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Eu queria um Deus resplandecente e forte, Eu queria um Deus que miraculosamente acabasse Eu queria um Deus cujo poder atingisse Eu queria um Deus exigente, Eu queria um Deus que se impusesse, Eu queria um Deus Eu queria um Deus racional, Foi esse Deus, frágil, discreto,
Padres dehonianos |
Acende-se, neste tempo, a nostalgia nos nossos corações. E quando escrevo "nossos", estou a pensar em quantos ainda viveram um Natal religioso, familiar e feliz; afinal os que conheceram outra realidade diferente desta pressa anónima, irrefletida e comercial que hoje nos afoga. Nostálgicos, exclamamos que "já não é como dantes". Estranhamente, porém, resignamo-nos, qual pedaço de esferovite perdido na corrente: apesar de flutuar, está decididamente rendido a uma força estranha! Foi já há mais de uma dezena e meia de anos que me confrontei com um grito de alarme numa revista espanhola: "Roubaram-nos o Natal". Mas aonde nos levou esta constatação? Que reação provocou, para além do estranho sentimento de perda? Às indefinições que vivemos… Sempre tive grande dificuldade em lidar com a resignação, mesmo quando ma apresentavam vestida de suposta virtude. Realmente, tenho medo de cobardias dóceis ou cómodas abdicações. É por isso mesmo que defendo uma urgência: recuperar a verdade do Natal -- lavando-a de todas contaminações e "distrações", para usar a ideia expressa pelo Papa Bento XVI no Angelus do passado domingo. Se o fizermos, torna-se natural o anúncio e a partilha da impensável notícia: "Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o seu Filho unigénito". Reconheça-se que muitos cristãos assim procedem, trabalhando para que os sinais do Amor não desapareçam das casas, das ruas e, sobretudo, dos gestos. Deparamo-nos, por isso, com exposições, presépios, estandartes às janelas e campanhas que levam ao encontro do outro - que é sempre o lugar de encontro com Deus. Mas são demasiados os embrulhados numa mera generosidade de coisas; ou em atitudes simplesmente protocolares, vividas com o desencanto de quem eterniza indiferenças, ainda que escritas sob o manto de "cordiais saudações"!.. Recuperar a verdade do Natal é abrir-se ao dom, deixar que Cristo se forme em nós. Sem medo, pois que quanto mais fugirmos de Deus, mais nos desumanizamos. João Aguiar Campos
AGÊNCIA ECCLESIA |
Ser hoje luz num tempo de sombras, parece ser o “destino” de cada um de nós no tempo que passa, num tempo que passa e que dói, que dói esta dor funda da impotência, da impotência diante dos gigantes das sombras que se agigantam e que parecem querer tomar de assalto tudo o que mexe, tudo o que respira e tudo o que sonha. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
O mundo, o país e cada um de nós, vive tempos de esperança e de mudança, em que o novo surge como a nova fronteira a conquistar, mas onde o medo e os medos teimam em formar barreira diante dos olhos, destes olhos feitos para ver a luz, feitos para encarar o medo, feitos para não terem de ver o sol só refletido nos charcos. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
Se calhar, a maior conquista do tempo do medo que passa, foi precisamente esta de nos ter tirado a capacidade de ousar levantar a cabeça, de ousar olhar para além do imediato do já, em direção ao menos “imediato” do ainda não, mas que está e vive em tensão de devir, de futuro, de projeção para diante, num diante que encontra a utopia e faz dela o sonho, um sonho que vence o medo, um sonho que se abre à luz. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
É por aqui que passa o segredo, este segredo que invejosamente levamos dentro sem partilhar, que envergonhada e pudicamente escondemos e que não conseguimos dar à luz e que nos faz gemer, gemer as dores do parto que tarda, gritar o grito das vozes caladas. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
E no entanto, a gravidez do tempo existe, as dores do parto afligem-nos, o nascimento tarda em acontecer, e o meu povo sofre, e a minha gente grita, o grito surdo que a voz rouca não é capaz de calar, mas que o medo embota, e que o desespero não deixa encontrar a paz. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
Neste tempo de vozes que gritam, que gritam a esperança que não é, que gritam promessas que não são, que esboçam sorrisos que são só esgares, eu paro e pasmo, qual basbaque embrutecido diante do palácio da ignomínia alcandorado em conto de fadas, das mil e uma noites de uma aurora boreal que é só ilusão e nada, de um nada que teima em ser e de um ser que já não é. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
E eu caminho, oh sim, caminho ao mesmo tempo em direção ao nada e ao ser, em direção ao outro e a mim, em direção ao nada e ao tudo, deixando para trás o passado que já foi, indo ao encontro do futuro que parece tardar em vir, no presente que cada vez que se deixa tocar no futuro que se torna passado, porque afinal, não existe. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
E é aqui que começa a minha “crise”, a crise de saber quem sou, onde estou, como estou, quem serei, como serei, onde estarei, como estarei! E é aqui que me dou conta de mim, da minha pequenez de ser, mas de um ser que é, de um ser chamado à existência nesse espaço virtual entre o já e o ainda não, entre o abismo do tudo e a profundidade do nada, num silêncio às vezes só habitado por fantasmas e por vozes, onde a minha se confunde, mas não deixa de existir e de falar. E de dizer NATAL! Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor!
Fantasmas e vozes de mim, deste ser que me habita e que eu procuro, deste ser que é e que é eternidade, uma eternidade que é já, que é este hoje do meu ser, que é ao mesmo tempo nada e tudo, porque sou eu, em relação comigo, em sorrisos e lágrimas, em alegrias e desesperos, em sonhos e fantasias, em “nadas” e em “tudos” que me habitam, que me “moram” onde eu moro, seja onde for, porque o meu “eu” não tem “lugar”, é, simplesmente, e pronto, comigo, em mim e para além de mim, porque infinito, porque eterno, porque tudo e porque nada, porque é, ao mesmo simultaneamente eternidade e tempo, imanência e transcendência, limite e infinito, kairós e eskaton, já e ainda não. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor! FELIZ NATAL! Frei Fernando Ventura, franciscano capuchinho |
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Jornal PÚBLICO, Lisboa, 19 de Dezembro de 2010 |
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Quando chegam as festas do Natal e da Páscoa, encontro sempre pessoas que, exibindo o seu relativismo cultural e a sua distância em relação ao cristianismo, dizem com ar de grande descoberta: se fosses chinês, tinhas poucas hipóteses de participar nestas celebrações, reduzidas agora a festas familiares, sem qualquer conteúdo cristão. Respondo, com Paul Ricœur, que não estão a falar de mim, mas de alguém que desconheço. Eu não tive nem tenho nenhuma hipótese de escolher os meus antepassados nem os meus contemporâneos. Não sou chinês nem por nascimento nem por herança. Cresci na fé cristã, de tradição católica romana, em Terras de Bouro, à qual fui aderindo, cada vez mais. Como aprendiz de teólogo, tenho procurado aprofundar as razões da minha esperança, descobrindo, acolhendo, reelaborando os argumentos que me parecem mais plausíveis e afastando aqueles que se manifestam menos adequados a exprimir o que há de mais central na minha adesão. No plano do estudo, esta minha herança foi e é sempre confrontada com várias outras tradições, compatíveis ou adversas, que surgem nos meus caminhos. No diálogo com pessoas nascidas noutras tradições e adesões, tento perceber os seus percursos, as suas doutrinas – incorporando-as muitas vezes – e apresentando, também, os motivos e as razões das minhas preferências. O mito bíblico da Torre de Babel e da chamada dispersão e confusão das línguas não podem ser interpretados como uma catástrofe, mas como “a simples verificação da pluralidade característica de todos os fenómenos humanos”. Aliás, como diz Desidério Murcho, o valor epistémico da diversidade de opiniões é permitir que as ideias mais díspares sejam defendidas por quem genuinamente acredita nelas. Por outro lado, “mistério é o dom que nem sempre vê quem olha de fora” (H. Helder). 2. Para todas aquelas pessoas que se deixam impressionar pelas narrativas evangélicas do Presépio e acreditam que aquele menino é verdadeiramente o Emanuel, Deus-connosco, têm a vantagem de o não poderem ver como uma divindade prepotente que nos tem sob controlo ou sob ameaça. Como bem diz o catalão José Antonio Pagola, Deus nem sequer é “omnipotente”. Não pode, por exemplo, abusar de nós, manipular, humilhar ou suprimir a nossa liberdade. Nunca poderá prejudicar-nos ou fazer-nos mal. Resta-lhe fazer o que pode o amor da pura gratuidade. Aliás, para agredir, destruir, prejudicar não é preciso ter muito poder. Pelo contrário, para acolher, perdoar, respeitar – “passar fazendo o bem”, como se diz de Jesus – é preciso ser grande, não com a grandeza que esmaga, mas com aquela que o amor liberta. Foi a partir do itinerário de Jesus, do seu percurso humano, nos seus momentos felizes e trágicos – testemunhados nos escritos do Novo Testamento – que os discípulos acolheram a revelação de um Deus diferente, um Deus na fragilidade, na carne, na cruz e nos testemunhos de uma misteriosa vitória sobre a morte. Segundo esses textos, o segredo deste ser humano para os outros, sem restrição, mas a partir dos mais abandonados – o verdadeiro “homem novo” – encontra-se na relação filial com Aquele que tratava, em linguagem nada litúrgica, familiar, por Abba, o Pai que não faz acepção de pessoas ou de povos. Todos os seres humanos, de todas as eras e de todas as culturas, formam uma só família. A identidade do cristianismo só pode ser apreendida a partir dessa experiência e não das deformações da cristandade. Os chamados impérios cristãos são traições. 3. Quem visita, hoje, o verdadeiro Presépio? A resposta pode ter uma dupla versão. Não é difícil admitir, pelo menos teoricamente, que, quando alguém adere verdadeiramente a Jesus Cristo, descobre a sua presença em todos os seres humanos – ateus, agnósticos, crentes de qualquer religião ou sem religião – que servem, desinteressadamente, seja em que circunstância for, a alegria dos outros. De novo, segundo os textos cristãos, quem, pelo contrário, não tendo nenhuma referência explícita religiosa, se dedica voluntariamente a socorrer aqueles que precisam de ajuda, só e unicamente porque precisam, encontra-se, mesmo sem o saber, com o Deus de Jesus Cristo, o grande clandestino da história humana (Mt 25, 37-40). Não pretendo fazer cristãos à força de subtilezas teológicas. Na prática do Jesus de Nazaré, uns viram uma traição à pátria e ao império, outros descobriram o salvador do mundo (Jo 4, 42). Não nasci na China, mas creio que Jesus Cristo nasce todos os dias, em qualquer lugar, no coração de todos os que reconhecem, no outro, o seu irmão feliz ou atribulado. Nesta lógica dos pequenos passos, vai nascendo a globalização da solidariedade, o Presépio da nossa esperança. Bom Natal! |
Já foi moda colocar um pai Natal pendurado das janelas. Mas, felizmente, no ano passado, começou a aparecer a bela imagem do Menino Jesus, o verdadeiro Rei das Festas do Natal. Apresenta-se sobre fundo vermelho, olhando em frente, de braços abertos, como quem espera por um abraço, pelo nosso abraço. Alguém, mais atrevido, entendeu que lhe pedia colo: agarrou-o, aconchegou-o a si e…o Bebé fez-lhe festas na barba, deixando-lhe o coração ainda mais enternecido.