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A. Porquê não dar descanso (também) à língua?
A «sabedoria do mundo» gera inveja, contendas, falsidade (cf. Tgo 3,14), rivalidades, desordem e toda a espécie de más acções (cf. Tgo 3,16). Acaba por destruir a vida da própria pessoa e por impedir a comunhão entre os irmãos. Trata-se de uma «sabedoria» incompatível com as exigências do seguimento de Cristo. Mas não será que, muitas vezes, nos deixamos envolver por este género de comportamentos? Não será que, muitas vezes, nos consideramos «sábios» quando enganamos e prejudicamos os outros? Não será que, muitas vezes, reduzimos a sabedoria à arte de enganar, à astúcia e à esperteza?
B. O que denunciamos lá fora também se verifica cá dentro
3. Pelo contrário, a «sabedoria de Deus» é «pura, pacífica, compreensiva e generosa, cheia de misericórdia e boas obras, imparcial e sem hipocrisia»(Tgo 3,17).
Trata-se, portanto, de sete «qualidades» da «sabedoria». Tendo em conta que o número sete significa «perfeição», «plenitude», S. Tiago está a propor aos seus destinatários um caminho de perfeição, de realização total, de vida plena. O corolário desta sabedoria é a justiça e a paz, duas grandes carências no nosso mundo e, nessa medida, duas enormes urgências para o nosso tempo. Sem justiça não há paz e sem paz não há justiça. A justiça e a paz são filhas uma da outra. S. Tiago proclama que «a justiça é um fruto produzido na paz»(Tgo 3, 18). E o Concílio Vaticano II assegura que «a paz é obra da justiça».
Era bom que todos nós, cristãos, fizéssemos um sério exame de consciência a este respeito. Muitas vezes, as nossas comunidades, as nossas organizações e os nossos movimentos pouco se distinguem das outras instituições. Afinal, o que denunciamos lá fora também se verifica cá dentro. Também dentro da Igreja, com efeito, há facções, ataques, insinuações, agressões ao bom nome e à boa fama, etc.. O nosso coração parece dominado pela cobiça, pela inveja e pela vontade de se sobrepor aos outros.
C. Há quem não suporte o bem
5. Todas estas más «paixões»(Tgo 4, 1) corrompem a vida comunitária, despejando nela atitudes de luta, de inveja, de rivalidade, de ciúme, de arrogância, de ira. Onde está a diferença em relação ao mundo? Caso para perguntar: vivemos de acordo com a «sabedoria do mundo» ou com a «sabedoria de Deus»?
Até a nossa oração é afectada. S. Tiago avisa os cristãos: «Pedis mal porque o que pedis é para satisfazer as vossas paixões»(Tgo 4, 3). Como é que esta oração poderia ser escutada por Deus? Devemos pedir que se faça a vontade de Deus e não que se satisfaçam as nossas más «paixões». Uma coisa é certa: os pedidos egoístas não são nunca escutados por Deus.
Há quem não suporte o bem. Há quem faça mal até àquele que só faz o bem. Enfim, há quem não suporte ser incomodado. E, nessa medida, há quem não olhe a meios para destruir os que incomodam. A vida dos «justos» é um constante incómodo por causa da sua fidelidade, por causa da sua rectidão. A coerência, a honestidade, a verticalidade e a fidelidade dos «justos» constituem um permanente espinho cravado na conduta imoral de tantos. Então gera-se a perseguição. Quando não há argumentos, abundam os insultos, as insinuações. Trata-se de algo que os justos de todas as épocas conhecem bem.
D. Também há «fumo» sem (qualquer) «fogo»
7. Infelizmente, há quem dê mais crédito às calúnias sem fundamento do que à vida limpa de tantas pessoas. O mal parece ter um «auditório» muito mais extenso que o bem. A mentira parece bem mais «popular» que a verdade. O problema é que, ao contrário do se diz, há tanto «fumo» sem «fogo». Muitas vezes, o «fogo» avisado por pretensos «fumos» só arde na cabeça e nos lábios de quem insinua, de quem difama, de quem calunia. Mas é assim que se devassam vidas e se atenta contra a integridade de pessoas sérias.
Estamos num tempo em que muitos são mais crédulos em relação à menor mentira do que em relação à maior verdade. É muito doloroso ser injustiçado. Como proceder? Será que a vida dos «justos» está, irremediavelmente, condenada ao fracasso? O importante não é o julgamento dos homens, mas o juízo de Deus. E Deus nunca abandona os que pelos homens são abandonados e espezinhados.
É por isso que Jesus Se mostra sereno mesmo diante da certeza da paixão e da morte. As palavras de Jesus denotam uma plácida aceitação desses factos que irão ocorrer num futuro próximo. Importante, para Jesus, é que a vontade do Pai Se cumpra. Jesus não Se afasta desse plano nem Se desvia desse caminho. A serenidade de Jesus vem-Lhe da total aceitação e da absoluta conformidade com os projectos do Pai.
E. Não abandonemos os abandonados
9. Entretanto, os discípulos mantêm-se num estranho silêncio diante deste anúncio. S. Marcos explica que eles não entendem a linguagem de Jesus tendo medo de O interrogar (cf. Mc 9, 32). Jesus é muito claro, mas o espírito dos Seus discípulos ainda está muito obscurecido. Em vez de se preocuparem com o seguimento do Mestre, discutem entre eles sobre qual seria «o maior» (cf. Mc 9, 34).
De facto, ainda não tinham entendido mesmo nada acerca de Jesus. Será que, dois mil anos depois, já entendemos? Será que já entendemos que, para Jesus, verdadeiramente grande é aquele que se faz pequeno? «Quem quiser ser o primeiro há-de ser o último de todos e o servo de todos»(Mc 9, 35)
Jesus sempre Se identificou com os mais pequenos (cf. Mt 25, 40). É essa a nossa opção se quisermos efectivamente seguir Jesus: tomar partido pelos mais pequenos, lembrar aqueles que os grandes repetidamente esquecem. A atitude de Jesus não dá lugar a dúvidas. Quem quiser segui-Lo deve estar ao lado dos pequenos, dos pobres, dos marginalizados, daqueles que o mundo rejeita. É nos mais rejeitados que Jesus está mais presente. O que fizermos a eles é o que faremos a Ele!
Do blogue THEOSFERA