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EU, PADRE CASADO, ME CONFESSO

por Zulmiro Sarmento, em 25.03.11

Anda por aí um burburinho dos diabos, à conta de uma declaração de uma centena e meia de teólogos alemães que, há falta de um tema mais original, decidiram questionar o celibato sacerdotal. É, juntamente com o famigerado sacerdócio feminino, uma insistente proposta de alguns grupos de católicos pouco ortodoxos que, se me permitem a charada ecuménica, de tão reivindicativos dir-se-ia que são protestantes.

Não obstante alguns contornos mais caricatos, a questão é séria e merece alguma reflexão. Depois de uma etapa fundacional em que, à imagem de

Cristo, os apóstolos e outros, como São Paulo, se mantiveram célibes “pelo reino dos Céus”, vieram tempos em que os presbíteros podiam ser casados. Contudo, tendo em conta os resultados dessa primitiva experiência, entendeu-se preferível retomar a tradição evangélica, repondo o celibato sacerdotal na Igreja Católica latina. Portanto, um eventual regresso à anterior situação representaria, em termos históricos, um retrocesso, ainda que disfarçado de revolucionária novidade e, o que é pior, um afastamento em relação ao exemplo de Cristo, que é o modelo e a razão do sacerdócio eclesial.
Há, sobre esta matéria, um duplo equívoco, que importa esclarecer.

O primeiro decorre da suposição de que só há amor quando há uma vida sexual activa e, portanto, a imposição do celibato implica a frustração emocional do padre que, entregue à sua própria solidão, fica assim mais exposto às fraquezas da humana condição. Já São Paulo advertira: mais vale casar-se do que abrasar-se. É certo. Porém, o sacerdote não é um homem sem amor, muito embora a sua realização afectiva não tenha expressão sexual. Um presbítero que não ame, que não esteja apaixonado, é certamente um ser vulnerável e fragilizado, não por ser padre, mas precisamente por o não saber ser.

Com efeito, o ministério sacerdotal não se reduz a uma função burocrática, em cujo caso o celibato não faria sentido, mas antes se realiza naquele “amor maior” de que Jesus Cristo é o perfeito exemplo. E é bom recordar que o Verbo encarnado não é apenas Deus perfeito, mas também perfeito homem, pelo que a sua circunstância celibatária não só não foi óbice como condição para essa plena realização da sua natureza humana.

Outro lapso é supor que os padres da Igreja Católica são solteiros, o que manifestamente não corresponde à realidade. Saulo de Tarso, quando disserta sobre a grandeza do sacramento do matrimónio, refere-o a Cristo e à sua Igreja, por entender que esta aliança é de natureza nupcial. Por isso, o sacerdote católico, configurado com Cristo pela graça da sua ordenação, “casa” com a Igreja, que é a sua esposa, não apenas mística mas também real e existencial, na medida em que lhe exige uma entrega exclusiva e total.

Há tempos ouvi na rádio uma conhecida balada, em que se repetia um refrão que é aplicável ao celibato sacerdotal: “eu não sou de ninguém, eu sou de todo o mundo e todo o mundo me quer bem”. Nem mais: para ser de todos e para todos é preciso não ser de ninguém em particular. É o que também me dizia um amigo quando, dando-me as Boas Festas, desejava felicidades para a minha família que, acrescentava com inspirada eloquência, “somos todos nós”.

Mas há mais. Os inimigos do celibato sacerdotal obrigatório são muito mais generosos do que se pensa pois, não satisfeitos com dar uma mulher aos padres, querem dar-lhes duas: a esposa e … a sogra!

P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Voz da Verdade, 2011-03-20

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publicado às 05:38


5 comentários

De No Silence a 25.03.2011 às 11:12

Não concordo com nada do que aí foi dito. Mas que sei eu?!

De Zulmiro Sarmento a 25.03.2011 às 13:45

Por aquilo que me tem sido possível apurar, casar com um padre foi sempre o sonho de algumas santas e piedosas jovens mulheres!
Gostos não se discutem!
Às vezes tem calhado com algumas.
Noutros casos a frustração tem sido completa.
Há padres teimosos que não se deixam mover e comover com lágrimas, olhinhos que suplicam, roupas (ou ausência delas) que seduzem, cartas, postais e poemas inflamados do mais puro amor,...!!
Cala-te boca!!!

De No Silence a 30.03.2011 às 14:55

Pela forma como fala parece perito na matéria! Bem que eu desconfiava que o que não lhe faltavam à porta eram mulheres com "roupas (ou ausência delas) que seduzem" um pobre e idoso padre!
"Cala-te boca!!!"

De Anónimo a 26.03.2011 às 10:56

O celibato é uma norma puramente eclesiástica sem fundamento algum.

De Zeca a 26.03.2011 às 13:21

Eu. como leigo mas católico, concordo com o celibato dos padres.
Desde logo, a análise histórica não demonstra necessidade de matrimónio dos sacerdotes. Além das razões que normalmente vejo invocadas sobre o assunto, eu penso ainda que seria mau para a Igreja se um padre casado tivesse filhos (e eventualmente a mulher) que se portam mal. Seria mais um motivo para os inimigos do catolicismo.

O que eu não entendo é por que razão há grupos que reivindicam tais coisas, não sendo católicos e/ou não sendo crentes - eu acho isso completamente absurdo.

Dentro da Igreja, os que protestam certamente não estão muito atento às prioridades da Igreja actual, sobretudo numa Europa que perde muitos dos seus valores e coloca a princípios básicos do cristianismo em banho-maria.

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