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A. Duas figuras, duas fontes de inspiração
Na missão, Marta e Maria não estão em contraposição. Ambas aparecem a servir Jesus. Entre as duas há um encadeamento fecundo e uma interacção formosa. Elas mostram que servir Jesus torna a vida mais ditosa. Mas a reacção do próprio Jesus sobre o essencial faz luz. É a oração que inspira a missão. Só há missão a partir da oração. Só quem escuta Jesus está em condições de anunciar Jesus. Só quem está aos pés de Jesus será capaz de oferecer os seus pés para anunciar Jesus.
Como é óbvio, Jesus não censura a hospitalidade. Como poderia tal acontecer se Jesus é a hospitalidade que o Pai tem para nos oferecer? O que Jesus faz é alertar para a urgência de encher a hospitalidade com a necessária — e indispensável — espiritualidade. A advertência é pertinente e a lição é perene: só é capaz de servir Jesus quem se habitua a estar com Jesus.
B. Marta não faz mal, mas Maria fez melhor
3. Basta olhar para o que Jesus fez com os Doze. Antes de tudo o mais, chamou-os para «andarem com Ele» (Mc 3, 14). A prioridade na missão é estar com Jesus, é andar na companhia de Jesus, é crescer na intimidade com Jesus.
Não espanta, por isso, que o maior empreendimento missionário de todos os tempos — a missão de Paulo — tenha começado por uma forte experiência de oração (cf. Act 13, 1ss). Foi, portanto, a oração que gerou a missão. A oração é a parteira da missão.
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Mas no limite deve prevalecer a conjugação. No fundo e como dizia São João Bosco, o cristão deve ser «orante como Maria e operante como Marta». Oração e acção, eis pois a súmula da missão
C. Só fazer por fazer, não
5. O fazer é muito importante. O doutor da lei que interpela Jesus sobre o acesso à vida eterna tem consciência da importância do fazer: «Que hei-de fazer para possuir a vida eterna?»(Lc 10, 25). E, depois de contar a parábola do Bom Samaritano, Jesus também responde dentro dofazer: «Faz tu também do mesmo modo» (Lc 10, 37).
Salta, deste modo, à vista que não se trata de um fazer pelo fazer. Trata-se, antes, de um fazer completamente habitado pelo ser, neste caso, por um ser habitado pela bondade e pela compaixão. Fazer pelo fazer não passa de obreirismo, de agitação, de frenesim. Só um fazer inundado pelo ser é portador de uma mensagem, de uma proposta, de uma interpelação, de um projecto de vida. Daí a advertência de João Paulo II quando, na «Novo Millennio Ineunte», realçava que o ser prevalece sobre o fazer. O fazer é chamado a ser umaepifania do ser.
Na missão, faz muita falta o estar. Desde logo, porque, como alertava Xavier Zubiri, «estar é ser em sentido forte». Só o estar é que enche o fazer. Para fazer chegar Jesus, é preciso estar cada vez mais com Jesus.
D. Não basta trabalhar para as pessoas, é preciso estar com as pessoas
7. Hoje em dia, temos o hábito de trabalhar muito para as pessoas, mas de estar pouco com as pessoas. Acontece que a hospitalidade não envolve apenas o fazer. Envolve, desde logo, o estar, o conviver, o escutar. Como pode trabalhar para Jesus quem não está habituado a escutar Jesus? Este é o ponto que condiciona e fragiliza a missão. Promovemos muitos eventos, mas falta promover o grande advento de Jesus na vida das pessoas.
Precisamos de nos acostumar mais à escuta, à atenção, ao cuidado. Não bastam os eventos que provocam muito impacto mas talvez pouco efeito. É necessário promover aquilo que deixa marcas nas pessoas: o hábito de estar com Jesus, escutando-O como Maria e servindo-O como Marta.
Sejamos, pois, hospitaleiros para com Jesus. Acolhamo-Lo na oração. Dediquemos mais tempo à oração. E disponhamo-nos para a missão, para esta bela aventura de levar o Evangelho a toda a parte e a toda a gente.
E. Nós somos a «companhia de Jesus»
9. A primeira leitura deste Domingo põe em destaque a hospitalidade de Abraão. Ele é o modelo da pessoa que está atento a quem passa, que partilha tudo o que tem com quem se atravessa no seu caminho e que encontra no hóspede que entra na sua tenda a figura do próprio Deus. Deus não pode deixar de recompensar quem assim procede.
Por sua vez, a segunda leitura apresenta-nos a figura de São Paulo, para quem Jesus Cristo é a referência suprema, à volta da qual se constrói toda a vida. Para São Paulo, o que é necessário é acolher Cristo e construir toda a vida à volta d’Ele. É isso que configura a experiência cristã. Por causa de Cristo, Paulo dispõe-se a tudo: a viver, a sofrer e até a morrer.
Que na Igreja haja, pois, muitas Martas e que não faltem Marias. Na nossa vida, reservemos um lugar para Marta e também um espaço para Maria. Sentemo-nos aos pés de Jesus (cf. Lc 10, 39) e ofereçamos os nossos pés para transportarJesus. De todas as formas, recebamos Jesus em nossa casa (cf. Lc 10, 38). Afinal, Jesus é da nossa família. Afinal, nós somos verdadeiramente a companhia de Jesus!