Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]


BOM, BELO, PERFEITO E VERDADEIRO PASTOR. É este o verdadeiro significado da palavra grega! O resto são tretas de pseudo sabedura em algumas homilias para gerar confusão e aumentar o EGO dalgum "funcionário eclesiástico" dos nossos meios.

por Zulmiro Sarmento, em 28.04.15
"É feio um sacerdote que vive para agradar a si mesmo....É um pavão!”. (Francisco, bispo de Roma)

1. Domingo IV da Páscoa. Domingo do Bom, Belo, Perfeito e Verdadeiro Pastor. É este o significado largo do adjectivo grego kalós e do hebraico tôb, que qualifica o nome Pastor. De notar que o Domingo IV da Páscoa, Domingo do Bom e Belo Pastor, é sempre também Dia Mundial de Oração pelas Vocações. 2. O Evangelho que marca o ritmo deste Dia Grande é João 10,1-10, que surge enquadrado na Festa judaica anual da Dedicação do Templo (ver João 10,22). Situemo-nos. O selêucida Antíoco IV Epifânio tinha profanado o Templo de Jerusalém, introduzindo lá cultos pagãos. Este acontecimento remonta ao ano 167 a. C. Contra esta helenização e paganização do judaísmo lutaram os Macabeus, e, no ano 164 a. C., Judas Macabeu procedeu à Purificação do Templo e à sua Dedicação ao Deus Vivo. É este importante acontecimento que deve ser celebrado todos os anos, durante oito dias, com a Festa da Dedicação, a partir do dia 25 do mês de Kisleu, que, no ano em curso de 2014, corresponde ao nosso dia 17 de Dezembro. 3. A Festa da Dedicação, em hebraico hanûkkah, celebra-se durante oito dias, e tem como símbolo o candelabro de oito braços. Relata o Talmud que, quando os judeus fiéis entraram no Templo profanado pelos pagãos helenistas, encontraram uma única âmbula de azeite puro (kasher) de oliveira para reacender o candelabro de sete braços, em hebraico menôrah, que é um dos símbolos de Israel, e que deve arder diante do Deus Vivo. Todavia, uma âmbula de azeite duraria apenas um dia, e eram precisos oito dias para preparar novo azeite puro. Pois bem, o azeite daquela única âmbula durou milagrosamente oito dias! Daí que, na Festa da Dedicação, se acenda um candelabro de oito braços, chamado hanûkkiyyah. Mas acende-se apenas uma luz por dia, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até estarem acesas as oito luzes. Além disso, e ao contrário das luzes da menôrah e do Sábado, que alumiam o interior do Santuário e da casa de família respectivamente, as Luzes do candelabro da Dedicação, refere o ritual, devem ser vistas cá fora: devem alumiar o ambiente social, político, comercial e cultural. E também ao contrário das luzes da menôrah e do Sábado, não se acendem todas de uma vez, mas progressivamente uma por dia, porque, quando as condições são adversas (paganismo helenista e escuro), não basta acender uma luz e mantê-la; é preciso aumentar constantemente a luz. Mais luz. Mais luz. Mais luz. 4. Como este simbolismo é importante para os dias de hoje! Está escuro cá dentro e lá fora, o mundo parece desconstruir-se, o paganismo é galopante! Mais do que nunca, é preciso, portanto, não apenas manter a luz, mas aumentá-la progressivamente. E é ainda necessário que esta Luz saia para fora: um «igreja em saída», como sonha e pede o Papa Francisco! E está em maravilhosa sintonia com a Luz Grande que deve alumiar este Domingo do Bom e Belo Pastor, que é Jesus, verdadeira Luz do mundo, Dom do Amor de Deus ao nosso coração. Atear esta Luz de Jesus no nosso coração é também o segredo maior deste Dia Mundial de Oração pelas Vocações. 5. Da mesa da Escritura deste Domingo IV da Páscoa transbordam tonalidades e sabores intensos, harmoniosos e deliciosos. Música encantatória. Água pura. Óleo perfumado. Verde prado em festa. Proximidade. Ternura. Confiança. Beleza em flor e fruto. Vida a transbordar. Tudo da ordem do sublime. 6. A figura do Pastor belo e bom como que salta da página fechada (João 10,1-10), para surgir em pessoa à nossa frente. Ao dizer «Eu sou», Jesus está também, ao mesmo tempo, a dizer «vós sois». Está, portanto, a estabelecer uma relação pessoal de proximidade, confiança e intimidade connosco, bem expressa, de resto, pelos verbos «chamar pelo nome», «conhecer», «ouvir a voz», «conduzir», «caminhar à frente de», «seguir», «dar a vida». 7. Mas esta vida livre, plena e bela, assente na verdade e na confiança, sem mentiras nem imposições nem malabarismos, deixa ver em expresso contraponto o seu oposto. É que também saltam da página os ladrões, os salteadores e os estranhos, que, em vez de conjugarem os verbos acima indicados para traduzir a relação do pastor belo e bom com o seu rebanho, conjugam antes os verbos «roubar», «matar», «destruir». Como esta página antiga e sempre nova de João 10,1-10 lê e desvenda os tempos de hoje! 8. Mas o texto grandioso de João 10,1-10 passa também mensagens intemporais que, em cada tempo e lugar, devem interpelar a comunidade cristã. Assim, quando Jesus diz: «Eu sou a porta», não está a usar uma linguagem da ordem da arquitectura e da carpintaria. É de uma porta pessoal que se trata. E esta porta pessoal tem um nome e um rosto: Jesus de Nazaré, Jesus de Deus. E esta porta serve para «entrar e sair». «Entrar e sair» é um merisma [= figura literária que diz o todo acostando duas extremidades] que traduz a nossa vida toda. É a nossa vida toda sempre em referência a Jesus Cristo. Entende-se, não com a actual criação industrial de gado, em que os animais estão quase sempre em clausura e o pasto lhes é fornecido em manjedouras apropriadas, visando sempre uma maior produtividade, mas com os «apriscos» [= mais abrir do que fechar, como indica o étimo aprire] antigos, em que os animais se recolhiam apenas para se protegerem do frio da noite e dos assaltos das feras ou dos ladrões, e procuravam fora o seu alimento, sempre conduzidos e sob a atenção vigilante do pastor. 9. Note-se ainda que os Evangelhos falam sempre de rebanho, e não de ovelhas separadas. Quando falam de uma ovelha sozinha, é para descrever a situação negativa de uma ovelha desgarrada ou perdida, que se perdeu do rebanho ou da comunidade, e deixou de seguir o pastor e de ouvir a sua voz. Note-se ainda que as ovelhas «entram pela porta», mas não é para ficarem descansadas e recolhidas, fechadas sobre si mesmas. É para sair, pois é fora que encontrarão pastagem. Lição para a comunidade dos discípulos de Jesus de hoje e de sempre: o trabalho belo que nos alimenta e nos mantém saudáveis espera-nos lá fora! Que Deus nos dê então sempre um grande apetite! A messe ondulante está à espera de ceifeiros que saibam cantar (Salmo 126,5-6), porque também sabem que é Deus o Senhor da messe. 10. A cristalina melodia do Salmo 23(22), que hoje cantamos, entranha-se suavemente em nós, fazendo-nos experimentar os mil sabores da paz, do pão e da alegria que em cada dia recebemos do Pastor belo e bom que amorosamente nos guia. Ele é o companheiro para quem as horas do seu rebanho são também as suas, corre os mesmos riscos, a mesma fome e a mesma sede, o sol que cai sobre o rebanho cai também sobre ele. 11. Como é importante recitar e saborear esta alegria pessoal que nos traz o Pastor belo e bom que nos chama e nos inebria. Confessou o filósofo francês Henri Bergson: «As centenas de livros que li nunca me trouxeram tanta luz e conforto como os versos do Salmo 23». Veja-se outra vez o contraponto da paródia que sobre este Salmo construiu um poeta americano drogado: «A heroína é o meu pastor;/ terei sempre necessidade dela./ Ela faz-me dormir debaixo das pontes,/ e conduz-me a uma doce demência./ Ela destrói a minha vida,/ e guia-me pelo caminho do inferno,/ por amor do seu nome./ Mesmo se caminhasse/ pelo vale da sombra da morte,/ não terei nenhum medo,/ porque a droga está comigo./ A minha seringa e a minha agulha me dão conforto…». 12. E aí está outra vez Pedro a exortar-nos na manhã de Pentecostes: «Salvai-vos desta geração perversa» (Actos 2,40). «Vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora regressastes para o pastor e supervisor (epískopos) das vossas almas» (1 Pedro 2,25). «Segui, pois, os seus passos» (1 Pedro 2,21). 13. Concede-nos, Senhor, Belo e Bom Pastor, que nunca nos tresmalhemos do teu imenso amor, e que saibamos sempre levar o tom e o sabor da tua voz que chama e ama a cada irmão perdido em casa ou numa estrada de lama. Senhor Jesus Cristo, Único Senhor da minha vida, Bom Pastor dos meus passos inseguros E do silêncio inquieto do meu coração, Cheio de sonhos, anseios, dúvidas, inquietações. Senhor Jesus, Faz ressoar em mim a tua voz de paz e de ternura. Eu sei que pronuncias o meu nome com doçura, E me envias ao encontro daquele meu irmão que Te procura. Fico contigo sentado junto ao poço. Alumia o meu pobre coração. Vejo que, de toda a parte, chega gente de cântaro na mão. Dispõe de mim, Senhor, Nesta hora de Nova Evangelização. Que eu saiba, Senhor, Interpretar bem a tua melodia. Que eu saiba, Senhor, Dizer sempre SIM como Maria. António Couto (Bispo e especialista em Sagrada Escritura)

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:00



formar e informar

Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Abril 2015

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
2627282930



Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2014
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2013
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2012
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2011
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2010
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2009
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2008
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2007
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D