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Após os desejos habituais, eis que nos preparamos para as amargas desilusões de sempre. À primeira vista, já nenhum ano parece ser novo. A própria palavra «novo» é bem antiga. Há quantos séculos não anda a humanidade a desenhar promessas de novidade?
O início de um ano sinaliza que a vida é um recomeço constante. Há 12 meses, também estávamos a começar um ano. Há 24 e há 36 meses, estávamos igualmente a começar outros anos. O que jamais podemos é desistir: não comecemos a desistir e nunca desistamos de começar.
B. Um dia para Jesus, um dia com Maria
Hoje ocorre a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Sendo Mãe de Cristo e sendo Cristo o Filho de Deus, os cristãos cedo perceberam que Maria era Mãe de Deus. Não era só Mãe do homem Jesus, mas Mãe do Filho de Deus que encarnou em Jesus. O Concílio de Éfeso oficializou esta doutrina em 431. S. Cirilo de Alexandria já tinha tornado tudo muito claro: «Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus e se a Virgem Santa O deu à luz, então Ela tornou-Se a Mãe de Deus».
C. A paz tem um nome: Jesus
5. Foi por Maria que Jesus veio até nós. Será sempre com Maria que nós iremos até Jesus. Aquela que nos dá Jesus é sempre a melhor condutora para irmos ao encontro de Jesus. Façamos, portanto, como os pastores. Como os pastores, corramos (cf. Lc 2, 16). Procuremos ir depressa, sem demora, ao encontro de Jesus. O encontro com Jesus terá de ser sempre a prioridade da nossa vida e o centro da missão na vida.
Em Jesus, oferecido por Maria, encontramos o que mais procuramos para nós e o que mais desejamos para o mundo: a paz. Jesus não é apenas o portador da paz. Ele próprio é a paz hipostasiada. Aliás, é assim que o Messias é descrito por Miqueias: «Ele será a paz»(Miq 5, 5). Isaías apresenta o Menino «que nos nasceu» como o «príncipe da paz»(Is 9, 6). Por sua vez, os salmos apontam os tempos messiânicos como sendo marcados por uma grande paz (cf. Sal 72, 7).
É neste sentido que o Concílio Vaticano II recorda que a paz é muito mais do que a mera ausência de guerra. De resto, a ausência de guerra é, muitas vezes, ocupada com a preparação para a guerra. A paz é mais do que «pax», que, segundo os antigos romanos, resultava da negociação entre as partes desavindas. As partes continuavam desavindas, apenas não entravam em conflito. Semelhante é o conceito veiculado pelo grego «eirene». A paz, para os gregos da antiguidade, é uma tentativa de harmonia entre forças contrárias. As forças permanecem contrárias, unicamente não avançam para o combate.
D. Para estar no mundo, a paz tem de estar em cada pessoa
7. O hebraico «shalom» contém muito mais. A paz, aqui, é anterior a qualquer esforço humano. É um dom de Deus que faz o homem sentir-se completo, integral. É por isso que a paz só estará no mundo se estiver em cada pessoa que há no mundo. Antes da negociação, é fundamental pugnar pela conversão à paz. Jesus, no Sermão da Montanha, considera felizes os construtores da paz. Só eles serão «chamados filhos de Deus»(Mt 5, 9).
Importa perceber que o primeiro sinal de Deus é a paz. Quando Deus vem à terra em forma de criança, os enviados celestes entoam um cântico que diz tudo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra» (Lc 2, 14). A paz desponta, assim, como o grande indicador de que Deus já está entre nós.
Para 2017, assinalando o 50º Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco propõe um tema de suma pertinência: «A não-violência como um estilo de política para a paz». É que, excelsando a paz, continuamos a lidar com focos de violência a cada instante. O Santo Padre mostra-se mesmo preocupado ante a possibilidade de estarmos a viver «uma terceira guerra mundial aos bocados». Em relação a uma tal terceira guerra mundial, ninguém a assume, mas todos a vamos sentindo. Sem paz, não há qualquer progresso. Só a paz abre as portas para «o verdadeiro progresso».
E. Antes de mais, importa atingir o zero
9. Afinal, ainda há aspectos onde nem sequer atingimos o «grau zero» de humanidade. Ainda há aspectos onde nos encontramos abaixo de zero. E abaixo de zero, tudo é negativo, tudo é negação. Como pode haver paz no mundo se no mundo não há justiça nem respeito pela dignidade humana? Temos, pois, um longo caminho a percorrer. Temos muito que fazer ou, como diria Sebastião da Gama, «temos muito que amar».
Diante dos que vaticinam o iminente fim da história, é importante começar com urgência uma história de re-humanização do mundo. Sim, porque a humanidade ainda consegue ser muito não-humana, muito desumana. Para re-humanizar o mundo, diria que duas são as coisas que têm de acabar já: a guerra e a fome. Consequentemente, duas têm de ser as coisas que importa assegurar desde já: paz para todos e pão para cada um. Para re-humanizar cada pessoa que há no mundo, duas são também as coisas a que urge pôr fim: egoísmo e violência. E duas serão igualmente as coisas que é imperioso introduzir: solidariedade e educação.
O novo ano pode nem ser melhor, mas nós podemos ser melhores no ano novo. Não é o ano novo que faz a vida nova. Só uma vida nova fará o ano novo. Só uma vida nova trará o tempo novo, o mundo novo!
Blogue Na Paz a Verdade