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A. Deus não castiga, mas avisa
Deus não é vingativo, punitivo ou castigador. Deus não castiga, mas avisa. E aquilo que, quase sempre, interpretamos como castigos de Deus são, acima de tudo, avisos de Deus. São, portanto, situações que servem para excitar não a nossa revolta, mas a nossa conversão.
Jesus não está a pensar numa punição ou num castigo, tanto mais que aqueles que morreram não eram mais pecadores que os outros (cf. Lc 13, 2.4). Morreram aqueles como poderiam ter morrido outros. Jesus está a pensar no pecado, na resistência à conversão. Se não há conversão, há morte. Afinal, todos estamos expostos às investidas de um tirano ou à queda de uma torre. Afinal, todos estamos expostos ao pecado. Se não nos apercebemos do perigo e se não mudamos de vida, poderemos cair, tropeçar e morrer.
B. Sempre à espera dos nossos frutos
3. Jesus reforça o aviso e o convite à mudança através da (muito) sugestiva parábola da figueira. Trata-se de uma figueira estéril, de uma figueira que não produz, de uma figueira que não dá fruto (cf. Lc 13, 6). A nossa vida, muitas vezes, também é assim, como a figueira. A nossa vida também parece estéril, também parece que não dá frutos.
Quando tal acontece, o normal é que o dono mande abater uma árvore que se torna inútil. Afinal, o dono já tinha sido paciente, já tinha dado muitas oportunidades ao logo de três anos. Mas em nenhum momento, ao longo destes três anos, o dono encontrou o que esperava: frutos (cf. Lc 13, 7). Também Deus faz tudo por nós e passa tanto tempo sem encontrar o que de nós espera: frutos, frutos de conversão, frutos de mudança.
Deus, na Sua infindável misericórdia, não desiste de cavar na nossa vida como o vinhateiro cavouà volta da figueira. Deus, na Sua infindável misericórdia, está sempre a fornecer-nos adubopara que a nossa vida possa, finalmente, produzir frutos. Deus não desiste de nós. Será que nós vamos desistir de Deus?
D. O «adubo» de Deus
5. É interessante notar que a palavra «kópria», que se traduz por «adubo», costuma também ser traduzida por «estrume». E, de facto, é sabido que é o estrume que, muitas vezes, serve para adubar as nossas terras. O estrume não é agradável, mas é necessário. O seu cheiro é desconfortável, mas o seu efeito é eficaz.
Também o esforço de conversão pode não ser agradável, mas o seu efeito é maravilhoso. Por conseguinte, não desperdicemos o «adubo» que Deus coloca na nossa vida. Esse «adubo» é o caminho da conversão, da penitência, da confissão. Esse «adubo» está a ser lançado por Deus, em doses copiosas, nesta Quaresma.
É por isso que, neste terceiro Domingo da Quaresma, os catecúmenos começam a fazer os chamados «escrutínios» em ordem ao Baptismo, na Vigília Pascal. E é sempre bom não esquecer que a estruturação do tempo da Quaresma está muito ligada não só à celebração da Páscoa, mas também à celebração do Baptismo.
D. Um tempo penitencial que antecede uma festa baptismal
7. O Baptismo é um sacramento genuinamente pascal e a Páscoa — pode dizer-se — é um acontecimento verdadeiramente baptismal. De facto, no Baptismo existe uma «peshah», isto é, uma passagem, uma viragem, ou seja, uma páscoa. No Baptismo, também nós passamos da morte à vida. Na Páscoa, Cristo vence a morte que é o pecado. Na Páscoa, Cristo dá a vida para que nós tenhamos vida (cf. Jo 10, 10).
A partir do século III e para responder à necessidade de preparar devidamente o Baptismo, começou a ser estruturado o tempo daQuaresma. Como se depreende da própria palavra, com os escrutínios pretende-se conferir as disposições dos que se preparam para o Baptismo. É nesse sentido que, ao longo de três domingos, a comunidade ajuda os catecúmenos a «escrutinar» a sua debilidade e, ao mesmo tempo, a sua disponibilidade para receber a vida nova de Cristo.
No fundo, estes escrutínios servem para sair da «nuvem» de que fala S. Paulo (cf. 1Cor 10, 1) e debaixo da qual vivemos quando estamos longe de Cristo. Só Cristo clarifica o que está escurecido. Só Cristo ilumina o que permanece ofuscado. Só Cristo é luz que, para cada um de nós, reluz. O Baptismo é, pois, um mistério luminoso. Mas se recairmos nas trevas, no Sacramento da Confissão reencontramos a desejada iluminação.
E. Amados, não armados
9. Não fechemos os ouvidos a Deus, que está sempre a chamar por nós. Deus chama-nos como chamou Moisés (cf. Êx 3, 4). Deus chama-nos no meio da chama (cf. Êx 3, 2). O Seu chamamento é uma chama que nunca cessa, que nunca pára. É uma chama que está sempre a arder, mesmo que nós não a queiramos ver.
Tiremos, pois, as sandálias dos nossos pés (cf. Êx 3, 5). Tiremos as nossas armaduras. Deus ama, não arma. Deus traz-nos amados, não armados. Deus quer que amemos e que não nos armemos.
Deus apresenta-Se como aquele que é (cf. Êx 3, 14), ou seja, como aquele que é nosso libertador, como aquele que está ao nosso lado. Deus não é indiferente. O que Ele quer é que a nossa vida seja diferente. Deus não é imparcial e o Seu amor por nós é total. Que a Sua compaixão toque sempre o nosso coração!
Do blogue THEOSFERA