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As denúncias de pedofilia que envolvem elementos da Igreja Católica criaram “o estereótipo de que todos os padres são pedófilos”, criticou Calado Rodrigues, um sacerdote que agora admite “algum receio” em ter manifestações de afecto para com as crianças.
“Tenho uma relação muito afectiva e próxima com algumas crianças, até porque tenho um lar de menores com crianças institucionalizadas que vêm de contextos familiares degradados e difíceis”, explicou o sacerdote e pároco em Bragança à Agência Lusa.
Com as recentes denúncias públicas de casos de pedofilia em vários países, Calado Rodrigues admite que já hesita em ter simples gestos de afectividade como pegar numa criança ao colo.
Os casos de pedofilia que fizeram manchetes na imprensa também preocupa quem lida com crianças na catequese e já existem catequistas que procuram alertar os mais pequenos sobre a importância de denunciar qualquer situação.
Algumas crianças "perguntam-nos: ‘como é que um padre pode fazer isto?’” - conta Helena Presas, responsável pela catequese na paróquia do Campo Grande, em Lisboa, e defensora de que todas as questões devem ser debatidas mesmo as que afectam a imagem da hierarquia.
“As crianças trazem para a catequese tudo o que apanham no mundo, nas televisões e em casa. A partir dos oito anos temos que nos dedicar aos mais diferentes assuntos. Falámos da Casa Pia, do Haiti, do bullying e agora também da pedofilia na Igreja. Nós ouvimo-los e pomos os assuntos a debate”, explica.
Casos de pedofilia "perturba e inquieta" comportamento dos padres
O bispo António Francisco dos Santos, presidente da Comissão Episcopal do Clero, reconheceu hoje que as denúncias de casos de pedofilia “perturba e inquieta” o comportamento de sacerdotes e catequistas em relação às crianças.
A polémica “perturba, inquieta e retira a naturalidade da relação de carinho e afecto” com as crianças, seja na catequese seja em grupos de animação de jovens, afirmou à Lusa o também bispo de Aveiro.
Rejeitando a “suspeição permanente” que pende sobre a Igreja, como uma “espada de Dâmocles”, o bispo faz uma comparação com os crimes no seio familiar: “Não é por haver situações de abuso nas famílias que os pais deixam de ter normais relações de afecto com os filhos”.