por Zulmiro Sarmento, em 16.04.10

O Arcebispo de Turim, Cardeal Severino Poletto, informou que o Papa Bento XVI visitará o Santo Sudário de Turim, com motivo da sua próxima exibição, no próximo 2 de maio de 2010.
Numa carta recolhida pela imprensa local, o Cardeal anunciou a visita e antecipou que o Pontífice também presidirá uma Missa ao ar livre.
O Cardeal Poletto considerou que a visita será “um presente extraordinário” para “a nossa cidade e para a diocese uma ocasião única. O evento dará novo impulso ao caminho espiritual e pastoral de nossas comunidades cristãs e infundirá esperança em todos”.
A próxima exposição do Sudário Santa começará no dia 10 de abril e terminará no 23 de maio.
Em junho do ano passado, o Papa Bento XVI acolheu o pedido do Cardeal Poletto para a exibição e antecipou que “se o Senhor me der vida e saúde, espero ir eu também”.
Nesse momento, Bento XVI assinalou que “será uma ocasião muito propícia para contemplar aquele misterioso rosto, que fala silenciosamente ao coração dos seres humanos, convidando-lhes a reconhecer nele o rosto de Deus”.
A última exibição do Santo Sudário teve lugar há quase dez anos com ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000.
O Manto de Turim ou Santo Sudário, que uma sólida e sustentada tradição assinala como o manto que envolveu o corpo do Senhor Jesus, é uma fina peça de linho de 3 pés e 7 polegadas de largura e 14 pés e três polegadas de comprimento.
O manto leva a imagem detalhada da frente e das costas de um homem que foi crucificado de maneira idêntica a Jesus de Nazaré conforme descrevem as Escrituras.
O manto encontra-se em Turim, Itália, desde 1578 e é posto à exposição pública aproximadamente uma vez por cada geração.
Com o fim de determinar o modo como a imagem se imprimiu no Sudário, mais de mil investigações científicas das mais diversas especialidades foram realizadas e tomaram-se 32 mil fotografias do manto.
Estas investigações fizeram do Sudário Santo a relíquia mais estudada da história.
O Site oficial da próxima exibição é http://www.sindone.org/
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por Zulmiro Sarmento, em 04.03.10
“Deus”. Quando dizemos esta palavra temos alguma ideia na cabeça, uma “imagem” de Deus. Claro que qualquer ideia que tivermos de Deus, por melhor que ela seja, será sempre incompleta (Deus é sempre muito maior que a nossa cabeça). Mas, por vezes, para além de incompleta, a ideia que temos de Deus está distorcida. Aqui vão algumas dessas imagens distorcidas de Deus: 1. O Deus-energia. Algumas pessoas pensam que Deus é uma “energia positiva”, talvez a energia do amor. De facto, Deus dá muita energia a quantos dele se aproximam. Mas a energia não é Deus. A energia é impessoal e Deus é pessoal. Ou seja: Deus é um Alguém que nos conhece e com quem podemos falar e ter uma relação de amizade. Ninguém fala com a energia eléctrica! (a não ser num hospital psiquiátrico!) 2. O Deus-universo. Algumas pessoas pensam que Deus é o conjunto do universo. De facto, o universo reflecte um pouco de quem é Deus. Mas Deus não é o universo: Deus é o criador do universo. O universo reflecte quem é Deus tanto quanto uma obra de arte reflecte a personalidade do artista que a criou. Uma coisa é o quadro que representa a Mona Lisa e outra é Leonardo Da Vinci, o autor do quadro… 3. O Deus das marionetas. Algumas pessoas pensam que Deus é como um manipulador de marionetas. As marionetas seríamos nós!! Ou seja: pensam que o nosso destino está traçado e controlado por Deus. Mas não é assim: Deus dá e respeita a liberdade que deu ao mundo e a cada um de nós. Está sempre connosco mas não nos controla, nem mesmo quando nós decidimos negá-Lo ou não Lhe dar importância. 4. O Deus-polícia. Algumas pessoas pensam que Deus anda atrás de nós como um polícia, para ter a certeza de que é cumprida a lei (a ordem moral, os mandamentos). De facto, Deus anda atrás de nós e persegue-nos mas não por causa de lei: porque nos ama. Ele anda atrás de nós como um rapaz apaixonado anda atrás da rapariga por quem se apaixonou. Não está interessado em que a lei seja mantida, Deus está interessado em nós porque nos ama. Se nos dá mandamentos é para nos indicar o caminho da nossa verdadeira felicidade. Essa é a única coisa que lhe interessa… 5. O Deus-companhia-de-seguros. Algumas pessoas esperam que a sua fé funcione como um seguro: se tiverem “as contas em dia” com Deus ficarão protegidas dos perigos e problemas que mais temem (a doença, o fim do namoro ou casamento, etc). De facto, uma boa relação com Deus dá-nos força e um sentimento grande de “abrigo” mas não nos protege das dificuldades da vida. Mais: uma relação séria com Deus desafia-nos, puxa por nós e convida-nos a ir mais longe na maneira de estarmos na vida. Leva-nos até, por vezes, a enfrentar riscos que não teríamos sem Ele (como aconteceu aos primeiros cristãos no circo de Roma). 6. O Deus relojoeiro. Algumas pessoas pensam que – há muito, muito tempo - Deus criou o mundo e depois ficou simplesmente a observar. Como um relojoeiro depois de ter acabado de fabricar um relógio ao qual já deu corda… De facto o mundo tem a sua autonomia mas Deus não Se limita a observar: está sempre presente e activo, encontrando mil e uma maneiras discretas de nos bater à porta para intervir na nossa vida. Ou seja: continua a criar-nos (tal como um pai anda a criar um filho) falando-nos e dando-nos continuamente oportunidades e meios de crescimento. 7. O Deus Principezinho. Algumas pessoas associam Deus ao lado adolescente da vida: às emoções fortes, à poesia, à intimidade, à música, ao “pôr-do-sol”... É um Deus que só está presente nos “momentos mágicos”. De facto, há momentos “mágicos” e poéticos na vida de quem tem fé. Mas também há momentos duros. E Deus continua a estar lá… O mesmo Deus que criou o pôr-do-sol também deu a Sua vida por nós numa cruz. Deus revela-se na poesia mas também está presente nos momentos duros, inspirando-nos fidelidade e capacidade de superação de nós mesmos. … é assim o Deus que Jesus revelou e tratava por “Pai”. |
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P. Nuno Tovar de Lemos sj www.essejota.net | |
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por Zulmiro Sarmento, em 25.01.10

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por Zulmiro Sarmento, em 23.01.10

1. Este é um daqueles momentos em que ficamos (mesmo) sem palavras.
E ainda que as houvesse, mais valia que as guardássemos para nós.
Que palavras haverá para descrever um horror desta magnitude? Que palavras sobrarão para amenizar uma tragédia desta dimensão?
A morte pertence ao silêncio. Aliás, nas línguas semitas, as letras com que se escreve palavra são as mesmas com que se escreve peste: d, b, r.
Isto não deixa de ter um significado acrescido nos tempos que correm. Não são, tantas vezes, as palavras que empestam a nossa convivência?
Pode a morte ser dita? Como falar do que aconteceu no Haiti?
Bastaram 35 segundos para ceifar dezenas (quiçá centenas) de milhar de vidas!
2. Quando a terra treme, o coração estremece. São bem frágeis, de facto, os tentáculos que nos ligam à terra e nos prendem à vida.
Muitos projectos podem ser feitos. Muitos sonhos podem ser sonhados. Basta que a terra abale e tudo cai. Literalmente.
É bem pertinente o que disse Fernanda Winter: «Deus perdoa sempre, o Homem perdoa às vezes, a natureza não perdoa nunca».
E não selecciona ninguém. Devora grandes e pequenos. Engole idosos e crianças. É cruel o seu império. É sumamente impiedosa a sua eficácia.
Mas é nestas alturas que mais vêm ao de cima as desigualdades que nos envolvem.
Fazemos todos parte da mesma (e única) humanidade, mas, nesta aldeia em que se transformou o mundo, parece que há homens mais iguais que outros.
Já tem havido terramotos com maior intensidade que o ocorrido no Haiti sem qualquer vítima.
Como é óbvio, um país pobre e desgovernado, com construções vulneráveis, fica muito mais exposto.
3. Muita gente, em ocasiões como esta, volta-se — e, por vezes, revolta-se — contra Deus.
Porque é que Deus não intervém? Porque é que não avisa? Porque é que consente tudo isto?
Nem os que estavam a rezar escaparam. A catedral de Port-au-Prince foi devassada tendo morrido quantos lá se encontravam.
Também não escapou o bispo da diocese. Como não escaparam os sacerdotes, os religiosos, os seminaristas e tantos leigos.
É nestas alturas que mais dói o silêncio de Deus. Apetece-nos interpelar com S. Gregório de Nazianzo: «Oh Tu, o além de tudo, não será tudo o que se pode dizer de Ti?»
Não nos esqueçamos que o próprio Papa deu voz a todo este clamor numa pungente alocução que proferiu em Auschwitz.
«Porque é que Deus Se silencia? Como pode tolerar o excesso de destruição e o triunfo do mal? Desperta, Senhor, porque dormes? Desperta e não nos rejeites para sempre! Porque escondes a Tua face e Te esqueces da nossa miséria e tribulação?».
Como sucedeu na segunda guerra mundial, também no drama do Haiti é a humanidade que atravessa um espesso «vale escuro».
4. Onde esteve Deus em Auschwitz? Onde estava Deus no Haiti?
Deus quanto mais Se revela mais Se esconde e quanto mais Se esconde mais Se revela.
Apesar da obscuridade que, muitas vezes, adorna a Sua presença, eu vi Deus no Haiti.
Vi Deus no Haiti, perdido nas ruas, a embalar as crianças, a afagar o pranto, a acariciar as feridas, a receber os mortos.
Vi Deus no Haiti a tentar semear um sorriso em tantos rostos magoados de dor e regados de lágrimas.
Vi Deus no Haiti. Vi Deus a correr. Vi Deus a chorar. Vi Deus a soluçar. Vi Deus de joelhos, a sangrar, entre os escombros.
Deus não precisa de sofrer. Ele sofre porque quer, porque ama. Ele não sofre por carência de ser. Ele sofre por superabundância de ser. Ele pode tanto que, por amor, pode fazer Seu o nosso sofrimento, a nossa penúria.
Dói muito estar no fundo do poço. Mas, como afirmou Etty Hillesum, na humanidade, «há um poço muito fundo. E lá dentro está Deus, soterrado. Então é preciso desenterrá-Lo».
Deus também ficou soterrado no Haiti. Desenterremos Deus com a nossa oração, a nossa solidariedade, o nosso amor.
Sejamos humanos uns para com os outros enquanto podemos. Pois não sabemos por quanto tempo podemos.
O amor não pode esperar!
João António Pinheiro Teixeira
padre
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por Zulmiro Sarmento, em 30.12.09

Morreu em Nimega, na Holanda, na vigília de Natal, o teólogo belga Edward Schillebeeckx, de 95 anos. Inspirador na segunda metade da década de 1960 do "Novo Catecismo Holandês", o teólogo dominicano é célebre também pelos seus livros sobre a figura de Jesus Cristo. O seu trabalho teológico centrou-se sobre o problema da fé cristã à luz da cultura contemporânea, ou seja, de como é possível interpretar a fé em diversos contextos culturais. Na década de 70, a sua reflexão foi considerada uma ''teologia da práxis'', por certa proximidade com as teorias marxistas e a teologia da libertação. Entre as suas obras mais famosas, recordam-se "Cristo, sacramento do encontro com Deus'' (1960), "Jesus, a história de um vivente" (1976), "O Cristo, história de uma nova práxis" (1977). |
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por Zulmiro Sarmento, em 26.12.09

Neste Natal de 2009 fomos presenteados com homilias dos nossos Bispos portugueses. Li-as todas. O Cardeal de Lisboa, o arcebispo de Braga, o bispo do Porto, o bispo do Funchal, entre outros, foram muito felizes.
Encontram-se em www.agencia.ecclesia.pt . Nestes dias do Tempo (litúrgico) do Natal que nos restam, será um enriquecimento no alimento da nossa vida cristã, a sua leitura e reflexão. Um convite oportuno.
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por Zulmiro Sarmento, em 30.11.09
Bispos afirmam que o resultado do referendo vai prejudicar convivência entre as religiões
 Os Bispos católicos da Suíça reagiram com uma dura condenação aos resultados do referendo sobre a construção de minaretes no país. 57% dos eleitores votaram este Domingo pela proibição e apenas quatro cantões nos 26 que integram a Confederação rejeitaram a proposta. Walter Müller, responsável pela comunicação da Conferência Episcopal Suíça, afirmou que este resultado é um “obstáculo e um grande desafio para o percurso de integração através do diálogo e do respeito recíproco”. Para os Bispos suíços, a vitória do «Sim» vem “aumentar os problemas de convivência entre as religiões e as culturas”. O secretário-geral da Conferência Episcopal Suíça, Felix Gmür, afirmou tratar-se de "um duro golpe contra a liberdade religiosa e a integração". Depois do referendo, ficará proibida a construção de mesquitas com minaretes. As quatro existentes na Suíça que os têm continuarão assim, poderão construir-se novas mesquitas mas sem eles, e os muçulmanos poderão continuar a rezar à Sexta-feira. ECCLESIA |
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por Zulmiro Sarmento, em 23.11.09
Não serão precisos muitos anos para ser necessário explicar que tanto a Leopoldina como a Popota nada têm a ver com o Natal
 Os primeiros sinais do Natal chegaram, uma vez mais, pelo comércio. Com o calor a entrar pelo Outono dentro, tardaram sons, sinais e cheiros característicos do Dezembro natalício. O mesmo não se diga da azáfama comercial, estrategicamente montada por muitos centros de consumo, com a particularidade de não contar apenas com essa simpática figura de longas barbas brancas. Com culpas quase exclusivas, outrora, pela usurpação das festas natalícias, o Pai Natal pode mesmo ter os dias contados. São hoje novas as personagens que se lançam à conquista das emoções que a quadra gera. Não para fazer esquecer – como se fosse possível - o acontecimento central do Natal, o nascimento de Jesus Cristo. Antes com a ousadia, atrevimento mesmo, de “competir” com o Pai Natal, qual “genérico” desta época do ano. Os dias que correm não colocam só em tensão a maior valorização do Presépio ou da árvore de Natal, do Menino Jesus ou do Pai Natal. Ganham relevância pública outras personagens, imaginadas, criadas e propostas apenas com o objectivo de induzir a comprar. E com a agressividade suficiente para atingir o imaginário de adolescentes e jovens, moldar comportamentos e criar novas necessidades. À valorização, negativa ou positiva, de tais propostas, junte-se o desafio de clarificar o acontecimento celebrado em cada Natal. Não serão precisos muitos anos para ser necessário explicar que tanto a Leopoldina como a Popota nada têm a ver com o Natal e apenas são “personagens” para campanhas de publicidade de cadeias de supermercados. Ao relevo, preocupante, que elas ganham ao se associarem à época natalícia adicione-se a oportunidade de um desafio. O pluralismo e o relativismo em que se banham sociedades do Ocidente obrigam a que se viva em coerência de convicções, sobretudo as religiosas, celebrando-as pessoal e comunitariamente. Transmitindo também às novas gerações o que identifica os dias que correm, as razões de celebrações em família e os ciclos temporais em que se inserem. Este ano, a iniciativa “Estandartes de Natal 2009” pode ser uma excelente oportunidade para afirmar publicamente porque se celebra o Natal. O sítio www.estandartesdenatal.org diz como: basta substituir laços, cores e luzinhas por um estandarte com a imagem d’Aquele que nasce. Paulo Rocha ECCLESIA |
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por Zulmiro Sarmento, em 20.11.09
A propósito da polémica sobre a presença de símbolos religiosos nos espaços públicos, despoletada por um caso surgido em Itália e que mereceu um pronunciamento do tribunal europeu dos direitos do homem, em boa hora o programa "As Tardes da Júlia", da TVI organizou um pequeno debate sobre este tema, no dia 10 de Novembro, para o qual fui convidado a participar.
O que é que havia eu de dizer, e perante uma opinião pública, convencida da verdade universal constitucionalmente consagrada do princípio da laicidade do Estado? Pois foi precisamente questionar a constitucionalidade deste princípio. Que o princípio da laicidade do Estado seja defendido por alguns, trata-se de um direito do cidadão ou dos cidadãos que se associem, como eu tenho o direito de ter uma visão cristã do mundo e da sociedade, dentro da comunidade católica a que pertenço. Mas já não é legítimo exigir que o Estado e a sociedade sejam laicos, como se não houvesse lugar para os outros, para outras expressões, para outras visões do mundo!... É por conseguinte questionável, a partir de um princípio particular, - neste caso o da alegada laicidade do Estado - exercer pressão sobre o Estado e exigir, como é este o caso, a retirada dos símbolos religiosos, cristãos ou outros, das escolas, num processo que, a não ser contrariado, pode levar a exigir a retirada de todos os símbolos religiosos de todos os espaços públicos (pois espaços públicos não são apenas as escolas e os hospitais ou a prisões), o que representaria por absurdo exigir a total destruição do mundo… Um autêntico fim de mundo, um tsunami humano, cultural e civilizacional!...
Eu podia ir para a televisão fazer um choradinho!..., lamentar-me dos tempos modernos, que já não são como aqueles nos quais me criei, onde os espaços públicos (e os tempos) eram marcados pelo ritmo da liturgia cristã…, o toque dos sinos, às Trindades!... Não, decididamente não. O que fiz foi levantar a dúvida sobre a constitucionalidade do princípio da laicidade do Estado e dos espaços públicos. E como na altura não tinha tido tempo para investigar melhor a situação, baseei-me, para fundamentar a minha intuição, no que tenho ouvido de Mário Soares e de Jaime Gama, que falam não de um estado laico, mas sim de um Estado de direito democrático. Também pensava que, se, na última revisão constitucional, de 2005, foi retirada a afirmação da orientação para o socialismo, com certeza que não iria consagrar outro princípio – o da laicidade do Estado -, que condicionaria o sentido da lei fundamental. E por isso defendi que, a estar certa a minha intuição, é inconstitucional o que se faça ou defenda em nome do princípio da laicidade, que é certamente muito respeitável para alguns, mas não seguramente obrigatório para todos.
E a minha intuição era verdadeira. Fui ler a Constituição da República Portuguesa que diz, no seu art. 2: "A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa". E mais adiante, no art. 41 § 4 consagra o princípio da liberdade religiosa e da separação entre o Estado e as Igrejas: "As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto".
Em todo o texto da Constituição não se encontra nenhuma referência nem a "laico" nem a "laicidade". Fui consultar outras Constituições. A mesma referência ao "Estado de Direito democrático" encontra-se na Constituição do Brasil e também na Constituição Espanhola. A Espanha, que não é uma República, mas uma monarquia constitucional, rege-se pelo mesmo princípio de um Estado de direito democrático. E o mesmo com certeza se encontrará nas outras constituições europeias e no Tratado de Lisboa: vivemos na Europa civilizada de Estados de direito democrático.
Portanto, o princípio da laicidade do Estado não está consagrado na Constituição, e por isso não se pode na sua base defender que os espaços públicos em Portugal são laicos; os espaços públicos em Portugal são espaços de convivência democrática de um Estado de direito, abertos e pertença de todos.
Por isso, toda a polémica em torno dos crucifixos nas escolas ou nos hospitais ou em todos os espaços públicos, a partir do princípio da laicidade do Estado não tem suporte constitucional. A Concordata do Estado Português com a Santa Sé, que regula as relações do Estado com a Igreja Católica, e a lei da liberdade religiosa, que regula as relações do Estado Português com as religiões e as confissões cristãs não católicas são expressão de um Estado de direito democrático, e não, como alguns pretendem, a expressão da laicidade do Estado.
Quanto às escolas e aos hospitais, eu defendo que não só os crucifixos não devem ser retirados como devem ser repostos, de onde foram retirados, e agora acompanhados de outros símbolos religiosos (e mesmo laicos), e que possam coexistir em sã convivência no mesmo espaço público que é de todos.
O Natal aproxima-se: ele é essencialmente cristão. Que seja um tempo em que os nossos espaços públicos se iluminem, mas que este ano a luz que brilhou uma noite em Belém resplandeça sobre as nossas cidades e os nossos campos, e possa ouvir-se, nas cidades e nas serras, nas cidades e nas aldeias a voz dos anjos que a todos os homens de boa vontade anunciaram, nos campos de Belém, aos pastores que tinha nascido num presépio um Menino, que a todos trazia a paz: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade, aos homens que Ele ama!...
José Jacinto Ferreira de Farias, scj
ECCLESIA
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por Zulmiro Sarmento, em 05.11.09
Secretário de Estado do Vaticano lamenta decisão do Tribunal Europeu de Direitos do Homem
 O Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, lamentou que a Europa do terceiro milénio troque os seus “símbolos mais queridos” pelas “abóboras” do Halloween. O número dois do Vaticano comentava assim a decisão do Tribunal Europeu de Direitos do Homem, emitida esta Terça-feira, que define a presença do crucifixo nas escolas como uma violação da liberdade religiosa dos alunos e como contrária ao direito dos pais em educarem os filhos segundo as suas convicções. O Cardeal Bertone considera tratar-se de uma “verdadeira perda”. “Devemos procurar conservar, com todas as nossas forças, os sinais da nossa fé, para quem crê e para quem não crê”, concluiu. Após ter manifestado o seu apreço pela iniciativa do Governo italiano, que anunciou recurso contra a decisão, o Secretário de Estado do Vaticano sublinhou que o crucifixo é “símbolo do amor universal, não de exclusão, mas de acolhimento”. “Pergunto-me se esta sentença é sinal de razoabilidade ou não”, concluiu. Na sua edição desta Quinta-feira, o jornal do Vaticano, além das declarações do Cardeal Bertone, apresenta um artigo sobre a decisão do Tribunal de Estrasburgo, considerando que a mesma não reconhece “a importância do papel das religiões na construção da identidade europeia e na afirmação da centralidade do homem na sociedade”. “A decisão dos juízes de Estrasburgo, por outro lado, parece inspirada numa ideia de laicidade do Estado que leva a marginalizar o contributo das religiões na vida pública”, acrescenta o artigo do “Osservatore Romano”. ECCLESIA |
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