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Homilia de Encerramento da Semana Nacional da Educação Cristã

por Zulmiro Sarmento, em 14.10.11

Encerra-se neste Domingo a Semana Nacional de Educação Cristã, que este ano tem como  tema : “Família, transmissão e educação da fé”. Estamos em Fátima, lugar e santuário a que o Papa chamou “ Escola da fé”. Aqui se manifesta a fé dos milhares de peregrinos; se alimenta a fé de tanta gente que reza, ouve a Palavra de Deus, se aproxima do sacramento da Reconciliação e procura na Eucaristia a força espiritual; se testemunha a fé no acolhimento dado a todos por igual; se comunica a fé de mil maneiras a tantos que dela andam afastados Aqui podem também, os pais e os avós avivar a sua responsabilidade de transmitirem e fazerem crescer a fé dos seus filhos e dos seus netos.

Convida-nos o Santuário durante este ano a ”adorar a Santíssima Trindade. No mistério da Trindade tem a família a sua mais rica referência: Deus uno, Três Pessoas Divinas, o amor que faz a unidade, o mesmo projecto de salvação universal. A família, “comunidade de vida e de amor” poderá acaso beber em melhor fonte?

2. As famílias vivem hoje dificuldades grandes no seu dia a dia, mas todos sabemos que, numa família onde o amor é lei, os filhos são sempre a maior riqueza dos pais e dos avós, e a atenção a eles e ao seu maior bem é a maior preocupação dos pais. Deus encarregou os pais e os outros familiares que, a partir do Baptismo, sejam os primeiros responsáveis para que os seus filhos sejam de Deus, cresçam e andem sempre nos caminhos de Deus, que são os do bem. Assim serão felizes e farão os outros felizes.

Por vezes, as dificuldades e os problemas, mas também o descuido de muitos pais em se manterem fiéis à sua fé e, também, nesse ponto, serem modelo para os seus filhos, impede que a fé seja transmitida no primeiro e mais importante lugar, que é a casa dos pais, a casa de uma família cristã. Muitos de nós que aqui nos encontramos hoje, tivemos como primeiro lugar de catequese o colo das nossas mães ou das nossas avós. Aí aprendemos a olhar para o céu, a dizer o nome de Jesus, a benzer-nos, a rezar o Pai Nosso, a Avé Maria, a oração pequenina ao Anjo da Guarda. Era a primeira transmissão da fé, do sentido de Deus, como um grande valor educativo. Quando os pais entregavam os filhos à catequese paroquial, eles já iam de coração aberto para receber mais, já iam iniciados nos valores humanos e cristãos traduzidos em atitudes de vida. Não se manda aos pais que sejam educadores dos seus filhos, apenas se lhes pede que sejam pais.

3.Acontece que hoje já não é assim em muitas famílias que se dizem cristãs. Em Portugal inteiro chegam à catequese muitas crianças, talvez a maioria, que não sabem rezar nada, e nada sabem de Deus. Mais parecem filhos de pais não crentes e de famílias não cristãs.

Os pais não podem esquecer-se que quando pediram livremente o Baptismo para os filhos, assumiram o dever de os educar na fé, e que o Baptismo só tem sentido no desejo de que os filhos sejam de Deus, sejam santos. Se os filhos não forem de Deus, podem um não ser dos próprios pais. O baptismo não é apenas um rito religioso que recebe por força de uma tradição. É o maior dom que nos vem generosamente de Deus ao querer como seus filhos em Jesus Cristo. É o nascimento de uma vida nova que os pais não podiam , por isso a pediram à Igreja.

Certamente que a Igreja que tem como missão permanente, até ao fim dos tempos e em todos os lugares, dar a conhecer Deus e o seu desígnio de salvação para todos, sem excepção, vai ao encontro dos pais, não para os dispensar do seu dever, mas para os ajudar no seu dever de educadores da fé e da vida cristã. A catequese é esta tarefa da Igreja Mãe que se adapta às idades das crianças, dos adolescentes e dos jovens, pois que também ela é mãe, para ajudar a crer em Deus e a ser-lhe fiel.

Propõe-se a Igreja em Portugal sempre, mas muito especialmente este ano, dar aos pais uma formação mais adequada para que possam ser educadores da fé dos seus filhos, quer directamente, quer colaborando com os seus catequistas., ao longo dos dez anos de catequese. Deste modo também se pode ajudar a fé dos pais e de toda  a família, através da caminhada dos filhos.

4. Esta colaboração a pede ainda a Igreja aos pais em relação à formação cristã nas escolas, através da aula de Educação Moral e Religiosa Católica. Para os mais jovens compete aos pais pedir a sua matrícula. Aos mais velhos a motiva e a aconselhar a que o façam, como uma grande ajuda para a sua formação presente e futura.

Transmitir a fé e educar na fé não é apenas ensinar doutrina, nem levar aos sacramentos, mas é, sobretudo, ensinar vida e preparar para a vida, com a luz da verdade evangélica e o testemunho. Os valores humanos da verdade, da liberdade, do respeito pelos outros, da justiça, da honestidade, da solidariedade, da paz, do sentido da responsabilidade e do amor ao trabalho, são fundamentais na formação da gente nova. E tudo isto se aprende, antes de mais, no seio da família pelo testemunho dos pais, mas, também, na paróquia e na escola, através dos que desta tarefa fazem missão.

Neste dia, faço daqui, em nome dos bispos portugueses, dos bispos das vossas dioceses, dos vossos bispos, um apelo a todos vós, pais e mães, e avós, para que não descuideis a transmissão e educação da fé cristã dos vossos filhos e netos. Deus não se discute. Somos dele e a Ele pertencemos. E, como diz o povo crente, como dizeis vós mesmos: “Quem tem Deus tem tudo, quem não tem Deus, não tem nada”.

5. Pensemos como Maria e José se empenharam na educação de Jesus. Numa oração da família rezamos assim “Senhor, nosso Pai, Tu quiseste que  o Teu Filho nascesse e crescesse no seio de uma família como as outras. Assim, ao longo de uma vida simples, Ele aprendeu, a pouco e pouco, de José e de Maria, a tornar-se adulto e a descobrir a sua missão.” Sim, também Jesus de seus pais.

É isto que se pede aos pais: ajudar, por todos os meios ao seu alcance, os seus filhos a tornarem-se adultos e a descobrirem a sua missão, na Igreja e no mundo. Pais e mães, não saiais de Fátima sem pedirdes à Mãe de Jesus que vos ajude a ser verdadeiros educadores dos vossos filhos, de testemunhardes nas vossas comunidades esta preocupação e aqui, em Fátima, de  pedirdes, também, a mesma graça para todos os pais e mães, que andam, porventura, distraídos desta missão de pais cristãos.

6. A Palavra de Deus que há momentos foi proclamada, vem ao encontro da nossa vida, da vossa vida concreta. Na primeira leitura, ouvimos o Profeta Isaías dizer-nos, e dizer a todos os pais em sofrimento, que o “Senhor Deus enxugará as lágrimas de todos os rostos, pois é no Senhor, que pomos toda a nossa confiança”. E quantos pais e mães, muitos dos quais bem conheceis, choram os seus filhos transviados!

 Na segunda leitura S. Paulo, conta-nos a sua experiência de vida, por força da sua fé em Jesus Cristo, Ele que ó melhor modelo da vida de um crente que “sabe viver na pobreza e na abundância, em todo o tempo e em todas as circunstâncias… porque pode tudo em Jesus Cristo, Senhor,  Aquele que lhe dá força, e o conforta todos os dias”.  Que mais podemos nós querer?

O Evangelho ao narrar para o qual todos são convidados pelo Senhor, que não nos podemos dispensar de fazer o que nos compete, para podermos entrar na sala da festa preparada para todos. E, se a grande festa é de Deus, dela não podem estar ausentes os seus filhos.

7. Agradeçamos ao Senhor, por intercessão da Sua Mãe, que Ele quis que fosse também nossa Mãe, a graça de termos vindo hoje aqui, a esta “escola de fé” que é Fátima, para vivermos o nosso Domingo e para regressarmos mais fortes e mais conscientes dos nossos deveres e responsabilidades de cristãos na família, na sociedade, na Igreja. Agradeçamos, também, o trabalho generoso e dedicação gratuita dos muitos milhares de catequistas de Portugal, mais de setecentos participaram nesta Jornadas, e peçamos à Mãe do Céu os cumule de bênçãos para que possam dar às crianças e aos jovens um testemunho sério de vida cristã, colaborem com as famílias e encontrem nestas a melhor colaboração nas suas tarefas apostólicas.

 

António Marcelino, bispo coordenador da Comissão Episcopal da Educação Cristã

 

 
 

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publicado às 03:42

Nota Pastoral na Semana Nacional da Educação Cristã

por Zulmiro Sarmento, em 23.09.11

 

Família, transmissão e educação da fé

“A família é a primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade… A família é a primeira, mas não a única e exclusiva comunidade educativa” (João Paulo II, FC ns 36 e 40).

“A família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e de onde o Evangelho irradia… Os pais não somente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido” (Paulo VI, EN n.71).

 

1. O que entre nós era uma realidade há umas dezenas de anos, tornou-se hoje uma preocupação, muitas vezes sem grande eco nas pessoas mais responsáveis, dado o seu papel de interventores necessários num processo importante da vida. Trata-se da missão da família cristã no processo educativo dos filhos e na transmissão e educação da fé, assumida como dever e encargo. Trata-se, ainda, de a família assumir o seu lugar, como espaço de valores morais, de oração, reconciliação, abertura a projetos de vida e a compromissos apostólicos.

A sociedade mudou e, nela, o processo de mudança continua imparável. A família, parte viva da sociedade, também mudou, e a mudança afeta o relacionamento dos seus membros, a compreensão das suas tarefas, a ocupação e o trabalho fora de casa, a disponibilidade de tempo e de vontade para os serviços normais do seu dia a dia, o embate com leis civis que não a respeitam, antes a agridem, a dificuldade de reagir, de modo ativo e em rede organizada com outras famílias, à invasão opressora de ideias e de comportamentos que lhes são alheios. Sem deixarem de influir em todos, as mudanças tocam, de modo especial, os mais novos.

Deste modo, a família tem mais dificuldade em se encontrar como família, e, também, como família cristã, diminuindo, sempre mais, a sua capacidade para responder aos novos desafios que se lhe põem e para realizar as suas tarefas fundamentais. Se este processo não for contrariado, a família vai-se tornando, pouco a pouco, uma instituição frágil, desagregada e socialmente irrelevante.

2. A Igreja acredita no desígnio de Deus sobre a família, sabe o significado e o alcance do sacramento do Matrimónio, conhece e defende a importância da família em ordem à vida dos seus membros, o seu papel na sociedade e a sua missão na Igreja, considerando a instituição familiar como célula fundamental da sociedade, e a família cristã como uma “Igreja doméstica”. Em virtude desta fé e desta convicção, no contexto social e cultural atual, a Igreja olha a família com amor e atenção, luta pela sua defesa, empenha-se na reconstrução da sua identidade e verdade, ajuda-a a realizar, por meios diversos, as suas tarefas essenciais.

Uma destas tarefas da família, de importância decisiva para a sociedade e para a Igreja, é o dever irrenunciável dos pais da educação dos seus filhos em todos os aspetos e da transmissão da fé, não só no seu espaço próprio, mas até onde se pode estender a sua capacidade de intervenção.

 A tarefa educativa, nos aspetos fundamentais, a família nunca a realizou sozinha. Por isso, não pode estar ausente onde ela se processa, seja nos espaços normais do lar, na escola e na comunidade cristã. Aí se deve sentir a sua colaboração efetiva, dada e aceite, com os muitos intermediários indispensáveis, professores e demais educadores de todos os níveis.

3. A educação da fé, iniciada no seio da família cristã, como abertura a Deus e primeira aprendizagem de palavras e gestos religiosos significativos, é continuada, depois, nos outros espaços de vida da criança que vai crescendo: o jardim de infância, a catequese paroquial, a escola dos diversos ciclos. Para muitas crianças, adolescentes e jovens, também se faz nos movimentos e grupos apostólicos de sentido eclesial. Aí se transmitem valores morais para a vida, se proporciona ocasião para o aprofundamento da fé, a abertura ao apostolado, a opção vocacional e o serviço aos outros, dimensão normal e indispensável da vida cristã.

4. Nesta Semana Nacional de Educação Cristã, queremos sublinhar a importância da ligação entre família e educação da fé. Sabemos que muitos pais continuam, neste campo, atentos e colaborantes, conscientes do seu dever de educadores principais dos seus filhos. Queremos apoiá-los e dizer-lhes quanto nos alegra este seu empenhamento, pedindo-lhes que não desistam nunca e que ajudem outros pais a agir de igual modo.

Não deixamos, porém, de estar atentos às famílias que continuam a dizer-se cristãs, mas que, conservando uma expressão religiosa tradicional, deixaram empobrecer a sua ligação a Deus e à Igreja, uma atitude que, em alguns a aspetos, acaba por atingir os seus filhos. Chegam agora à catequese crianças sem qualquer iniciação cristã, e sentem-se, a partir daí, omissões em ordem ao seu acompanhamento e ao cuidado da sua formação moral e religiosa nas escolas. Catequese na paróquia e aula de Educação Moral e Religiosa nas escolas são atos complementares, que não se substituem um ao outro. Não esquecemos que o dia a dia de muitas famílias é hoje complexo e difícil, por razão dos horários de trabalho e do trabalho longe de casa que proporcionam pouco tempo com os filhos, das exigências materiais, indispensáveis para ir ao encontro das necessidades familiares. Uma ordenação das prioridades, o aproveitamento dos fins de semana para a família, o recurso a outros membros da família, como os avós quando estão por perto, podem ajudar na educação e transmissão da fé. Os filhos que frequentam a catequese e as aulas de educação moral e religiosa podem ser também uma ocasião para que os pais reatem a vida cristã e se integrem na vida da Igreja.

5. O programa da catequese paroquial, ao longo de dez anos, e o do ensino religioso nas escolas ao longo de doze anos, precedidos ambos do despertar da fé no seio da família e no Jardim de Infância, não dispensam a participação possível dos pais no processo educativo, bem como a sua colaboração com os agentes diretos desta ação, catequistas, professores,  educadores e animadores. Vamos agora dar uma atenção especial à catequese familiar, com a preocupação de apoiarmos os pais e os filhos nesta tarefa. Se falarmos, mais concretamente, do Ensino Religioso nas Escolas, o contexto atual exige mútua colaboração entre pais e professores de Educação Moral e Religiosa e a própria escola. Torna-se, então, mais exigente a atenção a prestar ao processo das matrículas, ao desenvolver do projeto educativo, à qualidade dos valores que nele se transmitem ou não, bem como às iniciativas complementares promovidas na escola.

Os filhos são a maior riqueza dos pais e a educação é o meio indispensável para os ajudar a crescer e a prepararem-se para uma vida feliz, como protagonistas responsáveis e participativos. O dever da presença e do estímulo no tempo da formação humana e religiosa dos filhos, é, para os pais, uma expressão de fidelidade ao amor que os gerou e os educa.

6. É fundamental que as necessidades educativas e espirituais das famílias sejam consideradas nos projetos pastorais das comunidades cristãs e nos projetos educativos das escolas, concretamente na perseverança e criatividade colocadas no acolhimento, no acompanhamento e nas oportunidades de formação oferecidas aos pais e outros familiares.

Saudamos, com alegria, todas as famílias e todos quantos, nas escolas e nas paróquias, se dão por inteiro à causa da educação.

Desejamos que esta Semana Nacional de Educação Cristã constitua um estímulo e um contributo para as famílias cristãs e para as comunidades educativas, paróquia e escola, de modo a que a catequese e o ensino religioso, com a colaboração necessária dos pais, dos catequistas e dos professores de Educação Moral e Religiosa, constituam um contributo valioso na formação humana e cristã das crianças e dos jovens.

Lisboa, 15 de setembro de 2011

Comissão Episcopal da Educação Cristã

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publicado às 04:24

Nota Pastoral sobre EMRC

por Zulmiro Sarmento, em 28.06.11
 
Educar é ver mais longe
 
 
 
Nota Pastoral do Bispo de Aveiro sobre as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC)
    1.O mês de Junho é para as escolas e para quantos nelas estudam e ensinam o mês de avaliação do ano lectivo que termina e o mês de matrículas em ordem ao novo ano que vai começar. É o mês de exames de avaliação para aferir o passado e o mês de projectos educativos para desenhar o futuro. Devia, por isso mesmo, ser mês de festa e de alegria, de gratidão e de esperança.
O que se vive e celebra nas escolas reflecte-se nas famílias e nas comunidades. A escola não é indiferente ou marginal a nada nem a ninguém na comunidade em que está inserida. O que ali se ensina e aprende, realiza e acontece, define e decide o rumo da sociedade que queremos ser.
Um exame não avalia apenas o aluno e o professor. O seu resultado não lhes pertence em exclusivo. É êxito ou fracasso de todos nós. Uma avaliação feita na escola é, também, oportunidade de aferição de critérios educativos e de valores vividos em casa e na terra e uma matrícula aí realizada é sempre portadora de um projecto de futuro para a família e para a comunidade.

2.Na escola, semeia-se, constrói-se, ensina-se, educa-se e sonha-se. E isso é acção permanente. É trabalho de todos os dias do ano lectivo. A escola é casa de janelas abertas ao futuro. O hoje da escola é sempre vigília do amanhã. É que, educar é ver mais longe. É olhar para lá do óbvio, do efémero e do tempo presente.
Na escola, o tempo não passa. Muitas vezes cansa e desgasta. Mas também encanta e deslumbra. A escola faz crescer e sonhar. E por isso, aí se educam os alunos e se perpetuam os mestres. Por isso, cada novo ano lectivo é para a escola sempre o primeiro. Aquele em que tudo se investe e em que todos trabalham, como se fosse o único.
O trabalho na escola não vale apenas por si. O trabalho pedagógico desenha, com um misto de arte, saber e paciência, traços da alma em cada um dos alunos. É sempre trabalho fecundo.
O trabalho educativo não é prisioneiro de cálculos, nem se encerra nas grades do tempo. Educar é, de certo modo, semear para a eternidade.
Na escola, não se produzem coisas. Nem nascem aí os sábios. Formam-se pessoas, em aturado e cativante trabalho de atenção dada à alma que habita em cada um dos alunos.
Dada a complexidade da missão e a grandeza do desafio de educar, ninguém se pode dispensar de trabalhar nesta causa. A educação é leme que nos guia neste sulcar de oceanos imensos de um contínuo «aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver em relação com os outros”, como nos propõem os objectivos pensados para a educação na Europa.
É neste compromisso comum que todos nos sentimos implicados e envolvidos: alunos, pais, encarregados de educação, professores, funcionários e membros da comunidade. É com todos nós que a escola se faz.

3.Deste olhar realista e abrangente para a escola e para a missão de educar nasce o dever e o direito, legalmente afirmado e respeitado, da presença e da acção da Educação Moral e Religiosa na escola.
A Igreja, no que à Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) diz respeito, assume esta missão com sentimentos de alegria e sentido de responsabilidade, consciente de que aí, fiel ao anúncio do Evangelho, pode e deve realizar um belo e necessário serviço a toda a comunidade humana.
Estamos presentes e disponíveis para trabalhar com aqueles que, por sua opção livre ou por escolha decidida dos seus pais, procuram nas aulas de EMRC um espaço e uma oportunidade de aprofundar saberes, delinear critérios de vida, afirmar a fé cristã e encontrar valores que alicercem e consolidem o seu caminhar rumo ao futuro.
A presença da EMRC na escola, desde o 1.o Ciclo até ao termo do Secundário, transporta em si um permanente e interventivo empenhamento por parte dos alunos e professores desta disciplina no projecto educativo da escola e na abertura à comunidade educativa alargada, com quanto isso supõe e exige de competência profissional, disponibilidade de tempo, compromisso de acção e testemunho de vida.
Os alunos e os professores de EMRC não estão sós nesta missão. Está com eles toda a Igreja, que deste modo se compromete e empenha.
São muitos, também, aqueles alunos que sem uma opção clara de fé ou porventura mesmo distanciados de qualquer crença religiosa procuram nas aulas de EMRC um espaço de diálogo e de abertura ao confronto de ideias e à afirmação dos valores éticos de um sadio humanismo. Trazem consigo, aliada a uma natural e espontânea curiosidade de saber, a seriedade de quem lucidamente procura a verdade e nesta procura muitas vezes encontra Deus e sente a Sua discreta e actuante presença.
Pertence à comunidade no seu todo e concretamente às famílias cristãs sensibilizar os alunos para o valor e para importância da matrícula em EMRC, que sendo uma disciplina de opção exige e supõe a afirmação expressa da vontade de nela se inscrever.
Sei quanto esta presença na escola é exigente e simultaneamente difícil e gratificante para cada um dos alunos e professores. Mas sei, igualmente, que a EMRC constitui um bem para os alunos, para os professores, para a escola, para as famílias e para a comunidade.
Esta reflexão é, por isso também, palavra de gratidão dita a todos quantos trabalham nas nossas escolas e em tantas outras frentes de serviço, na família e na comunidade, em prol de uma educação integral das crianças e dos jovens de hoje.
O futuro das pessoas e o rumo das sociedades decidem-se, muitas vezes, em pequenos gestos e dependem de humildes e discretas decisões de quem sabe que educar é ver mais longe, para, em cada dia que passa, formar pessoas felizes, preparar um amanhã diferente e construir um mundo melhor.

Aveiro, 15 de Junho de 2011
+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro
       

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publicado às 03:50

Para os pais portugueses...

por Zulmiro Sarmento, em 24.05.11

Exortação do senhor Bispo de Santarém aos responsáveis pela educação das crianças, adolescentes e jovens:

 

 

Estão em curso as matrículas nas Escolas. Os pais e encarregados de educação, que são os principais e mais influentes educadores, mostram-se cada vez mais empenhados no desenvolvimento integral dos seus educandos.

Este crescimento harmonioso que todos desejamos não se realiza apenas através da inteligência, da aquisição de competências ou da obtenção de resultados; a educação do espírito, a educação para a beleza e para a cultura, para a ética e para a moral, a educação para os afectos, também concorrem para o desenvolvimento das potencialidades dos mais novos.

A educação para a ‘pessoa’ alcança-se com o conhecimento e com a aprendizagem de uma atitude interessada e construtiva, com o exercício da honestidade e da responsabilidade pelo bem comum, com o cultivo da alegria e da boa relação. 
Só conseguiremos alcançar uma educação integral e harmoniosa com o contributo conjugado de todas as forças vivas da sociedade: da família e encarregados de educação; das escolas; das comunidades cristãs; das associações culturais e desportivas; dos meios de comunicação social, etc. A educação global não se alcança apenas com os programas do “Ministério da Educação” - embora estes sejam fundamentais, mas com a colaboração empenhada e complementar de pessoas e instituições apostadas em construir uma sociedade mais justa e fraterna.

A Igreja Católica sempre se dedicou à educação de todas as idades (infância e adolescência, juventude, adultos e idosos) e ao desenvolvimento de todas as dimensões da pessoa humana: cognitiva, ética, afectiva, cultural, espiritual.

Esta preocupação pela plenitude da pessoa humana levou à criação do serviço de educação moral nas escolas públicas através da disciplina da “Educação Moral e Religiosa Católica” (EMRC). Não é ensino confessional, como a catequese, mas transmissão dos valores humanos e das referências que constituem o nosso património cultural de matriz cristã: compreensão do mundo e do homem, história e papel das religiões, participação activa na comunidade, promoção da solidariedade, educação para a responsabilidade, para a alegria e para a boa relação.

Procurem os pais exercer o seu direito de matricular os filhos na disciplina da educação moral (EMRC) desde os primeiros anos da escola. O primeiro ciclo do básico é muito importante por ser o alicerce do percurso escolar. Até aos dezasseis anos pertence aos pais fazer a matrícula. Após essa idade são os educandos que fazem a opção. A frequência é facultativa mas, quando pedida, a oferta é obrigatória da parte dos estabelecimentos de ensino. Se os pais desejarem as escolas não deixarão de responder.

A crise que nos preocupa não é só económica mas também ética. O egoísmo é maior, as fraudes aumentam, as desigualdades são mais gritantes, o respeito pela dignidade do outro parece diminuir. São os próprios fundamentos éticos da sociedade que estão hoje em questão. A educação moral e religiosa escolar pode ser um bom contributo para vencer a crise moral e incutir uma atitude construtiva e responsável perante a vida.

Santarém 12 de Maio de 2011

+ Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém
ECCLESIA

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publicado às 01:33

UMA QUESTÃO DE VALORES CRISTÃOS QUANDO CHEGAR O MOMENTO DAS MATRÍCULAS DE MILHARES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. TAMBÉM UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA. E DE VENCER O DESEJO DOS PAIS E NUNCA, MAS MESMO NUNCA, A OPINIÃO MAQUIAVÉLICA DOS DIRECTORES DE TURMA

por Zulmiro Sarmento, em 19.06.10

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publicado às 07:10

EMRC: Eu Quero! - Campanha de matrículas 2010

por Zulmiro Sarmento, em 16.06.10

 

«Eu quero!» é o lema escolhido para a Campanha de matrículas 2010 da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC). É deste modo que se pretende cativar os alunos numa campanha de matrículas neste final de ano lectivo.

A EMRC é parte integrante do Curriculo escolar desde o ensino Básico ao Secundário, sendo de oferta obrigatória e de frequência opcional, e apresenta-se como "um espaço educativo de grande interesse" no contexto de "uma autêntica educação integral".

O desdobrável que promove a inscrição em EMRC para o ano lectivo 2010/2011 sublinha que "a dimensão religiosa é fundamental para se dar resposta à inquietação humana pelo sentido último da vida".

"O conhecimento da mensagem cristã é essencial para a definição da própria identidade, no contexto de um país com profundas raízes cristãs", assinala-se ainda.

Dimas Pedrinho, responsável pelo Departamento da Educação Moral e Religiosa Católica do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) refere ao programa «70x7» que a disciplina ensina a "ser mais pessoa".

A respeito da campanha de matrículas, que quer sensibilizar pais e alunos, este responsável admite que a EMRC tem de enfrentar vários desafios para se conseguir apresentar "de forma atractiva, criativa".

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publicado às 06:37

O Lugar da EMRC no Currículo Regional dos Açores

por Zulmiro Sarmento, em 02.06.10

Nota Pastoral

 

Ao entrarmos no período das matrículas na disciplina de Educação Moral Religiosa Católica (EMRC), sinto a obrigação de chamar a atenção para a responsabilidade, seja dos pais e dos encarregados de educação, dos párocos e dos catequistas, como dos cristãos empenhados na Escola e dos professores de EMRC, para darem o devido valor à oportunidade que o ensino religioso escolar oferece para uma educação integral dos alunos. Esta crise, que estamos a viver, não é só de carácter financeiro e económico. É também uma crise de valores. Para a vencer, é preciso, tanto o progresso técnico, como a regeneração espiritual.

 

1. Ora, a disciplina de EMRC promove e aprofunda valores cristãos, que humanizam e desenvolvem a personalidade, contribuindo para a sua inserção criativa na sociedade. No momento, em que se abre caminho ao currículo regional, convém ter presente que a identidade açoriana está marcada por uma clara matriz cristã. Assim, para compreender e salvaguardar a açorianidade, é preciso conhecer o cristianismo e a história da presença da Igreja Católica nos Açores. Aliás, não é possível entendermos a civilização ocidental, sem compreendermos o papel que a herança cultural judaico-cristã teve na sua génese e desenvolvimento.

 

Nesse sentido, disciplina de EMRC não é só para crentes e praticantes. É para todo o açoriano, que pretenda compreender o nosso património cultural, as nossas gentes e tradições. É que a EMRC não é propriamente catequese, nem tem finalidades de proselitismo. É uma abordagem cultural ao cristianismo,  com estatuto científico, como as demais disciplinas.

 

2. Por outro lado, é impensável uma educação neutra, como alguém preconiza. Toda a educação baseia-se numa ideia de pessoa e de sociedade, em que cabe também a dimensão religiosa, que, portanto, não é meramente acessória. Tem o seu lugar próprio na Escola.

 

A presença da Igreja Católica e de qualquer confissão religiosa na Escola não é um privilégio, nem pode depender da maior ou menor sensibilidade do Conselho Directivo ou do Director de Turma. É um direito, consignado na Constituição Portuguesa e regulamentado pela Lei da Liberdade Religiosa e pela Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português.

 

Cabe ao Estado criar as condições, para que as famílias possam escolher o tipo de educação, que querem para as novas gerações. Por isso, os pais católicos e encarregados de educação devem tomar consciência da grave responsabilidade que têm, no momento das matrículas. Não se percebe, nem é aceitável que as crianças, os adolescentes e os jovens das nossas paróquias não se matriculem na disciplina de EMRC. É de uma incoerência total que acólitos, leitores, escuteiros do CNE e outros grupos paroquiais fujam da EMRC. Os próprios crismandos têm na EMRC a possibilidade de completarem a sua preparação para uma celebração mais consciente do sacramento da maturidade cristã.

Aqui é decisiva a intervenção esclarecedora e motivadora dos párocos e das catequistas. A Escola poderá também colaborar nesse esclarecimento, feito com isenção e objectividade, deixando aos pais e encarregados de educação a livre escolha, sem qualquer tipo de manipulação.

 

3. Se muito se pode e deve esperar da Escola e seus organismos, para o enquadramento e implementação da disciplina no conjunto dos saberes, determinante para o sucesso e utilidade da disciplina de EMRC é a qualidade de prestação dos professores da disciplina. Se muito se deve pedir aos pais e esperar  dos católicos actuantes na Escola, no sentido de promoverem o apreço pelo ensino religioso escolar, muito mais há que exigir aos professores de EMRC. Não há outra alternativa aceitável, que não seja a da excelência, para que a disciplina se revele útil e se torne atractiva.

 

Nessa perspectiva, impõe-se a necessidade de uma dedicação total e de uma inserção efectiva no mundo escolar, participando e promovendo iniciativas circum-escolares. A disciplina de EMRC tem a ver com o sentido da vida. Não pode ser mera transmissão de doutrina. É diálogo, a partir da vida, sobre a vida e em função da vida.

 

Nesta encruzilhada da história, em que se difunde um certo pessimismo em relação ao presente e se manifesta algum medo do futuro, urge unir forças e promover sinergias, para garantir um futuro risonho às novas gerações. É preciso dar as mãos à família e apoiar a escola, nesta tarefa exigente e difícil da formação. É essa a disponibilidade da Igreja, que não pretende dominar, nem impor. Apenas colaborar com a família e a escola, com a certeza de que é depositária de um conjunto de valores, que libertam a pessoa humana e a ajudam a crescer e a inserir-se solidariamente na sociedade.  

 

Assim saibamos aproveitar e desenvolver as grandes potencialidades da disciplina de EMRC para uma educação integral!

 

+ António, Bispo de Angra

Angra, 17 de Maio de 2010.

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publicado às 07:05

Comissão Episcopal da Educação Cristã apresenta novo site

por Zulmiro Sarmento, em 07.10.09

www.educris.com vai trazer à Web a Educação Cristã em Portugal

Na Semana Nacional da Educação Cristã, que se realiza de 4 a 11 de Outubro, a Comissão Episcopal da Educação Cristã passa a disponibilizar o seu novo site. 
Na mensagem de abertura do site, o presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, D. Tomaz Silva Nunes, lembra que “as novas tecnologias de comunicação constituem um enorme potencial para o desenvolvimento da humanidade” e trazem “grandes benefícios, quando postas ao serviço do diálogo, da amizade e da solidariedade”.
O presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã destaca a importância de “ocupar espaços próprios” na internet e lança o desafio: “que o novo site seja um espaço de “partilha de informações, experiências, pontos de vista e sugestões”.
O www.educris.com vai trazer à Web as diversas áreas de acção da Educação Cristã: “ a Catequese; a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica; a Escola Católica; e as publicações da Fundação Secretariado Nacional da Educação Cristã (FSNEC) terão aqui o seu lugar.
Também ao nível da comunicação interna, (entre FSNEC e os diferentes Secretariados Diocesanos), o www.educris.com vai apresentar uma área reservada a Secretariados e Escolas Católicas no sentido de tornar mais célere a troca de informações.
Novidade ainda é a “Biblioteca Online” onde cada cibernauta vai poder ver e pesquisar todas as publicações da FSNEC e dará as informações necessárias para a sua aquisição.
Também a Catequese estará representada e muitos anexos elaborados para os novos catecismos estarão disponíveis nesta página.
Por fim, e ainda de uma forma embrionária, o site apresentará conteúdos de vídeo acerca da Educação Cristã.
O vídeo de abertura é uma mensagem de boas-vindas de D. Tomaz Silva Nunes.
O site estará online a partir de Domingo, dia 4 de Outubro.
 Pedro Quintans
Coordenador do espaço Internet

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Semana da Educação Cristã

por Zulmiro Sarmento, em 06.10.09

Igreja reforça aposta na Educação

A Igreja Católica em Portugal celebra de 4 a 11 de Outubro a Semana Nacional da Educação Cristã subordinada ao tema «Educação Cristã: um Serviço e um Compromisso».

Neste ano, a mensagem assinada pela Comissão Episcopal da Educação Cristã admite as dificuldades que os educadores sentem para enfrentar os novos desafios, mas afirma que estas "não podem conduzir ao desânimo e ao enfraquecimento do seu empenho".
Para a Igreja, a educação sempre foi "um imperativo da sua missão evangelizadora, consciente de que é através da educação que se constrói a realização humana e o futuro da própria humanidade", lê-se na mensagem.
Escola Católica hoje
Além da publicação desta mensagem, o dossier que a Agência ECCLESIA esta semana apresenta reflexões de diversos responsáveis nacionais e diocesanos em relação aos vários âmbitos de acção da Igreja na área da educação: Catequese, EMRC e Escola Católica.
Jorge Cotovio, Coordenador do Núcleo das Escolas Católicas da Diocese de Coimbra, considera que "a Escola Católica é antes de mais uma «escola», lugar de ensino e aprendizagem, dos saberes em acção orientados para a vida".
"Infelizmente, esta proposta da Igreja tem muitos escolhos: se os há a nível interno - fruto das contingências humanas -, são sobretudo os externos - vindas da Constituição e das ambiguidades das leis, ou das mentes pombalinas dos políticos e governantes - os que mais têm condicionado a abertura deste «espaço de cultura e evangelização» a todos, sobretudo os mais débeis", acusa.
Este responsável deixa votos de que "os poderes públicos e os cidadãos, mormente as famílias cristãs, saibam acarinhar esta proposta alternativa, e criar condições para a potenciar e estender a todos os que livremente a desejam, sem sufocos de qualquer espécie".
EMRC: Desafios e preocupações
Elisa Urbano, professora de EMRC, fala por seu lado de um novo começo, após "ano lectivo muito difícil". "Sentimos que havia muito receio, talvez devido à possibilidade de voltarem a surgir dificuldades legais à leccionação da EMRC, com graves prejuízos para as escolas, como aconteceu em tempos não muito longínquos", escreve.
Segundo a docente, "torna-se urgente uma regulamentação da Concordata de 2004, nomeadamente no que se refere ao estatuto da disciplina e do professor de EMRC".
Já o Pe. Luís Rodrigues, responsável pelo Departamento Arquidiocesano da Catequese em Braga, mostra a sua convicção de que "a catequese paroquial será tanto melhor, quanto melhor os catequistas se encontrarem e forem grupo".
"Para que o Grupo aconteça com mais facilidade urge valorizar e potenciar a missão do catequista coordenador e da equipa de coordenação paroquial. Fazemo-lo porque a coordenação da catequese não é um facto meramente estratégico, voltado para uma mais incisiva eficácia da acção evangelizadora, mas possui uma dimensão teológica de fundo", assinala no seu artigo.
Veja o video: "EMRC desafios e preocupações" no site da Agência Ecclesia.

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Externato de Penafirme: ensino oficial e educação católica

por Zulmiro Sarmento, em 02.10.09

Ensino regular e profissional aposta na formação para os valores e para o futuro

O Externato de Penafirme é uma escola católica inserida institucionalmente no Patriarcado de Lisboa, frequentada por 1900 alunos provenientes dos três freguesias litorais do concelho de Torres Vedras.
Trata-se de um estabelecimento de ensino oficial, gratuito, público, mas não estatal, reconhecida por um contrato de associação que esta escola mantém com o Ministério da Educação. Desta parceria resulta uma comunidade escolar com características e projecto educativo privado mas que todos podem frequentar gratuitamente.
Na direcção da escola está o Pe. Alfredo Cerca, um sacerdote que há 24 anos assumiu esta missão e que entende o seu trabalho como verdadeiro trabalho pastoral. No entanto assinala o seu desejo de ter mais autonomia e liberdade pedagógica. “Seria desejável que pudéssemos dar plena oportunidade ao desenrolar de um projecto educativo assumidamente cristão”, indica em declarações ao Programa 70 x 7.
Mas essa é uma realidade que nem as escolas que pagam propinas conseguem atingir, “porque estamos muito condicionados com o que determina o Ministério da Educação, quer em termos curriculares como programáticos”, acrescenta o Director.
De acordo com as determinações oficiais para o ensino público, o Externato de Penafirme sabe propor e cativar a comunidade educativa para um humanismo com valores e uma existência plena de sentido.
Proposta cristã livre

A proposta cristã é apresentada na relação entre professores e os alunos, nos temas que na sala de aula convidam a olhar a realidade com outros olhos e com outros valores, nas competências científicas e curriculares conjugadas com a ética, na solidariedade e na sensibilidade que desafia o jovem aluno.

Rita, aluna no Externato de Penafirme elege neste estabelecimento de ensino a relação com os alunos e os professores, para além da boa organização. Outro aluno, o Sandro, frisa o “sentido de família entre alunos e professores”.
Uma das vertentes do projecto educativo concretiza-se nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica. Bernardino Afonso é um dos docentes que no Externato de Penafirme tem por missão levar os alunos a reflectir na proposta cristã, convidando-os a olhar dimensões da existência que passam despercebidas.
“Nesta tarefa o professor tem de ir ao encontro dos anseios e expectativas dos jovens que tem pela frente”. O esforço para uma linguagem compreensível é indicado pelo professor que, a partir da linguagem simples, joga “com a simbologia da vida”.
Para além do programa curricular, O Externato de Penafirme propõe também a participação em acções solidárias, em celebrações da fé e trabalho de ajuda a quem mais necessita. Mas apenas para quem quer e está disposto a viver a sua fé no meio escolar. A existência do movimento XOTO é uma ponte para a evangelização e para envolver os alunos em acções de solidariedade. As suas acções estendem-se ao acolhimento dos sem-abrigo de Lisboa ou até mesmo ao voluntariado na casa da Idanha. “São acções que permitem compreender a necessidade da solidariedade, da partilha e do desassossego”, explica o Director da escola.
Na base do projecto educativo da escola está a sólida formação científica e humana dos jovens que dentro em breve serão a população activa da sociedade. O lema que o Externato propõe para o ano lectivo que começa é «Uma vida com projecto, um projecto para a vida com os outros».
A reflexão sobre este lema tem-se revelado “desafiadora”, indica o Pe. Alfredo Cerca. “É um lema que leva as pessoas a reflectir que a vida se constrói no dia a dia. E os jovens precisam hoje preparar o seu futuro, perceber que a escola é um local de trabalho, de aprendizagem e onde eles podem aprendem as ferramentas para insistirem na sua caminhada humanizante”.
Para dotar os alunos de competências profissionais mais também humanas o programa educativo insiste em dar ferramentas para a vida, chaves que possibilitam a abertura de um futuro mais promissor.
Investir no ensino profissional
A par do Externato onde é ministrado o ensino secundário, existe também uma escola profissional com cursos técnicos e profissionais para quem não se sente vocacionado para o ensino regular.
António Esteveira, Director Pedagógico da Escola Profissional, aponta um caminho de crescimento com base na “procura de profissões com empregabilidade e com alta tecnologia no mercado”. Hotelaria e Turismo é um dos casos, tendo sido o primeiro curso a ser criado. A escola dá os primeiros passos na área da saúde com o curso Óptica Ocular e ainda na área de energias com o curso de Energias Renováveis.
“O objectivo é alargar a oferta para que as pessoas tenham mais oportunidades, possibilitando a conclusão do ensino secundário por mais pessoas através de cursos com empregabilidade no mercado de trabalho e apostar em áreas onde a oferta seja reduzida”, indica António Esteveira.
Esta é uma aposta que se tem mostrado ganha pelos casos de empenho e sucesso profissionais.
Na cozinha o trabalho dos estudantes do último ano da sua formação acontece sob o olhar atento de Marlene Vieira, monitora de cozinha internacional e chefe de cozinha numa unidade hoteleira de cinco estrelas da região Oeste. A sua principal tarefa é transformar os jovens, na sua maioria inexperientes, em competentes e criativos profissionais da culinária. Uma tarefa que não é fácil porque “muitos não têm qualquer experiência. A primeira fase é complicada”, regista a monitora, recordando os ensinamentos de como pegar uma faca e, simplesmente, descascar uma batata.
“Os primeiros dois anos são complicados mas no terceiro ano já trabalham com facilidade. Acaba por ser uma tarefa gratificante”.
Ao período que para muitos significa abandono escolar o Externato responde com o convite para uma formação profissional onde não faltam saídas e oportunidades. Os alunos estão conscientes que o sucesso depende do seu profissionalismo e da sua criatividade.
A aluna Patrícia explica que cozinhar todos cozinham mas “cada cozinheiro tem o seu segredo”. A originalidade é um dever em todos os procedimentos culinários e a actualização um caminho constante, sugere.
Nuno Silva é um cozinheiro habitual em sua casa, por isso, na escola, está mais à vontade. Habituado às tarefas rotineiras prefere “criar novos pratos”.
Os futuros cozinheiros têm ainda a possibilidade de executar parcerias com outros alunos da variante de restauração e bar onde podem aperfeiçoar as técnicas que lhes permite exercer um serviço com delicadeza e competência de um profissional.
O formador do curso de restauração e bar, Michael Paradela, explica a insistência na profissionalização. “Dinamismo, rectidão, capacidade de aprendizagem, simpatia com o cliente e prestar um serviço de excelência”, são fundamentais segundo o formador.
Sara Arruda quer atingir o patamar de qualidade que lhe permita exercer a profissão em espaços de requinte e atingir a realização. “Cuidado com a imagem da mesa, saber se nada falta, prestar atenção ao cliente”, são tarefas que esta aluna leva a sério.
Fábio Miranda descobriu na área de Bar e Restaurante a realização que não encontrou na Cozinha. “O contacto com os clientes ajudou-me a perceber o que queria”, explica.
A formadora Marlene aponta uma reacção imediata nos alunos. “Recebemos imediatamente a gratificação dos alunos, expresso na sua vontade de melhorar e estar na cozinha”.
Porque educar é ajudar a crescer e a ver o mundo de forma válida, a Igreja está também presente nesta área. A escola, sem imposição de credos ou doutrinas, apresenta os valores, a ética, o humanismo como itinerário de crescimento.
 
ECCLESIA

 

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