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Sem pretendermos dar quaisquer lições, importa situar as ‘festas populares’ na sua componente religiosa como atos de cultura, incluindo vários aspetos da nossa linguagem mais ou menos inteletualizada, com recurso a certos tiques de mito e/ou inseridas na vertente ritual.
Num tempo como este que estamos a viver, designado de ‘crise’, as épocas de festa tornam-se como que catalisadores ou escapes da nossa vida pessoal e mesmo coletiva. O recurso à descontração gera, em nós e à nossa volta, novos comportamentos, nem sempre perceptíveis na sua singularidade.
De fato, é na dificuldade que se reúnem todas as forças para que sejamos capazes de refontalizar a nossa ‘personalidade coletiva’… mais abrangente e profunda.
= Manifestações da religiosidade popular
Partindo daquilo que se diz no Catecismo da Igreja Católica (n.º 1674 a 1676) como que podemos alicerçar a nossa convicção de que as festas religiosas manifestam «o sentimento religioso do povo cristão», tendo várias expressões desse sentimento – note-se que não se diz da racionalidade nem da emotividade – desde as mais comuns, como as visitas aos santuários, as peregrinações e as procissões até às mais populares, como as danças religiosas – veja-se a expressão do folclore e das suas letras – incluindo-se mesmo os momentos de via-sacra e as recordações trazidas/levadas dos lugares visitados ou outros objetos religiosos… normalmente benzidos.
Citando o Concílio Vaticano II, na constituição sobre a Liturgia Sacrosantum Concilium (n.º 13), o Catecismo refere que as festas religiosas ou manifestações da religiosidade popular «são um prolongamento da vida litúrgica da Igreja, mas não a substituem. ‘Devem ser organizadas, tendo em conta os tempos litúrgicos e de modo a harmonizarem-se com a liturgia, a dimanarem dela de algum modo e a nela introduzirem o povo; porque, por sua natureza, a liturgia lhes é, de longe, superior’».
Por seu turno, no Directório sobre a Piedade popular e liturgia (n.os 245 a 247), falando das procissões, refere-se: «na procissão, expressão cultual de carácter universal e de múltiplos valores religiosos e sociais, a relação entre a liturgia e a piedade popular reveste-se de particular relevo».
Será que temos tido para com as várias manifestações da religiosidade popular uma atenção ou uma desculpa? Não será que, muitas vezes, deixamos correr as coisas para não termos problemas, embora saibamos que nem tudo está correto? Até onde poderá ir a nossa intervenção delicada, serena e cuidadosa para que, em particular, as procissões possam ser manifestações de fé e não de mero folclore com cobertura religiosa, mas não cristã?
Tal como se diz no Catecismo, «para manter e apoiar a religiosidade popular, é necessário um discernimento pastoral», seja para purificar ou para corrigir «o sentimento religioso subjacente a essas devoções e para fazer progredir no conhecimento do mistério de Cristo».
Por outro lado, o Directório diz: «Nas suas formas genuínas, as procissões são manifestações da fé do povo e têm frequentemente conotações culturais capazes de despertar o sentimento religioso dos fiéis. Porém, do ponto de vista da fé cristã, as ‘procissões votivas dos santos’ [levando processionalmente as relíquias ou uma estátua ou uma efégie dos santos pelas ruas da cidade], tal como outros exercícios de piedade, estão expostas a alguns riscos e perigos», tal como serem preteridas aos sacramentos, sobrepondo-as como manifestações exteriores e confundindo-as com um mero espectáculo ou num acto folclórico...
Não basta trazer para a rua as imagens e deixar correr, pois muitos dos que participam e, por maior razão daqueles que assistem, nem conhecem os santos ou santas em desfile!
Citando novamente o Directório é urgente reconhecer, aceitar e aprender, pois «para que a procissão conserve o seu carácter genuíno de manifestação de fé, é necessário que os fiéis sejam instruídos sobre a sua natureza, do ponto de vista teológico, litúrgico e antropológico».
= Saber ‘por que vêm’ ou perceber ‘como vão’?
Esta frase como que pode resumir, numa breve avaliação, sobre as razões que fazem tantas pessoas – mais ou menos conscientemente – irem à procissão. Neste ‘irem’ tanto pode estar a participação ativa como o simples ato de ficar a ver a procissão.
É digno de ser questionado quem compõe a procissão. De fato, muitas vezes os intervenientes pode ser do foro interno da Igreja, que a sair para a rua se faz exterior ou ainda da instância não estritamente religiosa. Aqui poderá começar-se um diálogo com os ‘gentios’. Com efeito, as (ditas) ‘forças vivas’ da terra podem e devem participar na procissão como expressão da vida humana, social, psicológica e espiritual de um povo... para além da expressão religiosa... católica.
Cremos que todos quantos representem associações de valor humano, desportivo, cultural, de setores sociais relevantes (reformados ou jovens)...deviam ser abordados para integrarem a procissão, como espaço de fé, consciente ou difusa, mais ou menos cristã.
Poderiam até vestir as suas roupas mais significativas e/ou seus estandartes…Bastará reparar nos ranchos etnográficos, folclóricos… que tinham as vestes de festa, normalmente para participarem na missa e nas procissões de festa.
Este diálogo é urgente ser feito para que não nos escapem para outras ‘procissões’ políticas, sindicais e/ou partidárias!
= Desafios ao diálogo Igreja/mundo
O diálogo feito ou a fazer tem de primar pelo respeito mútuo e aberto. Ninguém gostará de ser chamado para servir de enfeite a uma iniciativa – seja da Igreja católica ou outra – só por deferência mais ou menos tolerada. Por outro lado, a presença num ato público de uma procissão não poderá ser como se pretendesse ir ou estar, mas antes tendo dignidade para o ato e para a função daquilo que é representado…
Apresentamos, seguidamente, breves propostas para um diálogo Igreja/mundo:
- Diálogo sincero – cada parte não deverá usar de subterfúgios para vencer o outro, pois quem for vencido fica inferiorizado e a perder... podendo, com isso, ser impedida a prossecução do diálogo e da proximidade encetados.
- Diálogo construtivo – cada um dá o que tem, esperando receber do outro em abertura e em simplicidade. Com efeito, há ‘sementes do Reino’ em tanta gente e em muitas associações… de bem-fazer, de benemerência e com valores cristãos… mais ou menos difusos.
- Diálogo evangelizador – ir ter com os outros, estendendo-lhes a mão há-de ser para anunciar, no tempo oportuno e sem medos, a Pessoa de Jesus. Não interessa fazer proselitismo, mas antes abrir caminhos de verdade. Com pouco se pode fazer muito e com muito menos se pode estragar o pouco iniciado. Talvez aqui se possa incluir essa atitude de São Paulo: ‘fiz tudo para todos para conquistar alguns a todo o custo’.
- Diálogo cultural – da conjugação entre contexto social, referências à tradição e dimensão espiritual (particularmente imbuída dos valores cristãos) há-de poder surgir a possibilidade de cada um respeitar o outro, fazendo de cada momento de festa uma etapa de crescimento à luz da Palavra do Evangelho.
Será, no ‘átrio dos gentios’, que se poderá perceber um tanto melhor quem está disponível para aprender, respeitando e para crescer, aprendendo... uns com os outros.
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
AGÊNCIA ECCLESIA
D. António Vitalino, bispo de Beja e presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, fala à Agência ECCLESIA da importância da religiosidade popular e do seu entendimento, à luz da fé e da necessidade de “festa” que é sentida por todos os seres humanos. Para este responsável, é fundamental que as duas dimensões se encontrem e se promova uma síntese que não deixe de lado a verdadeira motivação religiosa.
Agência ECCLESIA (AE) – Na estação do verão, as festas e procissões são uma constante nas paróquias portuguesas. Na linha do documento dos bispos «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal» o capítulo da religiosidade popular tem sido estudado? D. António Vitalino (AV) – A religiosidade popular tem de ser repensada e renovada. Com o fluxo dos tempos inserem-se aspetos que não provêm da inspiração evangélica. No entanto, não se pode colocar de lado que o homem necessita de festas, romarias e peregrinações. A religiosidade popular tem a particularidade de lhe dar esses símbolos concretos. Em Portugal realizam-se muitas festas, mas a principal procissão é a do «Corpo de Deus». A Eucaristia é o centro de toda a religiosidade cristã. Depois, vêm as festas de Nossa Senhora e em honra dos santos dos padroeiros. Todavia, nem sempre elas estão, totalmente, sintonizadas com o objetivo de honrar o padroeiro.
AE – Muitas vezes, o lado lúdico prevalece em relação à vertente religiosa. AV – O lado lúdico e cultural são necessários, mas as motivações das festas nem sempre são as mais corretas. Nem sempre, as pessoas que se juntam para uma festa têm mesma fé e visão festiva. Mas há uma coisa que as une: o desejo de conviver com os outros e de alegrar-se com as outras pessoas. Se repararmos, o Natal tem muita religiosidade popular à sua volta.
AE – Mas um Natal tem um momento preparatório – o Advento -, suponho que tal não acontece em relação às festas em honra do padroeiro? AV – Antigamente havia…. Nalguns lados ainda existe o tríduo preparatório, mas é concorrido por pouca gente. Noutros, a festa da Imaculada Conceição é preparada por uma novena. Prepara-se a festa mais do lado exterior (arranjos dos andores e outras coisas) do que do lado interior. O aspeto económico, cultural e lúdico prevalece.
AE – Os párocos estão sensibilizados para alterar a vertente preparatória da festa? AV – Alguns estão. Outros menos. É sempre altura de muito cansaço porque se acrescenta algo àquilo que é o dia a dia. Dada a escassez do clero, há muita dificuldade em encontrar padres disponíveis para ajudar.
AE – A diocese de Beja tem poucos padres. Como conseguem conciliar a vida pastoral do dia a dia com estes «extras»? AV – Alguns padres têm duas festas no mesmo dia. Às vezes, os párocos vizinhos dão uma ajuda, mas é impossível estar em simultâneo em dois lados. Após a Páscoa até meados de setembro há muitas festas em todo o Alentejo.
AE – E os cristãos conhecem a história do santo/a que celebram? AV – Alguns dos santos têm séculos e nem sempre se sabe a vida deles. Mas há aspetos que passaram para a mentalidade do povo e sabem, sobretudo, do que é que eles são padroeiros. Sabem que a Santa Bárbara é padroeira dos mineiros, São Sebastião é das pestes… Às vezes, fazem-se sermões à volta da vida do padroeiro, só que no ambiente de festa exterior nem tudo se ouve e percebe…
AE – É fundamental a renovação pastoral para que os cristãos sejam mais adultos na fé. AV – Neste repensar é preciso muito cuidado, sobretudo quando se mexe na religiosidade popular. Por vezes, as pessoas herdaram as tradições e não estão abertas à novidade. Dizem: «sempre foi assim e vai continuar assim». Este processo exige muito diálogo e preparação. É fundamental evitar tocar em aspetos sensíveis ou, então, explicar e ver se a reação é positiva. Outras vezes deve-se permutar com outro aspeto que seja mais realista. Não se deve entrar em choque.
AE – Não considera que o evangelho, muitas vezes, é servido de «forma enlatada» e sem novidade? AV – Na pastoral temos de usar os meios todos, mesmo os meios interativos. Confesso que faço muita coisa através do email porque é mais personalizado. Através deles faço formação e catequização.
AE – No entanto é urgente educar… AV – Às vezes acontecem problemas devido à educação rápida. Isto é um processo lento, visto que são tradições que cristalizaram durante séculos. Muitas vezes, as razões dos padres ainda não se tornaram as razões das pessoas. Faz parte da sensibilidade profunda religiosa das pessoas.
AE – A dimensão sacrificial ainda existe no povo? AV – Basta ver Fátima.
AE – Mas a realidade de Fátima é diferente AV – Nas procissões também temos pessoas que fazem promessas. Ainda existe o aspeto de sacrifício, mas nota-se que, atualmente, a devoção e religiosidade das pessoas não é tão profunda. Quando entregam esmolas ou velas é porque acharam que foi por intercessão do santo que se evitou tal mal ou curou-se tal doença.
AE – Nos momentos de crises, como o vivido atualmente, as promessas aumentam? AV – Se a crise atinge a pessoa e a família, as promessas aumentam. Tentam superar a crise através de promessas ou novenas.
AE – A região do Alentejo tem algum santo predileto? AV – É Nossa Senhora com os mais diferentes títulos: Conceição, Guadalupe, Cola, Penha, Graça e Carmo
AE – Os alentejanos são mais marianos do que cristológicos? AV – Maria está mais difundida no Alentejo, mas também existem muitas festas em honra do Santíssimo Sacramento. Na cidade de Beja, o «Corpo de Deus» é a festa por excelência. Nossa Senhora é aquela que tem mais festas nas paróquias. No entanto, no mês de maio e outubro introduziu-se muito a devoção a Nossa Senhora de Fátima.
AE – Quando se realizam as festas as igrejas estão cheias e nos outros domingos? AV – No Alentejo, as mulheres e crianças vão à igreja. Os homens ficam cá fora à espera da procissão. Por isso, não diria que no dia da festa tem muito mais gente na igreja. Os homens, quando as festas têm a parte folclórica, estão ocupados na organização.
AE – Essa é a dimensão do voluntariado. A igreja tem sensibilizado para esta área? AV – As festas trabalham muito com o voluntariado: limpar, organizar e adornar.
AE – A vivência da religiosidade popular não é o lado infantilizado da fé? AV – Não diria que é infantil, mas uma expressão – para alguns um pouco infantil ainda – adulta da fé. As pessoas saem do espaço litúrgico (do templo) e vão para a rua. Sabemos que em meios adversos as pessoas são apontadas.
AE – Ainda existe esse estigma? AV – No Alentejo sim. Em algumas partes criou-se a mentalidade que o homem não deve ir à igreja. Muitas vezes afirmo: “o alentejano fora do Alentejo é um cristão muito empenhado”. Basta ver na grande Lisboa e nas migrações, o empenho dos alentejanos.
AE – Têm medo de professar a sua fé? AV – As pessoas agem por motivações e pressões sociais. Evitamos fazer determinadas coisas quando somos marginalizados. Mas aqueles que participam mostram que são adultos e não têm medo de enfrentar as críticas.
AE – Quando se realiza a festa, as localidades recebem os «filhos da terra» que migraram. AV – Normalmente, os conterrâneos voltam a terra natal. Muitos, fazem questão de marcar as férias na altura das festas da sua terra. Outros marcam casamentos e batismos para esse tempo. Como estão ausentes muito tempo do ano, não recebem a catequização. Às vezes, «armam» conflitos porque não acompanharam o processo.
AE – Nesses casos, o bispo desempenha um papel moderador. AV – Recebo cartas, telefonemas e delegações. Em primeiro lugar, tenho de ouvir o padre e aconselhá-lo. Depois tento que as pessoas resolvam o problema em paz. Às vezes, os padres têm de ceder para evitar conflitos de maior. É um trabalho que temos de fazer ao longo do ano: formar e informar as pessoas sobre o evangelho.
Repensar a Pastoral AE – O documento «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal» foi publicado há cerca de um ano. Já existem diretivas após este tempo de reflexão? AV – As dioceses e grupos enviaram as respostas sobre as luzes e sombras pastorais até ao final de março. Na diocese de Beja – apesar de ser dispersa – convidámos os colaboradores de todas as paróquias (não apenas o conselho pastoral) para ouvir as suas propostas.
AE – O que retiraram desses trabalhos? AV – Em primeiro lugar, que a igreja tem de ouvir mais os leigos. Não pode ser o bispo a ditar ou o seu conselho presbiteral, mas coordenar. Temos de ouvir e assumir muita coisa porque Deus fala por todos.
AE – Essa é uma sombra que poderá tornar-se luz brevemente? AV – Poderá tornar-se luz se mudarmos a nossa prática pastoral. Os leigos não estão sempre disponíveis para tudo, mas temos alguns que colaboram e estão muito dispostos desde que sejam escutados.
AE – Que não sejam considerados cristãos de segunda? AV – De segunda ou «paus mandados». O padre não pode ser o «faz tudo». Mais vale fazer pouco, mas com os outros do que ir sozinho. Quando as pessoas ficam para trás, não se constrói igreja. A comunidade constrói-se com as pessoas. A igreja tem de agir de maneira sinodal. Os métodos de evangelização têm de mudar muito. Não podem ser só os tradicionais de debitar um catecismo ou uma homilia. Bento XVI falou-nos no «dinamismo dos movimentos». Se calhar temos de apostar no dinamismo da família, dos pequenos grupos e dos serviços. Por outro lado, temos de ultrapassar o juridismo e burocracia geográfica paroquial porque, atualmente, existe uma grande mobilidade humana.
AE – Perante estes dados, conclui-se que a igreja tem mesmo de repensar a sua pastoral? AV – Está na «Hora H». O II Concílio do Vaticano alertou-nos, mas essa renovação ficou muito no aspeto litúrgico. A vida cristã não é apenas o aspeto litúrgico. No acompanhamento da fé dos adultos e da família fizemos pouco. LFS |
No mesmo dia em que se celebra festivamente a Padroeira da Candelária, Nª. Sª. das Candeias, as freguesias de Santa Luzia e das Bandeiras, promovem a secular romaria penitencial desde as suas igrejas paroquiais até à Ermida do Cachorro, dedicada a Nª. Sª. dos Milagres. Esta Ermida data de 1682 alguns anos antes das últimas erupções vulcânicas nesta ilha que aqui recordo:
1718 - Erupção em Santa Luzia do Pico - A 1 de Fevereiro, pelas 6 da madrugada, ouviu-se uma "espantosa trovoada que encheu de terror os hortenses" e iniciou-se uma erupção vulcânica entre as Bandeiras e Santa Luzia, surgindo torrentes de lava que rapidamente formaram um extenso mistério (o Mistério de Santa Luzia) que penetrou mar adentro.
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Ainda em 1718 — Erupções em São Mateus e São João do Pico - Na madrugada do dia 2 de Fevereiro, com enormes estrondos acompanhados de violentos sismos deu-se uma explosão no lugar da Bragada, entre São Mateus e São João. Começou logo "o fogo a correr em caudalosas ribeiras para o mar, na distância de duas léguas, formando um vasto mistério". No dia 11 de Fevereiro rebentou no mar, à distância de 50 braças da terra, defronte da igreja de São João, emitindo grandes pedras ardentes que devastaram aquela freguesia. A 24 daquele mês, uma nova erupção iniciou-se no caminho que liga São João ao Cais do Pico em lugar sobranceiro à freguesia de São João. As erupções cessaram a 15 de Agosto, recomeçando em Setembro. A actividade terminou em princípios de Novembro.
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1720 — Erupção no Soldão, Lajes do Pico - A 10 de Julho iniciou-se por "dezasseis bocas nas faldas do Pico, por detrás do cabeço do Soldão" uma erupção que "inundou de fogo" perto de uma légua quadrada, consumindo terras e vinhedos e destruindo 30 casas "cujos moradores salvaram suas vidas fugindo precipitadamente". A erupção foi precedida de numerosos sismos e perdurou até Dezembro daquele ano.
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Ora foi a 2 de Fevereiro em angustia sofrida e desnorte completo, pois é-nos impossível sequer imaginar as condições de vida, de comunicações ou de primeiros socorros que esses nossos concidadãos de há quase trezentos anos, teriam ao seu dispor, ei-los com fervorosa fé cristã, a abeirarem-se das suas igrejas paroquiais e em romaria, levando em andor o senhor Crucificado, rumaram até à beira-costa em busca de algum conforto e consolação espiritual… entregando-se ao divino amparo da Senhora dos Milagres. Que mais poderiam fazer? Quem mais lhes acudiria? Que tremenda tragédia de vida terão sido esses dias, meses e anos até ao fim de 1720…
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Foi com esse espírito de honrar as suas memórias que durante as últimas décadas o amigo Comendador P. José Idalmiro, falecido em 2008, movimentou e motivou os cristãos destas comunidades a manterem viva esta peregrinação que culmina com missa acompanhada a cânticos pelas capelas das duas freguesias e pregação; no ano passado foi presidida pelo Ouvidor Padre Marco Martinho e este ano já teve a presidir o novo pároco destas freguesias Reverendo Padre Zulmiro Sarmento, perante várias dezenas de fiéis, que arrostaram com a chuva impiedosa até ao fim da celebração, já que muitos, diria a maioria, só conseguiram participar na celebração litúrgica fora de portas do pequeno templo. Mas digo-vos caros ouvintes que é das manifestações de fé mais marcantes e menos exteriorizadas a que tenho assistido a par de outra que se realiza na Ermida de Santa Catarina, nas Lajes, qualquer uma delas sempre no seu dia próprio o que, como é bom de ver, acontece quase sempre em dia de trabalho. Eram muitos os fieis de outras paróquias próximas e mesmo do sul da ilha. Poucos jovens, concerteza impossibilitados pelos seus afazeres escolares ou laborais, mas se é certo que daqui a vinte anos haverá na população portuguesa um jovem para dois idosos, talvez também seja uma certeza de que esses idosos continuaram a acorrer à Senhora dos Milagres, no Cachorro, em 2 de Fevereiro, honrando assim a memória dos nossos antepassados que nos legaram esta ilha que hoje e apesar de todos os condicionalismos que temos de suplantar, possui excelentes atributos, que a levam a ser considerada num patamar superior, a nível da qualidade de vida ambiental, que proporciona a quem aqui teima em continuar a viver…
(retirado do sítio www.adiaspora.com)
BÊNÇÃO DAS VELAS
DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
Esplanada do Santuário de Fátima
Quarta-feira, 12 de Maio de 2010
Queridos peregrinos,
Todos juntos, com a vela acesa na mão, lembrais um mar de luz à volta desta singela capelinha, amorosamente erguida em honra da Mãe de Deus e nossa Mãe, cujo caminho da terra ao céu foi visto pelos pastorinhos como um rasto de luz. Contudo nem Ela nem nós gozamos de luz própria: recebemo-la de Jesus. A sua presença em nós renova o mistério e o apelo da sarça ardente, o mesmo que outrora atraiu Moisés no monte Sinai e não cessa de fascinar a quantos se dão conta duma luz particular em nós que arde sem nos consumir (cf. Ex 3, 2-5). Por nós, não passamos de mísero silvado, sobre o qual pousou a glória de Deus. A Ele toda a glória, a nós a humilde confissão do próprio nada e a submissa adoração dos desígnios divinos que estarão cumpridos quando «Deus for tudo em todos» (cf. 1 Cor 15, 28). Serva incomparável de tais desígnios é a Virgem cheia de graça: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).
Queridos peregrinos, imitemos Maria, fazendo ressoar em nossa vida o seu «faça-se»! A Moisés, Deus ordenara: «Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é terra sagrada» (Ex 3, 5). E ele assim fez; calçará de novo as sandálias, para ir libertar o seu povo da escravidão do Egipto e conduzi-lo à terra prometida. Não se trata simplesmente da posse dum pedaço de terreno ou dum território nacional que cada povo tem o direito de ter; na luta pela libertação de Israel e no seu êxodo do Egipto, o que aparece primeiro é sobretudo o direito à liberdade de adoração, à liberdade de um culto próprio. No decorrer da história do povo eleito, a promessa da terra acabou por assumir cada vez mais este significado: a terra é dada para que haja um lugar da obediência, para que exista um espaço aberto a Deus.
No nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da terra, corre o perigo de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento, a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus. Não a um deus qualquer, mas àquele Deus que falou no Sinai; àquele Deus cujo rosto reconhecemos no amor levado até ao extremo (cf. Jo 13, 1) em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Queridos irmãos e irmãs, adorai Cristo Senhor em vossos corações (cf. 1 Ped 3, 15)! Não tenhais medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé, fazendo resplandecer aos olhos dos vossos contemporâneos a luz de Cristo, tal como a Igreja canta na noite da Vigília Pascal que gera a humanidade como família de Deus.
Irmãos e irmãs, neste lugar é impressionante observar como três crianças se renderam à força interior que as invadiu nas aparições do Anjo e da Mãe do Céu. Aqui, onde tantas vezes se nos pediu que rezemos o Terço, deixemo-nos atrair pelos mistérios de Cristo, os mistérios do Rosário de Maria. A oração do Terço permite-nos fixar o nosso olhar e o nosso coração em Jesus, como sua Mãe, modelo insuperável da contemplação do Filho. Ao meditar os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos ao longo das «Ave Marias», contemplamos todo o mistério de Jesus, desde a Encarnação até à Cruz e à glória da Ressurreição; contemplamos a participação íntima de Maria neste mistério e a nossa vida em Cristo hoje, também ela tecida de momentos de alegria e de dor, de sombras e de luz, de trepidação e de esperança. A graça invade o nosso coração no desejo de uma incisiva e evangélica mudança de vida de modo a poder proclamar com São Paulo: «Para mim viver é Cristo» (Fil 1, 21), numa comunhão de vida e de destino com Cristo.
Sinto que me acompanham a devoção e o afecto dos fiéis aqui reunidos e do mundo inteiro. Trago comigo as preocupações e as esperanças deste nosso tempo e as dores da humanidade ferida, os problemas do mundo e venho colocá-los aos pés de Nossa Senhora de Fátima: Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe querida, intercedei por nós junto de vosso Filho para que todas as famílias dos povos, quer as que se distinguem pelo nome cristão quer as que ainda ignoram o seu Salvador, vivam em paz e concórdia até se reunirem finalmente num só povo de Deus, para glória da santíssima e indivisível Trindade. Amen.
Celebrações marcam profundamente a religiosidade dos portugueses
![]() A proximidade destes dois dias do princípio de Novembro, respectivamente o dia 1 e 2 deste mês, levou a que frequentemente se imagine que se trata de uma única celebração em dois dias consecutivos. No entanto, não é assim, embora cada um destes dois dias tenha muito de comum, que é a celebração do mistério da vida para além da morte e a esperança de nela tomarmos parte, como membros do mesmo e único Corpo de Cristo. Os Santos sempre foram celebrados desde o princípio do Cristianismo, particularmente os Mártires. As Igrejas do Oriente foram as primeiras (século IV) a promover uma celebração conjunta de todos os Santos quer no contexto feliz do tempo pascal quer na semana imediatamente a seguir. Os santos - com destaque para os mártires - são, de facto, modelo sublime de participação no mistério pascal. No Ocidente, foi o Papa Bonifácio IV a introduzir uma celebração semelhante em 13 de Maio de 610, quando dedicou à santíssima Virgem e a todos os mártires o Panteão de Roma, dedicação essa que passou a ser comemorada todos os anos. A partir destes antecedentes, as diversas Igrejas começaram a celebrar em datas diferentes celebrações com idêntico conteúdo. Os irlandeses, por exemplo, celebravam em 20 de Abril uma festa em honra de todos os Santos da Europa. A data de 1 de Novembro foi adoptada primeiro na Inglaterra do século VIII acabando por se generalizar progressivamente no império de Carlos Magno (influência de Alcuíno, que era inglês), tornando-se obrigatória no reino dos Francos no tempo de Luís, o Pio (835), talvez a pedido do Papa Gregório IV. Na solenidade de todos os Santos, a Igreja propõe-se esta visão da glória, às portas do inverno, para que, com o cair das folhas das árvores e o apagar-se gradual da luz do dia, não esmoreça nos seus filhos a esperança da vida e da vida plena em Deus, onde os Santos são para nós ainda peregrinos na Terra, um estímulo e um contínuo convite a que desejemos, para além da morte, a vida eterna em Deus. O dia de Todos os Santos é, por isso, um dia de festa que não deve ser ofuscada pela celebração do dia que se lhe segue. A comemoração de todos os Fiéis Defuntos nasceu, no entanto, em ligação com a celebração do dia anterior, e muito naturalmente, pois que também nela se celebra a vida para além da morte, na esperança da ressurreição do último dia. O dia chama-se Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, depois de Todos os Santos, todos os que partiram deste mundo, marcados com o sinal da fé e esperam ainda a purificação total para poderem chegar à visão de Deus. O nome tradicional para falar dos que partiram é Defuntos - palavra que significa os que deixaram a sua "função" , a sua actividade terrena e que não devem ser chamados "Finados", palavra de sabor pagão, que significaria os que chegaram ao fim de tudo quanto é vida, onde não haveria lugar para "a vida do mundo que há-de vir", como professamos no Credo. Foi o Abade de Cluny, S. Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem - e eram muitos e influentes - se fizesse a comemoração de todos os defuntos «desde o princípio até ao fim do mundo» no dia a seguir ao da solenidade de todos os Santos. Este costume depressa se generalizou. Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar 3 missas em 2 de Novembro, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia. Durante a primeira Grande Guerra, o Papa Bento XV generalizou esse uso a toda a Igreja (1915). O Calendário de 1969 equipara a Comemoração às Solenidades, dando-lhe precedência sobre os domingos. Também a sucessão dos dois dias litúrgicos insinua esta íntima ligação dos dois cultos: a Igreja pretende abraçar todos os cristãos que já concluíram a sua peregrinação terrena, a começar por aqueles nos quais já se cumpriu integralmente o mistério pascal com o triunfo da ressurreição de Jesus Cristo. ECCLESIA |
Nota: no sítio www.radiopico.com mais informações