por Zulmiro Sarmento, em 30.10.09
Entrevista ao Jornal “Ilha Maior” que saíu hoje
Qual a análise que faz neste momento à Igreja no Pico?
Como dizia o nosso Bispo na primeira visita pastoral realizada a esta ilha no ano 2001 “a Ilha do Pico é um vulcão adormecido também do ponto de vista religioso”.
A Igreja que está no Pico está como que um pouco adormecida, embora existem claros sinais de vitalidade. Há muita gente comprometida com as suas paróquias e que generosamente dão o seu melhor, mas também há muitos cristãos que poderiam estar mais comprometidos e que infelizmente se fecham no seu “casulo” e não se abrem à comunidade.
A nossa religiosidade vive-se muito por tradição, as festas, as procissões, e muitas vezes ficamos somente nos aparatos exteriores faltando o compromisso e a entrega pessoal nas situações concretas da vida. Em muitas situações os cristãos esquecem-se de ser “Sal da terra e Luz do mundo”, como nos recomenda o Mestre.
No entanto podemos deslumbrar sinais de esperança e de confiança, com uma equipa sacerdotal cada vez mais unida, fruto da unificação da ilha numa única Ouvidoria, sendo desta forma mais fácil elaborar e realizar um plano pastoral de conjunto, com a distribuição dos vários sectores da pastoral por diferentes sacerdotes que constituem o seu grupo de trabalho e são responsáveis por esse sector ao nível da Ouvidoria, o que leva a um trabalho sério de formação dos vários agentes pastorais das nossas comunidades.
A Igreja do Pico tem dado passos de solidificação mas muito mais há a fazer e que só será possível com o empenho de todos, sacerdotes e leigos.
Quais os principais problemas que a Igreja atravessa, se é que eles existem.
A Igreja é santa e pecadora. Santa porque fundada por Jesus Cristo e assistida pelo Espírito Santo e pecadora porque constituída por homens e mulheres. Assim sendo o principal problema da Igreja são as limitações humanas dos seus membros, o seu pecado, que põe em causa a verdadeira vivência da Igreja.
Julgo que nos deve preocupar a situação da família que perde as suas bases e raízes cristãs, tal como a forma como acolhemos as novas famílias que provêm de segundas núpcias.
Outra dificuldade são os ritmos das nossas comunidades. Se a alguns anos atrás a vivência eclesial das várias paróquias do Pico era muito equilibrada, hoje por vezes notamos um grande desfasamento de paróquia para paróquia, o que exige um trabalho pastoral diferenciado, o que nem sempre é fácil de concretizar.
A catequese não leva à vida e à vivência da fé, a juventude afasta-se da Igreja e muitos cristãos começam a procurar a Igreja como uma “estação de serviço” de sacramentos e de festas, celebrando os sacramentos unicamente como eventos sociais, deturpando deste modo o seu verdadeiro sentido, o que demonstra um grande défice na formação cristã. A catequese não está a formar cristãos. Continua-se a ser cristão por tradição e não por convicção.
Quais os desafios que se colocam à Igreja no Pico e nos Açores?
Falta à Igreja do Pico uma formação de base, ou seja, uma catequese para todos os cristãos, para que sejamos cristãos esclarecidos, convictos e actuantes na Igreja e na sociedade.
Precisamos urgentemente de promover a todos os níveis da Igreja a tão apregoada “Nova Evangelização” de que falava o Papa João Paulo II.
Para que tal seja uma realidade não basta a boa vontade de alguns. Todos aqueles que querem ser Igreja têm que se comprometer por esta “Nova Evangelização”, começando na família, a “Igreja Doméstica” de que fala o Concílio Vaticano II, através de um testemunho coerente da vivência da fé, entendendo-se depois à participação nos diversos movimentos de apostolado, onde através de uma formação adequada e permanente, em todas as etapas da vida de cada cristão, se solidifica naturalmente a vivência cristã e eclesial, tal como Jesus nos propõe nos evangelhos.
Para que possamos acolher e viver a proposta de Jesus, temos que conhecê-la não na superficialidade, mas sim na sua profundidade. Não podemos acolher e viver aquilo que desconhecemos. É aqui que entra a “Nova Evangelização” para a qual todos os cristãos se devem predispor. Urge conhecer a proposta de Jesus na sua profundidade, para seremos cristãos mais esclarecidos, mais comprometidos, mais dinâmicos e mais actuantes, construtores de uma Igreja viva ao jeito de Jesus.
Gostaria de completar a noticia esclarecendo os leitores sobre a substituição do padre José Carlos na reitoria do Santuário de São Mateus.
Confirma-se a substituição?
Com a devida autorização do Senhor Bispo, informo que se confirma a substituição.
Quais as razões da substituição?
Os párocos são colocados numa paróquia por uma provisão de seis anos. Terminado esse tempo o Bispo Diocesano pode renovar a provisão ou nomear o padre para outro oficio.
Neste caso concreto o pároco de São Mateus terminou em Setembro último a sua terceira provisão naquela paróquia. O Prelado Diocesano entendeu nomear outro pároco, por sugestão do Colégio de Consultores, que ajuda e aconselha o Bispo no governo da Diocese, nomeadamente nas colocações dos sacerdotes.
Por tal motivo é que o pároco de São Mateus foi recentemente nomeado Administrador Paroquial, conduzindo a paróquia até à nomeação do novo pároco. Segundo o Código de Direito Canónico, cânone 539, o Administrador Paroquial é o sacerdote nomeado pelo Bispo, na falta ou impedimento do pároco, para governo Pastoral da Paróquia.
Quem o vai substituir?
Conforme me informou o Senhor Bispo, e que me autorizou a revelar, serei nomeado como pároco de São Mateus e Reitor do Santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso, acumulando a paroquiação na paróquia Matriz de Santa Maria Madalena. Por tal motivo deixarei as paróquias da Criação Velha e da Candelária, que serão entregues ao Diácono André Resendes, que desde Setembro último me foi dado como meu auxiliar nas referidas paróquias e que depois de ordenado presbítero, em Dezembro próximo, tomará posse como pároco das mesmas.
In «Ilha Maior»
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