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A. Neste mundo, tudo passa
O que é que não passa depois de tudo passar? Só Deus não passa. Tudo o resto passa, tudo o resto cai. Cai o pequeno, mas cai também o que se julga grande. Cai o pobre, mas cai também o rico. Cai o fraco, mas cai também o que se julga forte. Caem as vítimas, mas caem também os que oprimem as vítimas. Enfim, somos todos arrastados por uma corrente que nos leva para o fim. Somos todos chamados para um fim. E somos todos convidados para um bom…fim!
Neste sentido, o grande apelo que Jesus nos faz é que não nos deixemos aprisionar por este mundo, mas que, neste mundo, nos fixemos em Deus. Quem está em Deus não acaba no fim já que, para o homem, Deus é o fim sem fim, é o fim que nunca terá fim.
B. Só em Deus existe o fim sem fim
3. Como bem percebeu Gandhi, «o que importa é o fim para o qual somos chamados». Deus é o fim para o qual todos nós somos — permanentemente — chamados. Nunca sossegaremos enquanto não encontrarmos este fim, enquanto nos reencontrarmos na procura deste fim.
Sto. Agostinho confessou, com base na sua própria experiência: «Criastes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousar em Vós». É que, como admiravelmente poetou o nosso Antero de Quental, «na mão de Deus, na Sua mão direita, descansa afinal o meu coração».
Cada um de nós é chamado a uma vida plena, a uma vida transformada. E nem sequer é preciso aguardar pelo fim dos tempos. Em cada momento, Deus oferece-nos uma vida plena, uma vida transformada. No fundo, enquanto no tempo caminhamos para a eternidade, vamos sentindo que o Eterno já habita no Tempo e que o Céu já mora na Terra.
C. O «Último» que nos leva até às «coisas últimas»
5. Jesus não nos esclarece apenas sobre as «coisas últimas» («éschata»). Acima de tudo, Jesus está sempre a oferecer-nos o que é «último» («éschaton»). Ele não nos deixa de instruir sobre as «coisas últimas» que acontecerão nos «últimos dias»(Mc 13, 24).Nessa altura, ocorrerá a última vinda de Jesus («parusia»), em que será consumada a transformação que Ele operou com o Seu mistério pascal: paixão, morte e ressurreição.
Mas o que é verdadeiramente último já está presente no meio de nós. Jesus é o «éschaton» que nos conduz até às «éschata». Ou seja, Jesus é «o Último» que nos conduz até às «coisas últimas». Dizendo ainda de outra maneira, Jesus é «o Fim» que nos conduz até ao fim e até para lá do fim.
Ele conta connosco para anteciparmos a eternidade no tempo e para trazermos o céu para a terra. Aliás, para nenhum de nós haverá céu sem terra: colheremos no céu o que formos semeando na terra. É o que decorre da parábola da figueira: quando os ramos ficam tenros e as folhas surgem, é sinal de que o Verão está perto e de que a colheita não está longe (cf. Mc 13, 28-29).
D. Não alarmados com o fim do mundo,
mas a trabalhar para o fim deste mundo
7. O céu é colheita, é transformação, é plenitude. Isto significa que alcançaremos o céu na medida em que nos formos transformando na terra. E uma vez que o céu é a felicidade, é importante que procuremos acabar com toda a infelicidade que ainda subsiste. Deus não quer que o mundo seja o contrário do céu. Deus não quer que passemos mal no mundo para passarmos bem no céu. Deus quer que sejamos felizes já neste mundo, para sermos inteiramente felizes no céu. Deus quer que o mundo seja o começo do céu, a sementeira do céu.
Tendo, entretanto, em conta que somos criados para Deus, então só vivendo em Deus é que seremos felizes. É por isso que podemos bater a todas as portas em busca da felicidade. Mas a felicidade só nos aparecerá quando batermos à porta de Deus, quando entrarmos definitivamente em Deus.
Nesta missão de trazer o céu para a terra, Deus é sempre nosso aliado. Será que nós queremos ser aliados de Deus? Nós contamos com Ele. Será que Ele pode contar connosco?
E. Os «hábitos na terra» e os «hálitos do céu»
9. Nós não somos daqui. A terra é um lugar de passagem e, pela amostra, de uma passagem rápida. É importante que não tenhamos um sabor a terra, mas que, na terra, exalemos sempre um sabor a céu. Os nossos «hábitos na terra» têm de procurar fazer soprar «hálitos do céu».
Por conseguinte, para que servem tantos ódios, tantas vinganças? Para que servem tantas ambições de fama e tantos sonhos de poder? Para que servem tantos atropelos aos outros, tantas calúnias a respeito dos outros?
E, acima de tudo, não tenhamos medo das dificuldades nem sequer das perseguições. Já Sto. Agostinho notou que, na vida, vamos caminhando entre «as perseguições do mundo e as consolações de Deus». Se as perseguições são grandes, as consolações são (infinitamente) maiores. Ser discípulo de Jesus não é ter uma vida fácil. Mas também não é a facilidade que nos leva à felicidade. E Jesus não nos prometeu a facilidade, mas a felicidade. Ele é a felicidade!
Do blogue THEOSFERA