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“A ideia de evolução é relativamente nova” e, quando confrontada com a “ideia da criação”, percebe-se que ainda está a caminho de muitas descobertas. Explicações sobre este tema que nos últimos meses tem sido abordado por todo o mundo, devido em particular ao 150.º aniversário da publicação da Origem das Espécies (de Charles Darwin), foram dadas Sábado à noite no Funchal Pe. Alfredo Dinis, em conferência promovida pela Pastoral do Ensino Superior na diocese. “Para nós, hoje, a criação não é instantânea, Deus não criou tudo de um dia para o outro, mas está a criar. O universo, que também está em evolução, diz-nos que Deus continua a criar. A criação de Deus é uma obra que continua, ainda não acabou. E esta perspectiva não entra em contradição com a própria ideia da criação, como vem descrita na Bíblia. Não há incompatibilidade entre o evolucionismo e o cristianismo”, referiu. “Um cristão pode aceitar a teoria da evolução das espécies”, disse ainda o sacerdote jesuíta, que é também director da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, em Braga. Na conferência, realizada na igreja da Nazaré, chamou a atenção para alguns mal-entendidos, “porque ainda há cientistas e filósofos que dizem que quem acredita no evolucionismo não pode acreditar em Deus e não pode ser cristão”. Mas, não é bem assim. A questão do “criacionismo”, que aponta para a “criação do mundo em seis dias, para Adão e Eva”, não pode ser menosprezada, interpretada de qualquer maneira, e exige um respeito profundo. “O criacionismo, hoje, tem um sentido diferente do que tinha há algum tempo”. O que acontece é que “continuamos a aceitar que tudo aquilo que existe é por vontade de Deus. As coisas não se explicam por si. O universo não se criou a si mesmo e, portanto, Deus é o criador”, afirmou o conferencista ao Jornal da Madeira. Tema apaixona cientistas e teólogos 200 anos após o nascimento de Charles Darwin (Fevereiro de 1809) o tema da relação entre “evolucionismo e criacionismo” continua a apaixonar cientistas e teólogos, com repercussões na opinião pública. Ao nível da Igreja, recorde-se, este assunto também tem merecido a atenção devida, até para se dissiparem certos preconceitos e interpretações menos correctas. Em 2006, por exemplo, o Papa Bento XVI reuniu os seus antigos alunos de doutoramento em Teologia, em Castel Gandolfo, para uma análise sobre esta temática; e mais recentemente a Universidade Gregoriana, em Roma, debateu a “evolução darwinista e a criação”, com vários especialistas. ECCLESIA |
Por Vasco Pulido Valente
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Polémica despoletada pelo Nobel português pode ser oportunidade para valorizar a cultura bíblica
![]() A polémica despoletada pelas declarações de José Saramago a respeito da Bíblia, que classificou como “um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade” deve levar a Igreja Católica a valorizar a cultura Bíblica e combater a ignorância a respeito desse texto fundamental. Em declarações à Agência ECCLESIA, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal responsável pela área da cultura, indica que "uma personalidade como José Saramago, que tem mérito literário inegável, deveria ser mais rigoroso quanto fala da Bíblia, porque não se pode dizer dos factos e dos autores bíblicos o que Saramago diz”. O Bispo do Porto afirma que “bastaria ler a introdução a qualquer livro da Bíblia, nomeadamente o Génesis, para saber que são leituras religiosas acerca do história de Israel”, depois recolhidas como” história bíblica para todos os cristãos e todos os crentes”. D. Manuel Clemente diz que Saramago utilizou um discurso de “tipo ideológico, não histórico nem científico” e revela uma “ingenuidade confrangedora” quando faz incursões bíblicas. Já o Pe. Manuel Morujão, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), lamenta a “superficialidade” com que Saramago se debruçou sobre a Bíblia, considerando que “entrar num género de ofensa não fica bem a ninguém”, sobretudo a quem tem um estatuto de prémio Nobel da Literatura. “Uma crítica não deve ser uma ofensa, deve ser feita com respeito e humildade. Há aqui um claro exagero, que não gostávamos de ver nele (José Saramago, ndr)”, acrescenta, antes de considerar que as afirmações do Nobel da Literatura “ferem os sentimentos” de mais de 2 mil milhões de crentes. Para o biblista português Fernando Ventura, Capuchinho, José Saramago tem a exigência intelectual de se informar antes de escrever. “A Bíblia pode ser lida por alguém que não tem fé, mas supõe alguma honestidade intelectual de quem o lê”, afirmou, acusando Saramago de “uma falta gigantesca” dessa honestidade. Mais grave, acrescenta o Pe. Ventura, é o desconhecimento “do que são géneros literários” ou do lugar do “mito” na literatura, o que considera especialmente negativo num escritor, que se debruçou “sobre um âmbito que não domina”. “Não saber situar o texto no contexto é imperdoável para um escritor”, atira. O biblista espera que esta polémica sirva como “provocação” para que os católicos se questionem sobre a melhor maneira de responder a um “golpe publicitário” que atinge um meio marcado por uma “atroz ignorância bíblica”. Apesar de admitir a ignorância de muitos católicos em relação à Bíblia, o Pe. Manuel Morujão diz que um escritor da craveira de José Saramago tem mais responsabilidades do que o cidadão comum. Para o secretário da CEP, o “estatuto Nobel” não lhe dá o direito de entrar em campos que “não conhece suficientemente”. “A Bíblia, que tem 76 livros, tem de ser interpretada na diversidade dos géneros literários”, aponta. Este responsável diz mesmo que esperava “mais” do prémio Nobel, “independentemente da sua ideologia”, e recomenda “humildade” nas opiniões, para que estas não se apresentem como “pseudodogmas”. O Pe. Manuel Morujão conclui desejando que se promova “muito mais a cultura bíblica” e o conhecimento de um texto em que “Jesus até manda amar os inimigos”. Agência ECCLESIA |
Conta-nos o Evangelho de S. Marcos (Mc 10, 13-16) que as crianças eram apresentadas a Jesus para que as tocasse e abençoasse. Eram as próprias mães dessas crianças que tomavam esta audaciosa iniciativa. No seu coração – feminino e materno ao mesmo tempo – intuíam que o Mestre da Galileia podia dar aos seus filhos algo que elas não podiam dar: uma mercê que estava acima das suas capacidades; um presente que vinha directamente de Deus. E elas, como boas mães que eram, estavam dispostas a superar todos os obstáculos. Desejavam ardentemente, para aqueles que mais amavam nesta Terra, uma bênção vinda do Céu.
Os discípulos, ao verem aquele alvoroço infantil, procuravam evitar que Jesus fosse importunado. Era impensável que o seu Mestre, que tinha tanto que fazer e ensinar, perdesse o seu precioso tempo com aquele auditório barulhento e imaturo. No entanto – continua o relato evangélico –, vendo este modo de actuar dos seus discípulos, Jesus indignou-se. Os discípulos ficaram surpreendidos com esta reacção. Nessa ocasião, ouviram dos seus lábios um luminoso ensinamento que nunca mais se esqueceram: “Deixai vir a Mim as crianças e não as impeçais, porque dos que são como elas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10, 14-15).
Ser criança diante de Deus não é ser infantil, nem simplório, nem ingénuo. É simplesmente reconhecer a nossa pequenez. Reconhecer que diante de Deus somos muito pequenos – mais pequenos do que diante de nós um recém-nascido. Além de pequenos, somos verdadeiramente filhos de Deus. Podia não ser assim. Podíamos ser somente criaturas como o resto da criação, mas temos a dignidade de filhos de Deus. Somos – entre todas as criaturas visíveis – os únicos que foram criados à imagem e semelhança do Criador.
Ser criança diante de Deus é cortar pela raiz a tendência que todos temos para a auto-afirmação. É uma tendência perniciosa, que faz enormes estragos no nosso interior e no relacionamento com os outros. É uma verdadeira lepra, da qual procede um duplo mal: afasta-nos de Deus e também nos afasta dos outros.
Ser criança diante de Deus é renunciar radicalmente ao orgulho e procurar uma humildade genuína. Existe uma humildade que não é genuína porque é sinónimo de acanhamento, timidez e ausência de personalidade. Se é verdadeiramente humilde, o cristão será – ao mesmo tempo –, profundamente audaz. Sabe que sem Deus não pode nada, mas também sabe que com Ele pode tudo. Sabe que se conta com a ajuda de Deus – que é Pai e é todo-poderoso – não tem nada a temer. A vitória sobre o mal está garantida.
No fundo, ser criança diante de Deus é confiar completamente n’Ele, aconteça o que acontecer, como as crianças pequenas confiam totalmente nos seus pais.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Blogue da Agência ECCLESIA