por Zulmiro Sarmento, em 24.01.12
«Gosto muito do meu filho — dizia um senhor numa reunião de pais na escola — e procuro que ele se dê conta disso. No entanto, reconheço que algumas vezes o meu filho se porta mal. É verdade que ele só tem cinco anos de idade. Mas também é verdade que eu tento não me esquecer desse “detalhe” quando converso com ele sobre o seu comportamento.
«No outro dia, um psicólogo disse à minha mulher que nessas idades ninguém se porta propriamente mal. Simplesmente, faz com inocência algo que ainda não aprendeu que está mal. Eu, que não sou psicólogo nem nada que se pareça, não estou nada de acordo com isso. Já vi o meu filho portar-se mal. São coisas pequenas, evidentemente, mas ele sabe o que faz e tem consciência disso.
«E para o seu bem, procuro actuar com firmeza — não é sinónimo de violência — e dizer-lhe claramente que “não”. Ser claro, para mim, não é o mesmo que gritar. Também procuro explicar-lhe o porquê do meu “não”, de modo que ele possa entender. Assim, é mais fácil para ele obedecer àquilo que eu lhe digo, mesmo que não lhe apeteça.
«Muitas vezes, apercebo-me de que ele obedece não tanto por entender o que lhe digo, mas por confiar em mim. Porque sou seu pai. E, além disso, seu amigo. A paternidade é um facto. A amizade é uma conquista diária. E essa amizade entre nós também cresce quando ele percebe que eu lhe digo que “não” porque gosto dele — quando seria muito mais fácil para mim não lhe dizer nada».
Que gosto dá ouvir estas palavras tão sensatas! Os pais, se amam de verdade os seus filhos, não terão receio de, algumas vezes, dizer-lhes que “não”. Que pena se, por temor a contristar o filho ou a passarem eles um mau bocado, se habituem a ceder naquilo que não devem ceder! Quantos remorsos depois com o passar dos anos — e eles passam rapidamente — de não ter sabido dizer que “não” a tempo! Tudo se complica. Como diz o povo, cheio de sabedoria, é de pequenino que se torce o pepino.
Não é nada lógico dar aos filhos tudo aquilo que eles pedem. Nem deixá-los fazer tudo aquilo que lhes apetece. É preciso manter-se firmes, com uma firmeza amável e delicada que procede do amor. E convém não esquecer que a primeira qualidade do amor é a força para fazer o bem.
E se, depois de ter dialogado com os filhos e ouvido os seus argumentos, eles não gostam ou não entendem uma indicação dos pais? Nesse caso, penso que os pais não devem ceder naquilo que verdadeiramente consideram que é importante. O contrário seria claudicar num ponto nevrálgico da educação. Mais tarde, serão os próprios filhos a ouvir esse “não” no seu interior diante daquilo que poderiam fazer mas sabem que não devem fazer. Mas não nos enganemos: é muito difícil que esse “não” seja interiorizado pelos filhos se antes não foi pronunciado pelos pais.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
ECCLESIA
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por Zulmiro Sarmento, em 09.01.12
No verão passado, uma senhora professora abeirou-se de mim para me perguntar se 2012 seria mesmo o ano do fim do mundo.
No primeiro dia deste ano, com alguma intenção por certo, passou na SIC o filme “2012”.
Assim sendo, desejaria abrir o assunto à discussão dos meus leitores e dar sobre ele a minha pobre e despretensiosa opinião.
O dito filme, que tive o cuidado de ver, dirigido por Roland Emmerich, é um anúncio de catástrofes e um relato antecipado de eventos calamitosos que acontecerão no planeta, no ano agora decorrente. Fazendo referência ao famoso “Calendário de Contagem Longa” dos Maias, que, segundo alguns estudiosos, coloca em 2012 o “fim dos tempos”, o filme mostra a crosta terrestre a abrir-se em brechas de fogareiro e deslocar-se e a arder em fogo por efeito de graves e perigosas erupções solares, resultando daí inúmeros cenários apocalípticos, tais como destruidores tsunamis e horrendos terramotos, mergulhando o mundo todo num verdadeiro caos sem remédio e sem retorno.
Como referi, o anúncio do fim dos tempos por parte de alguns estudiosos reporta-se ao “Calendário de Contagem Longa Mesoamericano” mais conhecido por “Calendário Maia”. A ideia é a de que os Maias, que no seu calendário pré-colombiano terão previsto vários acontecimentos que vieram a verificar-se, nomeadamente a chegada do homem branco - Hernan Cortez - a 8 de Novembro de 1519, prevê também que algo de muito grave se passará no solstício de Inverno, a 21 de Dezembro de 2012, data que é considerada o final de um ciclo de 5.125 anos do referido calendário, relacionando-se com essa data vários alinhamentos astronómicos.
Nessa previsão e anúncio, o acontecimento será tão grave que o mundo, tal como o conhecemos, desaparecerá.
Diz quem sabe que, nessa data, durante o solstício, a Terra estará de facto alinhada com o Sol e com o centro da nossa galáxia – a Via Láctea -, que no centro da Galáxia existe um buraco negro supermassivo, e que o alinhamento da Terra com este buraco negro levará a uma profunda mudança do campo magnético terrestre, que trará consigo tsunamis, vulcões, e terramotos.
Que deveremos pensar acerca disto?
Sempre houve anúncios do fim do mundo através dos tempos: a convicção dos cristãos de Tessalónica de que a Vinda de Cristo estava por dias, tendo S. Paulo necessidade de lhes escrever para lhes recomendar que trabalhassem e não se deixassem enganar por ninguém… a crença do “milenarismo” que ocupou muitas mentes durante séculos… as promessas repetidas dos “Jeovás” que sempre abortaram e nunca se concretizaram… são, entre outros, muitos desses vaticínios falsos que se foram repetindo, uns atrás dos outros.
Repetindo uma tradição continuada, sempre ouvi o nosso povo dizer que o próximo fim do mundo será “de fogo”. Parece vir dar razão ao povo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, quando, na terceira “Conferência da ONU sobre o Clima”, pensando no aquecimento global e acelerado do planeta, disse peremptoriamente: "Estamos pisando fundo no acelerador e caminhamos para o abismo”.
Alguns estudiosos acreditam que 2012 é a data final para se achar uma solução para o inevitável “fim do petróleo” que poderá ocorrer nas próximas décadas e dizem que, se isso não se fizer, o mundo poderá entrar numa imensa recessão global e num posterior colapso económico: as nações irão lutar entre si pela última gota de petróleo. Isto poderá desencadear uma guerra no planeta e o fim da civilização como a conhecemos hoje - alertam esses estudiosos.
Como sabemos todos, Jesus anunciou diversas vezes o fim dos tempos: “Estava sentado Jesus no Monte das Oliveiras, e os discípulos aproximaram-se d’ Ele para Lhe perguntarem: Quando será isso e qual vai ser o sinal da Tua Vinda e do fim do mundo? Jesus respondeu: Tende cuidado e não vos deixeis enganar: ouvireis falar de guerras e tumultos, mas não quer dizer que seja o fim…Muitos vão perder a Fé…Hão-de aparecer falsos profetas que enganarão muita gente. A maldade aumentará de tal maneira que a fé e o amor de muitos arrefecerá. Mas aqueles que se mantiverem firmes até ao fim, serão salvos. (Mateus, 24, 3-14)
Consequentemente, e na linha da opinião de honestos e competentes cientistas, podemos dizer que a promessa do fim do mundo para 2012 não passa de uma ameaça infundada, aproveitada por muitos com objetivos pouco claros.
O que eu acho porém é que esta civilização em que vivemos, baseada na mentira, no orgulho, na injustiça, na exploração, na fraude, na corrupção e no oportunismo, na descrença, no desprezo por Deus, pelas Suas Santas Leis e pelas leis da Natureza, está à beira do colapso e, mais hoje, mais amanhã, irá chegar ao seu fim para ser trocada por outra.
Quando será?
Responderei com as palavras de Cristo:
…O dia e a hora desses acontecimentos é que ninguém sabe: nem os anjos no céu, nem o filho. Só o Pai é que o sabe. (Idem, 36)
Quanto a essa mudança de civilização, oxalá que seja em breve.
Resende, 03 de Janeiro de 2012
J. Correia Duarte
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por Zulmiro Sarmento, em 05.01.12
Isso mesmo, assim…, sem pontuação, sem sublinhados e sem sinais, sem acordos, por mais ortográficos que sejam.
VIVA A CRISE
Só assim mesmo, um imperativo. Um imperativo de consciência.
VIVA A CRISE
Só assim mesmo, uma interrogação. Uma interrogação, de dignidade.
VIVA A CRISE
Assim sem mais, sem glosas nem variações do politicamente correcto.
VIVA A CRISE
Neste novo ano que agora se inicia. Neste 2012 com tudo por inventar. Neste 2012, ANO NACIONAL E INTERNACIONAL DA SOLIDARIEDADE.
VIVA A CRISE
Isso mesmo, ANO NACIONAL E INTERNACIONAL DA SOLIDARIEDADE, assim…, sem pontuação, sem sublinhados e sem sinais, sem acordos, por mais ortográficos que sejam.
VIVA A CRISE
Neste 2012, o ano de recriar a aritmética do tempo novo e do Novo Tempo. Tempo de DIVIDIR para MULTIRPLICAR e de ADICIONAR sem SUBTRAIR nada a ninguém.
Se assim for,
VIVA A CRISE, vivamos a CRISE, neste imperativo de consciência, que mudará a história na medida em que as nossas consciências se mudarem, na medida em que formos capazes de entender que se não vivermos a vida, seremos vividos por ela e eu, não quero, não tenho tempo, tenho mais que fazer…
Há mais apressados por aí?
Então vamos a isso, vamos juntos, vamos todos, vamos pegar nisto, vamos pegar em nós e fazer a revolução. Pode ser?
Vamos mandar os senhores do tempo, os senhores da política do partidarismo bacoco, da economia que faz de nós carne para canhão, da finança que só sabe entender a linguagem da especulação criminosa, vamos mandá-los à mera… isso mesmo, à mera consideração das suas ideias.
Este tempo é o nosso de inventar a matemática da SOLIDARIEDADE. Este tempo é o nosso de dar a volta a isto. Não podemos parar os comboios, não podemos parar os aviões, não temos sucatas para negociar, nem robalos, nem alheiras, nem títulos de participação, nem sub-primes, nem primos nem primas… a que nos agarrar… mas temo-nos a nós, inteiros, vivos, com esta raiva que nos corre nas veias e que ninguém tem o direito de manipular ou de se “assenhorar”.
Não temos nada, mas temo-nos a nós! Por isso, senhores, temam-nos a nós!
Somos mais que números a contar no final das vossas manifestações.
Somos mais do que gente para mandar gritar na rua, mas depois de enrolarmos as bandeiras… não temos onde as meter…
Somos mais do que pagadores das asneiras que nos fizeram e que nos fizeram fazer.
Somos mais do que exercícios contabilísticos de ignomínia e discórdia.
Somos MAIS, muito mais… somos muitos mais, por isso temam-nos a nós que nos temos a nós.
E não estamos de férias como os nossos parlamentares, de todos os partidos, que foram para casa mais cedo. Não estamos de férias, não temos férias nem subsídios, nem feriados, nem dinheiro, mas temo-nos a nós; por isso temam-nos a nós.
Nós, sem vós e sem voz daremos a volta a isto. A revolução está na rua! Em tantas iniciativas que um pouco por todo o lado estar a ver gente a dar a mão a gente para que cada vez mais gente seja gente e para que nunca ninguém perca a dignidade de ser pessoa.
Nós estamos aqui. Não estamos de férias. Estamos na luta, na exclamação e na interrogação. Na indignação pelo direito à dignidade.
VIVA A CRISE, VIVAMOS A CRISE
Bom Ano 2012
Frei Fernando Ventura
AGÊNCIA ECCLESIA
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por Zulmiro Sarmento, em 22.11.11
É gratificante ver o desenvolvimento de uma criança, sobretudo, se ela manifesta alguma ‘diferença’ no seu comportamento: como se torna importante ajudar a fazer crescer alguém na sua fragilidade -- muito mais do que em mera debilidade! -- assumindo a sua autonomia e identidade. Tendo em conta a personalidade de cada pessoa -- muito mais a de cada criança -- todos somos poucos para fazermos crescer a sua maturidade. Com efeito, cada gesto, cada palavra (mais ou menos serena ou até agressiva), cada sinal... tudo concorre para o crescimento de uma criança, sobretudo, em certas idades e circunstâncias.
Se atendermos às lições da psicologia poderemos considerar que os primeiros cinco anos de vida de uma pessoa -- logo na idade da primeira infância -- são marcantes para o seu desenvolvimento equilibrado. Sabemos que nem sempre é fácil nem se colhem resultados imediatos, mas é fundamental saber que, nas nossas mãos e, sobretudo, no nosso coração, estão depositados muitos desígnios de futuro e de nobre condição.
Todos -- pais (mãe e pai), educadores, Igreja e comunidade social -- somos poucos para esta tarefa, mas temos de estar coordenados, para conseguirmos construir nos nossos mais pequenos homens e mulheres de amanhã com sentido de amor e com consciência de bem-fazer.
= Nas dificuldades (até) nos podemos transcender
Os tempos históricos e económicos, em Portugal, na Europa e no mundo, não são fáceis. Por isso, também na educação dos filhos algo está (ou pode estar) em crise.
- Como se pode educar, quando se aperta o cerco ao ter tudo e do melhor?
- Como se pode educar um filho/a a não ter, se antes, tudo era mais abundante?
- Como se poderá ensinar o não esbanjamento – desde a comida até ao custo da eletricidade -- quando os ordenados encolhem e os impostos apertam cada vez mais?
Somos, de fato, devedores de uma geração (ou até já duas!) que não teve de conviver com guerras e conflitos bélicos. Com efeito, quem tiver, hoje, pelo menos, cinquenta anos, não passou fome, não teve de sofrer perseguição política e habituou-se a receber muito mais do que a dar.
Diante deste panorama muitos dos filhos -- e até netos -- foram criados sem as restrições que muitos dos avós sofreram. Por vezes, até os brinquedos perderam o fascínio da novidade, pois podem ter sido dados sem custo e oferecido sem serem recompensa por algo conseguido na escola ou na vida de esforço.
- Agora que muito se aperta o cerco ao esbanjamento de outrora, como poderão pais e avós educar na dificuldade e talvez na contenção do menos mau?
- Estaremos capazes de apresentar às nossas crianças sugestões de boa conduta sem pretendermos disfarçar que está tudo a correr sem dificuldade?
- Será possível gerar, para o futuro, uma educação sincera e onde se fale verdade, sem ter medo das consequências?
Antes de mais é preciso:
- responsabilizar os mais novos nas pequenas renúncias do dia a dia: antes podíamos, agora estamos sem certos meios de luxo;
- fazer participar na contenção de gastos, com pequenos gestos de poupança, desde a eletricidade até à conversa ao telefone, passando mesmo pelas guloseimas e brinquedos;
- tentar promover a dignificação do trabalho e não favorecendo a preguiça ou a reclamação constante;
- apresentar o esforço sincero dos mais velhos na recuperação de Portugal como cidadãos que amam o seu país e não como pessoas que dizem mal de tudo e de todos;
- fazer crer que já houve tempos de carência e que foi possível vencer essas dificuldades com trabalho, com unidade de todos e com harmonia social.
= Pelo testemunho se ganha... o filho/educando
Agora que se aproxima um tempo de exaltação do consumismo, pelo Natal, talvez seja importante apresentar às crianças algo mais do que um mal-estar por não ter ou ainda por desejar ter, ficando azedo e com raiva de quem tem ou possa comprar.
Pode ter chegado a ocasião:
- de ir gerando nas nossas crianças uma abertura ao essencial, que é mais do que coisas;
- de ir aprendendo a valorizar aquilo que é simples e não aquilo que é de moda;
- de ir ajudando a conhecer o esforço de quem nos presenteia e não quem nos tenta comprar com prendas de fachada;
- de ir tentando olhar as pessoas mais pelo que elas valem (e são de verdade) e menos por aquilo que nos oferecem.
Temos de sacudir, já neste Natal, o papel de embrulho com que nos temos andado a enganar e, talvez, a querer ludibriar as nossas crianças. Tentemos dar-lhes mais amor, carinho e atenção e Jesus nascerá em nós e à nossa volta.
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
AGÊNCIA ECCLESIA
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por Zulmiro Sarmento, em 21.11.11
Não vi o programa, não li o livro, mas recebi impressões, algumas alarmadas. O simpático José Rodrigues dos Santos saiu –se com um livro da linha do Código Davinci, de José Saramago e de umas tantas entidades que, hoje, procuram lançar dúvidas sobre certos aspectos da vida de Cristo.
Um dos mais “chocantes” para muitas pessoas é que Ele tinha irmãos, que a sua Mãe não era virgem, que Ele era casado. Etc., etc…Outros precisamente lançam dúvidas sobre o Antigo Testamento, como se este fosse o fundamento do Cristianismo. Mas, na realidade, não é…
Vamos repetir explicações sobre tudo isto.
Em primeiro lugar note-se bem que o nosso Cristianismo assenta éem Cristo Filhode Deus. Ele afirmou que era Deus. Mas muitos psicóticos também o têm feito. Simplesmente Ele provou –o com os seus milagres, em especial com a sua Ressurreição.
De resto digam o que disserem, o Cristianismo está assente n’Ele, nosso Mestre, a quem podemos chamar “rocha firme”. Por isso, se Ele teve irmãos, se a Mãe não era virgem, se era casado… isso em nada abala a sua Divindade, nem o que ensinou, nem o que fez, nem o que instituiu…
Todavia sejamos equilibrados… Os dados históricos que vêm do princípio do Cristianismo, apontam fortemente para as convicções clássicas, isto é, que ela era virgem, etc. Mas, insista-se: isso não é essencial ao Cristianismo. Todavia é bom recordar as “fontes” históricas, por exemplo a quantidade de “cartas” e outros escritos que temos e que foram escritos a partir do Ano 50, isto é, simplesmente 20 anos depois de Ele ter estado na “terra”. Havia muita gente, amigos e inimigos que tinham andado com Ele, que o tinham visto e ouvido ou que tinham recebido relatos a seu respeito. Se fossem verdade essas “coisas” que hoje dizem, elas tinham de aparecer.
Mas, mais uma vez, o nosso Cristianismo assenta é n’Ele, e não depende nada dessas “curiosidades”. Elas não o abalam…(ver anexo mais abaixo.).
O Cristianismo também não depende da “linguagem” que Cristo usou: era a linguagem da sua nação. Por exemplo, Ele falava em possessos dos espíritos, e sabia bem que se tratava de doenças psíquicas. Se se referiu aos cananeus como “cães” simplesmente usou a linguagem normal dos seus ambientes.
Quanto ao Antigo Testamento, trata-se duma série de Livros riquíssimos em sentido de Deus, em monoteísmo, em exortações e caminhos de Santidade, em sentido do oração, etc.,etc… Sabemos que ele contem muitos factos históricos, mas também sabemos que nele há muitas “histórias”criadas a níveis vários, para servirem de “veículos” aos ensinamentos transmitidos. Recorde-se, mais uma vez que, por exemplo, os primeiros capítulos do Génesis (primeiro Livro da Bíblia) são mitos. Já tenho explicado muitas vezes que estes são construções em imagens, as quais exprimem factos “eternos” da vida humana. Na Bíblia, eles serviram também de formidáveis veículos para falar de coisas de Deus e suas intervenções. Mesmo que só se tratasse de “histórias” o que interessa são os conteúdos…
À margem de tudo isto há nesses 42 livros riquezas “eternas” de ensinamentos. Basta recordar os Profetas e os Livros Sapienciais. Os seus ensinamentos nunca mais morrem…e são utilizados por muitos grupos religiosos, e muitas pessoas que simplesmente os descobrem e utilizam.. O Cristianismo tem neles as “raízes” de muitos dos seus ensinamentos. O problema é que há grupos e pessoas que os tomam à letra. Seguem esse caminho os “críticos” que assestam neles as suas revelações. Há muito quem pense que é um recurso para “vender” muito, e para conquistar nome. Não me pronuncio, nem interessa.
O que interessa é, mais uma vez: o nosso Cristianismo assente é em Cristo, Filho de Deus feito Homem…E também me interessa o esclarecimento em vez de confusão…
Anexo ---Cristo é uma pessoa histórica---
Acontece haver quem, especialmente entre os mais novos, os superficiais, os mal informados, não se sinta seguro acerca dos factos de Cristo. Perguntam se os Evangelhos não terão sido inventados? Há quem levante a ideia de que alguém tenha inventado tudo isso. Porém era impossível Não tinha “pegado”. Na realidade, está tudo documentado na História. Há duas pistas diferentes, mas que levam ao mesmo Cristo real. Vejamos:
1ªpista. Há no mundo uma “consciência colectiva” que vem do tempo d’Ele: desde então, imensa gente sabia. A essa consciência chama-se indicador de realidade. Ela não poderia existir se Cristo não tivesse existido. Se alguém O tivesse inventado, não era aceite porque ninguém O conhecia. Ninguém sabia…Mas, a sua realidade histórica, ficou na consciência das comunidades. É assim com tantos factos e nomes do passado, como Sócrates, Platão…os reis de Portugal, o Terramoto de 1755, etc., etc. Eles não podiam ser inventados. Se alguém os inventasse, eles não seriam aceites porque, mais uma vez, ninguém os conhecia. Com muito mais razão, Cristo não podia ser inventado…, nem as coisas que Ele fez e disse. Mas, mais…:
2ª pista. Há escritos que vêm daquele tempo, quando ainda existia muita gente que O acompanhara, O vira, ou tinha tido informações a seu respeito. Esses escritos chamam-se Novo Testamento. Mas, em si mesmos, são escritos como outros quaisquer. E como tais devem ser tratados no seu valor histórico.
Ao todo são 27 livros. Os 4 primeiros são Evangelhos, isto é, resumos das catequeses dos primeiros tempos. Eles não são “vidas de Cristo”, mas contêm-na. São diferentes uns dos outros mas coincidem nos factos essenciais. É a força da verdade.
Restam os outros 23 livros, totalmente diferentes dos Evangelhos. Desses livros, 21 são “cartas”. Elas foram escritas a destinatários variadíssimos, muito distantes uns dos outros, e sem ideia de dar notícias acerca de Cristo. Os assuntos delas dizem respeito às comunidades, às suas orientações e aos seus problemas. E aí está outro facto de total valor histórico. É que, nesses 23 livros fazem-se 650 referências a Cristo, e às suas actuações. Nós conhecemo-las na “consciência colectiva” e nos Evangelhos. Elas eram do conhecimento das mais variadas comunidades.
Ora, as referências têm um total valor de realidade histórica. É que elas fazem-se quando se sabe que os destinatários conhecem os factos. Se não os conhecem, dão-se informações. O que não é o caso daqueles 23 livros. Nenhum deles tem como objectivo dar qualquer informação sobre Cristo. Vale a pena passar-lhes uma vista de olhos. Até por curiosidade histórica, recomendar-se-ia começar pelos Actos dos Apóstolos. Este Livro é o 5º do Novo Testamento e, nas edições da Bíblia, vem logo a seguir aos Evangelhos.
O conjunto das ditas referências forma a chamada “vida de Cristo dispersa”. Esta coincide com as informações existentes na consciência colectiva e nos Evangelhos. Isto só é possível porque as pessoas conheciam os factos. c t.
(Recebido por e-mail)
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por Zulmiro Sarmento, em 27.10.11
“Acabaram os tempos de ilusões. Temos um longo e árduo caminho a percorrer, para o qual quero alertar os portugueses de uma forma muito directa: a disciplina orçamental será dura e inevitável, mas se não existirem, a curto prazo, sinais de recuperação económica, poder-se-á perder a oportunidade criada pelo programa de assistência financeira que subscrevemos”, afirmou Cavaco Silva nas comemorações do 101.º aniversário da implantação da República.
Vindo de quem vem e na data que lhe é apropriada, temos de levar muito a sério esta prevenção... não aconteça de ontem já ter sido tarde começarmos a viver na contenção e sob a regra da temperança pessoal, familiar, social e política.
Respigando alguns excertos do discurso presidencial, tentaremos abordar aspetos de provocação cristã à nossa quase inconsciência de gastadores sem crédito.
= Letargia do consumo fácil
“Durante alguns anos foi possível iludir o que era óbvio... Perdemos muitos anos na letargia do consumo fácil e na ilusão do despesismo público e privado. Acomodámo-nos em excesso”, salientou o Presidente da República.
Agora é mais difícil aferirmos os nossos comportamentos, pois nos habituámos – depressa demais no tempo e excessivamente na mentalidade – a viver como se fôssemos ricos, embora só éramos subsidiados para que não invadissemos os países do norte da Europa. De fato, quisemos equiparar-nos na bastança com quem nos deu a mão para entrarmos na Comunidade Europeia, mas esquecemo-nos de viver na dinâmica de trabalho que esses países e culturas viviam e continuam a viver... para gerarem riqueza.
Ainda estamos a tempo de evitar a bagunça que vamos percebendo na Grécia. Por isso, precisamos que nos falem verdade e que vivamos na coerência sem falsos profetas da contestação a troco de maior miséria... a curto prazo. Nem a ditas ditas greves – a Grécia já vai em onze greves gerais só este ano! – ou as manifestações setoriais nos podem fazer esquecer do caminho a percorrer em ordem a sermos – novamente – um país de sucesso, de paz e de trabalho digno e dignificador.
= Austeridade digna
“A crise que atravessamos é uma oportunidade para que os portugueses abandonem hábitos instalados de despesa supérflua, para que redescubram o valor republicano da austeridade digna, para que cultivem estilos de vida baseados na poupança”, referiu ainda o chefe de Estado.
- Para quantos se reclamam do espírito republicano de igualdade e sem mordomias é chegada a hora de deixarem cair as máscaras de benesses e de regalias... de regime instalado.
- Para quantos se dizem cristãos – onde o espírito de pobreza, que é muito mais do que a pobreza de espírito! – é chegado o momento de procurarem viver em conformidade com o essencial e sem coisas supérfluas.
- Para quantos se tentam afirmar pelo ter, é chegada a ocasião propícia de centrarem a sua vida no ser... autêntico e verdadeiro.
Nós que já fomos pobres e honrados podemos e devemos ser honrados embora um tanto mais pobres, temos de saber interpretar a redução de coisas materiais, reaqualificando a nossa vida à luz do essencial, abrindo-nos à partilha e à (verdadeira) caridade.
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
AGÊNCIA ECCLESIA
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por Zulmiro Sarmento, em 21.10.11
Quem anda atento às mudanças sociais e culturais e não se esquece que a Igreja está ao serviço da sociedade e das pessoas tem consciência de que muitas coisas têm de mudar na acção pastoral. Nem sempre as mudanças são aquelas de que as pessoas falam, movidas por razões sopradas e pouco sabedoras do que na Igreja é essencial.
O concílio Vaticano II foi o acontecimento com maior força propulsora da mudança a operar-se na Igreja. Realizou-se para isso mesmo, segundo os objectivos anunciados por João XXIII, que queria não a continuação de uma Igreja clerical, mas o surgir de uma Igreja Povo de Deus, marcada pela Comunhão e pela Missão. Uma Igreja capaz de entender a sociedade e de dialogar com ela sobre o desígnio de Deus a operar-se na história humana. Uma autêntica mudança que toca em conceitos e critérios, em atitudes e projectos.
Não era fácil a conversão, sobretudo dos que, embrenhados nas estruturas e nos modelos tradicionais, teriam sempre grande dificuldade em se libertarem para poderem adquirir a liberdade interior sem a qual não são possíveis as verdadeiras mudanças. Quem viveu o antes do Concílio, e logo o seu depois, entende estas dificuldades porque as sentiu. Destes, os primeiros, dependia muito o rumo e o impulso conciliar. Foi-se, porém, pelo mais fácil e espectacular, passou-se, em muitos casos, ao lado dos grandes apelos à conversão, sossegou-se a consciência pensando que os outros é que tinham de mudar, deu-se lugar a superficialidades que não seriam inócuas, pôs-se patine em muitas coisas velhas. O ambiente era de cristandade e mera conservação, com sentença de morte anunciada a partir dele próprio, pensando-se, logicamente, que não sobreviveria. Acabou por ser ele mesmo marcar o ritmo da anti mudança. Com tudo isto, andou-se para trás e deram-se muitos passos em vão.
Bento XVI disse, recentemente, na Alemanha, que, na Igreja, “há mundo a mais e Espírito a menos”. E falou que, sem a conversão profunda do Papa, dos bispos e padres, dos religiosos e leigos, de toda a Igreja, não haverá mais lugar para o Espírito. Mundo a mais, quer dizer que os critérios profano e as preocupações temporais se sobrepõem à moção do Espírito, o Único que pode dar a vida.
O Concílio foi uma lufada de ar fresco para a Igreja, que tanto pode perdurar ainda, como ter sido esquecido uma mera recordação. Os textos conciliares deixaram de ser lidos, meditados, entendidos como rumo e caminho. Muita gente da Igreja voltou à velha rotina, a programar para conservar, sem se interrogar se por aí pode alguma vez passar o vento da renovação pastoral. Os esquemas pastorais, a utilização dos recursos humanos e materiais, a linguagem, mesmo com as novas técnicas, parecem permanecer ao serviço de um passado que nada diz às pessoas de hoje. A maioria destas teve acesso generalizado ao ensino, experimentou a democracia, tomou consciência do seu valor como pessoa, sente o direito e o dever de participar. Os tempos de cristandade sempre de sabor clerical. Por isso estão desadequados e fora do tempo. Teimar neles é produzir o vácuo religioso e eclesial, continuar a construir muros que dividem e valas intransponíveis. O problema não está em sentir a dificuldade das mudanças que se impõem, mas em teimar em não querer, nem procurar caminhos novos que permitam os rumos novos que urgem na Igreja.
Os decisores eclesiais, mesmo quando inovam, estão rodeados de caminhos de tropeços que não os deixam andar. Uns incómodos, outros acarinhados. Uns doem, outros agradam. Estes tropeços, tanto se chamam grupos corporativos, como costumes, bairrismos impensáveis, ânsia de honras e vaidades, que o Concílio execrou mas que continuam a prodigalizar-se. Não se entende, quando o grito evangelizador é insistente, que se perca tempo e se desgastem energias em banalidades e disputas que cheiram a mofo e sujam a imagem da Igreja.
As maiores recriminações de Cristo foram feitas aos conservadores interessados do seu tempo, que não queriam andar, nem deixavam que outros andassem. Parece que a história se repete, com prejuízo irreparável das pessoas e da sociedade. Ao repensar a acção da Igreja hoje, há que estar atento porque, em alguns casos, os falar-se de renovação e ao dar exemplo de coisas novas, o horizonte é muito curto, o que não admira pelo pouco que se estuda, lê e reflecte, se escuta, avalia e inova. Os que querem de verdade são sonhadores e utópicos. Os que parece que querem são agentes promovidos.
D. António Marcelino
AGÊNCIA ECCLESIA
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