Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A. Preparar: a palavra-chave e a atitude decisiva
Nesta altura, já andamos seguramente envolvidos com os preparativos para o Natal. Andamos a preparar a consoada e a preparar os presentes. E é assim que, aos olhos de muitos, se prepara o Natal. Não digo que o Natal não passe por aqui, mas será que o Natal é só isto? Será que o Natal é sobretudo isto? Será que a preparação para o Natal é sobretudo esta?
Preparemos, sem demora, o caminho do Senhor. Preparemos, sem demora, os nossos caminhos para o Senhor. O caminho que o Senhor quer trilhar é a nossa vida, é o nosso ser, é o nosso quotidiano. Será que os nossos caminhos estão preparados? Será que os nossos caminhos estão limpos? Será que, pelo menos, os nossos caminhos estão abertos?
B. Tanta coisa para «deletar»
3. Há tantos caminhos tapados na vida. Há tantos caminhos preenchidos na vida: preenchidos com quase tudo, menos com Deus. Há tantos caminhos cheios de nada, embora preenchidos com quase tudo. Só que este «quase tudo» sabe a pouco e, quase sempre, apenas a egoísmo e a interesses pessoais.
Precisamos, por isso, de varrer os nossos caminhos e de «deletar» tanta coisa acessória, tanta coisa superficial, tanta coisa banal. Se estivermos atentos, daremos conta de que essencializamos o que é relativo e relativizamos o que é essencial. Há muito desperdício de tempo, há muito desperdício de energia, há muito desperdício de vontade. Por conseguinte, é tempo de reaproveitar o tempo. É tempo de reaprender a caminhar no tempo. Em suma, é tempo de voltar a ouvir o apelo de S. João Baptista: «Preparai o caminho do Senhor». Nunca deixemos de preparar os caminhos do Senhor, os caminhos que o Senhor quer fazer connosco.
Sim, preparar o Natal é preparar a nossa casa para receber os nossos familiares. Mas não será, muito mais, preparar a nossa vida para acolher Jesus inclusivamente na pessoa dos nossos familiares? Sim, preparar o Natal é fazer um presépio. Mas não será, muito mais, preparar a nossa vida para ser, ela própria, um presépio vivo
C. Um novo lugar para Jesus: a nossa vida
5. O lugar onde Jesus quer (re)nascer, hoje, não é já a manjedoura de Belém. O lugar onde Jesus quer (re)nascer, hoje, é o nosso ser, a nossa vida, a vida da humanidade inteira. Estaremos a preparar devidamente a nossa vida para a vinda de Jesus?
Jesus não veio — nem vem — para que tudo continue na mesma. Jesus veio — e vem — para que tudo seja diferente, para que tudo seja melhor. Não é só o mundo que é feito de mudança, como lembrava Luís de Camões. Todo o Evangelho é, do princípio ao fim, um permanente convite à mudança. Logo no início da missão, Jesus convoca: «Arrependei-vos»(Mc 1, 15). Ou seja, «mudai de vida», «mudai a vida»!
A mudança passa também pela sobriedade, pela humildade, pelo reencontro com a beleza das coisas simples. Na verdade, não há nada mais longe de Cristo do que celebrar o Seu nascimento com a ostentação e o exibicionismo. Não deixemos, pois, que o Natal se reduza a um «vendaval de consumo» sem freio. Deixemo-nos reencantar pelo Natal. Deixemo-nos envolver pelo seu espírito e cativar pela sua candura.
D. A nossa missão «ecóica»
7. Neste sentido, procuremos «endireitar» o que está «torto» (cf. Lc 3, 4-5). Há, sem dúvida, tantos caminhos tortos e tantas atitudes tortuosas nos nossos caminhos. Comecemos por ouvir a voz de João. Não consintamos que essa voz se dilua no deserto da nossa indiferença (cf. Lc 3, 4). Só que essa voz nunca deixará de bradar, nunca deixará de inquietar os nossos ouvidos (aparentemente) aquietados.
Procuremos ouvir a voz que se faz eco da Palavra. João é a voz da Palavra que é Jesus. É uma voz fiel que faz ressoar, fidedignamente, a Palavra. Quanto mais perto estiver da Palavra, tanto mais nítida será a voz.
Mais do que criadora de palavras, a Igreja sempre se viu a si mesma como uma criação da Palavra («creatura Verbi»). Por isso, quanto mais perto estivermos da Palavra, mais audível será a Palavra e mais transparentes seremos nós. Reconheçamos, porém, que nem sempre é isso o que acontece. Há palavras que se interpõem diante da Palavra e que chegam a perturbar a escuta da Palavra. Em vez de serem eco da Palavra, não passam de ruído que mal deixam acolher a Palavra. Assim sendo, o importante é que a Palavra viva em cada pessoa e que cada pessoa procure viver de acordo com a Palavra. Uma «Igreja ecóica» é chamada a oferecer a Palavra que lhe é, continuamente, oferecida. Se possível, sem glosas. E sem filtros.
E. É urgente «aplanar» o que (ainda) está «torto»
9. Aproveitemos este tempo para ler e para meditar a Palavra. Como João Baptista, procuremos ser voz da Palavra. A Palavra de Deus chegará aonde nós chegarmos. Anunciemos a Palavra de Deus com os lábios e nunca nos cansemos de testemunhar a Palavra de Deus com a vida.
Levemos a Palavra de Deus aos «lugares tortuosos»(Lc 3, 5) e que se tornam quase intransitáveis. Que esses lugares possam ser frequentáveis e que os nossos caminhos se tornem planos, sem curvas. Na nossa vida, ainda há muitas curvas fechadas e apertadas, que não deixam (ante)ver com nitidez o caminho. Procuremos caminhar em linha recta e não às curvas. Quem é recto torna-se (saudavelmente) previsível, ainda que sempre receptivo às imprevisíveis surpresas de Deus.
Este Domingo e o próximo são dominados pelo grande «preparador» do Natal. S. João Baptista é o «preparador» dos caminhos que Deus quer pisar. Ele prepara pela palavra e pelo exemplo. Em S. João Baptista, não há «curto-circuitos» entre a palavra e a vida. Aliás, em S. João Baptista, nenhum circuito é curto. O «circuito» entre a sua palavra e a sua vida é longo e leva-nos longe. Leva-nos sempre a Jesus!
Do blogue THEOSFERA