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A despedida de Jesus

por Zulmiro Sarmento, em 28.01.15

 

 


«Querida mãe: quando acordares já terei partido»: A despedida e o Batismo de Jesus

«Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão» (Do Evangelho do Domingo do Batismo do Senhor, 11.1.2015) 

Que rápido passámos do nascimento de Jesus ao seu Batismo no Jordão! Passaram três semanas e o Menino nascido no pesebre de Belém aparece já como um homem feito, que decide sair da sua casa em Nazaré, deixando para trás a vida familiar, o ofício de artesão, as paisagens suaves da Galileia, para ir ao encontro do profeta João, que está a batizar do outro lado do rio Jordão, no sul do país.

Que arrebatamento ocorreu a Jesus para deixar a vida tranquila e embarcar numa aventura que em pouco tempo o levaria à cruz? Que sonhos levava este jovem no peito para tomar essa decisão? Não encontrei melhor explicação para estas perguntas senão numa carta escrita por um sacerdote espanhol, José Luís Cortés, que tenta recriar os sentimentos de Jesus naquele momento da sua vida. É uma carta dirigida à Virgem Maria, em que Ele explica o que move a deixar a casa.

«Querida mãe: quando acordares já terei partido. Quis poupar-te a despedidas. Já sofreste muito, e sofrerás ainda mais. Agora é noite, enquanto te escrevo. Quero dizer-te por que me vou, por que te deixo, por que não fico na oficina a fazer ombreiras para portas ou cadeiras o resto da minha vida.
Durante trinta anos observei as pessoas do nosso povo e tentei compreender para que viviam, por que se levantavam a cada manhã e com que esperança adormeciam todas as noites. O João, dos refrescos, e com ele metade de Nazaré, sonham em fazer-se ricos e acreditam de verdade que quanto mais coisas tiverem, mais completos vão ser. O chefe da cidade e os outros põem o sentido das suas vidas em conseguir mais poder, ser obedecidos por mais pessoas, ter capacidade para dispor do futuro dos outros homens. O rabino e as suas seguidoras já desistiram de tudo o que significa esforçar-se por crescer e desculpam-se fazendo-o passar por vontade de Deus. (…)

Às vezes, mãe, quando chegavam cartas e soava a trombeta na praça, quando as pessoas acorriam de todos os lados, eu fixava-me nesses rostos que esperavam ansiosamente, delirantemente, de qualquer lugar e de qualquer remetente, uma boa notícia; teriam dado a metade das suas vidas para que alguém lhes abrisse, de fora, uma fenda nos seus muros. Vinham-me ganas de me pôr no meio deles e gritar-lhes: "A boa nova já chegou! O Reino de Deus está dentro de vós! As melhores cartas vão chegar de dentro de vós! Porque repetem que estão coxos se Deus vos deu pernas de gazela?".

Sinto-me tomado pela plenitude da vida, mãe. E descubro-me aceso num fogo que me leva e me faz contar aos homens notícias simples e belas que ninguém diz (e se alguém chega a dizer, logo o censuram). E queria queimar o mundo com esta chama; que em todos os cantos houvesse vida, mas vida em abundância. Já sei que sou um carpinteiro sem licenciatura e que acabei de completar a idade para poder abrir os lábios em público. Não me importaria esperar mais, pensar mais, ser mais maduro, “fazer a minha síntese teológica”… (…)

Mas… há demasiada infelicidade, mãe. Demasiados cegos, demasiados pobres, demasiada gente para quem o mundo é a blasfémia de Deus. Não se pode crer em Deus num mundo onde os homens morrem e não são felizes… a menos que se esteja do lado daqueles que dão a vida para que tudo isso não aconteça; para que o mundo seja como Deus o pensou (…).»

Jesus seguiu o caminho que Deus lhe apontava; a sua vocação foi ser filho amado de Deus e irmão de todos os homens e mulheres que partilham a sua mesma vocação. Isso significa o Batismo de Jesus, e isso significa o nosso próprio Batismo.

P. Hermann Rodríguez Osorio, S.J. 
In "Periodista Digital" 
Trad. / edição: Rui Jorge Martins 
Publicado em 10.01.2015

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publicado às 09:36

CRISTIANISMO SEM CRISTO?

por Zulmiro Sarmento, em 16.12.14
 

 

  1. Nestes tempos ruidosos, todos temos consciência da nossa incapacidade para ouvir.

Mas será que, nestes tempos sombrios, teremos noção da nossa persistente dificuldade em ver?

 

  1. É um facto que passamos muito tempo a olhar e a falar do que olhamos.

Os nossos olhos passeiam-se, quais vagabundos, por tudo quanto existe. Mas será que, ao olhar para tanto, veremos o importante?

 

  1. Ver é muito mais que olhar. Ver não é só lançar os olhos. Para ver, é preciso mergulhar o olhar no interior da realidade.

As aparências, só por si, não permitem captá-la. Apenas presumem capturá-la.

 

  1. Hoje em dia, olhamos muito e muito depressa. Mas a pressa pressiona e desfoca.

A pressa de tudo olhar poderá levar-nos a nada (conseguir) ver.

 

  1. Muitas das nossas conversas andam à volta do que (supostamente) vemos: «Já visteisto?»; «Já viste a última sobre aquele?»

O ver sobrepõe-se a praticamente tudo. Sobrepõe-se ao ouvir: «Já viste o que disse Fulano?». E sobrepõe-se até ao ler: «Já viste o último livro de Sicrano?»

 

  1. No limite, não vemos; vemo-nos.

Aquilo que recolhemos é tão fugidio que pouco — ou nada — corresponde ao real. Corresponde mais à nossa percepção, à nossa impressão.

 

  1. A linguagem acaba por ser mais monitorizada pelo receptor do que pelo emissor.

E, neste sentido, a interpretação corre o risco de ser mais uma apropriação do que umaaproximação.

 

  1. Há muitos olhares sobre Jesus que não aproximam de Jesus. Há muitas palavras sobre Jesus que podem distanciar-nos de Jesus.

Será que todo o Cristianismo é cristão? Será que o Cristianismo procura sempre ser cristão? Será que o Cristianismo nos conduz sempre a Jesus? Será que o Cristianismo nos traz sempre Jesus? Quando olhamos para o Cristianismo, conseguimos ver — e ouvir — Jesus?

 

  1. Nem só Cristo foi tentado. O Cristianismo também sofre o assédio das tentações.

É o que acontece quando o Cristianismo ensombra a presença de Cristo, quando ignora — ou aparenta distorcer — a mensagem de Cristo.

 

  1. Procuremos ver Jesus. E que o Cristianismo deixe sempre ver Jesus: o Jesus inteiro, o Jesus do Evangelho, o Jesus da bondade, o Jesus da verdade.

O presépio é uma preciosa cátedra e uma encantadora lição. Seremos capazes de a perceber?

 

Do blogue Paz na Verdade

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publicado às 12:33

Por fim, toda a verdade sobre Jesus Cristo!

por Zulmiro Sarmento, em 18.11.14

 

 


Depois do Jesus casado, é agora a vez do Jesus papá … e vem aí o vovô Jesus!

É fatal como o destino: de tempos a tempos, invariavelmente, descobre-se um raríssimo manuscrito do século I, com revelações bombásticas sobre Jesus Cristo; um novo heterónimo de Fernando Pessoa, encontrado pela mulher a dias, ao limpar a fecundíssima arca do autor da Mensagem; e um post-it no frigorífico, autografado pelo Nobel português, que dá depois azo a uma volumosa obra póstuma, original e inédita.

Este parece ser o caso do sensacional livro que o Sunday Times anunciou, com grande destaque, e que tem por autores Barrie Wilson, professor de estudos religiosos da Universidade de York, em Toronto, no Canadá, e Simcha Jocabovici, escritor e jornalista israelo-canadiano. Ao que parece, esta promissora obra acaba de chegar às nossas livrarias, just in time para o Natal.

Esta nova versão «histórica» de Cristo é, convenhamos, pouco original pois, contrariando a tradição evangélica de Jesus celibatário, ascético demais para os gostos modernos, copia Dan Brown, o romancista casamenteiro que patrocinou o enlace matrimonial do filho de Nossa Senhora com Maria Madalena.

A novidade está agora nos dois filhos havidos desse casamento. Não sei se se trata de dois rapazes, de duas raparigas ou de um de cada, ou seja, aquilo que antes se chamava, muito burguesmente, um casalinho. Também não sei se esta inesperada geração do Messias e da sua putativa mulher, sem ofensa, tem alguma coisa a ver com a bonificação que, em sede de IRS, é agora dada às famílias, por cada filho a seu cargo. É que, como é sabido, as coisas não estão fáceis para ninguém …

Se um Jesus casado já contradizia a verdade histórica dos Evangelhos e dos mais sérios e científicos estudos biográficos sobre Cristo, de que é principal referência o Jesus de Nazaré, em três volumes, de Bento XVI, este Jesus papá, provavelmente de pantufas, embora menos atraente do que o revolucionário Che Guevara, augura promissora continuidade num próximo episódio, digno de fazer concorrência ao Pai Natal: o vovô Jesus.

O novo livro baseia-se, ao que consta, num «Evangelho perdido» que, a bem dizer, é infeliz até no título porque, se depois foi encontrado, dever-se-ia chamar o «O Evangelho perdido e achado», não vá o leitor ficar, também ele, perdido. Ou então apelidar-se, tal como o filho mais novo da conhecida parábola, «O Evangelho pródigo», que o é, aliás, em inverosímeis disparates.

É de estranhar a co-autoria de um jornalista israelo-canadiano. Um jornalista é, em princípio, um cronista da actualidade, não um historiador de acontecimentos de há dois mil anos. E, já agora, porque se afirma israelo-canadiano? Quanto ao canadiano, tudo bem, mas a precedente referência parece indiciar o seu alinhamento ideológico com a política de Israel e, nesse sentido, contrário ao Cristianismo e à sua presença na Terra Santa. Se assim for, esta obra mais não é do que uma expressão pseudocientífica dessa mesma beligerância.

Entre nós, outro artesão do mesmo ofício, famoso pelas suas piscadelas de olho à teologia, deu a Jesus alguns irmãos, todos igualmente filhos de Maria, à qual atribuiu várias imaculadas conceições (?!), por ignorar que um tal privilégio respeita à concepção da própria virgem e não à sua maternidade, que foi única e exclusivamente de Jesus. É o que dá, quando alguém se mete a fazer ciência teológica e nem sequer sabe as verdades mais elementares do catecismo …

A banalidade destas «descobertas», que de científico nada têm, tem contudo uma vantagem porque, quanto mais insistem na aparente vulgaridade de Cristo, mais adensam o seu mistério. De facto, se Jesus de Nazaré era, apenas, um homem comum, carpinteiro de profissão, casado e pai de dois filhos, como explicar que, mais de dois mil anos depois, o seu nome e a sua mensagem suscitem tanta aversão – a religião cristã é, actualmente, a mais perseguida no mundo – e, sobretudo, tanto amor?!

P. Gonçalo Portocarrero de Almada

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publicado às 09:57


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