“DEUS AMOU TANTO O MUNDO QUE ENTREGOU O SEU FILHO UNIGÉNITO,
PARA QUE TODO O HOMEM QUE ACREDITA N´ELE NÃO PEREÇA,
MAS TENHA A VIDA ETERNA”
(Jo 3, 16)
I LEITURA - 2 Cr 36, 14-16.19-23
As infidelidades e as injustiças geraram o caos e a derrota. Ao fim de 70 anos de cativeiro, volta a esperança.
Leitura do Segundo Livro das Crónicas
Naqueles dias, todos os príncipes dos sacerdotes e o povo multiplicaram as suas infidelidades, imitando os costumes abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha consagrado para Si em Jerusalém. O Senhor, Deus de seus pais, desde o princípio e sem cessar, enviou-lhes mensageiros, pois queria poupar o povo e a sua própria morada. Mas eles escarneciam dos mensageiros de Deus, desprezavam as suas palavras e riam-se dos profetas, a tal ponto que deixou de haver remédio, perante a indignação do Senhor contra o seu povo. Os caldeus incendiaram o templo de Deus, demoliram as muralhas de Jerusalém, lançaram fogo aos seus palácios e destruíram todos os objectos preciosos. O rei dos caldeus deportou para Babilónia todos os que tinham escapado ao fio da espada; e foram escravos deles e de seus filhos, até que se estabeleceu o reino dos persas. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pela boca de Jeremias: «Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para se cumprir a palavra do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da Pérsia, que mandou publicar, em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação: «Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do Céu, deu-me todos os reinos da terra e Ele próprio me confiou o encargo de Lhe construir um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a caminho e que Deus esteja com ele».
Palavra do Senhor.
SALMO – 136 (137), 1-2.3.4-5.6 (R. 6a)
Refrão: Se eu me não lembrar de ti, Jerusalém,
fique presa a minha língua. Repete-se
Sobre os rios de Babilónia nos sentámos a chorar,
com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens,
dependurámos nossas harpas. Refrão
Aqueles que nos levaram cativos
queriam ouvir os nossos cânticos
e os nossos opressores uma canção de alegria:
«Cantai-nos um cântico de Sião». Refrão
Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor
em terra estrangeira?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,
esquecida fique a minha mão direita. Refrão
Apegue-se-me a língua ao paladar,
se não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém
a maior das minhas alegrias. Refrão
II LEITURA - Ef 2, 4-10
A misericórdia de Deus é sem fim, a sua relação connosco é gratuita.
Leitura da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Efésios
Irmãos: Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida com Cristo – é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e com Ele nos fez sentar nos Céus. Assim quis mostrar aos séculos futuros a abundante riqueza da sua graça e da sua bondade para connosco, em Jesus Cristo. De facto, é pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade, nós somos obra de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO - Jo 3, 16
Refrão: Grandes e admiráveis
são as Vossas obras, Senhor. Repete-se
Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho Unigénito:
quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Refrão
EVANGELHO – Jo 3, 14-21
A conversa com Nicodemos: «Deus enviou o seu Filho, para que o mundo seja salvo por Ele»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más acções odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.
Palavra da salvação.
NA BUSCA DA SALVAÇÃO
Um dos diálogos mais significativos do Evangelho de S. João é aquele que Jesus teve com Nicodemos. Nicodemos era um sinedrita que, profundamente inquieto por tudo o que Jesus fazia e dizia às multidões, quis ir conhecê-l’O. Nicodems conhecia as Escrituras, sabia da aliança que Deus firmara com o seu povo, tinha lido os profetas que falavam da vinda do Messias e interrogou-se sobre se não seria Jesus o Salvador prometido. Foi procurar Jesus de noite e disse-lhe: “Rabi, nós sabemos que Tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que Tu fazes, se Deus não estiver com ele.” (Jo 3, 2). A liturgia deste domingo está centrada neste diálogo com Nicodemus que fala com Jesus e escuta d’Ele uma mensagem de aliança “Deus amou de tal forma o mundo que lhe deu o seu próprio Filho” (Jo 3, 16). O tema da salvação domina as três leituras deste domingo: o Livro das Crónicas fala da salvação de Israel, apesar da sua repetida infidelidade, porque Deus é um Deus de amor; o Evangelho de João reafirma que só Jesus é a luz que vem a este mundo para salvar; e a Carta aos Hebreus diz que Deus é rico em misericórdia e quer dar a todos a salvação. Então a busca da salvação é o núcleo central da liturgia da Palavra, hoje.
1. A história de Israel
A Sagrada Escritura tem livros históricos. O Segundo Livro das Crónicas é um deles. A vida do povo de Israel é tecida de graças que Deus concede, de infidelidades que se multiplicam e de reconciliações próprias de um Deus que é rico em misericórdia. Perante as infidelidades dos israelitas surgiram inúmeras razões de sofrimento. O templo foi muitas vezes profanado. Os mensageiros de Deus, os profetas foram escarnecidos. Depois os caldeus destruiram Jerusalém, e o povo foi sujeito ao Cativeiro da Babilónia, imposto pelo reino persa. A profecia de Jeremias multiplicou lamentações mas ao fim de setenta anos, Ciro libertou o povo de Israel e reconduziu-o à sua cidade de Jerusalém. Muitos chegaram a considerar que Ciro era o Messias, o Salvador prometido.
2. A angústia de um judeu atento
Nicodemos conhecia a história de Israel. Na conversa com Jesus é-lhe lembrada a salvação no tempo da travessia do deserto. Quem olhasse para a serpente de bronze seria salvo. Jesus revela com toda a clareza ao judeu inquieto que o Deus de todos os tempos é um Deus de amor. Por isso acrescenta que “Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 17). Continuando Jesus a conversar sobre a salvação do mundo, respondendo assim à inquietação de Nicodemos, afirma que os homens amaram mais as trevas do que a luz, mas só na luz que vem de Deus podem ser salvos.
3. A salvação de todos os homens
A Carta aos Efésios completa esta ideia da procura da salvação. Paulo diz com clareza que Deus é rico em misericórdia. Restituídos à vida com Cristo, todos os homens podem participar da salvação. A salvação é um dom de Deus, expressão da Sua ternura para com todos. Somos salvos pela abundante riqueza da graça que Deus nos dá.
Monsenhor Vítor Feytor Pinto