Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A. De Sicar para Siloé
Esta piscina situa-se num local que fazia parte da antiga Jerusalém, a oeste do vale do Cédron e da antiga Cidade de David. Tratava-se de um receptáculo para as águas da fonte de Giom, que eram conduzidas por dois aquedutos: um canal da Idade de Bronze, descoberto em 1867, e o chamado túnel de Ezequias, construído no tempo rei Ezequias (700 a.C.) Isaías menciona as águas desta piscina (cf. Is 8, 6; 22, 9).
O que se passou com estas águas é figura do que se passa com as águas do Baptismo. São águas que trazem luz: a luz de Jesus, a luz que é Jesus. Ante a ameaça da noite (cf. Jo 9, 4), Jesus apresenta-se como luz: «Eu sou a luz do mundo» (Jo 9, 5).
B. Só em Jesus encontramos luz
3. Esta fórmula de revelação —«Eu sou» — assume um carácter identitário. Jesus é sempre luz. E tendo em conta que nós somos Seus discípulos, então também nós somos chamados a ser luz. É sumamente curioso verificar que Jesus diz dos discípulos exactamente o mesmo que diz de Si próprio: «Eu sou a luz de mundo» (Jo 9, 5); «Vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 14).
A luz dos discípulos não é uma luz própria, mas derivada. A luz que está nos discípulos é a luz de Jesus. No Ritual do Baptismo, a luz do novo cristão é acesa na luz de Cristo, figurada no Círio Pascal. É a luz de Cristo que passa, assim, para o cristão. Pode parecer uma luz pequena (como a luz da vela que então se acende), mas é uma luz destinada a crescer e a iluminar o mundo inteiro.
De facto, ser baptizado é ser «iluminado». Os baptizados são «iluminados» («photismoi») não por uma luz própria, mas pela luz de Cristo crucificado e ressuscitado. Se, depois da celebração do Baptismo, recaímos nas trevas, temos sempre novas oportunidades de nos reaproximar da luz. O Sacramento da Reconciliação devolve-nos a luz quando dela nos afastamos pelo pecado.
C. A cegueira de quem olha, mas não vê
5. Todavia, é preciso ter presente que as trevas têm uma força muito grande. A sua resistência à luz é muito forte. São Paulo diz para nos comportarmos como filhos da luz (cf. 5, 8) e para não tomarmos parte nas obras das trevas (cf. Ef 5, 11). Temos de contar, porém, com o contínuo assédio das trevas.
Os adversários de Jesus corporizam a obstinada resistência das trevas à luz. Há sempre quem não queira ver, mesmo quando a luz está a aparecer. O maior pecado é não querer ver quando os olhos estão abertos: «Uma vez que dizeis “nós vemos”, o vosso pecado permanece» (Jo 9, 41).
Se o olhar exterior é insuficiente, sobrevirá algum olhar interior que supra essa insuficiência? Haverá olhos por dentro em condições de fornecer o que os olhos de fora se mostram incapazes de oferecer? O referido Saint-Exupéry assegurava que «só se vê bem com o coração». Não espanta, por isso, que Bento XVI tenha defendido que o programa do cristão é «um coração que vê». De resto, já Santo Agostinho se apercebera de que Deus «só pode ser visto com o coração». Foi para poder ser visto também com os olhos que o Verbo Se fez carne.
D. «Crisma» e «Cristo»
7. Os adversários de Jesus não se deixaram tocar pela luz. O cego começou a ver porque foi tocado pela luz que é Jesus. Acreditar é iluminar, é passar a ver pelos olhos de Cristo. Na fé, aquele homem viu a luz ao ver Jesus. Por isso, deixou de ser cego. «Acreditas no Filho do Homem?» (Jo 9, 35) — pergunta Jesus, que acaba por responder: «Tu já O viste; é aquele que está a falar contigo» (Jo 9, 37). É interessante notar como Jesus utiliza praticamente a mesma fórmula que usara com a Samaritana, que, afinal, também esperava o Messias: «Sou Eu, que estou a falar contigo» (Jo 4, 26).
Tal como a Samaritana, também este antigo cego está «crismado». Ou seja, também ele está «ungido» pelo «Ungido». Nunca é demais recordar que «crisma» e «Cristo» têm igual significado: «crisma» significa «unção» e «Cristo» significa «ungido». No Baptismo, somos «crismados» por Cristo. Ser «cristão» é ser «crismado» (ou ungido) por Cristo.
Já agora, esta escolha não é feita segundo os critérios humanos que costumam privilegiar os grandes. Deus, sem dar qualquer explicação, não escolhe o filho mais velho de Jessé. Pelo contrário, escolhe o mais novo, em quem ninguém apostava. Deus não olha para belos aspectos, para altas estaturas ou para outros géneros de aparências (cf. 1Sam 16, 7). Deus tem outros critérios. Deixemo-nos, então, guiar por este pastor, que nada nos deixa faltar (cf. Sam 23, 1).
E. A Quaresma é um tempo sério, não é um tempo triste
9. É neste sentido que, sendo um tempo sério, a Quaresma não é um tempo triste. Pelo contrário, é um tempo de muita alegria. Haverá alegria maior do que deixar-se guiar por Cristo? Aliás, este Domingo assinala a alegria da Quaresma. Tal como sucede no Terceiro Domingo do Advento, o Quarto Domingo da Quaresma é conhecido como o «Domingo da Alegria».
Neste caso, recebe o nome de «Domingo Laetare», imperativo do verbo latino «laetor» que significa «alegrar-se». Portanto, «laetare quer dizer «alegra-te». É assim que começa a antífona de entrada da Santa Missa de hoje: «Alegra-te, Jerusalém!» (Is 66, 10).
Que cada um de nós se alegre, então. Que cada um de nós se alegre por saber que Deus nos visita, que Deus nos acolhe. Haverá fortuna maior? Haverá sequer fortuna igual?
Do blogue Paz na Verdade
A. Uma bela — e profunda — catequese baptismal
O cansaço de Jesus é o sinal da insistência de Jesus. Ele derruba fronteiras. Apesar de as relações dos judeus com os samaritanos não serem as mais amistosas, Ele não fica aprisionado por quaisquer barreiras. Jesus pede água com vontade de oferecer água viva. Eis, portanto, à nossa frente uma bela — e profunda — catequese baptismal.
Nunca é demais insistir. O Baptismo é um sacramento genuinamente pascal e a Páscoa — pode dizer-se — é um acontecimento verdadeiramente baptismal. De facto, no Baptismo existe uma «peshah», isto é, uma passagem, uma páscoa. No Baptismo, também nós passamos da morte à vida. Na Páscoa, Cristo vence a morte que é o pecado. Na Páscoa, Cristo dá a vida para que nós tenhamos vida (cf. Jo 10, 10).
B. Estamos sempre a ser «escrutinados»
3. Como se depreende da própria palavra, com os escrutínios pretende-se conferir as disposições dos que se preparam para o Baptismo. É nesse sentido que, ao longo de três domingos, a comunidade ajuda os catecúmenos a «escrutinar» a sua debilidade e, ao mesmo tempo, a sua disponibilidade para receber a vida nova de Cristo.
A finalidade destes escrutínios é, portanto, purificar os corações, conseguir um sério conhecimento de si mesmo e promover a vontade de seguir, fielmente, a Cristo. Estes escrutínios são feitos aos que são baptizados na idade adulta e às crianças em idade escolar que ainda não estão baptizadas.
Já agora, não é claro se Sicar era uma localidade perto de Siquém ou se seria a própria Siquém. O texto simplesmente chama a atenção para um local perto da terra que Jacob deu a seu filho José.
C. Onde fica o «poço de Jacob»?
5. O poço-fonte de Jacob foi enquadrado dentro de várias igrejas construídas naquele lugar ao longo do tempo. Até 330, costumava ser identificado como o sítio onde Jesus conversou com a Samaritana. Provavelmente, foi utilizado para a celebração de baptismos cristãos.Por volta de 384, foi construída uma igreja cruciforme, que terá sido destruída durante as revoltas de 484 ou 529. Mais tarde, foi reconstruída por Justiniano. Esta segunda igreja ainda estava de pé em 720, e, possivelmente, no início do século IX.
É quase certo que esta nova igreja também terá entrado em ruínas pois, no início do século XII, os peregrinos mencionam o poço sem mencionar qualquer igreja. Mas, pouco tempo depois, já se refere uma outra igreja recém-construída. Esta igreja parece ter sido destruída após a vitória de Saladino sobre os cruzados em 1187.
O poço-fonte de Jacob já foi restaurado e uma nova igreja foi construída de acordo com o antigo plano da igreja da época dos Cruzados, abrigando o poço numa cripta. Este conjunto está situado a 76 metros de Tell Balata, na parte oriental da cidade de Nablus.
D. Era preciso passar por este lugar
7. Como muito bem nota D. António Couto, Jesus quis mesmo passar por este lugar. De facto, não estamos perante um percurso habitual entre a Judeia e a Galileia. Quem, naquele tempo, fazia essa viagem, evitava passar pela Samaria. Primeiro, porque a estrada era montanhosa e, depois, porque eram as relações entre judeus e samaritanos estavam longe de ser as melhores.
A viagem habitual fazia-se de Jerusalém para Jericó, atravessando depois o Jordão para Oriente. Seguia-se pelo Além-Jordão, na actual Jordânia, para voltar a atravessar o Jordão, na direcção do Ocidente. Chegava-se, assim, à Galileia. É por isso que, se São João coloca Jesus a percorrer o caminho montanhoso da Samaria, é porque estamos perante uma opção deliberada. De resto, o versículo 4 deste capítulo 4 observa que «era preciso atravessar a Samaria».
Tudo isto acontece ao meio-dia, quando a luz ilumina a terra com o máximo brilho. Jesus é, pois, a máxima luz para o mundo. Trata-se de uma luz que acende no mundo a Lei Nova do Amor.
E. Jesus «pede de beber para dar de beber»
9. Era preciso vir aqui porque o que aqui se passa tem uma força simbólica muito grande. Esta mulher samaritana é, segundo Santo Agostinho, figura da Igreja na sua universalidade. A Igreja não é só de um povo; é para todos os povos. É a toda a Igreja, figurada nesta mulher, que Jesus pede água para oferecer água. É a toda a Igreja, figurada nesta mulher, que Jesus «pede de beber para dar de beber» (Santo Agostinho).
«Se tu conhecesses o dom de Deus», diz Jesus (Jo 4, 10). Qual é este dom? Como Santo Agostinho percebeu, «o dom de Deus é o Espírito Santo». Aliás, o Espírito Santo começa a entrar na vida desta mulher, que vai entendendo o que Jesus lhe diz, o que Jesus lhe desvenda. Os cinco maridos que ela teve (cf. Jo 4, 18) são talvez uma alusão subtil aos cinco deuses dos samaritanos de que se fala no segundo Livro dos Reis (cf. 2 Rs 17, 24-41).
Eis o que importa fazer: deixar os «cântaros» das nossas coisas e dizer que encontramos Jesus. Quantos não estarão à espera de um anúncio assim! Não fechemos, então, o nosso coração a Deus (cf. Sal 95, 7). Escutemos sempre a Sua voz. E a vida será bem diferente para todos nós!
Do blogue Paz na Verdade
A. O mais vivido é (também) o mais sofrido
Muitas vezes, já pouco caso fazemos de o ouvir e de o anunciar. Que disposição teremos para sofrer por ele? Que disponibilidade teremos para sofrer com quem sofre pelo Evangelho? Na era do conforto, gostamos de tudo o que é fácil. Mas esquecemos que o mais vivido acaba por ser sempre o mais sofrido. Quem não está disposto a sofrer será que está disposto a viver?
O paradoxo nunca nos deixa: nem como pessoas nem como discípulos de Cristo. É preciso dar a vida para ganhar a vida. É preciso morrer para ressuscitar. No fundo, é preciso olhar para a vida a partir de Deus e não a partir de nós. Será que estamos dispostos a deixar-nos desassossegar por Deus?
B. Falta-nos a ousadia de deixar antes de partir
3. Abraão é o primeiro grande modelo bíblico de quem se deixa desassossegar por Deus. É de Deus a voz que o manda deixar a sua terra e a sua família (cf. Gén 12, 1). Nem sequer lhe é dito para onde ir: «Parte para o país que Eu te indicar» (Gén 12, 1). O que vale é a garantia de Deus. A única segurança é a Palavra de Deus.
O nosso problema é que andamos, afanosamente, à procura de todo o género de seguranças. Falta-nos a ousadia de deixar antes de partir. Às vezes, até nos dispomos a partir, mas levando tudo o que é nosso. Esquecemos que Deus começa por pedir a Abraão que «deixe».
A Páscoa é a celebração da vida nova, da vida que corta com muito do nosso passado. Corta sobretudo com aquele passado que nos escraviza, que nos aprisiona. A novidade da Páscoa em nós tem o nome de Baptismo e o sobrenome de Reconciliação. Quando notamos que nos perdemos da novidade do Baptismo, temos o Sacramento da Reconciliação, essa «segunda tábua de salvação depois do Baptismo». Não desperdicemos mais aquilo que Deus põe à nossa disposição.
C. A que monte nos quer levar Jesus?
5. Deixemo-nos, então, «tomar» por Jesus como por Jesus se deixaram «tomar» Pedro, Tiago e João (cf. Mt 17, 1). Também hoje, Ele quer conduzir-nos a um alto monte (cf. Mt 17, 1). Como é sabido, no universo bíblico, o monte sempre foi um local teofânico de primeira grandeza. O monte nunca deixou de ser encarado como espaço privilegiado de encontro com Deus.
O monte é o lugar de revelação por excelência (cf. Ex, 3, 1.). É lá que ocorre o dom da Lei (cf. Ex 24, 12-18) e onde se experimenta a glória de Deus (cf. Ex 24, 16). No monte, parece que o Céu toca a Terra. É por isso que o monte é sagrado (cf. Ex 3, 14), uma vez que, nele, Deus convive com o homem (cf. Ex 20, 1-17; Mc 9, 2-10).
Não espanta, por isso, que o monte ocupe um lugar relevante na vida e na missão de Jesus. Foi no monte que, segundo São Mateus, Jesus fez o Seu sermão inaugural, conhecido precisamente como «Sermão da Montanha» (cf. Mt 5-7). Foi também no monte — num monte muito alto — que Jesus foi tentado (cf. Mt 4, 8). Era especialmente no monte que Jesus gostava de Se recolher em oração (cf. Mt 14, 23). Foi no monte que Jesus Se transfigurou (cf. Mt 17, 1ss). Foi no monte que Jesus multiplicou os pães e os peixes, mandando-os dividir pela multidão (cf. Jo 6, 3). E foi no monte que Jesus enviou os discípulos em missão (cf. Mt 28, 16-20).
D. A nuvem não deixa ver, mas não impede de ouvir
7. Jesus transfigura-Se para nos transfigurar. A Sua figura transforma-se para que toda a nossa vida se transforme. Há todo um envolvimento de Jesus com os discípulos e há todo um comprometimento dos discípulos com Jesus. Este envolvimento e este comprometimento não prescrevem nunca. Também para nós é bom estar com Jesus. Estar com Jesus transfigura a nossa vida e transforma a nossa história. Agora, já não contam os nossos planos; a partir de agora, só deve contar a vontade de Jesus.
Ele é o Messias anunciado pela Lei (figurada em Moisés) e pelos Profetas (representados por Elias). Ele é o novo Moisés, aquele que vai guiar o povo para a verdadeira libertação, não já pelas águas do Mar Vermelho, mas pelas águas do Baptismo. E Ele é o definitivo profeta, que transfigura o nosso ser e nos encaminha para a Verdade e para a Vida (cf. Jo 14, 6). Desta acção libertadora de Jesus irá nascer um novo homem e um novo povo. É com este homem e com este povo que, em Jesus, Deus vai fazer uma nova Aliança.
E o que se diz através da nuvem é uma afirmação determinante para a nossa fé e para a nossa vida. Jesus é o Filho, o Filho muito amado. É, pois, o Filho que devemos escutar. É o Filho que, depois de escutar, havemos de anunciar.
E. O evangelizador é indissociável do Evangelho
9. Evangelizar é — tão-somente — fazer isto: levar a todos Jesus Cristo. Tudo o resto, embora importante, do Evangelho fica sempre distante. É prioritário não esquecer que o evangelizador é indissociável do Evangelho. É natural que o primeiro impacto do alcance da missão nos faça cair. Os três apóstolos também caíram naquele monte, aqueles três apóstolos também se assustaram (cf. Mt 17, 6).
Mas, como aconteceu com eles, também nós somos tocados por Jesus. Também de nós Jesus Se aproxima para nos levantar e ajudar a vencer o medo. Também a nós Jesus ordena: «Levantai-vos e não temais» (Mt 17, 7). Jesus vem ter connosco ao chão e estende-nos sempre a Sua mão. Ele é o nosso aconchego; por isso, não tenhamos qualquer medo.
Deus oferece-nos o melhor que tem: o Seu próprio Filho. Se Deus dá o melhor por nós, como é que nós não havemos de dar o melhor a Deus?
Do blogue Paz na Verdade
A. Precisamos de muito tempo para acordar
A Quaresma tornou-se um tempo demorado porque o nosso coração nem sempre está acordado. Precisamos de um longo despertar para a nossa vida transformar. Por isso, necessitamos de um prolongado caminho de purificação porque ainda estamos muito distantes de Deus e do nosso irmão.
No século III, começou a observar-se o jejum, embora de um modo menos rigoroso, também nos restantes dias da semana anterior à Páscoa. Até Quinta-Feira Santa, podia comer-se pão e beber-se alguma água. Na Sexta-Feira Santa e no Sábado Santo, o jejum era total.
B. Jejum frequente e penitência constante
3. Como sabemos, este era um tempo em que o jejum era frequente e a penitência era constante. Estávamos numa época em que os cristãos viviam tão entranhadamente a vida cristã — a que nem faltava o martírio —, que não havia necessidade de acrescentar um tempo especial para corresponder ao apelo à conversão. Todo o tempo era considerado especial. Nem a iminência da morte amortecia a eminência da fé.
Foi após a Paz de Constantino, no século IV, que as perseguições terminaram e que parece ter afrouxado um pouco a radicalidade na vivência do Evangelho. Então, a Igreja achou por bem introduzir um tempo para ajudar os cristãos a promoverem uma vida de maior coerência com o Baptismo.
Entre o Ocidente e o Oriente, havia ligeiras oscilações na contagem dos dias da Quaresma. No Ocidente, a Quaresma durava seis semanas, o que dava um total de 42 dias. Acontece que, aos domingos, os cristãos estavam isentos de jejuar, embora, na prática, observassem um jejum um pouco menos rigoroso que nos outros dias. Como havia seis domingos antes da Páscoa, restavam, assim, 36 dias de penitência.
C. Quantos dias de Quaresma, afinal?
5. Foi no século VII que se acrescentaram mais quatro dias. A Quaresma começou a ter o seu início na quarta-feira anterior ao primeiro Domingo. Terá sido o Papa Urbano II que, em 1099, determinou que essa quarta-feira seria chamada «Quarta-Feira de Cinzas».
É por isso que, se repararmos bem, entre a Quarta-Feira de Cinzas e o Domingo da Páscoa da Ressurreição, contamos 46 dias. Descontando os seis domingos, ficamos com 40. Uma vez que os domingos não eram dias de jejum tão rigoroso, havia até quem usasse de um preciosismo extremo ao dizer «domingos “na” Quaresma» e não «domingos “da” Quaresma». Actualmente, a Quaresma termina na Quinta-Feira Santa. Com a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, na tarde dessa mesma Quinta-Feira, inicia-se o denominado «Tríduo Pascal», que termina com as Vésperas do Domingo da Páscoa.
Entretanto, as normas foram mudando. O peixe passou a ser aceite e a abstinência de carne circunscreveu-se apenas à Quarta-Feira de Cinzas e às sextas-feiras. Do mesmo modo, os produtos lácteos começaram a ser permitidos. Actualmente, o jejum e a abstinência estão preceituados somente para a Quarta-Feira de Cinzas e para a Sexta-Feira Santa. A abstinência deve ser observada em todas as sextas-feiras.
D. Porquê 40 dias?
7. O número 40 tem uma força simbólica muito grande. Na verdade, 40 foram os dias e as noites do dilúvio (cf. Gén 7, 4-12); 40 foram os dias de jejum de Moisés no Sinai (cf. Ex. 34, 28); 40 foram os anos de peregrinação do povo eleito pelo deserto (cf. Ex 16. 35); 40 foram os dias de jejum do Elias (cf. 1Rs 19, 8); e, como sabemos, 40 foram os dias de tentação e jejum de Jesus no deserto (cf. Mt 4, 2).
Santo Agostinho viu no número 40 um símbolo do tempo deste mundo. Trata-se, essencialmente, de um tempo de preparação para algo novo que vai acontecer. Nem Jesus Se privou de um tempo de preparação para a Sua pregação e ministério. Daí que o mesmo Santo Agostinho tenha estabelecido um paralelismo entre os 40 dias antes da Páscoa e os 50 dias depois da Páscoa, que simbolizam a novidade da ressurreição. É para esta vida nova que nos preparamos antes: pela oração, pela penitência e pela partilha.
Assim, propunha que, a partir de hoje, procurássemos mais interioridade, mais participação na Santa Missa, mais procura da Confissão, mais despojamento e mais atenção aos outros. Ao mesmo tempo, era bom que começasse a haver menos distracção, menos murmuração, menos poluição, menos consumo e menos velocidade.
E. Propostas muito concretas
9. É verdade que a nossa vida já está muito ocupada. Mas onde há generosidade, não falta iniciativa. Assim sendo, permitia-me fazer-vos mais cinco sugestões muito simples: cinco minutos por dia para visitar o Santíssimo Sacramento; cinco minutos por dia de meditação; leitura de cinco versículos por dia da Bíblia; participação na Via-Sacra e visita aos doentes, idosos e abandonados.
Permiti que insista particularmente no Sacramento da Reconciliação. O objectivo é precisamente para que nos voltemos a conciliar com a vida nova recebida no Baptismo. Se o pecado é grande, a graça que vence o pecado é muito maior. Se o assédio do pecado é contínuo, a presença da graça é ainda mais constante. A Confissão é, para usar uma expressão da Liturgia, uma «segunda tábua de salvação depois do Baptismo». Com muita propriedade, os escritores cristãos antigos chamavam-lhe «Baptismo laborioso». A Confissão devolve a graça que o Baptismo nos oferece e que o nosso pecado obscurece.
Deixemos que a bondade brilhe, que a paz reluza, que a justiça floresça e que o amor vença. O tempo de Deus chegou. O tempo de Deus chegou. Convertamo-nos à Boa Nova!
Do blogue Paz na Verdade