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A. Até Jesus foi rejeitado
Nem o facto de ter feito uma homilia bem pequena O livrou da contestação. Depois de ler a Escritura, Jesus limitou-Se a dizer: «Cumpriu-Se hoje a passagem da Escritura que acabais de ouvir»(Lc 4, 21). Só que este pouco era muito, era tudo, era o programa de Jesus. E esse programa chocava com os interesses de muitos, a começar pelos mais próximos, pelos Seus conterrâneos.
Não espanta, por conseguinte, que até os do Seu povo tentem eliminá-Lo, deitando-O abaixo (cf. Lc 4, 29). E é significativo notar que, perante a rejeição, Jesus não procura defender-Se. O que Jesus faz é «seguir o Seu caminho»(Lc 4, 30). É isto que importa: seguir o caminho de Jesus.
B. Se os de dentro rejeitam, há muitos de fora que aceitam
3. O Evangelho é uma proposta que reclama sempre uma resposta. Se a resposta for de rejeição, há que não ficar desmobilizado no chão. Mais do que litigar, é preciso insistir porque outras respostas hão-de vir. É o que Jesus faz: rejeitado em Nazaré, desce a Cafarnaum para propagar a fé (cf. Lc 4, 31).
É preciso, pois, fazer como Jesus: se os de dentro rejeitam, há muitos de fora que aceitam. Não devemos desistir de ninguém, mas sem jamais ficar condicionados por alguém. Não tenhamos medo de sair: há tanta gente com vontade de vir. O Evangelho cativa, mas nunca fica cativo: cativa a todos, mas sem ficar cativo de ninguém. O Evangelho não fica cativo nem é selectivo: é para sempre e é para todos. Por conseguinte, é imperioso todos os meios usar para a toda a gente o Evangelho levar.
É que, neste mundo, muito se fala de amor, mas tanto se atenta contra o amor. O amor está muito presente nos nossos lábios, mas parece completamente ausente da nossa vida. É bem possível que ainda não tenhamos encontrado o amor. Só quando encontrarmos Deus — só quando nos deixarmos encontrar por Deus —, é que teremos encontrado verdadeiramente o amor.
C. Levar a fé é (também) levar o amor
5. Nem todo o amor tem Deus, mas Deus temsempre amor. Mais: Deus não Se limita a ter amor; Deus é amor (cf. 1Jo 4, 8.16). Criada por Deus, a Igreja tem de ser por excelência o lugar do amor. E será o lugar do amor se, desde logo, acolher o amor que a funda, do amor que a sustenta, do amor que a alimenta. Daí que, quanto mais perto de Deus, mais perto do amor. E daí também que a falta de amor de uns pelos outros seja a maior demonstração da falta do amor a Deus.
Ainda temos um longo, muito longo, caminho a percorrer neste campo. O amor, que é Deus, não está longe de nós, mas nós, por vezes, teimamos em estar longe de Deus, que é amor. E ninguém diga que tem fé se não tem amor. O amor é o grande certificado da fé. Acreditar sem amar? Nem pensar. Não é possível acreditar sem amar. A fé envolve sempre o amor.
A nossa profissão de fé é também — e bastante — uma confissão de amor. O Credo é uma expressão de fé na medida em que é uma história de amor. Aliás, enquanto história de fé, só pode ser história de amor. Só há fé quando existe amor: o amor é a fé vivenciada! Só o amor, como dizia Hans Urs von Balthasar, «é digno de fé».
D. Às vezes, o amor parece mais frio que o frio
7. Mas qual é a temperatura do nosso amor? Às vezes, o nosso amor parece mais frio do que este tempo frio. Habituamo-nos a ligar o amor à posse, quando Deus nos mostra que o amor está apenas — e sempre — na dádiva. Amor possessivo será autenticamente amor? O amor que vem de Deus, o amor que é Deus, é sempre amor oblativo. É sempre amor que dá, amor que Se dá, amor que Se doa, amor que perdoa.
Procuremos, então, conferir a temperatura do nosso amor com o grande termómetro que é o Evangelho de Jesus. Como vai o nosso amor para com Deus? Não tentemos separar jamais o que Deus uniu. Deus uniu o amor divino e o amor humano. Só amaremos verdadeiramente o próximo se nos dispusermos a amar verdadeiramente a Deus.
Nada mais devemos querer, nós também. Nada mais devemos querer além do amor. Cultivemos, pois, o amor: o amor para com Deus e o amor para com todos a partir de Deus. E não nos preocupemos sequer com amar. Procuremos depositar nos outros o amor de Deus, o amor que é Deus. Amemos os outros com o amor de Deus, com o amor que é Deus.
E. O amor não é feito de palavras belas; é o que torna a nossa vida bela
9. O Eng. Fernando Santos, actual seleccionador nacional, nunca escondeu a fé que o possui. Há tempos, assumiu ter descoberto que «Cristo está vivo e que tal descoberta não a posso guardar só para mim». Confessou ter encontrado a sua felicidade «no caminho da fé, porque há uma palavra que antes não percebia e que passei a entender: o amor». Foi o amor de Deus revelado em Cristo que o ajudou a perceber o que é o amor.
Visitemos, muitas vezes, este texto de S. Paulo. Façamos dele um programa de vida. São 13 versículos do capítulo 13 da primeira Carta aos Coríntios. São um belíssimo compêndio sobre o amor: sobre a proveniência do amor, sobre a força do amor e até sobre a eternidade do amor. É que, quando tudo acabar, havemos de notar que o amor nunca acabará (cf. 1Cor 13, 8).
Eu atrever-me-ia a sugerir que recortássemos estas 15 qualidades do amor e as colocássemos à entrada da nossa casa, para que nunca as esquecêssemos em cada dia da nossa vida. O amor não é feito de palavras belas. O amor é o que torna bela a nossa vida. O amor é o que faz persistir mesmo na hora me que nos apetece desistir. A fé está sempre a dizer à esperança: «não desistas». E a esperança não pára de segredar ao amor: «não pares». É assim que o Evangelho se faz ao caminho nos caminhos dos homens. É no amor que o Evangelho se fará caminho nos nossos caminhos!
Do blogue THEOSFERA