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Os cristãos e todos os portugueses sabem que nós, Bispos e sacerdotes, evitamos tomar posição sobre as questões da política direta, preservando o nosso ministério espiritual, da polémica que naturalmente acompanha o debate partidário. Foi por isso que não respondemos às diversas solicitações que nos foram feitas para que falássemos no período que antecedeu as últimas eleições legislativas. E se o fazemos hoje, depois do Povo Português ter indicado, pelo seu voto, o rumo que deseja para Portugal, não é para comentarmos politicamente os resultados, mas porque achamos que a Palavra da Igreja pode ajudar a discernir o caminho da salvaguarda do “bem-comum” de toda a sociedade, no momento difícil que Portugal atravessa. Verificámos que alguns líderes políticos, no calor da disputa eleitoral, referiram a Doutrina Social da Igreja para secundar as suas propostas políticas. Tinham o direito de o fazer, pois a vastíssima doutrina da Igreja sobre a sociedade pode, realmente, inspirar programas de governação. É nessa perspetiva que ousamos, neste momento particularmente delicado do nosso País, sublinhar os seguintes aspetos: 1. A prioridade do “bem-comum” de toda a sociedade sobre interesses individuais e grupais é um dos pilares da doutrina da Igreja sobre a sociedade e que pode, neste momento, inspirar as opções governativas. Vamos pôr o bem da sociedade em primeiro lugar. Isso exige generosidade de todos na colaboração e aceitação dos caminhos necessários, na partilha de energias e bens, na moderação das opções ideológicas e estratégicas. Partidos, sobretudo os seus representantes que o Povo elegeu, as associações laborais, empresariais e outras, são chamados à generosidade de defenderem os seus direitos e interesses, dando prioridade total ao bem de toda a sociedade. 2. Além de generosidade, este momento exige, de todos os portugueses, grande realismo. A situação diminui a margem, legítima em democracia, para utopias. É este sentido de realismo que nos indica que devemos procurar soluções para Portugal no quadro social, político-económico em que está inserido: União Europeia, zona da moeda única, conjunto de países que se estruturam na base do respeito pela pessoa humana e pela sua liberdade, concretamente da liberdade de iniciativa económica. Isto não pode resignar-se ao inevitável. Portugal tem de dar o seu contributo à evolução positiva, concretamente da União Europeia e da zona Euro, e só o fará se resolver positivamente, reconquistando a credibilidade, o momento que passa. Deve fazê-lo procurando que o esforço de equilíbrio financeiro não prejudique a economia, e que não se relativize a importância da saúde, da cultura e da educação. 3. A Doutrina Social da Igreja baseia a prioridade do “bem-comum” na vocação comunitária da sociedade. Esta não é um agregado de “indivíduos”, mas tende a ser comunidade, onde cada um se sente corresponsável pelo bem de todos, onde cada homem e mulher é nosso irmão. Esta dimensão comunitária é prioritária na visão da Igreja. O amor fraterno, com a capacidade de dom, é o valor primordial na construção da sociedade. Sempre, mas de modo especial neste momento que atravessamos, os pobres, os desempregados, os doentes, as pessoas de idade, devem estar na primeira linha do amor dos cristãos. Este é um dever prioritário da Igreja, que ela quer realizar pelos seus meios próprios, mas em colaboração com todos os que procuram o “bem-comum”. Esta atitude exige generosidade e capacidade de dom, de que o voluntariado é uma expressão nobre. Os próximos tempos vão exigir partilha de bens. Mas não é a mesma coisa partilhar generosamente, e ser obrigado a distribuir. Temos de criar um dinamismo coletivo de generosidade e de partilha voluntária, fundamentada no amor à pessoa humana. 4. Há ainda na nossa sociedade muitas expressões de egoísmo, que vão desde a corrupção ao enriquecimento ilícito, a uma visão egocêntrica do lucro, etc. Uma ética da generosidade, da honestidade e da verdade tem de fazer parte da cultura a valorizar. O próprio sistema de justiça tem de ser um serviço que combata os atropelos à generosidade, à honestidade e à verdade. Sem um bom sistema de justiça, nenhuma sociedade será verdadeiramente justa. Este momento de crise pode levar-nos a todos a lançar os dinamismos para a construção de uma sociedade mais fraterna e solidária. A Igreja quer, não apenas pela sua palavra, mas pelo seu compromisso na ação, ser a afirmação da esperança. Fátima, 14 de junho de 2011 ECCLESIA |
Angra do Heroísmo, Açores, 26 abr 2011 (Ecclesia) – O bispo de Angra considera que o “cristão esclarecido e comprometido sente a obrigação de votar”, não deixando “que sejam outros a escolher por si”. Na Mensagem de Páscoa a que a Agência ECCLESIA teve acesso, D. António de Sousa Braga salienta que “a sociedade civil tem de ser mais viva”, dado que “nem tudo depende dos Governos”. “Precisamos de cidadãos ativos e intervenientes, que sejam parte da solução dos problemas que enfrentamos com a presente crise”, salienta o prelado, para quem o contributo dos católicos para “fazer surgir e consolidar uma sociedade mais justa e fraterna” deve expressar-se no quadro da Doutrina Social da Igreja. Depois de referir que as eleições para a Assembleia da República, marcadas para 5 de junho, constituem “o momento próprio” para exercer a “cidadania ativa”, o texto salienta que não se deve alinhar “na crítica fácil e generalizada da Política”, por se tratar de “uma atividade ‘nobre’ de serviço ao bem comum”. “Como em tudo, há atores bons e outros menos bons. As eleições são o momento certo para escolher”, refere o documento, onde António de Sousa Braga sustenta “que as dificuldades do momento presente podem ser oportunidades de crescimento”. Para o bispo de Angra, diocese com sede na ilha Terceira, a ressurreição de Cristo, celebrada no domingo de Páscoa, torna possível “olhar o futuro com esperança” (frase que dá título à mensagem), ao mesmo tempo que compromete os católicos na construção da “Justiça”, “Amor e Paz”. A Páscoa oferece uma “esperança certa”, e não apenas “mera probabilidade, nem sonho visionário de quem não tem em conta a realidade ou ingenuidade de quem não vê os problemas”, salienta o texto. Entre o domingo de Páscoa, que celebra a ressurreição de Cristo, e 12 de junho (dia de Pentecostes, palavra de origem grega que significa “cinquenta dias”), a Igreja Católica vive o “Tempo Pascal”, o período mais significativo do seu calendário litúrgico. RM
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