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A. O começo da Igreja no princípio do mundo
Refira-se, a propósito, que o Pentecostes já era um importante dia de festa para os judeus. Situada cinquenta dias após a Páscoa, era uma festa agrícola, em que se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo. Mais tarde, tornou-se também a festa da aliança, assinalando o dom da Lei no Sinai e a constituição do primeiro Povo de Deus. A partir de agora, o Pentecostes marca o começo da Igreja, novo Povo de Deus.
Todo o Antigo Testamento é uma longa e contínua preparação para o nascimento da Igreja: «A preparação longínqua da reunião do Povo de Deus começa com a vocação de Abraão, a quem Deus promete que será o pai de um grande povo. A preparação imediata tem o seu início com a eleição de Israel como povo de Deus».
B. Da Cruz ao Pentecostes
3. A vida e a missão de Cristo constituem o nascimento da Igreja. De que modo? Como observa o Concílio, «o Senhor Jesus deu origem a Sua Igreja pregando a Boa Nova».
A Igreja nasceu «do dom total de Cristo para nossa salvação, antecipado na instituição da Eucaristia e realizado na Cruz». O nascimento da Igreja é significado pelo sangue e pela água que saíram do lado aberto de Jesus crucificado. Retomando uma máxima dos primeiros tempos, o Concílio recorda que «foi do lado de Cristo adormecido na Cruz que nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja».
Concretizando, a Igreja nasce em Jesus e inicia a sua actividade com a vinda do Espírito enviado por Jesus. Não esqueçamos que, antes de morrer, Ele tinha garantido aos discípulos que «o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, vos ensinará todas as coisas, e recordar-vos-á tudo quanto vos tenho dito»(Jo 14, 26).
C. O templo e o tempo do Espírito
5. A Igreja é, por conseguinte, o templo e otempo do Espírito Santo. Como bem disse Sto. Ireneu de Lyon, o «Filho e o Espírito são como que “as duas mãos” pelas quais o Pai nos toca». Pelo Filho somos tocados de uma maneira mais visível, pelo Espírito Santo somos tocados de uma maneira mais invisível, o que não quer dizer que seja menos real.
Houve quem, como o célebre Joaquim de Fiori, intentasse estratificar a presença das pessoas divinas no mundo. Segundo ele, o Antigo Testamento era o tempo do Pai, o Novo Testamento era o tempo do Filho e a Igreja seria o tempo do Espírito Santo. Não foi, porém, aceite esta doutrina. Na Igreja, está efectivamente o Espírito Santo e, como não podia deixar de ser, estão também o Filho e o Pai. É na unidade do Espírito Santo que, como proclamamos na doxologia que finaliza a Oração Eucarística, chegamos ao Pai através do Filho, Jesus Cristo.
É por isso que Sto. Agostinho fala do «Cristo total» («Christus totus»), que tem Jesus como cabeça e cada um de nós como membros do Seu corpo. S. Paulo sustenta que cada um de nós faz parte do corpo de Cristo (cf. 1Cor 12, 27). O corpo é único: o corpo de Cristo. Os seus membros são muitos: todos nós, os baptizados.
D. O «laço» que nos «entrelaça»
7. Todos os membros deste corpo são diferentes: legítima e desejavelmente diferentes, aliás. A unidade entre eles é assegurada por Deus, por Cristo, pelo Espírito e pelo Baptismo. É S. Paulo quem no-lo recorda ao dizer que «há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo, um só Deus e Pai»(Ef 4, 5) e «um só Espírito»(1Cor 12, 13). Somos muitos e, sendo muitos, estamos unidos não em função das nossas afinidades, mas em razão da presença do mesmo Deus que nos une.
Isto significa que, quando não estamos unidos, é porque não estamos a ser verdadeiramente fiéis ao nosso Baptismo, ao Espírito que nele recebemos e a Jesus Cristo que nos conduz para a unidade. Com efeito, é Cristo que nos une e é no Seu Espírito que nos devemos deixar re+unir cada vez mais.
É o Espírito que inspira, é o Espírito que nos inspira para a missão, para os múltiplos — e surpreendentes — serviços da missão. Estes serviços são chamados «carismas», uma vez que resultam de dons suscitados pelo Espírito Santo. S. Paulo garante que os trabalhos da missão são muitos, «mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos»(1Cor 12, 6) com vista «ao bem comum»(1Cor 12, 7). A missão começa sempre na oração porque é na oração que se acolhe o sopro do Espírito. O grande empreendimento missionário de S. Paulo foi desencadeado por uma forte experiência de oração (cf. Act 13, 1-3).
E. O «vento» que abana e nunca abala
9. No dia de Pentecostes, os apóstolos estavam seguramente em oração (cf. Act 2, 1). O Espírito vem para animar e fortalecer os apóstolos. Não é em vão, de resto, que Espírito também é entendido, frequentemente, como sinónimo de ânimo, de força. O Espírito desce «por um rumor semelhante a forte rajada de vento»(Act 2, 2). O Espírito é, muitas vezes, apresentado como «ruah», como vento: às vezes, em forma de brisa, desta vez em forma de rajada.
Também hoje, precisamos de fortes rajadas de Espírito. Deixemos que o Espírito, também hoje, deposite em nós «línguas de fogo»(Act 2, 3) pelas quais possamos aquecer e iluminar as vidas de toda a gente. Precisamos, hoje também, de cristãos «cheios do Espírito Santo»(Act 2, 4) que não se cansem de anunciar «as maravilhas de Deus»(Act 2, 11). Precisamos, hoje também, de cristãos que exalem o perfume do Espírito e propaguem o sabor do Espírito. Precisamos, hoje também, de cristãos de escuta, de espera e de esperança, que ofereçam ao mundo as incontáveis surpresas de Deus.
Para que seja o Espírito a agir em nós, deixemo-nos habitar pelos Seus dons: pelo dom da fortaleza, pelo dom da sabedoria, pelo dom da ciência, pelo dom do conselho, pelo dom do entendimento, pelo dom da piedade e pelo dom do temor de Deus. Não fujamos da realidade do mundo, mas procuremos olhá-la e transformá-la a partir do Espírito Santo. O espiritual não é o que se opõe ao real. O espiritual é o que anima e transforma o real. É o Espírito Santo que nos transforma e nos renova. No Espírito Santo, nunca envelhecemos, mesmo que os anos passem. O Espírito é a novidade que torna tudo novo. O Espírito Santo é este vento que abana e nunca abala. Quem está no Espírito Santo nunca fica no chão mesmo que tenha caído. Escutemos a voz do Espírito. Porque o Espírito está sempre a soprar. O Espírito está sempre a surpreender-nos!
Do blogue THEOSFERA