensinamento de Santo António sobre a oração captamos uma das características específicas da teologia franciscana, da qual ele foi o iniciador, isto é, o papel atribuído ao amor divino, que entra na esfera dos afectos, da vontade, do coração, e que é também a fonte da qual brota uma consciência espiritual, que supera qualquer conhecimento. De facto, amando, conhecemos.

Escreve ainda António: "A caridade é a alma da fé, torna-a viva; sem o amor, a fé esmorece" (Sermomes Dominicales et Festivi II, Messaggero, Pádua 1979, p. 37).

Só uma alma que reza pode realizar progressos na vida espiritual: é este o objecto privilegiado da pregação de Santo António. Ele conhece bem os defeitos da natureza humana, a nossa tendência a cair no pecado, e portanto exorta a continuar a combater a inclinação da avidez, do orgulho, da impureza, e a praticar as virtudes da pobreza e da generosidade, da humildade e da obediência, da castidade e da pureza.

No início do século XIII, no contexto do renascimento das cidades e do florescer do comércio, crescia o número de pessoas insensíveis às necessidades dos pobres. Por este motivo, António convidou várias vezes os fiéis a pensar na verdadeira riqueza, a da cruz, que tornando bons e misericordiosos, faz acumular tesouros para o Céu. "Ó ricos assim exorta ele tornai-vos amigos... dos pobres, acolhei-os nas vossas casas: serão depois eles, os pobres, quem vos acolherão nos eternos tabernáculos, onde há a beleza da paz, a confiança da consciência, a opulenta tranquilidade da eterna saciedade" (Ibid., p. 29).

Não é porventura este, queridos amigos, um ensinamento muito importante também hoje, quando a crise financeira e os graves desequilíbrios económicos empobrecem não poucas pessoas, e criam condições de miséria?

Na minha Encíclica Caritas in veritate recordo: "A economia tem necessidade da ética para o seu correcto funcionamento não de uma ética qualquer, mas de uma ética amiga da pessoa" (n. 45).

Crucifixo

António, na escola de Francisco, coloca sempre Cristo no centro da vida e do pensamento, da acção e da pregação. Esta é outra característica típica da teologia franciscana: o cristocentrismo. Ela contempla benevolamente, e convida a contemplar, os mistérios da humanidade do Senhor, o homem Jesus, de modo particular, o mistério da Natividade, Deus que se fez Menino, se entregou nas nossas mãos: um mistério que suscita sentimentos de amor e de gratidão para com a bondade divina.

Por um lado a Natividade, ponto central do amor de Cristo pela humanidade, mas também a visão do Crucifixo inspira em António pensamentos de reconhecimento para com Deus e de estima pela dignidade da pessoa humana, de modo que todos, crentes e não-crentes, possam encontrar no Crucificado e na sua imagem um significado que enriquece a vida.

Escreve Santo António: "Cristo, que é a tua vida, está pendurado diante de ti, para que tu olhes para a cruz como para um espelho. Nela poderás conhecer quanto mortais foram as tuas feridas, que nenhum remédio teria podido curar, a não ser o do sangue do Filho de Deus. Se olhares bem, poderás dar-te conta de como são grandes a tua dignidade humana e o teu valor... Em nenhum outro lugar o homem pode aperceber-se melhor do seu valor, a não ser olhando para o espelho da cruz" (Sermones Dominicales et Festivi III, pp. 213-214).

Meditando estas palavras podemos compreender melhor a importância da imagem do Crucifixo para a nossa cultura, para o nosso humanismo nascido da fé cristã. Precisamente olhando para o Crucifixo vemos, como diz Santo António, como é grande a dignidade humana e o valor do homem.

Em nenhum outro ponto se pode compreender quanto o homem vale, precisamente porque Deus nos torna tão importantes, nos vê tão importantes, que somos, para Ele, dignos do seu sofrimento; assim, toda a dignidade humana aparece no espelho do Crucifixo e olhar em sua direcção é sempre fonte do reconhecimento da dignidade humana.

 

Queridos amigos, possa António de Pádua, tão venerado pelos fiéis, interceder pela Igreja inteira, e sobretudo por aqueles que se dedicam à pregação; oremos ao Senhor para que nos ajude a aprender um pouco desta arte de Santo António.

Os pregadores, inspirando-se no seu exemplo, tenham a preocupação de unir doutrina sólida e sã, piedade sincera, incisiva na comunicação. Neste Ano sacerdotal, rezemos para que os sacerdotes e os diáconos desempenhem com solicitude este ministério de anúncio e de actualização da Palavra de Deus aos fiéis, sobretudo através das homilias litúrgicas. Sejam elas uma apresentação eficaz da eterna beleza de Cristo, precisamente como António recomendava: "Se pregas Jesus, Ele comove os corações duros; se o invocas, alivia das tentações amargas; se o pensas, ilumina o teu coração; se o lês, sacia-te a mente" (Sermones Dominicales et Festivi III, p. 59).

(Audiência geral de 10 de Fevereiro de 2010.Títulos da nossa responsabilidade)

in ECCLESIA   

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:05

Dos Santos aos Fiéis Defuntos

por Zulmiro Sarmento, em 01.11.09

Celebrações marcam profundamente a religiosidade dos portugueses

A proximidade destes dois dias do princípio de Novembro, respectivamente o dia 1 e 2 deste mês, levou a que frequentemente se imagine que se trata de uma única celebração em dois dias consecutivos. No entanto, não é assim, embora cada um destes dois dias tenha muito de comum, que é a celebração do mistério da vida para além da morte e a esperança de nela tomarmos parte, como membros do mesmo e único Corpo de Cristo.
Os Santos sempre foram celebrados desde o princípio do Cristianismo, particularmente os Mártires. As Igrejas do Oriente foram as primeiras (século IV) a promover uma celebração conjunta de todos os Santos quer no contexto feliz do tempo pascal quer na semana imediatamente a seguir. Os santos - com destaque para os mártires - são, de facto, modelo sublime de participação no mistério pascal.
No Ocidente, foi o Papa Bonifácio IV a introduzir uma celebração semelhante em 13 de Maio de 610, quando dedicou à santíssima Virgem e a todos os mártires o Panteão de Roma, dedicação essa que passou a ser comemorada todos os anos. A partir destes antecedentes, as diversas Igrejas começaram a celebrar em datas diferentes celebrações com idêntico conteúdo. Os irlandeses, por exemplo, celebravam em 20 de Abril uma festa em honra de todos os Santos da Europa.
A data de 1 de Novembro foi adoptada primeiro na Inglaterra do século VIII acabando por se generalizar progressivamente no império de Carlos Magno (influência de Alcuíno, que era inglês), tornando-se obrigatória no reino dos Francos no tempo de Luís, o Pio (835), talvez a pedido do Papa Gregório IV. Na solenidade de todos os Santos, a Igreja propõe-se esta visão da glória, às portas do inverno, para que, com o cair das folhas das árvores e o apagar-se gradual da luz do dia, não esmoreça nos seus filhos a esperança da vida e da vida plena em Deus, onde os Santos são para nós ainda peregrinos na Terra, um estímulo e um contínuo convite a que desejemos, para além da morte, a vida eterna em Deus.
O dia de Todos os Santos é, por isso, um dia de festa que não deve ser ofuscada pela celebração do dia que se lhe segue. A comemoração de todos os Fiéis Defuntos nasceu, no entanto, em ligação com a celebração do dia anterior, e muito naturalmente, pois que também nela se celebra a vida para além da morte, na esperança da ressurreição do último dia.
O dia chama-se Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, depois de Todos os Santos, todos os que partiram deste mundo, marcados com o sinal da fé e esperam ainda a purificação total para poderem chegar à visão de Deus.
O nome tradicional para falar dos que partiram é Defuntos - palavra que significa os que deixaram a sua "função" , a sua actividade terrena e que não devem ser chamados "Finados", palavra de sabor pagão, que significaria os que chegaram ao fim de tudo quanto é vida, onde não haveria lugar para "a vida do mundo que há-de vir", como professamos no Credo. Foi o Abade de Cluny, S. Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem - e eram muitos e influentes - se fizesse a comemoração de todos os defuntos «desde o princípio até ao fim do mundo» no dia a seguir ao da solenidade de todos os Santos.
Este costume depressa se generalizou. Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar 3 missas em 2 de Novembro, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia. Durante a primeira Grande Guerra, o Papa Bento XV generalizou esse uso a toda a Igreja (1915).
O Calendário de 1969 equipara a Comemoração às Solenidades, dando-lhe precedência sobre os domingos. Também a sucessão dos dois dias litúrgicos insinua esta íntima ligação dos dois cultos: a Igreja pretende abraçar todos os cristãos que já concluíram a sua peregrinação terrena, a começar por aqueles nos quais já se cumpriu integralmente o mistério pascal com o triunfo da ressurreição de Jesus Cristo.
 
ECCLESIA

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:35

Um nicho a São Pedro, no lugar do Porto Novo, em São Mateus do Pico, a 17 de Outubro de 2009, pelas 18 horas

por Zulmiro Sarmento, em 21.10.09

 

Nota: no sítio www.radiopico.com mais informações

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:31

Quantas invocações tem hoje, 8 de Setembro, no calendário litúrgico, a Mãe do Céu no dia da sua Natividade!... Senhora da Piedade, Senhora da Boa Nova...

por Zulmiro Sarmento, em 08.09.09

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:29

INÍCIO DO «ANO SACERDOTAL»

por Zulmiro Sarmento, em 19.06.09

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 08:15

Hoje, a Igreja e Portugal (menos os jacobinos e anticlericais que formam o "saco de gatos assanhados" que dá pelo nome de Bloco de Esquerda e a imprescindível Associação dos Ateus) estão em Festa - sobretudo o lugar da Mirateca, Candelária, Pico

por Zulmiro Sarmento, em 26.04.09

 

     SÃO NUNO DE SANTA MARIA

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 08:30

SANTA MARIA DE AGOSTO

por Zulmiro Sarmento, em 14.08.08

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 23:32

SÃO VALENTIM - Padroeiro dos (e)namorados

por Zulmiro Sarmento, em 14.02.08

           Terni é uma cidade italiana que fica a uma hora de distância de Roma viajando de autocarro. Na sua catedral conservam-se os restos mortais de São Valentim que foi ali bispo no século III e que hoje é conhecido como padroeiro dos namorados.

     Aos muitos pares de namorados que acorrem no dia 14 de Fevereiro ao túmulo do santo para pedir a sua protecção, os vendedores ambulantes propõem que comprem flores vermelhas para recordar que São Valentim, segundo a tradição, colhia flores do seu jardim para oferecê-las aos visitantes.

     Segundo a lenda e a história da Igreja, Valentim casava secretamente os jovens cristãos contra a vontade do imperador Aurélio que pensava que os casados eram soldados pouco valentes e, por isso, proibiu aos jovens que se casassem. O bispo Valentim acreditava pelo contrário que o matrimónio fazia parte do plano de Deus para o mundo.

     Considerando o imperador cruel e injusto neste assunto, o santo bispo convidava os jovens namorados a dirigir-se em segredo à sua cidade para os unir em matrimónio. A importância da intervenção de Valentim e o resultado de uniões santas e felizes adquiriu tal fama que se viu obrigado a dedicar um dia no ano para uma bênção geral do matrimónio.

     Quando o imperador soube deste "amigo dos namorados", ordenou que o trouxessem ao seu palácio. Impressionado pela sua dignidade e pela convicção do jovem bispo, Aurélio procurou convertê-lo aos deuses pagãos romanos e assim salvá-lo de uma condenação certa. Valentim recusou renunciar ao cristianismo.

     Em Fevereiro de 273, Valentim foi torturado, lapidado e decapitado por ordem do prefeito romano Plácido Fúrio .

     Segundo se lê nas estampas que se vendem na cidade de Terni , a vida apostólica de Valentim, enobrecida pelo martírio, induziu em 1644, os cidadãos dessa cidade de Terni a proclamá-lo padroeiro da cidade e dos namorados.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 01:01


formar e informar

Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Maio 2017

D S T Q Q S S
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
28293031



Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2014
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2013
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2012
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2011
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2010
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2009
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2008
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2007
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D