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15 DOENÇAS (CRÓNICAS, DE DIFÍCIL CURA). MAS FALTA A 16: TODAS AS 15 SÃO PARA O PADRE DA PARÓQUIA VIZINHA PORQUE NÃO SOFRO DELAS...

por Zulmiro Sarmento, em 07.01.15

No encontro de Natal com a Cúria Romana, o Papa Francisco elencou as 15 doenças que enfraquecem a Igreja e os homens que a formam. Um texto riquíssimo que se assume como verdadeiro exame de consciência.

1. Sentir-se imortal ou indispensável
“Uma cúria que não se autocritica nem se actualiza, que não procura melhorar é um corpo doente. O Papa recorda que uma visita aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver o nome de tantas pessoas que “talvez pensassem ser imortais, imunes às responsabilidades”. É uma doença daqueles que “se sentem superiores a todos e não ao serviço de todos. Deriva muitas vezes a patologia do poder, do “complexo dos Eleitos”, do narcisismo.

2. Excesso de activismo
A doença daqueles que, como Marta na passagem do Evangelho “se afundam no trabalho, negligenciando, a ‘parte melhor’; o sentar-se aos pés de Jesus. O Papa recorda que Jesus “chamou os seus discípulos a ‘descansar um pouco’ porque negligenciar o descanso conduz ao stress e à agitação.”

3. Petrificação mental e espiritual
Daqueles que “perdem a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e se escondem debaixo da correspondência transformando-se em ‘máquinas rotineiras’ e não em homens de Deus”, incapazes de “chorar com os que choram e rir com os que riem!”

4. Excessiva planificação
“Quando o apóstolo planifica tudo minunciosamente e acredita que assim as “coisas efectivamente progridem, transformando-se num contabilista. Preparar bem é necessário mas sem cair na tentação de querer controlar a liberdade do Espírito Santo… É sempre mais fácil e cómodo reclinar-se nas suas posições estáticas e imutáveis."

5. Falta de coordenação
É daqueles que “perdem o sentido da comunhão e o corpo perde a sua harmoniosa funcionalidade”, tornando-se “uma orquestra que produz ruído porque os seus membros não cooperam e não vivem o espírito de comunhão e equipa."

6. Alzheimer espiritual
Isto é, a “perda progressiva das faculdades espirituais” que “causa graves limitações às pessoas”, fazendo-as viver num “estado de absoluta dependência dos seus pontos de vista muitas vezes imaginários”. Esta doença identifica-se em quem “perdeu a memória” do seu encontro com o Senhor, em quem depende das suas “próprias paixões, caprichos e manias”, em quem “constrói à sua volta muros e hábitos.”

7. Rivalidade e vanglória
“Quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias se tornam o objectivo prioritário da vida… É a doença que nos leva a ser homens e mulheres falsos e a viver um falso ‘misticismo’ e um falso ‘quietismo’. ”

8. Esquizofrenia espiritual
É a doença daqueles que vivem “uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica da mediocridade e do progressivo vazio espiritual que os títulos académicos não conseguem preencher”. Atinge com frequência aqueles que “abandonam o serviço pastoral, limitando-se às papeladas burocráticas, perdendo deste modo o contacto com a realidade, com as pessoas concretas. Criam desta forma um mundo paralelo, onde metem de lado tudo aquilo que ensinam aos outros” e conduzem a uma vida “escondida” e ”frouxa.”

9. Murmuração e intriga
[a doença] Aproveita-se da pessoa e transforma-a numa “semeadora de discórdia” (como Satanás) e, em tantos casos “mata a sangue frio” a fama dos colegas e irmãos. É a doença das pessoas covardes que, não tendo a coragem de falar directamente, falam nas costas. Estejamos atentos ao terrorismo dos boatos!.”

10. Divinização dos chefes
A doença dos que “cortejam os superiores”, vitimas do “carreirismo” e do “oportunismo” e que “vivem ao serviço pensando unicamente naquilo que devem obter e não no que devem dar. São “pessoas mesquinhas”, inspiradas apenas no seu “egoísmo fatal”. Também pode contagiar os superiores hierárquicos “quando cortejam alguns dos seus colaboradores para obter a sua submissão, lealdade e dependência psicológica, mas cujo resultado final é uma verdadeira cumplicidade.”

11. Indiferença
“Quando se pensa apenas em si mesmo perde-se a sinceridade e o calor das relações humanas. Quando o mais experiente não coloca o seu saber ao serviço dos colegas. Quando por ciúme ou má fé se experimenta gozo por ver cair o outro, em vez de o animar e encorajar. 

12. Cara de enterro
É a enfermidade das pessoas “anti-sociais e desagradáveis, que entendem que, para serem respeitadas é necessário pintar a cara de tristeza, gravidade e tratar os outros – sobretudo os que são considerados inferiores – com rigidez, dureza e arrogância.”
“A severidade encenada e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e insegurança em si mesmo. O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortês, serena, entusiasta e portadora de alegria.” O papa Francisco convida a que sejamos cheios de humor e com capacidade de nos rirmos de nós mesmos: “O bem que nos faz uma boa dose de humor!”.

13. Acumulação

Verifica-se "Quando o apóstolo procura colmatar o vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade mas apenas para se sentir seguro.

14. Grupinhos
Quando “a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo e, em algumas situações, a Cristo. Também esta doença tem na sua génese boas intenções mas, com o passar do tempo, escraviza os membros transformando-se ‘num cancro’ “.

15. Exibicionismo
Verifica-se "Quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder, e o seu poder em bens para obter mais-valias ou ainda mais poder. É a doenças das pessoas que procuram, sem cessar, multiplicar poderes e, tendo em conta esse fim, são capazes de caluniar, de difamar e de descridibilizar os outros, mesmo nos jornais ou nas revistas. Naturalmente, o que pretendem é exibir-se e demonstrar que são mais capazes do que os outros.” Uma doença que “faz muito mal ao corpo porque conduz as pessoas a justificar o uso de qualquer meio para atingir determinado fim, muitas vezes em nome da justiça e da transperência.”

O Papa Francisco concluiu recordando que leu uma vez que os "sacerdotes são como os aviões, só fazem notícia quando caem, no entanto são muitos mais os que voam. Muitso são os que os criticam, mas são poucos os que oram por eles." Uma frase que Francisco considera "verdadeira porque mostra a importância e delicadeza do nosso serviço sacerdotal e o mal que poderia causar ao corpo da Igreja a queda de um só sacerdote."

 

 

Tradução e adaptação por Claudine Pinheiro a partir do texto publicado no Vatican Insider

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publicado às 12:56

DE QUE PADRES PRECISAMOS?

por Zulmiro Sarmento, em 27.11.14
Precisamos de padres para manter o que já existe, mas precisamos sobretudo de padres para antecipar o que há-de existir.

Precisamos, pois, de padres que façam e que ajudem a fazer quem faz.

Precisamos de padres conferentes, mas também (e cada vez mais) de padres confidentes.

Precisamos de padres para alimentar a chama e de padres para atear o fogo.

Precisamos de padres que inquietem consciências e que pacifiquem corações.

Precisamos de padres que limpem lágrimas e aliviem dores.

Precisamos de padres que caminhem à frente e de padres que aceitem apoiar na retaguarda.

Precisamos de padres que falem bem e de padres que escutem melhor.

Precisamos do padre do templo e do padre no tempo.

Precisamos do padre desassombrado e do padre humilde.

Precisamos, no fundo, do padre que está aí e do padre que está para vir.

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publicado às 12:28

Repensar a Pastoral da Igreja em Portugal. A reação dum Pároco

por Zulmiro Sarmento, em 03.11.11

Padre Carlos Paes

 

 

Um desafio estimulante e irrecusável

Quem, como eu, viveu com entusiasmo as diversas sessões do Congresso Internacional para a Nova Evangelização, nos primeiros anos do milénio, não poderia ficar indiferente ao desafio corajoso da Conferência Episcopal Portuguesa.

Achei que era uma oportunidade a não perder, apesar de a minha experiência me dizer que não seria fácil encontrar condições entre os meus pares, para a profunda análise que tal desafio suporia.

Na verdade, a super ocupação dos pastores numa pastoral de manutenção que só por si lhes toma todo o tempo, e o protagonismo clerical nestas questões, leva-nos a olhar para este desafio como mais uma sobrecarga pastoral, que não se recusa, mas que fica para melhores dias…

Começa aqui, precisamente, a reflexão que devemos fazer. Falando da parte clerical do povo de Deus, entendo que é chegada a altura de passarmos duma conceção piramidal da Igreja (clérigos, religiosos e leigos), a uma conceção sinodal da mesma entendida como o Povo dos Batizados Leigos, Consagrados e Ordenados a trabalhar conjuntamente, na animação cristã da ordem temporal e na edificação do Reino de Deus entre os homens. Só faz sentido falar de batizados ordenados, se a montante houver batizados leigos (a maioria) e consagrados, a dar corpo àquela que, desde Paulo VI até Bento XVI, tem sido referida como a identidade da Igreja: “evan-gelizar”.

A nós, pastores, deve mover-nos a certeza de que não se trata duma missão clerical, para nos sobrecarregar mais, mas da vocação duma nova geração de evangelizadores, que já aí está, e que, como dizia Mons. Fisichella aos nossos Bispos nas suas Jornadas Pastorais de junho, “esperam que alguém os convide”.

 

Refundação da pastoral e não apenas operação cosmética

Já depois de ter publicado a minha resposta à Conferência Episcopal, li na segunda conferência de Mons. Fichella, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização que “vivemos um tempo de grandes desafios, que influem de modo significativo nos comportamentos de gerações inteiras e que se devem ao facto de estar a terminar uma época e a começar uma nova fase da história da humanidade”. Por isso não basta fazer alguns ajustamentos pastorais, ao estilo duma operação cosmética, mas ter a coragem de rever toda a pastoral em diálogo sinodal com seus agentes, numa palavra, com a comunidade eclesial viva e organicamente articulada.

 

Saltos qualitativos identificados.

Sem pretender esgotar a realidade pastoral em todas as suas vertentes e carismas, identifiquei 14 saltos qualitativos que devemos empreender e que foram genericamente aceites pelas pessoas que, por escrito, responderam ao texto que lhes mandei, nomeadamente sete Bispos.

São estes os saltos qualitativos que proponho: 1. Refundação de toda a nossa pastoral na Palavra de Deus; 2. Passar do protagonismo clerical à participação de todo o Povo de Deus; 3. Acolher e promover a nova geração de evangelizadores; 4. Passar duma mera articulação pastoral, à mobilização de todos os batizados na obra da evangelização; 5. Tomar a família como uma unidade pastoral, a primeira, que configure a «igreja doméstica», como célula de evangelização; 6. Passar da colegialidade piramidal à sinodalidade horizontal; 7. Passar da prioridade da “formação” à prioridade da “iniciação” na missão; 8. Mudar o paradigma da “formação” na preparação dos novos pastores, pelo paradigma evangélico da “iniciação” na mística da evangelização, desperta pelo convívio Jesus e com a sua Palavra; 9. Novo conceito de iniciação cristã, mais abrangente e místico; 10. Novo paradigma de catequese, em que o centro de gravidade deixa de estar nas crianças, para ser colocados nos pais; 11. Passagem duma experiência de fé, entendida como um culto que se pratica, a uma vivência do encontro com Jesus e da integração ativa na comunidade; 12. Passagem duma atividade sociocaritativa, a uma edificação de comunidades eclesiais que assumam a dimensão da «caridade de Cristo que as urge»; 13. Passagem de uma moral que dá prioridade à ética, a uma moral que arranca da vivência mística do encontro com Jesus; 14. Passagem a um novo conceito de Paróquia, como comunidade de batizados a trabalhar conjuntamente sob a batuta do pastor.

Padre Carlos Paes, pároco de S. João de Deus, Lisboa, e autor da brochura ‘Repensar a pastoral da Igreja em Portugal’. A minha resposta ao desafio da Conferência Episcopal Portuguesa (Paulinas, 2ª edição - setembro 2011)

 

AGÊNCIA ECCLESIA

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publicado às 05:40

Comunicado do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa a propósito do momento presente da Sociedade Portuguesa

por Zulmiro Sarmento, em 15.06.11

 

Os cristãos e todos os portugueses sabem que nós, Bispos e sacerdotes, evitamos tomar posição sobre as questões da política direta, preservando o nosso ministério espiritual, da polémica que naturalmente acompanha o debate partidário. Foi por isso que não respondemos às diversas solicitações que nos foram feitas para que falássemos no período que antecedeu as últimas eleições legislativas.

E se o fazemos hoje, depois do Povo Português ter indicado, pelo seu voto, o rumo que deseja para Portugal, não é para comentarmos politicamente os resultados, mas porque achamos que a Palavra da Igreja pode ajudar a discernir o caminho da salvaguarda do “bem-comum” de toda a sociedade, no momento difícil que Portugal atravessa.

Verificámos que alguns líderes políticos, no calor da disputa eleitoral, referiram a Doutrina Social da Igreja para secundar as suas propostas políticas. Tinham o direito de o fazer, pois a vastíssima doutrina da Igreja sobre a sociedade pode, realmente, inspirar programas de governação. É nessa perspetiva que ousamos, neste momento particularmente delicado do nosso País, sublinhar os seguintes aspetos:

1. A prioridade do “bem-comum” de toda a sociedade sobre interesses individuais e grupais é um dos pilares da doutrina da Igreja sobre a sociedade e que pode, neste momento, inspirar as opções governativas. Vamos pôr o bem da sociedade em primeiro lugar. Isso exige generosidade de todos na colaboração e aceitação dos caminhos necessários, na partilha de energias e bens, na moderação das opções ideológicas e estratégicas. Partidos, sobretudo os seus representantes que o Povo elegeu, as associações laborais, empresariais e outras, são chamados à generosidade de defenderem os seus direitos e interesses, dando prioridade total ao bem de toda a sociedade.

2. Além de generosidade, este momento exige, de todos os portugueses, grande realismo. A situação diminui a margem, legítima em democracia, para utopias. É este sentido de realismo que nos indica que devemos procurar soluções para Portugal no quadro social, político-económico em que está inserido: União Europeia, zona da moeda única, conjunto de países que se estruturam na base do respeito pela pessoa humana e pela sua liberdade, concretamente da liberdade de iniciativa económica.

Isto não pode resignar-se ao inevitável. Portugal tem de dar o seu contributo à evolução positiva, concretamente da União Europeia e da zona Euro, e só o fará se resolver positivamente, reconquistando a credibilidade, o momento que passa. Deve fazê-lo procurando que o esforço de equilíbrio financeiro não prejudique a economia, e que não se relativize a importância da saúde, da cultura e da educação.

3. A Doutrina Social da Igreja baseia a prioridade do “bem-comum” na vocação comunitária da sociedade. Esta não é um agregado de “indivíduos”, mas tende a ser comunidade, onde cada um se sente corresponsável pelo bem de todos, onde cada homem e mulher é nosso irmão.

Esta dimensão comunitária é prioritária na visão da Igreja. O amor fraterno, com a capacidade de dom, é o valor primordial na construção da sociedade. Sempre, mas de modo especial neste momento que atravessamos, os pobres, os desempregados, os doentes, as pessoas de idade, devem estar na primeira linha do amor dos cristãos. Este é um dever prioritário da Igreja, que ela quer realizar pelos seus meios próprios, mas em colaboração com todos os que procuram o “bem-comum”. Esta atitude exige generosidade e capacidade de dom, de que o voluntariado é uma expressão nobre. Os próximos tempos vão exigir partilha de bens. Mas não é a mesma coisa partilhar generosamente, e ser obrigado a distribuir. Temos de criar um dinamismo coletivo de generosidade e de partilha voluntária, fundamentada no amor à pessoa humana.

4. Há ainda na nossa sociedade muitas expressões de egoísmo, que vão desde a corrupção ao enriquecimento ilícito, a uma visão egocêntrica do lucro, etc. Uma ética da generosidade, da honestidade e da verdade tem de fazer parte da cultura a valorizar. O próprio sistema de justiça tem de ser um serviço que combata os atropelos à generosidade, à honestidade e à verdade. Sem um bom sistema de justiça, nenhuma sociedade será verdadeiramente justa.

Este momento de crise pode levar-nos a todos a lançar os dinamismos para a construção de uma sociedade mais fraterna e solidária. A Igreja quer, não apenas pela sua palavra, mas pelo seu compromisso na ação, ser a afirmação da esperança.

Fátima, 14 de junho de 2011

ECCLESIA

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publicado às 10:52

Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da Beatificação do Papa João Paulo II

por Zulmiro Sarmento, em 28.03.11

 

1.    Os santos actualizam o Evangelho

No próximo dia 1 de Maio, a Igreja vai beatificar o Papa João Paulo II. A beatificação de alguém é a celebração agradecida pela vida e testemunho cristãos de um homem ou de uma mulher, proclamando a sua virtude e oficializando o seu culto público. Reconhecido o seu alto grau de santidade, isto é, provadas as suas «virtudes heróicas» e confirmadas por um milagre, a pessoa beatificada é proposta à veneração dos crentes como modelo, estímulo e intercessora junto de Deus.

Só Deus é verdadeiramente Santo. Mas todos os baptizados tornam-se «santos», como com toda naturalidade lhes chama S. Paulo nas suas cartas, por participação na vida e santidade de Cristo. No amor e na fidelidade ao Espírito Santo e à missão recebida da Igreja, a santidade original reflecte-se na santidade de carácter moral, que é um caminho feito de entrega e aperfeiçoamento espiritual no serviço de Deus e do próximo. É essa santidade que a Igreja, tantas vezes ao longo dos séculos, propõe aos contemporâneos e vindouros, como testemunho de qualidade humana e desafio de crescimento, como nos recorda o Concílio Vaticano II: «Todos os cristãos são chamados à santidade e obrigados a tender à perfeição do próprio estado de vida» (LG, 42). O viver cristão é um caminho de perfeição, que leva à felicidade verdadeira.

Cada santo, a seu modo e no seu tempo, distingue‑se pelo grau elevado da sua comunhão pessoal com Cristo, que se revela sempre de um modo único e diferente, conforme os carismas e caminhos próprios com que respondeu à graça e aos sinais dos tempos.

Ao beatificar João Paulo II, a Igreja está a sublinhar certos traços de uma santidade particular, considerando que não só merece ser conhecida e admirada, como pode ser luz que guia e estimula a prosseguir nos caminhos da conversão ao amor de Deus e do serviço aos homens e mulheres dos nossos dias.

2.    Santidade: graça e liberdade em diálogo

Todos os santos foram pessoas que se tornaram notáveis sinais da presença de Deus, pela forma como responderam aos desafios da sua época. Esses nossos contemporâneos são muitas vezes gente comum e nem sempre são logo reconhecidos como quem está reflectindo o amor de Deus. Há, certamente, inumeráveis «santos desconhecidos», fora dos catálogos oficiais. Mas, quando conhecidos, logo nos apercebemos que as suas vidas adquiriram tal elevação que podem inspirar, de modo universal, os ideais cristãos de transformação do mundo em Reino de Deus, seja qual for o tempo e a geografia.

A santidade é fruto da relação entre a Graça de Deus e a Liberdade humana. Esse diálogo, cheio de mistério e de comunhão, exige sempre mais despojamento do próprio «eu», aumentando o ânimo para agir. É próprio do amor, dado e recebido, libertar a liberdade. A pessoa assim tocada nas suas actividades e passividades revela como o amor de Deus continua actuante e actual, vindo através dela, frágil instrumento, ao encontro das alegrias e tristezas de todos os que procuram a luz, a paz e o sentido da existência.

O santo é um pecador de tal modo agraciado e libertado que se tornou para o mundo um sinal de esperança e revelação de um Deus vivo com quem se pode contar, porque Ele conta connosco.

A vida do Papa João Paulo II é, sem dúvida, um desses sinais irradiantes de esperança.

3.    Traços da santidade de João Paulo II

Entre tantas qualidades e virtudes, apontamos quatro grandes traços da personalidade e da missão do Papa João Paulo II, indicando como nele se actualizou o Evangelho de Jesus Cristo.

3.1. Homem de intensa vida interior que se comunica

Quem não se lembra do modo intenso e profundo como celebrava a Eucaristia, como se recolhia longamente em oração, onde quer que chegasse, e a devoção com que falava espontaneamente de Cristo e de Nossa Senhora?

Ao mesmo tempo, manifestava uma invulgar capacidade de comunicação pessoal, tanto diante das multidões, como em particular, atraindo magneticamente tantos jovens, entre os quais muitos que se afirmavam estar distantes da Igreja.

A 14 de Maio de 1982, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, João Paulo II assim se dirigia aos jovens: «É sabido como sois sensíveis à tensão entre o bem e o mal que existe no mundo e em vós próprios… Contudo, caros jovens, para além destas tensões, possuís uma aptidão quase conatural para evangelizar. Porque a evangelização não se faz sem entusiasmo juvenil… sem alegria, esperança, transparência, audácia, criatividade, idealismo… Sim, a vossa sensibilidade e a vossa generosidade espontânea, a tendência para tudo o que é belo, tornam cada um de vós um aliado natural de Cristo… Só em Cristo encontrareis resposta aos próprios problemas e inquietações. E sabeis porquê: ele foi o homem que mais amou». E, no dia seguinte ao chegar a Coimbra, não hesitou em pôr aos ombros a capa preta que um estudante lhe ofereceu e, no pátio da Universidade, gritou à multidão: «Olá, malta! O Papa conta convosco! Melhor, Cristo conta convosco!».

 3.2. Profeta de audazes intervenções em nome da justiça e da paz

Nas primeiras palavras que disse ao povo reunido na Praça de S. Pedro, logo depois de ser eleito Papa, assim nos exortou: «Não tenhais medo!». E ele foi um homem sem medo, ao enfrentar muitas e difíceis situações políticas, sociais e morais, intervindo desassombradamente. Foi um homem corajosamente sem medo em relação às políticas internacionais, nomeadamente do Leste europeu. Não restam dúvidas acerca do seu papel na queda de regimes comunistas totalitários, na promoção dos direitos humanos e na defesa da vida e dos valores morais. Apontando sempre caminhos de reconciliação e paz, viajou por todo o mundo, correndo todos os riscos, na actualização da missão de Jesus Cristo, em incansáveis acções de nova evangelização.

3.3.   Servidor do amor e ternura pelos mais fracos e do perdão aos inimigos

João Paulo II manifestou sempre uma particular atenção e carinho para com as crianças, os mais pobres e frágeis. Era comovente quando, cheio de alegria e seriedade, ultrapassava o protocolo e tocava nas crianças e doentes. Mas deve sublinhar‑se aqui o gesto mais audazmente evangélico: a visita ao seu próprio agressor, na prisão, e a longa conversa que manteve com ele, num gesto ousado de perdão, repleto da compaixão de Deus amor.

 3.4.  Testemunha da alegria na saúde e na doença, com máximo respeito pela vida

Por fim, destacamos o modo humilde e sereno como encarou a sua doença, a aceitação da sua imagem desfigurada, e a própria incapacidade de falar, sem vergonha de apresentar a sua verdade publicamente, solidário com todos os que sofrem.

Lutou até ao fim sem desistir de estar presente para comunicar a fé, a certeza do amor de Deus, em todas as circunstâncias, mesmo naquelas que o mundo já não quer ver ou a que retirou a dignidade. Todas estas limitações são aceites por um homem com um passado em que cultivou a arte e o desporto, com saúde robusta e temperamento forte. Mesmo já gravemente doente e na despedida deste mundo, deu-nos eloquentes lições, como mestre e pastor até ao fim.

 4.    A santidade ao alcance de todos

O Papa, que agora vai ser beatificado, assim nos exortava numa Carta apostólica à entrada do novo milénio: «Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta “medida alta” da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direcção» (NMI, 31). A santidade não está reservada a um grupo restrito de génios e heróis da virtude. Com a graça de Deus, está ao alcance de todos dar alta qualidade de amor à vida comum.

A beatificação do Papa João Paulo II é um chamamento e uma oferta que a Igreja faz a todos os homens e mulheres de boa vontade. Somos convidados a dar graças a Deus pela vida e acção deste Papa, por todo o bem e estímulo que nos continua a transmitir pelo seu exemplo e intercessão.

Somos também convidados a agradecer e a acolher a bondade de Deus que, mais uma vez, se revela atento às nossas necessidades e alegrias, tristezas e esperanças, suscitando sempre, no momento certo, pessoas disponíveis a apontar, de forma renovada, Jesus Cristo, caminho seguro, verdade luminosa e vida abundante.

5.    Celebração nacional em Fátima

Para além das iniciativas que as diversas comunidades cristãs acharem por bem promover, os Bispos portugueses convidam os fiéis a associar‑se à comemoração, a nível nacional, da Beatificação do Papa João Paulo II, que terá lugar em Fátima, no próximo dia 13 de Maio.

João Paulo II cultivou uma devoção autenticamente cristã a Nossa Senhora, tornando vida a sua divisa episcopal: «Totus tuus. Todo teu. Tudo o que tenho vos pertence. Sois todo o meu bem. Dai‑me o vosso coração». É considerado o Papa de Fátima, que um ano depois do atentado na Praça de S. Pedro, em Roma, a 13 de Maio de 1981, veio à Cova da Iria agradecer à Rainha da Paz o ter providencialmente sobrevivido.

Que Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, nos inspire a progredir nos caminhos da santidade, a que Deus nos chama na vida comum do nosso quotidiano. 

Fátima, 14 de Março de 2011

ECCLESIA

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publicado às 05:33

Oportunidades de resposta para novas situações

por Zulmiro Sarmento, em 22.02.11

 

Os problemas e as dificuldades, hoje verificadas a todos os níveis, pedem uma especial atenção aos responsáveis, em cada campo e situação, para que aproveitem as oportunidades que então surgem. A partir delas se responderá melhor. Os problemas que aguardam resposta estão na sociedade, na família, na escola, na vida empresarial e, também, na comunidade cristã, em todo o lado onde há vida.
É sobre as comunidades, de que agora tanto se fala, ao repensar para renovar a acção da Igreja, que oriento a minha reflexão, na esperança de que se atenda mais e melhor às oportunidades que, não raro, são pouco atendidas e mal aproveitadas. O dever de servir e a criatividade pastoral exigem esta atenção.
Nas comunidades e na Igreja em geral há mais gente repetitiva que inovadora. Ora, as tradições religiosas vão perdendo força, o passado deixou de ser dinâmico e de apego generalizado, as respostas repetidas e pouco reflectidas são normalmente estéreis. Deste modo, o ângulo estreito de percepção da realidade empurra para as desilusões e dificulta um empenhamento persistente, sério e que envolva as pessoas.
Dá-se, hoje, uma quebra notória na prática dominical e na procura do Baptismo e do Matrimónio; persiste o abandono de muitos jovens, após a Confirmação; não se pode ignorar a escalada das uniões de facto, do crescente número de divórcios, das famílias desestruturadas e com valores alterados; há poucos cristãos esclarecidos na vida social e política; a alergia de muitos à vida associativa é manifesta; os mais jovens, e não só eles, fogem a opções que implicam compromissos permanentes…
Ao mesmo tempo, as paróquias com gente apresentam uma nova fisionomia: para além do costumeiro, que persiste ainda em muitos casos, há muitos pais não praticantes que querem os filhos na catequese e acabam por pedir o seu baptismo na idade escolar, se o não fizeram antes; há jovens, e são milhares, que frequentam livremente a catequese dez e mais anos, em ordem ao Crisma, e, se muitos deles depois partem, também ficam sempre alguns, mais comprometidos e activos; tornou-se normal a prática de reuniões de preparação para o casamento, mas não se consegue travar a saída de muitos para um divórcio fácil; alguns casais, ao lado de outros indiferentes, formam grupos e equipas que reúnem mensalmente para, em comum, esclarecerem e partilharem a sua fé, aprofundarem a riqueza da vida conjugal e familiar e se empenharem em acções apostólicas; há operários e empresários, não muitos, é certo, que procuram orientar a sua vida e acção pela Doutrina Social da Igreja e por força de um cristianismo esclarecido; depara-se-nos um número crescente de leigos voluntários nas actividades da paróquia e da comunidade civil, mas outros só pensam em si e no que lhes dá prazer. Tudo isto, em comunidades com gente, porque já as há quase desertificadas, traduz problemas, mas também um mundo novo de oportunidades para uma acção nova e realista.
Sublinha-se hoje, mais do que antes, quando as pessoas se conheciam, a importância de um acolhimento cordial e aberto a todos, que crie laços e não feche portas, feito por gente preparada para escutar e dialogar, mais do que para afirmar normas secas e fechar caminhos abertos. Sem se acolher bem, não haverá nem tempo, nem clima para escutar as razões de quem vem e procura. Quem acolhe, seja clérigo ou leigo, numa paróquia onde surgem cada dia caras novas, é chamado a mostrar o rosto de um Deus que é Pai, de uma Igreja aberta e serva, que sabe respeitar as pessoas, ser educadora da fé, promotora da comunhão e porta e espaço de uma inequívoca fraternidade. É no acolhimento que melhor se ilustra a missão da Igreja, num tempo e num lugar. Numa comunidade cristã há que acolher sempre bem quem aí vive, quem passa ocasionalmente, quem nela procura alguma coisa. Uma comunidade adulta, responsável e aberta, esconjura o clericalismo e as ideias deturpadas da Igreja e da fé, que enchem ainda a cabeça de muita gente.
É agora a oportunidade de um catecumenato a sério ou de uma catequese de pedagogia catecumenal para os adultos que pedem os sacramentos da iniciação; de uma iniciação cristã, a realizar na família e na catequese paroquial; da formação de cristãos adultos para que vivam e testemunhem a fé, num mundo plural e laico. Nada disto se faz com acções de rotina ou com objectivos de mera conservação. As oportunidades para ir mais longe estão nestes casos à vista: pelos filhos se vai aos pais; pela Confirmação, se formam e motivam jovens a ir mais longe; pelo pedido do Matrimónio, hoje que as razões sociológicas pesam menos, se podem propor acções de formação com mais tempo e pedagogia mais activa; pelas experiências negativas e dolorosas que afectam muitas famílias, se faz apelo a formas de presença mais respeitadoras e fraternas; pela acção nos meios urbanos, onde há colmeias cerradas que favorecem o individualismo, a massificação, o esquecimento de quem delas não pode sair, se devem fazer propostas que personalizem e vençam a solidão, o isolamento, o desgaste diário, a desagregação familiar.
As comunidades para serem evangelizadoras e missionárias têm hoje de ser mais criativas ante as novas situações sociais, culturais e religiosas O dever de servir pede inovação e abandono de velhos critérios e esquemas de uma ruralidade que já não existe. Os mais aptos não se podem gastar no serviço do templo, mas têm de ser estimulados a ser apóstolos fora de portas.
Repensar a acção pastoral e planeá-la, com realismo e esperança, é procurar que cada cristão e cada comunidade entrem num dinamismo de missão, onde todas as pessoas são caminho da Igreja, e todas as oportunidades, graças a aproveitar. Os de fora só serão tocados pela riqueza de dentro, quando virem os permanentes do templo, empurrados para fora dele, a testemunhar o que vivem e a construir o que propõem.

D. António Marcelino

ECCLESIA

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publicado às 06:17

2011 - Ano Europeu do Voluntariado

por Zulmiro Sarmento, em 06.01.11

http://www.voluntariado.pt/

 

A 27 de Novembro de 2009, o “Conselho de Ministros da U.E., declarou oficialmente 2011, Ano Europeu das Actividades Voluntárias que Promovam uma Cidadania Activa”.

Este “ano Europeu tem por objectivo geral incentivar e apoiar os esforços desenvolvidos pela Comunidade, pelos Estados-Membros e pelas autoridades locais e regionais tendo em vista criar condições na sociedade civil propícias ao voluntariado na U.E. e aumentar a visibilidade das actividades de voluntariado na U.E.”

Assim, esta semana sugerimos uma visita ao sítio do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado (CNPV), que é o organismo responsável pela organização da participação nacional no ano Europeu.

Ao digitarmos o endereço http://www.voluntariado.pt, entramos no espaço virtual da entidade a “quem compete desenvolver as acções indispensáveis à promoção, coordenação e qualificação do voluntariado em Portugal”.

No item “CNPV”, ficamos a saber o que é este conselho, qual o seu enquadramento legal e quais as actividades que desenvolve e apoia.

Na opção “voluntariado”, podemos consultar a legislação e as normas legais em vigor, quais os projectos em funcionamento, saber mais acerca do voluntariado empresarial, e ainda, por exemplo, obter a definição legal de voluntariado. O decreto de lei diz que, voluntariado “é o conjunto de acções de interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projectos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas”.

Caso pretenda tornar-se um voluntário clique em “seja voluntário”. Aí pode descobrir onde é que se pode tornar voluntário, quais são os seus direitos e deveres e ainda obter alguns testemunhos interessantes, nomeadamente uma partilha bastante rica do Monsenhor Victor Feytor Pinto.

Estranhamente sobre o Ano Europeu do Voluntariado, não existe nenhuma área específica e os conteúdos que podemos encontrar sobre esta temática são ainda escassos.

No entanto, fica aqui lançado o repto de estarmos atentos aos eventos e actividades que certamente irão ser realizados ao longo de todo este ano.

Fernando Cassola Marques

in ECCLESIA

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publicado às 05:01

Novo recenseamento da prática dominical em 2011 em Portugal

por Zulmiro Sarmento, em 30.11.10

Iniciativa junta-se a inquérito sobre as atitudes e expectativas da sociedade portuguesa face à Igreja

A Igreja Católica em Portugal vai promover um novo recenseamento da prática dominical , em 2011, ano de Censos, “para poder responder com realismo aos desafios do mundo de hoje”.

A iniciativa, que aconteceu pela última vez em 2001, soma-se a um inquérito sobre as “atitudes e expectativas da sociedade portuguesa face à Igreja”, que será orientado pela Universidade Católica Portuguesa.

O presidente da Conferência Episcopal, D. Jorge Ortiga, admitiu, em conferência de imprensa, que a questão mereceu algum debate durante os trabalhos da assembleia plenária, que decorreu de 8 a 11 de Novembro, em Fátima.

Para o arcebispo de Braga, o inquérito “é “importante para ouvir as expectativas de cristãos e não-cristãos”.

As perguntas estão a ser preparadas na UCP e será esta instituição a percorrer “todas as Dioceses”, com o objectivo de ter “maior rigor”, durante o próximo ano.

Segundo o comunicado final da assembleia, os Bispos reflectiram “sobre o discurso que o Papa lhes dirigiu no passado dia 13 de Maio, em Fátima, e sobre o modo como a Igreja exerce a sua missão no mundo actual, enquanto dioceses, paróquias, movimentos de leigos e congregações religiosas”.

Desde há vários meses, recorda o comunicado, a CEP iniciou um movimento para “Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal”, com vista a “uma maior coordenação, fazendo uma caminhada sinodal, definindo prioridades e rentabilizando sinergias”.

 

ECCLESIA

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publicado às 06:37

«Também vos quereis ir embora?» (João 6,60)

por Zulmiro Sarmento, em 10.07.10

Sabe-se como se lança um rastilho como meia notícia que a pressa dos media engole de imediato e joga para o papel ou para a informação em linha, ou mesmo nas redes sociais para ser o primeiro a anunciar

 

 

Não estão fáceis os tempos para a Igreja. Todos os dias vão surgindo novas notícias de escândalos, processos, condenações, abusos. Caem precipitadamente nas agências e são por vezes claras, directas, apesar de desagradáveis para os católicos. Outras são falsas embrulhadas  em meias verdades e com uma interpretação claramente enviesada, sempre com o dedo condenatório para membros do clero em diversos graus de responsabilidade na condução da Igreja a nível local ou universal. Nada nos espanta: nem os factos, nem a maneira como são descritos, distorcidos, dramatizados, sendo, quantas vezes, opinião antes de serem acontecimento. Isto não se passa apenas com a Igreja, mas com todos que estão alguns centímetros acima da grande multidão anónima e que, por via da visibilidade, colocados em cadafalso de julgamento e forca. Que um dia possivelmente foi trono de glória e ovação do mesmo povo anónimo e aparentemente inocente.

Mas há dados que permitem, no que diz respeito à Igreja, objectivar causas e intenções. Sabe-se como se lança um rastilho como meia notícia que a pressa dos media engole de imediato e joga para o papel ou para a informação em linha, ou mesmo nas redes sociais para ser o primeiro a anunciar. Quantas vezes a primeira-mão é a primeira mentira. Sabe-se de forças, movimentos, associações, secretas ou não, que cozinham nas suas caves de mistério materiais informativos para que na linha final todos aceitem o que sempre estes senhores quiseram dizer: que a especialidade da Igreja é ser hipócrita, hábil em absolver os seus próprios pecados mas implacável com os que se atrevem a enfrentá-la como se fora uma permanente inquisição sem tréguas nem remorsos.

A Igreja não pode converter a sua pregação em constantes  desmentidos sobre quanto dela se diz. Tem reconhecido os erros dos seus membros. Tem tido  a coragem – rara nos tempos de hoje – de pedir perdão. Sabe que a sua missão é ser impoluta na moral, e transparente nas suas acções em qualquer área que se cruze com a sociedade civil.

Vivemos um momento complexo: aceitando a verdade dos nossos pecados e dos nossos silêncios, corrigindo os erros da nossa comunicação, agradecendo os homens e mulheres que se mantêm firmes como sinais vivos de Cristo, aceitando com humildade as críticas justas que nos são feitas, e acreditando cada vez mais que “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja”. Apesar de os pecados serem duma minoria, aceitamos vestir-nos de saco e cinza, de coração penitente pela família católica manchada com crimes execráveis de alguns. Mas sabemos separar o trigo do joio, distinguir a parte do todo e dizer que a Igreja, mesmo pecadora, continua una e santa. E que “não nos queremos ir embora”.

António Rego

 

in ECCLESIA

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publicado às 06:15

Bispo de Viseu pede aos padres que se libertem da «pressão da comunicação social»

por Zulmiro Sarmento, em 05.07.10

O Bispo de Viseu pediu este Domingo que os padres não se deixem “guiar pela opinião pessoal, pela pressão da comunicação social, pela moda, pelo aplauso e reconhecimento maioritários ou pela procura de uma posição social gratificante”.

Na celebração em que ordenou quatro novos sacerdotes, momento alto do dia da Diocese, D. Ilídio Leandro disse que esta opção “supõe o seguimento total – sem partilha com outros interesses ou com outras preferências – e exige uma orientação nova, toda direccionada para a Missão”.

“É na Missão que nós encontramos uma nova família, com o anúncio do Reino de Deus. Conduzidos pelo Espírito Santo, encontrar-nos-emos plenamente livres e compreenderemos a beleza e a liberdade da plenitude da Lei – o amor do próximo – que somos enviados a viver e a ensinar”, indicou.

Para o Bispo de Viseu, “vale a pena viver a consagração sem reservas, sem misturas, sem partilhas e sem alternativas”.

“Acreditai que Cristo é a maior e melhor gratificação para cada um de nós. Ele é o Tudo e o Máximo, que nos enche o coração”, observou.

Neste sentido, D. Ilídio Leandro considera que “a proximidade, o zelo, o amor a todos – a começar pelas crianças, pelos jovens, pelos doentes, pelos idosos, pelos pecadores, pelos pobres, pelos que se afastaram – são elementos a apontar os caminhos do nosso ministério, a fazer parte do nosso exame de consciência e avaliação pessoal e pastoral e a motivar-nos para a formação permanente, motivadora de um alegre espírito de comunhão, de uma serena fidelidade e de uma empenhada corresponsabilidade”.

“Não há beleza maior do que tornar Jesus presente na vida das pessoas. O Sacerdote fá-lo, por participação no Sacerdócio de Cristo, apresentando-O como Pão da Vida; como Perdão e princípio de autêntica conversão; como Caminho, Verdade e Vida; como Pastor que conhece, que apascenta, que procura e acolhe, que encontra e ama”, elencou.

Em conclusão, o Bispo de Viseu afirmou que “é muito bom saber que Deus nos ama, que nos é próximo e que vive em nós. É muito bom saber que Deus cuida da nossa vida e nos quer bem, apesar de nem sempre sermos bons”.

 

in ECCLESIA

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publicado às 06:56


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