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SER PROFETA HOJE (algumas interpelações)

por Zulmiro Sarmento, em 05.06.07

          Gostaria de partilhar com os meus amigos que visitam este espaço na net algumas interpelações sobre o sentido da profecia para os tempos actuais. Como ser profeta hoje? Tirem um tempinho para ler e assimilar. Se tiverem dúvidas sobre o que significa e deve ser um profeta na Igreja e no mundo, pelas interpelações que se seguem chegam lá num instante:

 

1. Descobrir e propor o projecto de Deus para o mundo e para os homens e para as mulheres. O profeta é homem (mulher) do seu tempo, marcado pelas descobertas, conquistas, contradições e esperanças dos homens e mulheres do seu tempo... É também alguém com uma fé profunda, com uma consciência muito forte da presença de Deus na própria vida. A vida de união e de comunhão com Deus vai impregnando a vida do profeta, de modo que vai aprendendo a interpretar todos os acontecimentos políticos, sociais e religiosos à luz de Deus e do seu projecto. Só deste modo o profeta pode apresentar o projecto de Deus para os homens e mulheres de hoje.

 

2. Sentir-se chamado(a) por Deus, receber de Deus uma missão, ser enviado(a) por Deus ao mundo. Deus chama de muitas formas... Um sonho, uma leitura, um acontecimento, um sinal... Às vezes descobre-se o seu apelo no rosto de um pobre ou de um escravizado por malditos vícios; outras vezes, nas páginas dos jornais; outras, nas necessidades da Igreja ou da sociedade; outras, nos acontecimentos turbulentos do presente; outras, mais simplesmente, nas palavras de um amigo ou de um mestre... Ao ser chamado(a), o profeta recebe de Deus uma missão.

 

3. Estar marcado(a) pelas experiências de solidão, angústia, sofrimento, crise, rejeição, incompreensão... Ser fiel à missão de Deus, mesmo quando, com essa atitude, o profeta se sente abandonado, rejeitado, incompreendido. No fundo, trata-se de arrisacar a vida, na certeza da presença de Deus.

 

4. Estar desinstalado, num território concreto... como espaço de verificação e de rejeição da profecia anunciada. Ninguém é profeta na sua terra, é certo. Mas é na terra, no espaço concreto, na escola, no local de trabalho, na comunidade, na Igreja... que a profecia deve ser anunciada. Com coragem, com desassombro.

 

5. Viver no quotidiano da existência, na minha situação concreta, aqui e agora. Como ser profeta, aqui e agora, na minha situação, face aos problemas reais que me entram pelos olhos e interpelam o meu coração aberto ao Pai e ao próximo?

 

6. Anunciar as Boas Novas de sempre duma forma sempre nova. O conteúdo do anúncio profético é sempre o mesmo. Mas esta única Palavra de Deus deve ressoar duma forma sempre nova...

 

7.Assumir um modo novo e inédito de viver e anunciar o essencial. Anunciar um modo novo de viver o essencial. E o essencial é a fé , a esperança e a plenitude do amor, das quais os profetas foram testemunhas vulneráveis mas obstinados. O Espírito sopra onde quer e como quer, com liberdade imprevisível, não se deixando amarrar em esquemas exclusivos ou demasiado estreitos...

 

8. Escutar, aprender, receber, acolher... o Deus do povo e o povo de Deus.

 

9. Ser coerente entre a palavra anunciada e as opções pessoais. Quantos pretensos profetas gritam diante dos microfones, ditam sentenças nos jornais a torto e a direito, gesticulam nas praças e na televisão... mas não dão testemunho com a sua vida. Por isso, não mudam as coisas! Há incoerência entre pensamento e vida , entre ideal e prática.

 

10. Denunciar não apenas os pecados, mas as estruturas de pecado, promover e estimular novas estruturas de virtudes e valores.

 

11. Testemunhar entre o silêncio intenso-pleno e o silêncio despojado-vazio. Diante dos dramas recentes e actuais, diante das angústias e sofrimentos, diante dos vazios e da falta de esperança, o profeta dá testemunho, com o seu silêncio, do silêncio de Deus. Não é fácil, mas pode ser um silêncio fecundo que fala.

 

12. Lutar contra os novos ídolos de hoje: detectá-los, desmascará-los, denunciá-los...

 

13. Anunciar a fé e a justiça, assumir a esperança como raiz da profecia. Não se trata de duas coisas distintas: a fidelidade ao Deus vivo exige a defesa dos direitos do pobre. A mensagem profética, na sua capacidade de denúncia, integra-se e aperfeiçoa-se, especificando-se, na proposta de uma utopia, na "proposta de uma alternativa", chamada esperança. Sem esperança não há profecia.

 

14. Profetizar no século XXI, viver pobre a profecia da gratuidade, da sobriedade, da essencialidade: sentir a alegria de dar, gratuitamente; experimentar a força do Amor criador de Deus; praticar diariamente uma vida simples, sóbria; ir profeticamente contra a corrente do domínio e do consumo; ser capaz de desmascarar as raízes do egoísmo e as suas consequências...

15. Profetizar no século XXI, viver obediente a profecia da multiculturalidade. Descobrir a única vontade de Deus Pai; deixar os isolamentos, os nossos planos egoístas; procurar a vontade de Deus na vontade da comunidade: deixar de lado o escândalo da excomunhão mútua; comungar no mesmo Deus...

 

16. Profetizar no século XXI, viver casto a profecia da sexualidade redimida: Testemunhar a redenção de Cristo na globalidade do nosso ser (inteligência, liberdade, fantasia, corpo, afectos, sentidos); ser profetas da libertação integral...

 

          Padres, religiosos e leigos, todos baptizados e todos por aí a viver o SER PROFETA!?

          SER PROFETA é mesmo uma prioridade? 

          Andaremos a fazer uma pastoral de manutenção, vivendo nas ditas seguranças do passado!?

          E agora... com a possibilidade da missinha no doce latim!!

          Já me perguntaram por aí: «os livros que o padre Zulmiro estudou são os mesmos dos outros padres?»

          Reuniões e homilias devem, por certo, ditar perguntas e reparos destes...

          O meu professor de Teologia, Dr. José Soares Nunes, dizia-nos que sair do Seminário e nunca mais ler e estudar durante cinco anos faz ficar desactualizado imediatamente. Eram cabelos brancos a falar...

          E acrescento ainda: um profeta é um insatisfeito porque nunca se contenta; transmite a certeza de que se pode sempre  melhor e mais longe. E é um incompreendido porque para os imbecis está sempre a «dar recados»...

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publicado às 12:13


4 comentários

De kátia a 07.11.2009 às 00:08

Obrigada! eu fiquei feliz em saber que indiretamente tb sou profeta, pois sou catequista .

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