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CRISTÃOS LONGE DO CRISTIANISMO?

por Zulmiro Sarmento, em 22.04.15
Fé e religião são seguramente confinantes. Mas nem sempre serão mutuamente convertíveis.
Há quem opte por uma fé longe da religião. E haverá quem persista numa religiosidade longe da fé.

Há quem se considere crente sem dar sinais de ser religioso.
E não faltará quem se considere religioso sem dar sinais de ser crente.

Nem toda a pertença é garantia de crença. E nem toda a crença será garantia de pertença.
É difícil tipificar as situações de «pertença sem crença». Mas é inquestionável que os casos de «crença sem pertença» estão a aumentar.

O desencanto pelas religiões é um dado a ter em conta.
E a tendência para a «individualização do crer», de que fala Marcel Gauchet, é outro factor a ter em mente.

Neste contexto, como enquadrar os «cristãos sem Cristianismo»?
Já houve quem, como Dietrich Bonhoeffer, intentasse uma «interpretação não-religiosa» do Cristianismo. E Marcel Gauchet foi ao ponto de o apresentar como «a religião da saída da religião».

Para muitos, seguir Jesus Cristo não passa necessariamente pelo Cristianismo. Aliás, há até os que, na linha de Gandhi, diferenciam Cristo do Cristianismo.
É frequente encontrar quem pretenda validar uma conduta cristã à margem da religião cristã.

Edward Schillebeeckx sinalizou a emergência de um «Cristianismo implícito».
De facto, há pessoas que, não professando a fé cristã, adoptam os valores por ela veiculados.

É uma visão aparentada com a conhecida — e muito discutida — tese do «Cristianismo anónimo», de Karl Rahner.
Outras tradições religiosas podem acolher, segundo Xavier Zubiri, uma espécie de «Cristianismo germinal».

Cristo está presente na vida dos cristãos. Mas não está ausente da vida dos outros crentes. E nem sequer está distante da vida de quem não é crente.
Basta reparar na resposta que Oskar Pfiser deu a Sigmund Freud quando este lhe perguntou se um cristão podia conviver com um ateu: «Quando penso que o senhor é muito melhor do que a sua falta de fé e que eu sou muito pior do que a minha fé, o abismo entre nós não pode ser assim tão terrível».

Conhecer a mensagem é fundamental. Vivê-la é decisivo.
E se Jesus censura o comportamento dos que dizem e não fazem (cf. Mt 23, 3), como não há-de aplaudir a atitude dos que fazem, embora não o digam?

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