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A. Precisamos de muito tempo para acordar
A Quaresma tornou-se um tempo demorado porque o nosso coração nem sempre está acordado. Precisamos de um longo despertar para a nossa vida transformar. Por isso, necessitamos de um prolongado caminho de purificação porque ainda estamos muito distantes de Deus e do nosso irmão.
No século III, começou a observar-se o jejum, embora de um modo menos rigoroso, também nos restantes dias da semana anterior à Páscoa. Até Quinta-Feira Santa, podia comer-se pão e beber-se alguma água. Na Sexta-Feira Santa e no Sábado Santo, o jejum era total.
B. Jejum frequente e penitência constante
3. Como sabemos, este era um tempo em que o jejum era frequente e a penitência era constante. Estávamos numa época em que os cristãos viviam tão entranhadamente a vida cristã — a que nem faltava o martírio —, que não havia necessidade de acrescentar um tempo especial para corresponder ao apelo à conversão. Todo o tempo era considerado especial. Nem a iminência da morte amortecia a eminência da fé.
Foi após a Paz de Constantino, no século IV, que as perseguições terminaram e que parece ter afrouxado um pouco a radicalidade na vivência do Evangelho. Então, a Igreja achou por bem introduzir um tempo para ajudar os cristãos a promoverem uma vida de maior coerência com o Baptismo.
Entre o Ocidente e o Oriente, havia ligeiras oscilações na contagem dos dias da Quaresma. No Ocidente, a Quaresma durava seis semanas, o que dava um total de 42 dias. Acontece que, aos domingos, os cristãos estavam isentos de jejuar, embora, na prática, observassem um jejum um pouco menos rigoroso que nos outros dias. Como havia seis domingos antes da Páscoa, restavam, assim, 36 dias de penitência.
C. Quantos dias de Quaresma, afinal?
5. Foi no século VII que se acrescentaram mais quatro dias. A Quaresma começou a ter o seu início na quarta-feira anterior ao primeiro Domingo. Terá sido o Papa Urbano II que, em 1099, determinou que essa quarta-feira seria chamada «Quarta-Feira de Cinzas».
É por isso que, se repararmos bem, entre a Quarta-Feira de Cinzas e o Domingo da Páscoa da Ressurreição, contamos 46 dias. Descontando os seis domingos, ficamos com 40. Uma vez que os domingos não eram dias de jejum tão rigoroso, havia até quem usasse de um preciosismo extremo ao dizer «domingos “na” Quaresma» e não «domingos “da” Quaresma». Actualmente, a Quaresma termina na Quinta-Feira Santa. Com a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, na tarde dessa mesma Quinta-Feira, inicia-se o denominado «Tríduo Pascal», que termina com as Vésperas do Domingo da Páscoa.
Entretanto, as normas foram mudando. O peixe passou a ser aceite e a abstinência de carne circunscreveu-se apenas à Quarta-Feira de Cinzas e às sextas-feiras. Do mesmo modo, os produtos lácteos começaram a ser permitidos. Actualmente, o jejum e a abstinência estão preceituados somente para a Quarta-Feira de Cinzas e para a Sexta-Feira Santa. A abstinência deve ser observada em todas as sextas-feiras.
D. Porquê 40 dias?
7. O número 40 tem uma força simbólica muito grande. Na verdade, 40 foram os dias e as noites do dilúvio (cf. Gén 7, 4-12); 40 foram os dias de jejum de Moisés no Sinai (cf. Ex. 34, 28); 40 foram os anos de peregrinação do povo eleito pelo deserto (cf. Ex 16. 35); 40 foram os dias de jejum do Elias (cf. 1Rs 19, 8); e, como sabemos, 40 foram os dias de tentação e jejum de Jesus no deserto (cf. Mt 4, 2).
Santo Agostinho viu no número 40 um símbolo do tempo deste mundo. Trata-se, essencialmente, de um tempo de preparação para algo novo que vai acontecer. Nem Jesus Se privou de um tempo de preparação para a Sua pregação e ministério. Daí que o mesmo Santo Agostinho tenha estabelecido um paralelismo entre os 40 dias antes da Páscoa e os 50 dias depois da Páscoa, que simbolizam a novidade da ressurreição. É para esta vida nova que nos preparamos antes: pela oração, pela penitência e pela partilha.
Assim, propunha que, a partir de hoje, procurássemos mais interioridade, mais participação na Santa Missa, mais procura da Confissão, mais despojamento e mais atenção aos outros. Ao mesmo tempo, era bom que começasse a haver menos distracção, menos murmuração, menos poluição, menos consumo e menos velocidade.
E. Propostas muito concretas
9. É verdade que a nossa vida já está muito ocupada. Mas onde há generosidade, não falta iniciativa. Assim sendo, permitia-me fazer-vos mais cinco sugestões muito simples: cinco minutos por dia para visitar o Santíssimo Sacramento; cinco minutos por dia de meditação; leitura de cinco versículos por dia da Bíblia; participação na Via-Sacra e visita aos doentes, idosos e abandonados.
Permiti que insista particularmente no Sacramento da Reconciliação. O objectivo é precisamente para que nos voltemos a conciliar com a vida nova recebida no Baptismo. Se o pecado é grande, a graça que vence o pecado é muito maior. Se o assédio do pecado é contínuo, a presença da graça é ainda mais constante. A Confissão é, para usar uma expressão da Liturgia, uma «segunda tábua de salvação depois do Baptismo». Com muita propriedade, os escritores cristãos antigos chamavam-lhe «Baptismo laborioso». A Confissão devolve a graça que o Baptismo nos oferece e que o nosso pecado obscurece.
Deixemos que a bondade brilhe, que a paz reluza, que a justiça floresça e que o amor vença. O tempo de Deus chegou. O tempo de Deus chegou. Convertamo-nos à Boa Nova!
Do blogue Paz na Verdade