por Zulmiro Sarmento, em 25.04.15
Quem algum dia entrou nas Catacumbas de S. Calisto, em Roma, recorda certamente a imagem do Bom Pastor que é um ícone de Cristo Ressuscitado. Na cultura pagã, era impensável um Deus crucificado. Por isso, os cristãos de Roma quiseram conceber uma imagem que revelasse um Deus cheio de amor. Os deuses pagãos, na concepção romana estavam possuídos de violência, para fazerem justiça. O Deus dos cristãos, na Pessoa de Jesus Cristo, era um Deus cheio de amor. Esta ideia passou de geração em geração e no 4º domingo de Páscoa a Igreja celebra sempre o Dia do Bom Pastor. O Evangelho oferece muitos sinais reveladores do amor que o pastor tem pelas ovelhas e da beleza da resposta que as ovelhas dão à ternura do pastor. São frases em catadupa sobre o conhecimento recíproco e a preocupação do pastor pelo bem-estar das suas ovelhas. Chama-se a esta página do Evangelho a alegoria do Bom Pastor (Evangelho). Na sua primeira Carta, João transpõe esta alegoria para a relação dos homens com Deus. E, de tal maneira, que afirma os homens como Filhos adoptivos de Deus (2ª leitura). Toda a salvação procurada pelos homens sob o olhar de Deus se realiza em nome de Jesus. É este o contexto do discurso de Pedro ao Povo quando, no templo, refere que a pedra que foi rejeitada se tornou pedra angular, com a garantia que não há salvação em nenhum outro, senão em Jesus Cristo.
1. O Bom Pastor
Jesus começa por dizer, neste Evangelho que é Ele o Bom Pastor. Depois caracterizam-se as relações do pastor com as ovelhas: o pastor dá a vida por elas, conhece-as pelo seu nome, tem um amor completamente gratuito, elas conhecem a sua voz e elas seguem-n’O. O Bom Pastor que não é mercenário, vai à procura de alguma que se perde, e tem uma única preocupação: que haja um só rebanho e um só pastor. Nesta alegoria lindíssima estão definidas as nossas relações pessoais com Jesus. Ele dá a vida por cada um de nós. Ele conhece-nos em pormenor. Procura-nos se nos perdemos, acolhe-nos no regresso, integra-nos na unidade de uma vida que, sendo d’Ele, é partilhada na comunhão com todos. Com razão este Evangelho é considerado padrão de vida para os sacerdotes, pastores na Igreja de Deus, porque a sua missão é precisamente esta: estar disponível para todos em todo o tempo e lugar, até que haja um só rebanho e um só Pastor.
2. Todos somos Filhos de Deus
Jesus, na sua vinda, veio construir um novo Povo de Deus. Ele recebe-nos como Filhos adoptivos em Jesus Cristo Senhor, Filho Unigénito. É assim que nasce a Igreja onde todos se referem a Cristo Cabeça, defendem a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, têm como mandamento único o amor, e constroem a felicidade de todos. A realidade do Povo de Deus, porém, só se realiza plenamente na Casa do Pai, na comunidade definitiva.
3. A pedra angular
É muito bonito este discurso de Pedro no capítulo 4 dos Actos dos Apóstolos. O importante não são os templos de pedra, mas o Templo vivo da comunidade cristã que está a nascer. A pedra angular deste Templo novo seria Jesus Cristo reconhecido como Messias e Salvador, mas os construtores, o Povo de Deus, rejeitaram-n’O. Ele porém, tornou-se a pedra de assento, a partir da qual, através dos séculos o novo Povo de Deus vai sendo construído. Todos os cristãos somos pedras vivas deste Templo, assim saibamos ser fieis à pedra angular, à referência fundamental que é Jesus Cristo.
Monsenhor Vítor Feytor Pinto
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