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Um Ano Sacerdotal

por Zulmiro Sarmento, em 13.06.09

 

O Ano Sacerdotal é, antes de mais, um ano para que toda a Igreja possa olhar a realidade daquele sacerdócio que participa do sacerdócio de Cristo cabeça, pastor e servo. Olhar e compreender o dom que é para si e para o mundo. Dom que, por isso, esta Igreja reza e suplica de Deus para que continuamente se reavive em todos os sacerdotes da Igreja. E para que encontre a disponibilidade e generosidade de corações que se disponham a ser sacramento do sacerdócio eterno de Cristo, em cada geração.
Deste Cristo, o sacerdote recebe o seu código genético, ele não é do mundo, por isso, não é atribuição do mundo definir segundo critérios e concepções horizontais a sua identidade. Nem é fruto de condições sócio-culturais ou religiosas favoráveis, é puro dom de Deus concedido antes de mais e sobretudo à comunidade cristã para a edificação da Igreja (S. Tomás).
Mas é também um dom para agradecer. "Ele foi ordenado para actuar em nome de Cristo-Cabeça, para ajudar os irmãos a entrar na vida nova aberta por Cristo, para lhes dispensar os seus mistérios: a Palavra, o perdão e o Pão da Vida, para os reunir no seu Corpo e ajudá-los a formar-se interiormente, para viver e actuar segundo o desígnio salvífico de Deus" (João Paulo II). E agradecer mesmo quando isto não é possível porque as circunstâncias são adversas, a simples presença, o testemunho silencioso de fé em ambientes indiferentes ou não cristãos...
Porque o sacerdócio ministerial é um sinal do amor salvador que o Senhor Jesus dedica à Igreja, uma comunidade que não pode criá-lo antes deve estar disposta a aceitá-lo, porque o recebe do Espírito, não pode, senão obedecer ao mandato de Jesus: Rogai ao Senhor da Messe para que envie trabalhadores para a sua messe (Mt 9,38)
Será ainda um ano naturalmente importante para os padres, para que reavivam o dom que lhes foi conferido pela imposição das mãos, cuidando-o em si próprios. "Diariamente somos chamados à conversão. Mas, neste Ano, o somos de um modo todo particular, juntamente com todos os que receberam o dom da ordenação sacerdotal. Para que conversão? Converter-se para ser sempre mais autenticamente aquilo que somos. Conversão à nossa identidade eclesial para que o ministério seja totalmente consequente com tal identidade, a fim de que uma renovada e gozosa consciência do nosso "ser" determine o nosso "agir", ou melhor, ofereçamos espaço a Cristo Bom Pastor, a fim de que viva em nós e actue através de nós" (D. Mauro Piacenza) Não apenas a partir das perspectivas dos instrumentos e instituições eclesiais de comunhão mas a partir dos processos reais pessoais da própria comunhão.
Referência incontornável deste Ano Sacerdotal será sem dúvida o Santo Cura d'Ars, de quem se celebra século e meio sobre a sua morte. Por si só, pastor sem igual -como o definiu João Paulo II- cumprimento pleno do ministério sacerdotal e da santidade do ministro, poderia constituir todo um programa para este ano. João Maria Vianney morreu em Ars a 4 de Agosto de 1859, depois de quarenta anos de entrega abnegada, quando contava setenta e três anos. Quando chegou a Ars encontrou um povo esquecido da arquidiocese de Lyon, que é actualmente de Belley. No final da sua vida, ali acorriam pessoas de toda França, e a sua fama de santidade, após a sua morte, cedo chamou a atenção da Igreja Universal. São Pio X beatificou-o em 1905, Pio XI canonizou-o em 1925 e em 1929 declarou-o patrono dos párocos de todo mundo. "A sua paróquia que apenas tinha 230 pessoas, com a sua chegada, mudará profundamente. Recordamos que naquele povo havia muita indiferença e muito pouca prática religiosa entre os homens. O bispo tinha advertido João Maria Vianney: "Não há muito amor a Deus nesta paróquia, tu o porás". Mas muito cedo, inclusive de fora do seu povo, o Cura veio a ser o pastor de uma multidão que chega de toda a região, de diversas partes de França e de outros países. Fala-se de 80.000 pessoas no ano 1858. Têm que esperar às vezes muitos dias para o poder ver e se confessar. O que atrai não é certamente a curiosidade nem a própria reputação justificada, pelos milagres e curas extraordinárias, que o santo procurava ocultar. É sobretudo o pressentimento de encontrar um santo, surpreendente pela sua penitência, tão familiar com Deus na oração, que sobressai pela sua paz e a sua humildade no meio do sucesso junto do povo, e sobretudo tão intuitivo para corresponder às disposições interiores das almas e libertá-las dos seus pesos, particularmente no confessionário." (João Paulo II)
A par deste acompanhamento espiritual e da confissão, ocupa particular destaque na sua vida a Eucaristia. À sua preparação e celebração devotava uma intensidade que em todos causava fascínio, compreendia que cuidava da obra de Deus, dom mais excelente a que nada se podia comparar. "A comunhão e o santo sacrifício da Missa são os dois actos mais eficazes para conseguir a transformação dos corações", dizia. Aí recobra permanentemente alegria e ardor para o seu ministério.
A vida e a personalidade do Cura de Ars são, em todos os aspectos um exemplo luminoso e atraente: para as comunidades cristãs como para a sociedade perceber o que é realmente importante no ministério do padre e no seu serviço poderá passar certamente pelo conhecimento deste homem de Deus e da Igreja; para os que se preparam para o sacerdócio compreendendo bem o seu testemunho de vida e a sua vontade obstinada em preparar-se para ser sacerdote; para os próprios padres sê-lo-á igualmente porquanto encontrem nele modelo de vida e de serviço sacerdotal. Inspiração para manter vivo em si o dom inefável do seu próprio sacerdócio. Precisam da sua intercessão para fortalecer numa resposta crescente ao amor de Deus, confiantes na força do dom recebido no dia da ordenação que renova cada dia a vida espiritual e faz enfrentar com renovada criatividade a tarefa de gerar Cristo em si próprio e nos outros.
As comunidades eclesiais começam a dar-se conta que na figura do padre se joga uma parte muito importante e decisiva da igreja. O sacerdócio ministerial é indispensável para a existência de uma comunidade eclesial (Bento XVI) e por consequência para garantir a identidade e a autenticidade e para gerar e regenerar a comunidade cristã.
Seja este Ano Sacerdotal ocasião para compreender na fidelidade de Cristo o caminho para a fidelidade do sacerdote , de cada baptizado e de toda a Igreja.
Pe. Jorge Madureira,
Secretário Comissão Episcopal Vocações e Ministérios
 
Agência ECCLESIA

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