1. Quem acompanha a vida do Papa Francisco quer em Roma, quer nas suas viagens pastorais, nos grandes discursos na ala Paulo VI ou nas conversas simples na Capela de Santa Marta, dá-se conta de que Francisco é sempre um pastor com extraordinária proximidade e a surpreender todos com os mais pequenos gestos. Os últimos dias trouxeram-nos episódios da sua vida verdadeiramente cativantes.
• Em Manila, deixou-se rodear por milhares de crianças que se sentaram ao seu colo. Uma alegria esfusiante. Só o “protocolo” estava preocupado.
• Em Leiria, uma senhora argentina, doente há sete anos, com um cancro gravíssimo, escreveu ao Papa. Francisco pegou no telefone e ligou-lhe, falando pessoalmente com ela, dando-lhe a certeza da sua oração e do seu carinho.
• De Lisboa, uma senhora escreve ao Papa contando-lhe uma história interessantíssima: com 12 anos, no colégio de freiras, tinham-lhe pedido para dizer quem era Jesus; ela respondera que era o Filho de Deus, mas também um revolucionário: ficou de castigo; agora, que tem 60 anos, viu em Buenos Aires uma homilia do Cardeal Bergoglio que chamava a Cristo um revolucionário; ficou contente pelo facto de o Papa também pensar como ela. Francisco respondeu-lhe na volta do correio e pelo próprio punho, convidando-a a ir visitá-lo para conversarem.
• No avião, ao regressar das viagens à Ásia, questionado sobre o planeamento familiar, não hesitou em dizer que os cristãos devem viver uma paternidade responsável, comentando mesmo que “os católicos não podem ser como os coelhos”. Com isto abria uma porta à reflexão sobre a família que o Sínodo dos Bispos vai aprofundar.
Muitas outras histórias se poderiam contar porque o Papa surpreende com a sua linguagem, com a sua preocupação pelos problemas humanos, pelo sofrimento dos pobres, pelo desejo da renovação profunda da Igreja. Na Evangelii Gaudium, ele diz mesmo que a renovação da Igreja é inadiável.
2. O Papa Francisco acompanhou uma iniciativa do Cardeal de Barcelona sobre a Pastoral das Grandes Cidades. De facto, a Igreja pode estar presente em ambientes rurais, mas quando chega à cidade o seu processo de evangelizar tem características próprias que urge promover para a eficácia do anúncio do Evangelho. O Senhor D. Manuel Clemente participou neste Congresso Internacional da Pastoral Urbana que se realizou em Barcelona e em Roma. As conclusões do Congresso prefiguram o tipo de evangelização que o Papa Francisco propõe:
• O olhar contemplativo sobre o Mundo com dupla incidência: o olhar de Jesus sobre a cidade e, por outro lado, ver o próprio Jesus nos outros, quem quer que sejam.
• O modelo missionário de Jesus bem expresso na forma de uma Igreja em saída que não se limita a manter o que já existe, mas que quer ir às periferias anunciar o Evangelho da misericórdia.
• Uma pastoral de portas abertas que se realiza pelo contacto pessoal, a capilaridade e o testemunho; trata-se de pastoral personalizada na conversa pessoa a pessoa, na pregação informal.
• Uma grande cidade com famílias cristãs que sejam “Igreja doméstica” e paróquias, comunidades de comunidades, centros de atenção pastoral, permanente e criativa.
• Uma cultura cristãmente inspirada que dialogue com as outras culturas com formas de aproximação e de partilha também nas redes de comunicação social.
Não se trata apenas de ser “Igreja na cidade” mas “Igreja da cidade” compreendendo e assumindo a unidade urbana e a particularidade dos lugares centrais ou periféricos. É interessante referir que há muitos movimentos cristãos em Lisboa que querem escutar a cidade para responder-lhe com os valores cristãos, os valores do Evangelho.
3. Para esta presença da Igreja na cidade são necessárias várias exigências que darão maior qualidade a toda a acção pastoral que se deseja realizar. Sem estas preocupações pastorais dificilmente se é eficaz. Foi por isso que o Congresso Internacional sobre a Pastoral nas Grandes Cidades referiu alguns elementos fundamentais à presença da Igreja nos grandes centros urbanos.
• A formação e responsabilização do laicado é essencial, sabendo que a missão dos leigos na Igreja consiste em tratar da ordem temporal e orientá-la segundo Deus para que progrida e assim glorifique o Criador e Redentor (LG 31).
• A exigência de ser pobre e humilde é fundamental para que se concretize o sonho missionário que empolga pastores na cidade actual pela credibilidade que adquirem.
• Uma liturgia de alegria e comunhão permite compreender a todos os que mesmo excepcionalmente passam pelo templo, que a vida cristã tem o sentido da festa antecipando a alegria da Jerusalém celeste.
• A proximidade de todos e a disponibilidade para todos serão reveladoras de comunidades de portas abertas a quem passa e procura.
Comentando tudo isto, o Papa Francisco afirmou que é urgente mudar a nossa mentalidade pastoral para que se consiga uma acção audaz e anunciadora da Boa Nova; uma atitude contemplativa permitirá ver tudo com o olhar de Jesus; ficar-se-á sensível ao clamor dos pobres, dos excluídos e dos descartados; vivendo todos os cristãos em missão pelo seu testemunho cheio de misericórdia e de ternura.
4. A Comunidade Paroquial do Campo Grande está plantada no coração da cidade, com universidades, grandes hospitais, vários colégios, bairros residenciais, incluindo também algumas periferias sociais. A mensagem do Papa Francisco e os desafios do Congresso Internacional da Pastoral Urbana exige-nos criatividade para vivermos em “Igreja em saída” que acolhe, escuta, compreende e tenta responder a todos aqueles que nos procuram considerando a nossa comunidade como uma âncora de esperança.
Pe. Vítor Feytor Pinto