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A. Jesus ressuscita ao «terceiro dia» para nos ressuscitar (logo) ao «quarto dia»
É o nosso «eu» que nos traz moribundos. É, por isso, do nosso «eu» que Jesus nos vem libertar. É o nosso «eu» que nos traz «atrelados» à mordaça do pecado e da morte por este acarretada. O nosso «eu» também nos faz «cheirar mal» (cf. Jo 11, 39). Só Jesus, com o Seu odor, nos liberta deste infectado fedor.
Ressuscitar é, assim, libertar. A Ressurreição é a suprema libertação. Jesus, ao ressuscitar Lázaro, mostra que Ele mesmo é a Ressurreição e a suprema libertação. Mas nem isso O impede de chorar. A Sua divindade não ofusca a Sua humanidade e a Sua humanidade não obscurece a Sua divindade. Jesus, que ressuscita Lázaro, chora por Lázaro. Jesus era muito amigo de Lázaro (cf. Jo 11, 35-36), como é muito amigo de cada um de nós.
B. A morte como «adormecimento»
3. «Senhor, aquele de quem és amigo está doente» (Jo 11, 3). Eis o que foi dito a Jesus há dois mil anos. Eis o que pode — e deve — ser dito a Jesus hoje. Tantos são os que estão doentes. Tantos são aqueles a quem só Jesus pode curar. Não tenhamos medo de recorrer a Jesus. Jesus está sempre disponível para vir em nosso auxílio. Quando sabe que o amigo está doente, Jesus altera os planos e muda de caminho (cf. Jo 11, 7) apesar da hostilidade dos judeus (cf. Jo 11, 7). Sabendo também da nossa doença existencial, Jesus está sempre disponível para nos curar.
Como é sabido, Jesus não vai logo para casa de Lázaro. Permanece ainda dois dias no local onde estava (cf. Jo 11, 6). Lázaro está doente, mas a sua doença não é de morte; é para que nela se manifeste a glória de Deus (cf. Jo 11, 4). Aquela morte é vista sobretudo como uma oportunidade para reforçar a fé na Ressurreição (cf. Jo 11, 15).
Ora, inclinar a cabeça é a posição não só de quem morre, mas também de quem dorme. Aliás, há uma máxima muito antiga segundo a qual a Igreja nasce do lado «adormecido» — não «morto» — de Cristo na Cruz. Na morte de uma pessoa santa, costumamos dizer que «adormeceu no Senhor». E, já agora, convirá recordar que a palavra «cemitério» significa não «lugar onde se morre», mas «lugar onde se dorme».
C. Um despertador chamado Jesus
5. É desta sonolência que Jesus nos vem despertar como despertou Lázaro. Jesus é a vida definitiva que supera a morte. Na Primeira Leitura deste Domingo, Deus oferece ao Seu Povo uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá inserir o mesmo Povo na fidelidade a Deus e no amor aos irmãos.
Por sua vez, a Segunda Leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-nos, portanto, a sermos conformes com essa escolhas, realizando as obras de Deus e vivendo «segundo o Espírito». O Evangelho garante-nos que Jesus é a realização definitiva do divino desígnio de dar aos homens a vida nova. Os que aderem a Jesus Cristo também morrem, mas não ficam mortos: vivem para sempre em Deus.
O texto que hoje foi proclamado constitui a quinta — e última — catequese do referido Livro dos Sinais. Tudo se passa em Betânia, uma aldeia que fica a este do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilómetros de Jerusalém. Da família de Lázaro faziam parte as suas irmãs Maria e Marta. Trata-se de uma família que Jesus conhece e que conhece Jesus, que ama Jesus e que é amada por Jesus.
D. É à nossa vida que Jesus oferece a Sua vida
7. Salta à vista que o Evangelho só fala destes irmãos, omitindo qualquer referência a outros membros desta família. Se repararmos, a palavra «irmãos» é a palavra usada por Jesus para se referir aos Seus discípulos (cf. 20, 17). É, pois, como irmãos que Jesus quer que vivamos. É como irmãos que Jesus nos quer encontrar. Jesus quer encontrar-nos como irmãos quando vem à nossa casa, à nossa vida.
É à nossa vida que Jesus oferece a Sua vida. É à nossa vida mortal que Jesus oferece a Sua vida eterna. Assim sendo, a morte não é fim, mas trânsito. É pela morte que passamos desta vida para a vida plena.
O gesto de dar vida a Lázaro representa o ápice da missão que o Pai confiou a Jesus: dar a vida definitiva ao homem. É por isso que Jesus, antes de mandar Lázaro sair do sepulcro, dá graças ao Pai (cf. Jo 11, 41-42). Ao dar a vida ao homem, Jesus está a realizar a vontade do Pai.
E. Não há maior felicidade que a divina amizade!
9. Que terá acontecido a Lázaro depois de ressuscitar? Os textos sagrados não dizem mais nada a não ser que os sumos-sacerdotes, além de Jesus, também decidiram matar Lázaro. É que muitos judeus, por causa dele, passaram a acreditar em Jesus. (cf. Jo 12, 11).
Há uma tradição que diz que os três irmãos foram para França, assegurando que Lázaro foi o primeiro Bispo de Marselha. Tendo sido martirizado, há quem acredite que as suas relíquias estão em Autun.
Enquanto padroeiro da Lárnaca, há nesta cidade uma basílica dedicada a São Lázaro, construída em 890. Antes da basílica, havia um templo do século V no qual existia um sarcófago com a inscrição: «Lázaro, o amigo de Cristo». Eis, assim, o mais belo remate para a nossa vida: sermos «amigos de Cristo» e termos Cristo como Amigo. Não há maior felicidade que a Sua amizade!
Do blogue A Paz na Verdade