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DE DEGRAU EM DEGRAU (Segundo Domingo do Advento)

por Zulmiro Sarmento, em 04.12.16
 A. Por falar em degraus
  1. Eis-nos já no segundo degrau desta escalada do Advento. Eis-nos, portanto, no segundo degrau desta escalada que nos vai conduzir à celebração do Natal. E, já agora, por falar em degraus, é impossível esquecer que faz hoje 50 anos que foi inaugurada a última fase do Escadório do nosso Santuário.

Foi, com efeito, a 4 de Dezembro de 1966 — curiosamente, também um Domingo — que Lamego se cobriu de festa para assinalar a conclusão da construção do Escadório. 189 anos depois de ter começado, nas imediações do Santuário, era concluído, em plena cidade. 605 anos após a inauguração da Capela de Santo Estêvão, aqui em cima, os primeiros degraus de acesso eram colocados, lá em baixo.

 

  1. Como sabemos, o Escadório terminava antes da Estrada Nacional. A magnífica Fonte do Pelicano, na Meia Laranja, era o seu remate vistoso e imponente. Mas no início do século XX, houve quem achasse necessário incorporá-lo na própria cidade. Várias tentativas foram desencadeadas na década de 1920, que, no entanto, não foram bem sucedidas.

Só que tais tentativas foram continuando até que, a 11 de Novembro de 1962, as obras arrancaram. O primeiro degrau foi benzido a 4 de Maio de 1963, por D. João da Silva Campos Neves. Os trabalhos prosseguiram ao longo de mais três anos: 85 degraus ligaram o Largo da Meia Laranja à Estrada Nacional e outros 157 degraus trouxeram o Escadório da Estrada Nacional para a Av. Dr. Alfredo de Sousa. Deste modo, mais 242 degraus foram acrescentados aos 683 que já existiam.

 

B. A Mãe é o grande degrau para o Filho

 

3. Depois de estar aprazada para Setembro, a cerimónia de inauguração decorreu, então, a 4 de Dezembro de 1966, um Domingo. Houve uma Santa Missa no Santuário, presidida por D. Américo Henriques, Bispo Auxiliar e que tinha sido ordenado pouco antes. Entre os presentes, encontrava-se o Ministro das Obras Públicas, Eng. Eduardo Arantes e Oliveira. A sua fotografia foi descerrada na Sala dos Retratos, onde ainda se encontra. Recebeu um diploma de membro benemérito da Irmandade, a medalha de ouro do município e o título de cidadão honorário da cidade.

As palavras inscritas há 50 anos dizem tudo porque provêm da alma de todos: «Devota homenagem/Bendita seja, Nossa Senhora dos Remédios, excelsa e querida Padroeira da Cidade». De facto, a cidade é d’Ela é Ela também é da cidade. A vida agita-se lá em baixo, mas os olhos — e sobretudo o coração — apaziguam-se sempre que se voltam cá para cima, para o brilho que vem da Mãe. O brilho do Escadório faz reluzir, ainda mais, o amor que nele ferve à medida em que é escalado.

 

  1. O amor da Mãe é o degrau que nos transporta até ao Filho, até Jesus. O Escadório ilustra, pois, o nosso itinerário de Advento. Passo a passo, entre quedas e subidas, pelo caminho da conversão, vamos ao encontro da Palavra e do Pão. De facto, é impressionante notar a unidade que sobressai entre estes 925 degraus. Foi preocupação dos construtores que todos os degraus ficassem dispostos segundo um eixo alinhado com o altar-mor do Santuário.

Eles perceberam que o centro da Casa da Mãe é o Altar do Seu Filho, que, em cada Eucaristia, renasce para nós a fim de que nós renasçamos para Ele. É por isso que a Eucaristia é o contínuo Advento e o perene Natal.

 

C. A mudança já devia ter começado ontem

 

5. Vale, por isso, a pena reparar não apenas na arquitectura do Escadório, mas também na teologia do Escadório e na espiritualidade do Escadório. O Escadório não é só — nem principalmente — um espaço para trilhar; é sobretudo uma atmosfera para respirar e para meditar.

Este Escadório nasceu para ser um monumental oratório. Por estes degraus tornou-se hábito aspirar um profundo hálito. Tornou-se hábito humano aspirar, aqui, o hálito divino. Aqui, todos sentem o aconchego de uma mão, da mão da Mãe. Por toda esta escadaria ressoará sempre uma imensa «Ave, Maria»!

 

  1. Tal como o Escadório nos aproxima do Santuário, também o Advento nos vai aproximado da celebração do Natal. Neste sentido, a Liturgia da Palavra deste Domingo fala-nos da proximidade do Reino de Deus. No Evangelho, anuncia que este Reino está muito próximo. Tal proximidade, porém, não é prioritariamente de ordem temporal; é de ordem sobretudo pessoal. Nesse sentido, João Baptista convida — e convida-nos — a mudar tudo na nossa vida.

Atenção, pois. A mudança já devia ter começado ontem. Não adiemos para amanhã a mudança que é urgente começar (pelo menos) hoje. Jesus não vem para que tudo fique na mesma. Jesus vem para que tudo seja diferente, para que tudo seja melhor. Jesus não vem para mudar só as estruturas. Jesus quer mudar a vida, a minha e a tua. Vamos deixá-Lo sozinho, a clamar na rua? A Sua proposta merece sempre a nossa melhor resposta.

 

D. Deus oferece-nos um mundo novo

 

7. Na Primeira Leitura, o profeta Isaías apresenta um enviado de Deus, sobre quem repousa a plenitude do Espírito divino. É um espírito de sabedoria e de inteligência como Salomão. É um espírito de conselho e de fortaleza como David. É um espírito de conhecimento e de temor de Deus como os patriarcas e os profetas. Refira-se que aos seis dons aqui enunciados, a tradução grega dos chamados «Setenta» acrescentará a piedade. Como se pode ver, está aqui a origem da lista dos sete dons do Espírito Santo.

A missão deste enviado é construir um reino de justiça e de paz sem fim. Todas as divisões serão banidas, todos os conflitos serão superados. Até os que se dão mal passarão a dar-se bem. Vão passar a dar-se bem: o lobo e o cordeiro, a pantera e o cabrito, o bezerro e o leão; a vaca e o urso.

 

  1. Sintomaticamente, todos estes seres vivos serão conduzidos por uma criança, que simboliza o humano na sua pureza e na sua inocência. E não foi assim — como criança — que Deus Se apresentou no meio de nós? Não percamos a criança que, um dia, Deus colocou em nós. Crescer não é perder a criança. Crescer é deixar que a sua pureza nos acompanhem sempre.

Recorrendo a imagens muito sugestivas, o profeta apresenta um mundo novo, um mundo belo. Destruídas as inimizades e superadas as desarmonias, o homem viverá em paz e em comunhão total com Deus. Esta descrição não pode ser vista como meramente idílica ou como um ideal irreal. O que aqui é dito corresponde ao que nos é oferecido e há-de ser permanentemente construído.

 

E. Nem justiça sem paz nem paz sem justiça, nem paz nem justiça sem Cristo

 

9. Como resposta a esta descrição, cantámos expressando a nossa plena convicção de que, «nos dias do Senhor, nascerá a justiça e a paz para sempre». Porque é que parece demorar tanto a justiça que não temos e a paz que não vemos? Talvez porque pretendemos uma sem a outra e as duas sem Cristo.

Pura ilusão, porém. Não há paz sem justiça nem justiça sem paz. E não há paz nem justiça sem Cristo. Só em Cristo a paz e a justiça despertarão juntas. Em Cristo, a paz e a justiça estão geminadas. Como podemos querê-las separadas?

 Advento é sobretudo tempo de preparar aquilo que esperamos e de nos prepararmos para Aquele que esperamos. Daí o sonoro apelo brandido por João: «Preparai o caminho do Senhor» Mt 3, 3). Não se trata de preparar os nossos caminhos até Deus, mas de nos prepararmos para acolher os caminhos de Deus até nós. A iniciativa é sempre de Deus. Preparar é estar alerta, vigilante. Deus gosta de surpreender. A esperança não desistiu de nós. Não queiramos nós desistir da esperança!

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