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Kansisi é um pássaro que faz o ninho nos bananais das aldeias. Sabe muito sobre o comportamento das pessoas. Outro pássaro perguntou-lhe: «Por que é que os homens, tão inteligentes e racionais, fazem a guerra?». «A avidez, a inveja, a vingança leva-os a pegar em armas. Guerreiam-se até por coisas banais. Anda ver!».
Uma criança brincava. Quando viu os pássaros correu para eles com um pau, mas tropeçou num pote. A dona do pote saiu e bateu-lhe. A mãe da criança viu a tareia e arriou as costas das mãos na mulher. Os maridos de ambas saíram em socorro com facas. Em dez minutos, a aldeia estava em guerra.
(Fábula africana)
Um homem viveu amorosamente toda a vida. Quando morreu, todos disseram que ele só poderia ir para o Céu. Mas, por engano, foi para o Inferno. Dias depois, o Diabo foi ter com Deus: «nunca imaginei que fosse capaz de fazer isto comigo! É terrorismo! Mandou-me aquele sujeito, ele pôs-se a escutar as pessoas, olha-as nos olhos, conversa com elas. Agora, todos dialogam, abraçam-se, beijam-se... O Inferno está insuportável!» Deus riu-se: «Eu apenas digo às pessoas: viva com tanto amor que, se por engano for para o Inferno, o próprio Diabo mandá-lo-á para o Paraíso.»
(Conto popular)
Deus chamou quatro pessoas para a Missão. Chamavam-se Toda-a-Gente, Alguém, Qualquer-Um e Ninguém. Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém responderia. Qualquer-Um podia fazê-lo, mas Ninguém o fez. Alguém zangou-se porque era um trabalho para Toda-a-Gente . Toda-a-Gente replicou que Qualquer-Um podia tê-lo feito, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria. No fim, Toda-a-Gente culpou Alguém, quando Ninguém fez o que Qual-Um poderia ter feito.
Um cão e um gato estavam ao serviço do mesmo dono. Cada qual dizia ser o favorito. «Eu sou o preferido»,disse o gato. «Ele anda comigo ao colo, acaricia-me e afaga o meu pêlo macio.» O cão replicou: «O patrão prefere-me. Quando vai à caça leva-me e tu ficas em casa.» Tornou o gato: «Sem mim os ratos invadiam os celeiros.» Retorquiu o cão: «Eu ladro e afugento os ladrões.» O gato atacou: «Como pode gostar de ti o nosso dono se tu ladras por tudo e por nada ao que passa diante do teu focinho e andas cheio de pulgas?» Devolveu o cão: «E tu roubas comida às escondidas saltando para as prateleiras da cozinha.»
A discussão dura ainda hoje. E eles nem podem ver-se.
(Fábula africana)
Post scriptum : ainda hoje se diz nesta terra onde nasci acerca dos humanos em discórdia permanente: «sempre "guarreando"; deviam ser lavados com mijo um do outro!»
Um velho e moribundo agricultor, que trabalhou anos a fio, chamou os filhos e disse-lhes: « Há muito tempo, escondi no campo um tesouro, mas não me lembro onde.» Então, os filhos cavaram toda a propriedade, mas não encontraram o tesouro. Um deles reparou que, sem querer, tinham cavado todos os campos que o pai tinha deixado aos filhos. E disse: «A terra está pronta para a sementeira.» E semearam. Quando a colheita estava madura, ele convocou-os: «Cavámos, semeámos... Colhemos?» Nesse momento viram que aquele era o tesouro de que o pai tinha falado: a terra!
(da sabedoria popular da Albânia)
Um monge e os seus discípulos iam de viagem. Ao passar por uma ponte, viram um escorpião a ser arrastado pela água. O monge mergulhou e agarrou-o. Nisto, o escorpião picou o monge, que, devido à dor, o deixou cair no rio. Saiu da água, procurou um ramo, entrou outra vez na água do rio e resgatou o escorpião de morte certa. Depois, juntou-se aos seus discípulos, que lhe disseram: «Mestre, deve estar doente! Porque resgatou esse escorpião mau e venenoso, que lhe picou a mão que o salvou?»
— Ele agiu conforme a sua natureza, e eu de acordo com a minha. (Fábula da Ásia)
Luís e José encontravam-se seriamente doentes. Ambos compartilhavam o mesmo quarto no hospital. O Luís, que ainda se sentava na sua cama, mas já não podia levantar-se, estava situado junto à janela. Enquanto o José, sempre estendido no seu leito e totalmente dependente do cuidado de terceiros, ficou colocado mais à distância daquela fonte de luz natural.
Nunca antes se haviam encontrado aquelas duas criaturas; mas as horas, dias, semanas que ali permaneceram juntos, foram um convite à comunicação mútua. Assim tiveram oportunidade de falar de suas esposas, filhos, netos e mais família, dos seus trabalhos e aventuras, da terra onde nasceram, dos usos e costumes... Não faltou a abundante troca de experiências alegres ou nem por isso, algumas coincidentes, que suas longas vidas lhes ofereceram.
À tarde, o Luís relatava ao José o que contemplava através da sua janela... Narrativa que José muito apreciava, pois também ele se sentia a participar daquele movimentado e alegre cenário que transmitia vida. Que maravilhoso panorama, José!... Comentava o Luís perto da janela: Uma linda avenida ajardinada ladeada de frondosos plátanos e tílias por onde casais passeiam de mãos dadas ou amavelmente abraçados, alguns sentados à sombra nos confortáveis bancos de jardim. Num espaço relvado, crianças divertem-se, jogando e brincando nos escorregas e baloiços... Esvoaçam passarinhos, enquanto que mansas pombas se aproximam à busca de migalhas perdidas... Mais à distância, num amplo lago arredondado, cisnes exibem sua arte de navegar por entre nenúfares floridos... José ouvia encantado e feliz, com toda a atenção, sentindo-se fascinado e atingido interiormente pela luz, cor e movimento daquela descrição com tantos pormenores.
Um belo dia, pela manhã, quando as enfermeiras e auxiliares se aproximam para a higiene habitual, notaram que tinha chegado a hora para o seu querido companheiro. O corpo de Luís era retirado com carinhoso respeito; e dispensado agora do seu «posto de vigia».
Depois de retemperado da emoção sentida, José solicitava delicadamente à enfermeira para ocupar o anterior espaço do seu amigo, junto à janela. - Não foi difícil satisfazer o seu pedido.
Tentou de imediato, levantar um pouco a cabeça, o que fazia com dificuldade, para contemplar, agora directamente, a paisagem já tão vivida no outro canto do quarto. E... José pasma! Depara com a parede branca dum edifício, a poucos metros da sua janela, sem que nada de belo pudesse vislumbrar...
Explicam as enfermeiras, perante a sua admiração: José, acalme-se. Era assim que o seu amigo olhava a vida. Ele era cego!... Apenas lhe transmitia o que ele próprio tentava imaginar, para o tornar feliz também a si...
Que faço eu, mesmo limitado, para tornar felizes os que vivem, perto de mim, com dificuldades?
Procuro ter iniciativas e criatividade para abrandar a sua dor?
Sou compreensivo e aceito, com humildade e gratidão, a colaboração que me vem do meu próximo?...
Visitar a Itália é ir às fontes do Catolicismo. É mergulhar num manancial de elementos que tem milhares de anos e que estão na origem da nossa civilização.
Aterrar com a TAP em Veneza, sentar-me numa gôndola e percorrer os seus canais (ruas de água), entrar na Basílica de São Marcos onde pontificaram Ângelo Roncalli (futuro Papa João XXIII) e Albino Luciani (futuro Papa João Paulo I), por sinal os meus preferidos homens da Igreja, são memórias únicas.
Prosseguir viagem para Pádua (de António de Lisboa) e presenciar um culto universal ao "Santo" onde tantas relíquias falam dele e calam fundo no nosso coração.
Mais abaixo geograficamente encontramos Assis, uma encosta lindíssima que vale por si. Uma basílica que fala como se Francisco continuasse presente não só em espírito. Com um frade brasileiro com um interessante e invejável sentido de humor a percorrer com o nosso simpático grupo de peregrinos os passos do «pobrezinho» e de Clara, sua amiga íntima e não menos santa.
Mergulhar no Vaticano (Santa Sé) de manhã bem cedo pela porta do seu Museu, alvo de tantas censuras hipócritas por parte de uns tantos fariseus tão amigos dos pobrezinhos e da pobreza que crassa pelo mundo. Um património da Humanidade que os seus responsáveis tem mantido e gerido com mestria. Descer à cripta da basílica e venerar os restos mortais de tantos homens que um dia se sentaram na cátedra de Pedro: o próprio Apóstolo; Paulo VI ( que tanto sofreu por levar o II Concílio a bom termo e levá-lo à prática com a resistência mítica do ultra conservador cardeal Ottaviani e seus lacaios e que por isso não conseguiu fazer a sempre desejada revolução na moral matrimonial e nos negócios financeiros e escuros do demoníaco monsenhor Marcinkus); o túmulo do sorridente e desprendido e puro João Paulo I que foi uma das maiores esperanças da Igreja e por isso assassinado numa noite obscura e tenebrosa por forças internas e externas de forte pendor maçónico e mafioso que governavam então a Igreja; a campa rasa de João Paulo II sempre visitada e guardada, o homem de personalidade forte, antes quebrar que torcer, mas que deixou, não obstante os anos de serviço à Igreja, muitos assuntos pendentes e inadiáveis que certamente o "pastor alemão" de transição, fará ouvidos de mercador. Aguardo, por isso, impacientemente,alguém com "o espírito de Albino Luciani". Para não continuarmos a adiar o futuro...
Nestes entretantos mandei um postal choroso e rico de sentimentalismo religioso ao bem apresentado e meu "chefe" padre Marco Martinho mais uma chave recordação para lhe lembrar o poder das chaves de Pedro. Também consegui uma colecção completa de moedas euro do Vaticano para a minha chorosa amiga e prima e coleccionadora Paula.
Já em Portugal rumei pela segunda vez a Fátima para aprender um pouco do programa da disciplina de EMRC que entrará em vigor nos próximos anos lectivos, juntamente com 1300 professores. Depois disto passaram-se 50 dias e, portanto, apenas restava rumar ao Pico e retomar as tarefas a que me dedico sobretudo no ensino religioso e de capelão dum lar de idosos.
Tal Verão não teria sido possível sem a presença amiga da professora e mestre em educação de adultos Carmo que é duma dedicação imensa, juntamente com seus pais Octávio e Beatriz. A minha vida tinha sido outra muito diferente sem esta presença. Desde Março do ano 2000, em Fátima, numas jornadas pedagógicas, do Movimento de Educadores Católicos, até hoje, qual "anjo da guarda", a Carmo tem-me prestado serviços sem preço comparável, cuidando de consultas médicas e respectivos exames; viajando comigo e com os pais por tudo o que é sítio a mostrar-me o país e o norte galego; a fazer-me compreender o mundo do professorado com tantos encantos e desencantos e também mesquinhez e inveja à mistura; a manter-me actualizado com toda a bibliografia, e não só, que não disponho neste marasmo cultural ilhéu; com uma amizade (feminina) sadia que tanta falta faz a um padre que, como tantos outros foi vítima duma educação castrante, truncada, supervigiada e doentia; com uma vivência cristã simples, empenhada e com valores humanos que tanto defendo e invejo nela, tal como a independência de vida e os seus empreendimentos. É interessante que ninguém descobre nos meios em que circula as suas reais habilitações académicas. Vão vasculhar e descobrem estupefactos que ela afinal tem "pontinhos", mesmo ainda jovem, para ser «professora titular». Candidata-se e lá está ela nessa posição prestigiante.
Não terei tempo suficiente de vida para agradecer a Deus o facto de me brindar com amizades tão reconfortantes, isto é, aquelas pessoas certas de que mais precisava para com elas crescer, amadurecer, acreditar, saborear a vida com outros olhos. E a Carmo é uma delas! Por isso aparece na foto com a cúpula da Basílica de São Pedro ao fundo. Simplesmente porque a estimo muito. E nada paga o que tem feito por mim.
Dois amigos iam pelo deserto. Discutiram e um deu um bofetão ao outro, que, ofendido, escreveu na areia: "O meu melhor amigo deu-me uma bofetada."
Chegaram a um oásis e foram banhar-se. O esbofeteado estava a afogar-se e o amigo salvou-o. "O meu melhor amigo salvou-me a vida", gravou, então, numa pedra. «Porque escreveste na areia quando te bati e agora gravaste na pedra?». «Quando me ofendem, escrevo na areia, e o vento do perdão e do esquecimento apagá-lo-á. Quando me acontece algo de grandioso, gravo-o na pedra da memória do coração, onde nenhum vento apaga nada.»
Pedi, por escrito, ao presidente do conselho executivo da escola cardeal Costa Nunes a dispensa de alguns dias no fim de Julho, mas antes do meu período de férias, para participar numa espécie de retiro espiritual em Fátima, com cerca de mil e quinhentos cristãos dos diversos serviços da Liturgia, no Centro Pastoral Paulo VI. Compreender melhor que por símbolos e sinais e gestos se expressa e compreende melhor a fé em Jesus Cristo. A palavra e o rito tem de ser bem explicitados. É uma oportunidade única já que outras realidades promovidas a nível de diocese, de muito interesse, são incompatíveis com o serviço de professor de educação moral e religiosa católica numa escola a nível de tempo para formação espiritual. Ser professor tem também as suas limitações neste campo durante o período lectivo. A compreensão dos dirigentes da escola tudo tem ultrapassado. Um obrigado sincero da minha parte ao sempre disponível, sensível e compreensivo professor Manuel Tomás pelo «Autorizado».
Houve em Fátima um pequeno acidente que constou duma vértebra rachada em cima dum passeio o que me levou três semanas de algum mal estar físico mas sem me deixar ir abaixo. As obras da nova igreja implicou muita pedra de passeio fora do sítio...
Após Fátima entra em cena a menina professora Ana Ernesto que me vai buscar à casa da Senhora das Dores para rumarmos a Taizé na França de autocarro num percurso de vinte e cinco horas, com engano no percurso e tudo (e com uma condução péssima onde se lia o jornal «O Jogo» estendido sobre o volante enquanto se ia de vez em quando vendo a estrada...). Pela queixa apresentada por alguém anónimo, de regresso eram outros os condutores e tudo o mais. Esta professora do 1º ciclo tinha anteriormente experimentado a vivência de Taizé, dado o seu espírito tipicamente aventureiro e por isso tratou das inscrições, alojamento e alimentação, via net. E foi também a nossa tesoureira. E tudo começou pela Páscoa quando o padre Paulo Areias me falou desta sua amiga que tinha conhecido anos antes por altura duma «missa nova» em São Miguel. E que a partir daí o tem ajudado imenso quando se desloca ao Continente por questões de saúde, conhecidas de tantos. Tive oportunidade de a conhecer melhor num longo passeio pelas estradas do Pico num famoso BMW e durante a estadia na aldeia de Taizé, em algumas longas conversas, e daí concluir da sua simplidade de vida, desprendimento, serenidade, espírito serviçal sem nada querer obter em troca, da sua fé, voz bonita (canta melhor que um rouxinol!), amadurecimento humano e cristão que se reflecte no acompanhar um grupo de jovens na aldeia onde lecciona. Porta de casa sempre aberta a quem necessita de uma ajuda. Uma simpatia e empatia que irradia e onde nos sentimos bem quando estamos por perto. Testemunhos de outras pessoas me disseram o mesmo por isso julgo estar a ser objectivo. Não é muito frequente encontrarmos hoje pessoas assim, com estas características humanas e cristãs. Por exemplo, nestes dias que correm, lá está ela ao lado do padre Paulo Areias que se encontra internado num hospital de Lisboa, dado que foi sujeito a uma melindrosa (julgo eu) intervenção cirúrgica. Tratou-lhe de tudo e atempadamente dado que a qualidade de vida deste padre estava a deteriorar-se a olhos vistos. Em Taizé vi nele um rosto de sofrimento em diversos momentos.
Na escola (dado que Taizé e a sua comunidade ecuménica são modelos de vida cristã a referir no programa novo a implementar) tenho mostrado imagens em powerpoint e dvd sobre o que significa milhares de jovens de mais de setenta países rumarem semanalmente àquele profético lugar donde se traz recordações de vida e desejos de levar à prática nos nossos meios aquela vivência limpidamente evangélica onde tudo é vivido e experimentado em comum. E com jovens e adultos e casais com crianças de todas as Igrejas (anglicana, luterana, calvinista, ortodoxa, católica...). Como nas primitivas comunidades cristãs referenciadas nos Actos dos Apóstolos. E os miúdos têm aderido à mensagem que fiz passar e que foram um pedacinho de vida saboroso do meu Verão diferente. E que ansiava faz tempo. Não podia mais ser adiado.
Vou continuar com o resto do mês de Agosto porque há mais uma professora do 1º ciclo que é o meu "anjo da guarda" desde 2000, e dela tenho um testemunho muito bom.