"Toda a gente sabe o que é que eu penso acerca disso", afirmou D. Januário Torgal Ferreira à Agência Lusa, quando questionado sobre a sua discordância em relação ao Papa Bento XVI, que em África reiterou ser contra a utilização do preservativo, nomeadamente na luta contra a Sida.
"É claro que há circunstâncias, e do ponto de vista médico não tenho qualquer dúvida, em que proibir o preservativo é consentir na morte de muitas pessoas", acrescentou, considerando que, neste sentido, "as pessoas que estão aconselhar o Papa deveriam ser mais cultas".
D.Januário Torgal Ferreira diz-se, no entanto, muito chocado "pela leitura reducionista" e com a obsessão da comunicação social por alguns temas.
"Expliquem-me, por exemplo, porque é que os senhores jornalistas não deram destaque ao apelo do Papa contra a corrupção, lavagens de dinheiro, guerra e outras poucas-vergonhas em África?", questionou, salientando o destaque que os órgãos de comunicação social deram à proibição do uso do preservativo pelo Papa ao chegar a África, enquanto que os jornais de hoje falam da denúncia que Bento XVI fez acerca da corrupção no continente "apenas em duas ou três linhas".
O Bispo considerou que os jornalistas não souberam aproveitar "o poder que o Papa tem para falar de temas como a corrupção, interesses das grandes potências, esclavagismo, guerra e neocapitalismo de chefes de Estado".
"É altura para dizer que alguns jornalistas estão também muito mal aconselhados", considerou, salientando que "é caso para dizer também que o jogo está empatado 0-0", entre o jornalismo no caso da denúncia de corrupção e o Vaticano na proibição do preservativo.
"Quem é que levanta a voz a defender a justiça social para África? Nós portugueses fomos muito culpados da pouca-vergonha que existe em África e continuamos a sê-lo com o nosso silêncio", considerou.
As declarações de D. Januário Torgal Ferreira à Agência Lusa seguem-se a uma entrevista publicada hoje pelo Açoriano Oriental, em que o bispo das Forças Armadas considera que Bento XVI devia ser melhor aconselhado quando se refere ao uso do preservativo no combate à sida e ainda que a actual crise "é o resultado de uma sociedade de corruptos, onde há tubarões".
"Rouba quanto mais puderes, para mais subires na vida... Isso é o que acontece! Acho que é um insulto à gente que nada tem, o tipo de vida que determinadas classes levam e determinado tipo de imprensa que é o espelho do que há de mais medíocre e miserável na sociedade portuguesa!", afirmou D.Januário ao jornal açoriano, destacando que é contra a insegurança e a violência e não pode concordar "que os salários não aumentem".
Agência Lusa