por Zulmiro Sarmento, em 04.06.10
O Papa Bento XVI que tem sido contestado por muitos numa comparação com o grande amigo e santo que foi João Paulo II, fez em Portugal uma caminhada de 4 dias tendo conquistado a alma do povo português e connosco aprendeu a sorrir e exprimir aquela serenidade reveladora dum homem de profunda espiritualidade, super inteligente, tímido mas afável, prudente, cordial e mais próximo do povo, quebrando algumas
vezes o protocolo para se aproximar da multidão. Isso tenho constatado nas cinco vezes que me encontrei em Roma em audiências. Sempre me impressionou.
Na viagem de regresso a Roma mandou o seguinte telegrama a Sua Excia o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva: "Ao deixar o espaço português, venho renovar-lhe a deferente saudação e cordial gratidão pelo acolhimento fidalgo que me reservou e pela solicitude do Governo em assegurar tranquila realização desta minha visita a Portugal, com ponto alto em Fátima, onde pude ajoelhar aos pés de Nossa Senhora,
depondo no seu coração materno aflições e esperanças da família humana inteira e de modo especial do dilecto povo português sobre cujo presente e futuro invoco a luz protectora de Deus com propiciadora Bênção Apostólica. Benedictus PP XVI".
No dia 16 de Maio falando a meio milhão de peregrinos renidos na Praça de S. Pedro confessou: "Foi emocionante para mim ver, em Fátima, a imensa multidão que na escola de Maria rezou pela conversão dos corações" e agradeceu à Virgem Maria que pôde venerar no Santuário de Fátima.
Ainda no avião Bento XVI falou da pedofilia que tem afectado a Igreja Católica sublinhando que a " maior perseguição à Iggreja" não vem de "inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja". Daí a necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de implorar perdão". Como disse o Padre Anselmo Borges "Bento XVI há algum tempo que tem assumido uma tomada de posição muito forte contra a pedofilia
na Igreja".
No Terreiro do Paço, em Lisboa, recordou o nome de alguns santos, como o grande missionário São João de Brito, e o papel dos portugueses na evangelização e deixou um convite a fazerem agora a evangelização na Europa ""Hoje, participando na Comunidade Europeia, levai o contributo da vossa identidade cultural e religiosa", "cada mulher e homem cristão tem de ser uma presença irradiante da perspectiva evangélica
no meio do mundo, na família, na cultura, na economia e na política".
Foi um desafio a todos e especialmente aos jovens. Estes foram acompanhando e ovacionando o Papa ao longo da sua visita e decobriram um homem tímido mas bondoso. Firme e apelativo: "A prioridade pastoral hoje é fazer de cada mulher e homem cristão uma presença irradiante da perspectiva evangélica no meio do mundo", afirmou.
Aos homens da cultura , no CCB, disse: "fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza".
Mas o Papa veio como peregrino de Fátima. Ajoelhou aos pés da Virgem e rezou por Portugal e pelo mundo inteiro que precisa de respeitar os verdadeiros valores e a dignidade da pessoa humana. "Venho como peregrino de Nossa Senhora de Fátima, investido pelo alto na missão de confirmar os meus irmãos que avançam na sua peregrinação a caminho do céu".
No Santuário rezou com meio milhão de pessoas.
A todos os cristãos exortou: "Não tenhais medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé, fazendo resplandecer aos olhos dos vossos contemporâneos a luz de Cristo".
Aos Bispos disse que o tempo actual exige "um novo vigor missionário dos cristãos, chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidário com a complexa transformação do Mundo"
Aos cerca de oito mil padres, diáconos e seminaristas deixou pedidos de fidelidade, castidade, pobreza e obediência. E não se pode esquecer que "a fidelidade à própria vocação exige coragem e confiança".
Com as organizações da pastoral social, louvou a acção caritativa da Igreja no país e as iniciativas que lutem contra as condições socioeconómicas que levam ao aborto e falou da necessidade de avançar com acções que respeitem os valores da família, "fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher". For forte. Como
disse Eugénio da Fonseca, Presidente da Caritas Portuguesa: "Foi forte, mas ele ?~e assim mesmo: nunca vira a cara à verdade e à defesa da vida em todas as suas dimensões".
No Porto, uma multidão de cerca de 150 mil pessoas encheu a Avenida dos Aliados. O tema da homilia foi o da missão, numa diocese que se encontra a viver a Missão 2010 que quer dinamizar os católicos da diocese. E sublinhou: "é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus. Na realidade, se não fordes vós
as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar?"
Antes de regressar a Roma, numas palavras de agradecimento, que a todos sensibilizaram, afirmou: "Levo guardada na alma a cordialidade do vosso acolhimento afectuoso, a forma tão calorosa e espontânea como se cimentaram os laços de comunhão com os grupos humanos com quem pude contactar".
O Presidente Cavaco Silva, que acompanhou o Papa Bento XVI durante toda a sua visita, disse que os portugueses: "nele encontraram a bondade humana, o carisma sereno, a profundidade de pensamento, a fortaleza de ânimo, sinais inspiradores num tempo de grandes desafios como aquele que atravessamos. Portugal despede-se de vós revigorado
pela mensagem de Esperança e confiança que nos deixais".
Temos de remar contra o pessimismo daqueles que só vêem no horizonte o "Inverno da Igreja". Há que confiar na "Primavera", surgida nas "novas comunidades eclesiais" sob o "sopro" do Espírito, que vão rejuvenescendo a Igreja. Ficou connosco a imagem do Papa Bento XVI que é, no dizer de Rui Osório "activo na contemplação e contemplativo na acção. Mesmo na celebração da Eucaristia privilegia o silêncio e a
escuta".
Veio desconhecido e foi mais conhecido, o homem da serenidade, de inteligência profunda, bondoso, mais próximo do povo. E que gostaria de voltar nos 100 anos das Aparições, se lhe fosse possível.
Merece um caloroso elogio D. Carlos Azevedo e todos aqueles que com ele colaboraram para esta peregrinação fosse um êxito mediático e na dimensão dum aprofundamento da fé da vida cristã no povo português, na Europa e no Mundo. Para todos o Papa falou. Como diz D. Bruno Forte: "Sem Deus o homem está à beira do abismo". A práxis o demonstra. Cada vez estamos mais perto. A voz do Papa é sempre um alerta para arrepiar caminho.
Armando Soares
Padre e Jornalista CP. 6100
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