São João Paulo II foi vítima de um atentado a 12 de Maio de 1982, em Fátima. A 13 de Maio de 1981 tinha sido alvejado em Roma, tendo então perigado a sua vida. A providencial coincidência deste incidente com o aniversário da primeira aparição, em Fátima, levou João Paulo II a atribuir a Maria a sua sobrevivência. Por esta razão, fez uma peregrinação, um ano depois, à Cova da Iria. Foi então que um padre espanhol, não católico, atentou, sem êxito, contra a vida daquele Papa.
Logo depois deste segundo atentado, um casal madrileno apresentou-se na nunciatura, em Lisboa: eram os pais do clérigo que pusera em risco a vida de São João Paulo II. A razão da sua precipitada vinda ao nosso país, que passou desapercebida à imprensa, era só uma: pedir desculpa.
Aqueles pais, católicos, não tinham nenhuma responsabilidade no delito perpetrado pelo filho, maior de idade. Naquela hora amarga, de tanta angústia e vergonha, era compreensível que se tivessem escondido mas, pelo contrário, deram a cara em nome de um crime que não era deles. Outros teriam entendido, com razão, que nada tinham a ver com aquele acto criminoso, mas aqueles pais carregaram com a culpa do seu filho. Muitos progenitores ter-se-iam orgulhado de uma glória filial, mas aqueles desgraçados pais humilharam-se com a desonra do seu descendente e, em seu nome, ofereceram-se à vítima, em expiação dessa falta. Como é rara a nobreza de uma voluntária humilhação! Como é belo pedir perdão!
"Nisto consiste o amor: (…) em ter sido Deus que nos amou e enviou o seu Filho, como vítima de expiação pelos nossos pecados. (…) Se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros" (1Jo 4,10-11). Neste mundo, sobram os Pilatos e os Herodes acusadores, mas faltam Cireneus que carreguem as cruzes alheias.
Gonçalo Portocarrero de Almada | ionline 2014.09.20