por Zulmiro Sarmento, em 21.07.09
Não é apenas um tempo de férias. É também, direi mesmo sobretudo, um tempo de festa, que atravessa lugares, aldeias, vilas e cidades
Lembrar o rei David a dançar diante da Arca da Aliança num tempo em que tornámos demasiado secos quase todos os gestos do nosso convívio pode parecer provocador. Mas importa lembrar sempre e o mais possível que a alegria da presença de Deus nas nossas vidas, contadas uma a uma até à consciência de comunidade, exige gestos de verdadeira exuberância, não necessariamente talhados para um qualquer espectáculo.
Muitas vezes me interrogo sobre o testemunho que damos deste Deus em quem pomos todas as nossas esperanças. Fazemos anamnese de uma história de amor que afirmamos extremo, até à Páscoa da cruz, encontramos as palavras certas para dizer e ouvir, mas o que são os gestos que molduram tantos quotidianos sem escrutínio? Que diz a nossa vida, também a comunitária, do Deus em que acreditamos? Talvez muito pouco, bastas vezes. E é pena.
Aproxima-se a ritmo acelerado um compasso que marca, mesmo na contemporaneidade, a nossa forma de estar em comunidade, independentemente das vivências e das partilhas. Não é apenas um tempo de férias. É também, direi mesmo sobretudo, um tempo de festa, que atravessa lugares, aldeias, vilas e cidades. Lembram-se com particular empenho os protectores que, há menos ou mais tempo, os nossos maiores escolheram como luminares do seu trajecto, que é também o nosso, de muitas formas. E sucedem-se, em intensidade, ancestrais demonstrações de afecto. Mesmo com direito a desvios e a excessos!
No dia que a festa tutelar de cada comunidade fizer transbordar dos corações uma alegria fundada no Deus de todas as bênçãos, feita com inteireza, cristalina e irradiadora, será a própria Graça a querer dançar diante da Arca da Aliança, irmanando-se uma vez mais com o David que transportamos no peito com a aspiração da eternidade. Não nos envergonhemos de nos revelar aos olhos dos que nos comungam ébrios de um Deus assim! Vale a pena ensaiar tais passos.
João Soalheiro
Agência ECCLESIA
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