“… E DA NUVEM FEZ-SE OUVIR UMA VOZ:
«ESTE É O MEU FILHO MUITO AMADO. ESCUTAI-O.»”
(Mc 2, 14-15)
I LEITURA - Gen 22, 1-2.9a.10-13.15-18
A fidelidade e as tentações de Abraão.
Leitura do Livro do Génesis
Naqueles dias, Deus quis pôr à prova Abraão e chamou-o: «Abraão!». Ele respondeu: «Aqui estou». Deus disse: «Toma o teu filho, o teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à terra de Moriá, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que Eu te indicar. Quando chegaram ao local designado por Deus, Abraão levantou um altar e colocou a lenha sobre ele. Depois, estendendo a mão, puxou do cutelo para degolar o filho. Mas o Anjo do Senhor gritou-lhe do alto do Céu: «Abraão, Abraão!». «Aqui estou, Senhor», respondeu ele. O Anjo prosseguiu: «Não levantes a mão contra o menino, não lhe faças mal algum. Agora sei que na verdade temes a Deus, uma vez que não Me recusaste o teu filho, o teu filho único». Abraão ergueu os olhos e viu atrás de si um carneiro, preso pelos chifres num silvado. Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto, em vez do filho. O Anjo do Senhor chamou Abraão do Céu pela segunda vez e disse-lhe: «Por Mim próprio te juro – oráculo do Senhor – já que assim procedeste e não Me recusaste o teu filho, o teu filho único, abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar, e a tua descendência conquistará as portas das cidades inimigas. Porque obedeceste à minha voz, na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra».
Palavra do Senhor.
SALMO – 115 (116), 10 e 15. 16-17.18-19 (R. Salmo 114 (115), 9)
Refrão: Andarei na presença do Senhor sobre a terra dos vivos. Repete-se
Ou: Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor. Repete-se
Confiei no Senhor, mesmo quando disse:
«Sou um homem de todo infeliz».
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis. Refrão
Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias.
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome. Refrão
Cumprirei as minhas promessas ao Senhor
na presença de todo o povo,
nos átrios da casa do Senhor,
dentro dos teus muros, Jerusalém. Refrão
II LEITURA - Rom 8, 31b-34
O dom de Jesus Cristo.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus, se Deus os justifica? E quem os condenará, se Cristo morreu e, mais ainda, ressuscitou, está à direita de Deus e intercede por nós?
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória. Repete-se
No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Refrão
EVANGELHO - Mc 9, 2-10
A transfiguração.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.
Palavra da salvação.
TRANSFIGURAR-SE
O segundo domingo da Quaresma está centrado no Evangelho da transfiguração. De facto, este tempo é tradicionalmente chamado tempo de conversão e, tranfigurar-se outra coisa não é do que, à luz de Cristo, encontrar um sentido novo para a vida e marcar todos os caminhos pelas exigências do Evangelho. A conversão reclama depois a fidelidade de que é modelo Abraão. Por isso a liturgia começa por descrever o sacrifício de Isaac, prova indiscutível da fidelidade daquele que foi classificado como pai da fé (1ª leitura). O sacrifício de Isaac porém, outra coisa não é do que o anúncio profético do sacrifício de Cristo. Deus, na sua extrema bondade pelos homens, não hesitou em oferecer-lhes o seu próprio Filho que, “sendo de condição divina, se humilhou a si mesmo tomando a forma humana e sendo sacrificado na cruz” (Fil 2, 8). O gesto de Abraão anuncia o gesto de Deus Pai a oferecer em sacrifício o seu Filho Jesus (2ª leitura). O Evangelho, ao descrever a transfiguração, permite entender que Jesus veio para levar à perfeição, na sua missão redentora, toda a Lei e os Profetas.
1. O sacrifício de Isaac
Abraão, na sua velhice, por vontade de Deus, teve um filho, Isaac. Nele se cumpria a promessa de Deus de que Abraão seria o pai de um grande povo (cf. Gn 17, 20). É então, incompreensível que Deus peça a Abraão o sacrifício do seu filho. Mas Abraão é fiel e sobe ao monte preparando-se para sacrificar Isaac. Deus porém suspendeu o braço de Abraão. Isaac foi salvo e em sua vez foi imolado um cordeiro. É preciso compreender esta estranha proposta de Deus. Abraão vinha da Caldeia onde era norma sacrificar os filhos aos deuses. Para cumprir a tradição que ele conhecia pensa que Deus lhe pede o sacrifício do filho. Deus, porém, em Abraão altera todos os ritos. Isaac é salvo e o sacrifício é feito com um cordeiro. A simbologia é extremamente bela, porque quer o filho de Deus, simbolizado em Isaac, quer o cordeiro, outra coisa não são do que o anúncio do sacrifício redentor que Jesus Cristo, Cordeiro Pascal, vai celebrar.
2. O sacrifício redentor de Cristo
Os cristãos sabem que têm um intercessor em Jesus Cristo. Referindo-se em tudo à Pessoa de Jesus, que deu a vida no sacrifício do Calvário, os cristãos sabem que serão justificados. Por causa do sacrifício de Cristo já não tem lugar a condenação, desde que se aceite a mensagem de que Jesus é portador. De facto, “se Deus está por nós quem é que pode estar contra nós?” (Rm 8, 31). E Deus deu-nos o Seu Filho, entregue à morte para que todos sejamos salvos. A salvação é a razão do sacrifício de Cristo.
3. A transfiguração dos homens
Esta página do Evangelho não se refere apenas a Jesus que, no alto do monte, se revela filho muito amado de Deus. Presente e transfigurado entre Moisés e Elias, Ele é a síntese de toda a Lei e dos Profetas. Síntese esta que se reconhece na voz de Deus “este é o meu Filho muito amado no qual pus todo o meu amor” (Mc 9, 7). Os Apóstolos, Pedro, Tiago e João, pensaram ficar por ali, no alto do monte, a contemplar. Jesus, porém, convidou-os a descer até ao convívio de todos os homens para lhes anunciarem que Jesus é o Filho de Deus. Com a transfiguração de Jesus são os discípulos que se transfiguram em Apóstolos.
Monsenhor Vítor Feytor Pinto