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O MAIS BELO EVENTO É A VIVÊNCIA

por Zulmiro Sarmento, em 22.07.15
 
  1. A fé não existe para anestesiar, mas para despertar. Ela não é ornamento na vida, mas força para a transformação da vida.

Vazia seria uma fé soporífera ou levemente sedosa. O seu horizonte não pode ser, pois, a mera satisfação, mas a nossa permanente conversão.

 

  1. Não temos fé para fechar os olhos à vida, mas para olhar de frente para a vida.

O discurso crente não é aquele que passa por cima dos problemas, mas aquele que «aterra» totalmente nos problemas.

 

  1. Nenhum ideal de fé é compatível com uma fé que não seja real.

É bom não esquecer que a fé acontece sempre na realidade, não fora da realidade.

 

  1. Se a vida é difícil, como é que poderíamos esperar que a fé fosse fácil?

Não falta, porém, quem faça constante publicidade a uma «fé fácil».

 

  1. É o que sucede quando se apresenta a fé longe do sofrimento e distante do mistério.

No fundo, é uma fé que não encara a vida como ela se mostra nem acolhe Deus como Ele é.

 

  1. Uma fé com respostas imediatas não espelharia a vida enquanto vida. E ousaria até impedir que Deus fosse Deus.

A fé inclui, obviamente, a confiança em que tudo pode ser melhor. Mas não exclui a predisposição para aceitar as adversidades.

 

  1. Jesus ensina-nos que a Cruz não se procura, mas também não se recusa. Aos que Lhe solicitavam poder, Ele respondeu com o cálice (cf. Mt 20, 22-23).

Ou seja, quem seguir os Seus ensinamentos tem de se dispor a seguir a totalidade dos Seus passos. E aqui é preciso contar com a perseguição, a condenação e até a morte.

 

  1. São muitos os eventos que, hoje em dia, integram actos religiosos. É bom, mas não basta.

Um «Cristianismo de eventos» é claramente insuficiente. Reduz-se a momentos que se esgotam quando terminam. Não parece haver «antes» nem «depois».

 

  1. Muitas vezes, são promovidas celebrações desconectadas de qualquer preparação e desligadas de qualquer vivência.

Como há-de fermentar o compromisso?

 

  1. Urge perceber que o Evangelho não é um adorno para certas ocasiões, mas um projecto para a vida.

Os eventos ganham alma quando pré-existe — coexiste e pós-existe — uma vivência. Afinal, não será a vivência quotidiana da fé o mais belo evento de fé?

 

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publicado às 02:04

CRISTÃO SEM CONVERSÃO?

por Zulmiro Sarmento, em 07.07.15
 

 

  1. A Igreja é uma casa sem portas.

Porque, se as tivesse, teriam de estar sempre abertas.

 

  1. Todos são bem-vindos à Igreja.

Ela inclui até os que o mundo exclui.

 

  1. À frente da Igreja, Jesus não colocou o mais sábio, o mais capaz ou o mais fiel dos Seus discípulos.

Optou por alguém que tinha dado sinais de ser incoerente, inconstante e até medroso.

 

  1. A força da Igreja também assenta sobre a fraqueza de Pedro.

Segundo Chesterton, «todos os impérios se desfizeram devido à intrínseca fraqueza de terem sido fundados por homens fortes sobre homens fortes. Só esta coisa única, que é a Igreja de Cristo, foi fundada sobre um homem fraco, e por isso é indestrutível».

 

  1. De facto, é próprio do fraco socorrer-se do forte, deixando que o forte o fortaleça.

A força de Pedro consistiu em não se resignar à sua fraqueza. A força de Pedro era a força de Cristo nele.

 

  1. Os frágeis deste mundo foram encontrando na Igreja o seu lar.

É por isso que, como notou Henri de Lubac, «a Igreja não é uma academia de sábios, nem um cenáculo de intelectuais sublimes, nem uma assembleia de super-homens. É precisamente o oposto. Os coxos, os aleijados e os miseráveis de toda a espécie têm cabimento na Igreja, e a legião dos medíocres são os que lhe dão o seu tom».

 

  1. É bom não esquecer que o primeiro cristão a entrar no paraíso foi um ladrão (cf. Lc 23, 43).

Como lembra Timothy Radcliffe, o Salvador não deixou ninguém de lado, muito menos «aqueles cujas vidas são um caos».

 

  1. Não espanta, por conseguinte, que Jan Patocka descreva a Igreja como uma espécie de «comunidade de abalados».

É nela que os marginalizados nunca serão postos à margem. É nela que os feridos jamais continuarão a ser magoados.

 

  1. Em grego, o verbo que significa curar («sozo») também significa salvar. E, no latim, a palavra que se traduz por saúde («salus») também se traduz por salvação.

Alguém nega que a salvação é a grande — e definitiva — cura?

 

  1. Preocupante é quando um paciente não reconhece a sua fragilidade. Pior é quando não quer vencer a sua enfermidade.

Afinal, quando perceberemos que um cristão sem conversão é como um doente sem cura?

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publicado às 17:40

DEPOIS DA RELIGIÃO, APENAS A «RELIGAÇÃO»?

por Zulmiro Sarmento, em 05.05.15
 
  1. À primeira vista, o nosso mundo continua a ser fervorosamente religioso.

Segundo um estudo do «Forum Pew para Religião e Vida Pública», 84 em cada 100 pessoas assumem pertencer a uma religião.

 

  1. No entanto, a população que afirma não ter qualquer religião é muito expressiva (16,3%).

Depois do Cristianismo (31,5%) e do Islamismo (23,2%), constitui mesmo o grupo mais numeroso.

 

  1. Em alguns países, os sem-religião já estão em maioria.

É o caso da República Checa (76%), da Coreia do Sul (71%), da Estónia (60%), do Japão (57%) ou da China (52%).

 

  1. Ressalve-se, porém, que não ter religião não é o mesmo que ser ateu. E que ser crente não é o mesmo que ser religioso.

Por exemplo, 68% dos 20% de norte-americanos sem religião acreditam em Deus ou numa «força maior».

 

  1. A tipologia da fé não se limita, por conseguinte, ao universo religioso.

Para muitos, crer não obriga a pertencer. Pelo que acham possível ter fé sem ter religião.

 

  1. E é assim que se desenha um traço que vai unindo descrentes e uma larga faixa de crentes: a ausência de religião.

A religião não conta para os descrentes e parece contar pouco para muitos crentes.

 

  1. Tratar-se-á de uma atitude mais pós-religiosa que antirreligiosa.

De uma maneira geral, a sociedade não é hostil à religião. O que acontece é que, sobretudo no Ocidente, vai dando sinais de se converter numa sociedade «sem religião».

 

  1. É esta a expressão que Jean-Pierre Bacot usa para contrapor o nosso mundo ao resto do mundo: «Uma Europa sem religião num mundo religioso».

Descontando o óbvio exagero, salta à vista que a religião já não é um elemento tão marcante na vida dos europeus. Curiosamente, essa marca torna-se mais visível no quotidiano dos que têm vindo de fora para dentro a Europa.

 

  1. O ser humano já não será tão religioso. Mas continua a ser, estruturalmente, «religacional».

A religião estará em baixa, mas a «religação» não parece estar em queda.

 

  1. As pessoas esperam que a religião ajude a «religar» o homem e Deus. E que nunca impeça a «religação» entre os homens a partir de Deus.

Uma religião que desligasse os homens uns dos outros conseguiria «religar» alguém a Deus?

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publicado às 12:43

É POR DENTRO QUE SE CHEGA AO FUNDO

por Zulmiro Sarmento, em 03.03.15
 

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  1. Na manhã das nossas vidas, todos nos vestimos de sonho. Com o andar do tempo, porém, rapidamente nos sentimos revestidos de desalento.

O mesmo acaba — quase sempre — por sufocar o diferente.

 

  1. Jesus é o diferente a que ninguém consegue ser indiferente.

Ele irrompe na história para romper com muitas zonas de conforto da nossa vida.

 

  1. Jesus abana e abala-nos. A paz, que nos traz, pacifica, mas não anestesia.

Ele hospeda-Se em nós para nos desinstalar de nós.

 

  1. Hoje, Ele continua a convidar-nos a passar para «outras margens» (cf. Mc 4, 35).

Aliás, Jesus sempre teve uma predilecção pelas margens. Não só pelas margens dos rios (cf. Lc 8, 22), mas também pelo que ficava à margem dos grandes centros.

 

  1. Jesus recolhe-Se, em longas noites de oração, nos montes (cf. Lc 6, 12). E retira-Se, por muitos dias, para o deserto (cf. Mc 1, 12-13).

Em Jesus, o marginal torna-se definitivamente central.

 

  1. Um retiro não é apenas para sair dos locais habituais e das ocupações rotineiras. Um retiro é sobretudo para sair de nós.

Não nos retiramos para fazer o que fazíamos. Mudamos de ambiente para procurar mudar de vida.

 

  1. Acontece que a mudança só atinge a totalidade quando chega à profundidade.

Muitas vezes, é no fundo de nós que está o maior entrave à presença de Deus em nós. O egoísmo é o obstáculo mais resistente, aquele que mais custa remover.

 

  1. É por dentro que se chega ao fundo. Por isso, não sendo um evento puramente intimista, um retiro é sempre pautado por uma forte intimidade.

O perfil do retiro é mais ermítico que cenobítico. Predomina o silêncio para prevalecer a escuta. Rareiam as palavras para melhor acolher a Palavra.

 

  1. Um retiro é para reviver, não para conviver. Um convívio é outra coisa, também excelente e igualmente necessária.

Só que o convívio do retiro é com Deus. É este convívio que antecede — e alimenta — todo o convívio.

 

  1. Um retiro investe no interior para dar frutos no exterior. Não se trata, portanto, de uma alienação, mas de uma transfiguração.

Um retiro ajuda a esvaziar o eu que ainda subsiste em nós. E começa a levar Deus até (mais) além de nós!

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publicado às 14:41

uma mãe a falar da fé

por Zulmiro Sarmento, em 23.02.15

 


 


Foi-me dito por uma mãe de uma idade próxima aos quarenta, após um encontro com os pais daqueles que vão fazer a festa da vida e durante o qual se falou abertamente sobre questões de vida e de fé. Reproduzo-o porque me deslumbrou o que me contou. Não vou conseguir usar tão bem das palavras que ela usou. Mas foi mais ou menos assim. Senhor padre, eu queria tanto, mas tanto, que os meus filhos percebessem em mim a importância de ter fé, que às vezes até exagero. Procuro testemunhá-lo com a vida, mas ainda assim eles não conseguem perceber-me, e fico triste. Porém não desisto. Compreendo que não lhes posso impor nada e que eles estão numa fase complicada. O mais velho tem quinze anos. Vem de uma hora de catequese e diz que não aprendeu nada ou que não se lembra. Que não entende porque tem de ir à catequese. E há uns dias tiveram um grande diálogo em casa sobre estes assuntos. E que lhe disse: meu filho, enquanto tu tiveres tudo para te sentires satisfeito e preenchido, é óptimo. Mas quando deixares de o ter, também podes continuar a sentir-te satisfeito e preenchido. É isso que a fé faz. Por isso ela é tão importante.

Fiquei de boca à banda com o que ela falou ao filho. É mesmo isso que faz a fé. E para atestá-lo estão milhares de homens e mulheres que, embora ficando sem nada, envelhecendo, perdendo as capacidades e as forças da vida, continuam com uma vida cheia, preenchida e satisfeita, porque a fé lhes dá o que as outras coisas já não conseguem dar. Claro que a fé não é supletiva. Ela não substitui. Preenche. Preenche a vida.

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publicado às 12:10

SÓ DEUS DEIXA VER DEUS

por Zulmiro Sarmento, em 19.02.15
 

 

  1. Muito dizer nem sempre veicula muito saber.

O que dizemos acerca de Deus diz mais sobre nós do que sobre Deus.

 

  1. Como bem frisou Karl Rahner, nem a palavra Deus é adequada para dizer Deus.

Não esqueçamos que a própria palavra Deus é uma criação humana.

 

  1. Quando falamos sobre Deus, falamos habitualmente do que os seres humanos têm dito sobre Deus.

Alguém pode garantir que tal dizer sobre Deus corresponde cabalmente ao ser de Deus?

 

  1. Sto. Agostinho não alimentava ilusões: «Por mais altos que sejam os voos do pensamento sobre Deus, Ele está sempre mais além».

Por conseguinte, «se compreendeste, não é Deus. Se pudestes compreender, não foi Deus que compreendeste, mas apenas uma representação de Deus».

 

  1. Será que, como insinua alguma teologia, o máximo a que podemos aspirar é a saber o que Deus não é?

O certo é que até a Bíblia reconhece que caminhamos em contraluz. Deus é luz (cf. Sal 27, 1), mas surge ante nós como uma luz inacessível, que ninguém vê (cf. 1Tim 6, 16).

 

  1. A morada de Deus parece ser a nuvem (cf. Sal 97, 2), que é um manto de obscuridade que se interpõe entre nós e a luz.

Os textos sagrados garantem que Deus vem até nós através da nuvem (cf. Êx 19, 9), falando connosco por entre nuvens (cf. Êx 24, 6; Mt 17, 5).

 

  1. E, no entanto, Deus inundou o mundo de luz (cf. Gén 1, 4).

Acontece que os nossos olhos não vêem tudo (cf. 1Cor 2, 9). O essencial permanece-lhes vedado.

 

  1. Só vemos Deus quando O vemos com os olhos de Deus.

Só na Sua luz encontramos a luz (cf. Sal 36, 5).

 

  1. É por isso que Deus envia o Seu Filho. Ele é a luz de Deus para cada homem (cf. Jo 1, 9) e para todo o mundo (cf. Jo 8, 12).

Como confessamos no Símbolo, Jesus é a «luz da luz». É a luz que vem da luz para acender, em nós, mais luz.

 

  1. É possível que tenha chegado o momento de conter a nossa auto-suficiência e de parar algumas das nossas palavras.

Uma Quaresma sem ruído, uma Quaresma na humildade, uma Quaresma de escuta, uma Quaresma de espera depositar-nos-á — transfigurados! — na manhã luminosa da Páscoa!

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publicado às 05:10

A maior e a mais convincente lição sobre o que é a fé

por Zulmiro Sarmento, em 11.02.15

 

Para mim tem servido bastante esta pequena história. Devendranath Tagore, é pai de um dos grandes escritores da minha vida Rabindranath Tagore, indu, que escreveu várias obras de poesia, conto e romance. Li para nunca mais esquecer o belíssimo romance «A casa e o mundo»... Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1913 e tornou-se mundialmente famoso graças ao seu livro de poemas Gitanjali («Oferenda Lírica»).   

 
«O homem só ensina bem o que para ele tem poesia»

Rabindranath Tagore

Um Céptico perguntou a Devendranath Tagore: 

- Sempre falas de Deus, mas tens provas de sua existência?

Devendranath apontou para uma luz:

- Sabes o que é isto?

- É uma luz - respondeu o céptico.

- Como sabes que é uma luz? - perguntou Devendranath.

- Eu a vejo, portanto, não há necessidade de prova.

- Então o mesmo se dá com a existência de Deus. Eu O vejo em mim, e fora de mim, eu O vejo dentro e através de cada coisa. Portanto, não há necessidade de prova.

E continuou:

- Enquanto a abelha se encontra no exterior das pétalas do lírio e não experimentou ainda a doçura de seu suco, ela plana em volta da flor e emite um zumbido. Mas, logo que ela penetra no seu interior; ela bebe silenciosamente o néctar. 

Quando alguém ainda estiver discutindo e especulando sobre uma doutrina e os dogmas religiosos, é por que ainda não experimentou o néctar da verdadeira fé. Por isso, faz silêncio e compreenderás! Onde o Espírito Eterno vem com a sua Luz, a nossa lâmpada terrestre já não é necessária. Pobres homens que creem que as miseráveis lâmpadas do intelecto humano dão mais luz que o doce cintilar das estrelas divinas!

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publicado às 12:51

DEUS AMA, NÃO ARMA

por Zulmiro Sarmento, em 03.02.15
 

 

  1. Acerca de Deus, talvez tenha chegado o momento de nos fixarmos sobretudo naquilo que não sabemos.

É possível que esse não-saber nos forneça palavras menos impróprias e atitudes mais adequadas.

 

  1. Temos passado muito tempo a falar — e a agir — com base no que sabemos sobre Deus.

Acontece que os resultados nem sempre são brilhantes.

 

  1. As palavras conseguem mais escondê-Lo que mostrá-Lo. E muitas atitudes levam mais a encobri-Lo do que a descobri-Lo.

Como entender, então, que haja tantas palavras absolutas sobre Deus? E tantas atitudes irreversíveis em nome de Deus?

 

  1. Acresce que há palavras absolutas em contraste com outras palavras absolutas. E há atitudes irreversíveis em colisão com outras atitudes irreversíveis.

Até parece que Deus Se contradiz a Si mesmo.

 

  1. No mundo das religiões, a desarrumação é assustadora. O discurso da paz não está ausente, mas a violência teima em continuar presente.

Por vezes, o ser divino é representado como alguém menos humano do que muitos seres humanos. Como aceitar que se renda culto a Deus maltratando pessoas e eliminando vidas?

 

  1. O ateísmo de muitos crentes é mais devastador do que o ateísmo dos ateus.

Os ateus negam a existência de Deus, ao passo que muitos crentes negam a natureza de Deus, a identidade de Deus.

 

  1. Uns negam que Deus exista. Outros negam o Deus que existe. Que será pior?

Deus é imensamente mais do que uma não-existência. E é infinitamente melhor do que muitas existências que Lhe atribuem.

 

  1. Quando os ateus dizem que Deus, a existir, é o oposto de muitas das suas imagens, merecem alguma atenção. E reclamam o máximo cuidado.

Os que estiveram mais perto de Deus, os santos, foram sempre muito cautelosos. Sto. Anselmo, para mencionar as pessoas divinas, referia-se aos «três não sei quê». A própria Bíblia reconhece que «nuvens e trevas» envolvem a presença de Deus (cf. Sal 97, 2).

 

  1. O melhor, por conseguinte, é não parar de aprender. Importante é a escuta e não aluta.

O principal sobre Deus pode estar no que (ainda) não sabemos. Mas o que sabemos basta para ter a certeza de que Deus só ama (cf. Jo 3, 16), não arma. E até desarma os que se armam, os que estão armados (cf. Jo 18, 11)!

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publicado às 14:54

Nostalgia de Deus

por Zulmiro Sarmento, em 07.01.15

 

Notamos uma busca de Deus neste mundo materializado em que vivemos. Há uma curiosa lenda que tenta explicar essa ânsia nostálgica de Deus no íntimo de cada ser humano.

Depois do primeiro fracasso com o primeiro homem, Deus decidiu criar outro. Fez um belo boneco de barro e depois de activá-lo com o sopro a vida iria modelar-lhe um rosto. Tomou o boneco nas suas mãos e animou-o. Mas o boneco, logo que se sentiu com vida, fugiu das mãos do Criador. Queria ser ele mesmo a escolher o seu próprio rosto. Andou, andou e, longe de Deus, parou para pensar qual seria o seu rosto.

Foi experimentando diversos rostos que viu à sua volta na Natureza. Tomou o rosto de águia e passou a viver orgulhoso, como ave de rapina. Tomou o rosto de réptil e a sua língua só lançava veneno. Tomou o rosto de leão e passou a viver à custa dos mais fracos. Tomou o rosto de flor, mas cansou-se de ser objecto de adorno. Tomou o rosto de pedra, mas não pôde resistir muito tempo a tanta passividade.

Continuou a fazer várias experiências, mas cada vez se sentia menos homem. Começou a ficar cada vez mais triste e a sentir saudades do calor das mãos que o tinham criado e lhe iam modelar um rosto. Mas não sabia o caminho do regresso...

Esta procura ansiosa de Deus que se vem observando no decurso da História e mais se observa actualmente pelo aparecimento de numerosas seitas e de movimentos de cariz religioso, esta procura do Transcendente revela-nos essa nostalgia. Mas nem sempre os homens encontram o caminho do regresso às mãos do Criador. Alguns desistem e dizem-se agnósticos. Outros, torturados por esse desencontro, acham mais fácil negá-lo. E dizem-se ateus.

Outros procuram identificar-se com o rosto de Jesus Cristo, rosto visível do Pai Criador de todas as coisas.

Esta é a imagem verdadeira do Deus-Pai apresentada por Jesus Cristo. Só esta imagem pode levar à verdade sobre a fé e a esperança.

Mario Salgueirinho

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publicado às 10:45

PENSEMOS NISTO. QUANTIDADE VERSUS QUALIDADE

por Zulmiro Sarmento, em 29.10.14

Quatro características dos católicos que escandalizam os não católicos (e com toda a razão)

 
Sim, nós, católicos, somos pecadores como todos os outros, e a “fé só de nome” assola todas as religiões. Mas podemos ser bem melhores! Nós temos a plenitude do Evangelho de Jesus Cristo e o pleno acesso à sua graça infinita. Não deveríamos manter um padrão bem mais elevado?
 
É muito importante notar que nenhum dos problemas que eu listo a seguir são inerentes ao catolicismo como tal: esses problemas vêm de indivíduos católicos que não vivem a própria fé. Além disso, nenhum desses problemas se aplica à totalidade dos católicos, pelo menos não de forma significativa. Mas se aplicam a um número de católicos suficientemente relevante para causar escândalo entre os não católicos, dando a eles fáceis motivos para não levar o catolicismo a sério.
 
Eu não tenho a pretensão de achar que não faço parte do problema. Eu faço. Mas gostaria também de fazer parte da solução.
 
Por isso, gostaria de mencionar quatro aspectos em que nós, católicos, escandalizamos os não católicos. Precisamos melhorar nesses quatro pontos para transmitirmos de verdade o Evangelho ao mundo.
 
1) Nós, católicos, não falamos o suficiente sobre Jesus
 
Jesus Cristo aparece no centro e na frente de cada cruz na maioria das igrejas católicas. É o Evangelho de Jesus Cristo o que nós temos que levar até os confins da terra. É Jesus Cristo quem, misteriosamente, se faz presente no altar em cada santa missa. Jesus é o centro absoluto da fé católica, o princípio e o fim de tudo.
Ou deveria ser.
A nossa pouca vivência real desta verdade é um problema tão sério que nem há como exagerá-lo. Mesmo entre os católicos mais fiéis, parece que há uma dedicação de tempo bem maior para falar da Igreja, do clero, do papa, da missa, dos ensinamentos morais, dos sacramentos, de Maria e dos santos, todos muito importantes, é claro, mas bem menos dedicação para mencionar Jesus.
Sim: os evangélicos, às vezes, estão certos ao dizer que todos aqueles outros aspectos podem acabar virando uma distração. E eles têm o direito de se escandalizar com isso.
É claro que a solução não é o outro extremo, de deixar de lado todos esses aspectos da nossa fé. Mas precisamos enxergar a ordem correta das coisas. Os católicos devem seguir o ensinamento da sua Igreja e colocar Jesus em primeiro lugar, pois Ele é o Deus encarnado e o único que pode nos salvar. Todo o mais é uma ajuda para nos aproximarmos de Jesus.
 
2) Nós, católicos, não conhecemos a Bíblia
 
“A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”. Esta frase não foi dita por um pregador fundamentalista, mas por um santo católico doutor da Igreja: São Jerônimo. A frase é citada na “Dei Verbum”, a constituição dogmática sobre a Revelação Divina promulgada pelo Concílio Vaticano II, em 1965.
Parece, portanto, que uma grande quantidade de católicos é ignorante de Cristo.
A Igreja católica concorda com os irmãos e irmãs protestantes quando eles afirmam que a bíblia é a Palavra inspirada por Deus. A bíblia é fonte fundamental para aprendermos sobre Cristo e sobre o caminho da salvação. Como católicos, somos incentivados a conhecer a bíblia, mas a maioria de nós não se empenha nesse conhecimento.
 
3) Nós, católicos, dissentimos dos ensinamentos da Igreja
Por que os outros cristãos e os não cristãos levariam a sério os ensinamentos católicos se parece que nem sequer os católicos levam a sério a própria doutrina?
Muitos protestantes chegaram a dizer-me o seguinte: é difícil levar a sério a suposta autoridade dos bispos (um aspecto essencial do catolicismo) quando a impressão que se tem é a de que eles mesmos permitem muita dissidência. Quando eu falo com meus amigos evangélicos sobre a fé, aponto a confusão e a desunião que a “sola scriptura” provoca entre os protestantes e mostro que o magistério católico oferece uma solução, pelo menos em princípio. Mas é exatamente por isso que parece tão chocante o fato de que os nossos bispos permitam, em torno a questões importantes, a mesma dissidência, confusão e desunião que existe entre os protestantes no tocante à “sola scriptura”. De que adianta ter um bispo, perguntam eles, que não conserva a fé nem mantém a ordem? Qual é então, questionam eles, a necessidade do magistério?
 
4) Nós, católicos, não vivemos na prática os ensinamentos da Igreja
 
Este problema é parecido com o anterior e se resume ao seguinte: a hipocrisia não atrai ninguém.
Sim, todos nós temos pecados e ninguém é perfeito, independentemente da sua religião. Mas será que estamos mesmo tentando ser melhores? A nossa fé faz mesmo alguma diferença em nossa vida real?
É um reducionismo dizer que a Igreja tem posições morais contrárias à cultura dominante. Mas o testemunho da Igreja acaba ficando ainda mais reduzido quando nós, católicos, não demonstramos viver essas posições. Não inspiramos os não católicos a praticar a virtude heroica solicitada pelos ensinamentos da Igreja quando nem nós damos o exemplo do esforço para praticá-la.
 
Precisamos de uma reforma.
A Igreja é a Igreja de Cristo, independentemente da fidelidade ou não dos seus membros. Além disso, há muitos fiéis católicos fazendo muitas coisas excelentes.
Mas precisamos de uma reforma.
Não se trata de um cisma, e sim de uma verdadeira reforma de vida, do tipo modelado pelos santos católicos. É com essa reforma que poderemos cumprir mais efetivamente o mandamento de Cristo e o primeiro propósito da existência da Igreja: testemunhar o Evangelho da salvação para o mundo inteiro.

BRANTLY MILLEGAN | aleteia.org

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