José Miguel Rocha:
«Recarregámos baterias e regressámos
com mais ânimo e com outras motivações»
«Em Taizé, vivi uma experiência muito diferente de tudo o que eu já tinha feito e sentido; no último dia, a atividade programada incluía uma hora de silêncio, isolados de toda a gente; inicialmente, achei aquilo estranho, mas alguém me disse que eu acabaria por gostar muito, pois iria ouvir todas as vozes de revolta que havia dentro de mim; acabei por passar hora e meia como se fossem cinco minutos; talvez não se tivessem dissipado algumas dessas vozes, mas fiquei a conhecer-me melhor.» Esta foi a conclusão de uma entrevista que o José Miguel Rocha nos concedeu, sobre a peregrinação à comunidade ecuménica de Taizé, França, organizada pelas Escolas Mário Sacramento e José Estêvão, no âmbito da aula de Educação Moral e Religiosa Católica. A peregrinação decorreu no Carnaval, entre 5 e 13 de março, envolvendo 80 alunos e respetivos professores, José Joaquim Pedroso Simões e Teresa Grancho.
O Silêncio fala muito
José Miguel Rocha, 16 anos, aluno do 11.º, havia sido motivado pela experiência vivida em Taizé e contada pelo seu professor, José Joaquim Pedroso Simões, mas, quando chegou, sentiu de imediato que tudo seria superior ao que poderia imaginar. «Para melhor», fez questão de sublinhar. E até nos garantiu que, se Deus quiser, no próximo ano voltará. Esta certeza vem-lhe das vivências que o tocaram profundamente.
O sentido ecuménico da Comunidade de Taizé está bem presente em tudo o que se faz com os peregrinos, sejam católicos e de outras confissões cristãs, sejam de outras religiões mesmo não cristãs. José Miguel chegou a privar de perto com jovens indiferentes e porventura ateus, que ali se congregaram decerto numa procura do transcendente.
Cânticos e leituras bíblicas conduzem a reflexões que vão crescendo à medida que o tempo passa. Programações diversas à volta dos temas, individualmente e em grupo, apontam para «uma mudança de vida ou de aperfeiçoamento pessoal». E dessas ações, o nosso entrevistado destaca o Teatro, uma linguagem universal, em que, várias vezes, «só por mímica, conseguíamos transmitir o sentido das meditações que interiorizávamos».
José Miguel percebeu, logo à chegada, que era fundamental respeitar o silêncio. «O silêncio fala-nos mais do que se estivéssemos a conversar ou a ler; o silêncio é muito valorizado e nós sentimos que ele pode ser muito bem aproveitado, mesmo na nossa vida de todos os dias», salientou.
O nosso entrevistado explica que, no templo, todo o ambiente se torna convidativo. Impera, realmente, o convite à meditação. O espaço «não é muito luminoso», sobressaindo «algumas velas» que permitem «o enquadramento ideal» para todo o programa. Contudo — adianta —, «em Taizé nada é imposto; cada pessoa é livre de pensar e de programar a sua vida». Aliás, neste ambiente, «nunca notou a presença de qualquer “ovelha” fora do rebanho». E acrescenta: «O próprio ambiente convida a isso e as pessoas integram-se perfeita e livremente; todos são contagiados pelo que se passa, nas celebrações e fora delas.»
Para o José Miguel, «as sensações de recolhimento e de descoberta pessoal de nós mesmos são uma realidade muito grande; há uma magia especial, valorizada pelo respeito ecuménico que se respira em Taizé». E refere: «Além de crentes de várias confissões religiosas, predominantemente cristãs, há jovens não crentes, com quem cheguei a conversar; mas todos se envolvem numa perspetiva de descoberta, participando abertamente, sem problemas nem preconceitos».
Meta e ponto de partida
Foram seis dias únicos e no regresso todos sentiram que foi bom ter estado naquela comunidade tão carismática. «Na viagem de regresso, uma certa tristeza se instalou no grupo; sentimos até vontade de pedir ao motorista que desse uma volta e voltasse connosco para trás, porque aquilo foi, de facto, muito bom; quando nos tiram o fantástico que vivemos, custa um bocado», refere o nosso jovem entrevistado.
Agora — frisa o José Miguel — continuamos ligados àquele movimento ecuménico, porque em Aveiro há celebrações periódicas. «Esta experiência não termina quando abandonamos Taizé; não vale a pena deixar lá tudo o que vivemos e aprendemos; importa partilhar com outros a riqueza do que experimentámos», disse. E ainda sublinha: «Taizé foi meta quando saímos de Aveiro; a partir do momento em que lá chegámos, deixou de ser meta, para passar a ponto de partida na caminhada da vida, testemunhando o que colhemos naquela comunidade.»
O José Miguel reconhece que há outros centros de espiritualidade em Portugal, e não só, mas considera «difícil igualar Taizé», onde se valoriza o silêncio de maneira única. Daí que todos reconheçam que ficaram «mais fortes, mais conscientes do que somos, mais alegres, mais enérgicos; em Taizé recarregámos baterias e regressámos com mais ânimo e com outras motivações».
Fernando Martins