Com todas as possibilidades destes dois artifícios com que a internet nos tem possibilitado, por estes dias, lemos e registamos algumas observações sobre o (ab)uso do powerpoint... podendo extrapolar essas referências à cultura ‘copy-paste’... com que certos estudantes/alunos se vão entretendo... embora, quase nunca aprendendo.
Por estes dias lemos, numa entrevista de um ex-jornalista francês que dizia sobre o powerpoint: «é muito prático, pois permite produzir facilmente um suporte (com texto, imagens e gráficos), que pode ser reproduzido até ao infinito, em todos os tipos de apresentações (...) Tornou-se uma linguagem quase universal. Criou, aliás, uma língua nova, cheia de automatismos, que tornam o discurso descarnado, neutro. Permite desresponsabilizar quem usa da palavra». Na visão deste – pretenso – crítico, o powerpoint «produz um tipo de discurso, de argumentação, de raciocínio simplista, esquemático, visual e espectacular que não pode aplicar-se sempre».
De facto, sob a aparência de um powerpoint pode esconder-se alguma incapacidade de comunicação com discurso consistente, pois os flashs de imagens ou de frases, embora sintetizando, podem não deixar perceber o que se sabe ou aquilo que pode ter sido colado à pressa... Cifrado na linguagem da sedução o powerpoint dá a entender, mas não faz – muitas vezes – compreender. Embora possa ser um (bom) suporte para quem sabe daquilo que fala (ou foi incumbido de falar), pode, no entanto, disfarçar a incapacidade de penetrar na sabedoria de quem quer dizer. Sem qualquer preconceito para com o powerpoint, poderemos considerar que este método de comunicar dificilmente poderá esconder uma certa ignorância, tanto das matérias como dos recursos para a sua aprendizagem. Talvez se possa considerar o powerpoint como uma razoável modalidade de comunicação nesta ‘nova era’ do fascínio pelo exotérico... mas onde as armas, se mal usadas, podem voltar-se contra que as tenta manusear... inadvertidamente.
= Da consulta barata... à colagem sem amadurecimento
Hoje é recorrente vermos mais novos ou mais velhos atarefados a consultar a internet para tudo ou quase nada, pesquisando as mais díspares áreas, em busca de informações rápidas – qual ‘fast food’ intelectual – numa ânsia de dar a entender que se sabe qualquer coisa... mesmo que seja de forma superficial.
Com efeito, o velho ‘corta e cola’ – tradução literal de copy-paste – teve uma breve evolução, deixou de ser feito com tesouras e cola para ser virtual, no écran do computador e sob o efeito da mais elementar subversão dos direitos de autor... desconhecido, anónimo ou também ele/a virtual como os dados surripiados na era do global particular.
Vemos, deste modo, crescer uma tendência para fazer-de-conta à custa de alguma superficialidade e, nalguns casos, até de uma outra desonestidade intelectual. Com efeito, aprender custa, obriga a gastar tempo e, sobretudo, a amadurecer os conhecimentos, fazendo-os digerir demoradamente, com racionalidade e até com razoabilidade.
Está na hora de termos pessoas que saibam o que dizem e o que escrevem e que digam aquilo (e só) o que sabem... conscientemente. Basta de sermos confrontados com frases feitas e/ou de citações sem conteúdo. Precisamos de pessoas que estudem e que não se pendurem em chavões nem que digam coisas de uma certa moda intelectual enrolada... mesmo sem compreenderem o (total) significado das coisas a que têm acesso... privilegiadamente.
Honestidade, a quanto obrigas!
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)