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O futuro da Igreja (2)

por Zulmiro Sarmento, em 03.02.16

 

Na obra que acaba de publicar, L'avenir de Dieu, que é o seu "testamento" intelectual, espiritual e religioso, Jean Delumeau, 92 anos, depois de mostrar que a grande falha da Igreja foi ter-se convertido em poder, como vimos no sábado passado, apresenta "pistas e proposições" para o futuro.

  1. O governo da Igreja. Não tem o governo da Igreja Católica de "ser profundamente repensado e reconstruído", devendo estar "mais atento do que no passado aos desejos e aspirações dos fiéis"? Não deveriam estes "poder escolher os seus representantes que constituiriam uma espécie de parlamento da catolicidade?"

Antes, isso era irrealizável. Mas actualmente o mundo tornou-se uma pequena aldeia na qual todos podem comunicar instantaneamente entre si no planeta. Então, porque é que não poderei "manifestar o desejo de que os futuros responsáveis da Igreja Católica ao mais alto nível sejam um dia eleitos por um parlamento mundial dos fiéis para um mandato por tempo determinado? Em que é que esta prática atraiçoaria a mensagem de Cristo?"

  1. A "Humanae vitae". Com este tipo de governo, as decisões quanto à vida sexual dos fiéis não seriam contrárias ao bom senso, pois não seriam tomadas por "poderes eclesiásticos compostos unicamente por celibatários". "Hoje, parece inconcebível e inadmissível para os nossos contemporâneos que Paulo VI tenha publicado a encíclica "Humanae vitae" depois de ter autoritariamente retirado o dossiê da contracepção das deliberações do concílio Vaticano II. Nestas condições, para quê reunir um concílio ecuménico? Aliás, muitos canonistas pensam que esta encíclica, que esvaziou as igrejas, não é válida, pois não foi "recebida" pelo povo cristão."
  2. A lei do celibato. Há uma série de reformas urgentes, que "a civilização em que estamos mergulhados impõe". Por exemplo, "não impor mais o celibato aos padres (o que não impediria em nada a existência de fiéis que livremente escolham o celibato, para se consagrar inteiramente à Igreja e à oração)".
  3. A mulher na Igreja. Impõe-se "valorizar o lugar da mulher na Igreja", indo aliás ao encontro de várias práticas das primeiras comunidades cristãs. "Esquece-se demasiado que o cristianismo, historicamente, contribuiu em grande medida para a libertação da mulher." Deseja, pois, "com uma forte convicção, a reabilitação plena e completa da mulher no catolicismo". Estamos ainda muito longe, mas é por isso que os dignitários da Igreja Romana, que actualmente são só homens, devem finalmente tomar consciência de que estamos na civilização da "inovação absoluta, a que devemos fazer face, desembaraçando-nos dos reflexos, desconfianças e interditos herdados de um passado superado. Ora, não encontraremos nos Evangelhos nem razões teológicas nem maldições eternas a sancionar o "sexo fraco". Atendendo à evolução recente e inédita da nossa civilização, o catolicismo deve, portanto, imperativamente, dar finalmente à mulher todo o seu lugar, em igualdade com o do homem, no governo de uma religião que se quer universal e comum aos dois sexos. O êxito de uma nova evangelização passa, na minha opinião, pela reabilitação completa da mulher nas Igrejas cristãs. Por imperativo da minha alma e consciência, e antes do silêncio que em breve a morte me imporá, quero lançar um grito de alarme: na minha opinião, a salvação e o futuro do cristianismo, e nomeadamente do catolicismo, passam por esta completa reabilitação da mulher. E não hesito em colocar a questão, que não é, na minha opinião, de modo nenhum sacrílega: porque é que uma mulher não poderia um dia ser eleita para a sede de Pedro?"
  4. O pecado original. Também aqui se impõe reflectir. Para se não cair na aberração daquelas boas mães que não ousavam beijar o bebé enquanto não fosse baptizado.

Hoje, já se percebeu que o Livro do Génesis não é um documento histórico e, por causa da evolução, já não é possível pensar que Adão e Eva foram criados "adultos, belos e perfeitos, num maravilhoso paraíso terrestre": é claro que a humanidade se desprendeu lenta e progressivamente da animalidade e já não podemos "fundar uma culpabilização hereditária do homem e da mulher sobre a narrativa do Génesis". No judaísmo, não há lugar para um pecado original. Jesus nunca falou do pecado original e até recomendou aos discípulos que, para entrarem no reino dos céus, fossem como crianças... que brincavam numa rua vizinha e que "não tinham recebido o baptismo".

  1. Mudar a linguagem. Por exemplo, ninguém entenderá hoje o significado de expressões do credo, como "desceu aos infernos", "subiu aos céus", "ressurreição da carne".
  2. Impõe-se a unidade das Igrejas cristãs e o diálogo inter-religioso, e não se pode ignorar a ciência. Os cristãos precisam de acolher inovações que, no princípio, parecerão incómodas, mas, depois, "portadoras de um futuro religioso durável e fecundo".

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Diário de Notícias 16 de janeiro de 2016

 

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/interior/o-futuro-da-igreja-2-4982779.html 

 

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publicado às 12:30

O futuro da Igreja (1)

por Zulmiro Sarmento, em 03.02.16

 

 

 

Anselmo Borges

Estive com ele uma vez, em Paris, e impressionou-me muito a sua imensa cultura e simplicidade. Intelectual de enorme prestígio, ocupou a cátedra de História das Mentalidades Religiosas no Ocidente Moderno, no Collège de France. Autor de numerosas obras mundialmente conhecidas, Jean Delumeau acaba de publicar L"Avenir de Dieu (O Futuro de Deus), com o seu percurso de vida intelectual e espiritual ao longo de 60 anos. Católico de fé assumida, diz-se "humanista cristão" e interroga-se sobre as inquietações do presente e o futuro do cristianismo. Do alto da sabedoria e da autoridade dos seus 92 anos, propõe, já na conclusão, uma série de reformas urgentes para a Igreja, que, dada a sua importância, apresento hoje e no próximo Sábado.

Antes dessa conclusão, Jean Delumeau atravessa, em síntese, os grandes temas das suas investigações científicas, no quadro da história das mentalidades, como: o medo, o pecado e a culpabilização, a confissão, o perdão, o sentimento de segurança, o paraíso e as suas imagens, a Europa de hoje. E deixa pensamentos sábios, que obrigam a reflectir. Assim, no contexto da imagem terrífica de Deus, que tem de ser revista, escreve: "Hoje, os cristãos podem mais seguramente afirmar: ou os homens perdoam uns aos outros ou criaram e, ai!, criam já muitas vezes o inferno na terra." Hoje, quando já vivemos numa aldeia planetária, "descobrimos que somos forçosamente solidários uns com os outros e, para não perecermos, estamos condenados a unir-nos e a erguer uma governança mundial que deveria ter os meios de ser obedecida". "Constatou-se que o sentimento de insegurança - o "complexo de Dâmocles" - é causa de agressividade." No espaço dedicado ao paraíso terrestre reencontrado, refere que sobre Portugal se pôde escrever que "a persistência do messianismo animando a mentalidade de um povo durante tanto tempo e conservando a mesma expressão é um fenómeno que, exceptuando a raça judaica, não tem equivalente na história".

Apenas dei exemplos. Agora, algumas propostas de reforma da Igreja.

  1. Um apontamento prévio quanto a "inventar o futuro": a partir do seu caminho pessoal, à luz da história e seguindo e exprimindo as inquietações do nosso tempo, Delumeau foi levado a colocar a pergunta: "Qual é o futuro de Deus?" Ora, quando se ergue o debate à volta da crise actual do cristianismo e da Igreja, na difícil dialéctica cristianização-descristianização, há o perigo de esquecer que, contra o que frequentemente se pensa, antes do século XIV, a Europa, segundo, G. Duby, não apresentava senão "as aparências de uma cristandade. O cristianismo não era plenamente vivido senão por raras elites." Lutero também escreveu: "Temo que haja mais idolatria agora do que em qualquer outra época." Daí que Delumeau acentue a importância da actualização, também para se não cair em idealizações e dogmatismos. Por vezes, é preciso "desaprender", não idealizar o passado.
  2. Qual é o grande mal do cristianismo? A sua ligação ao poder. "Pelas suas consequências, uma das mais trágicas falsas vias para as Igrejas cristãs foi, depois do fim das perseguições, a ligação entre o poder imperial romano e a hierarquia eclesiástica, simbolizada e fortificada pela coroação de Carlos Magno pelo Papa."

Não se deve esquecer que desde sempre tinha havido, no Império Romano e fora dele, ligação e amálgama entre os poderes religioso e político. Foram, por isso, necessários muitos séculos e conflitos incessantes para que "o religioso e o político aceitem por fim distanciar-se um do outro, num equilíbrio aliás instável e que é necessário reajustar continuamente". De qualquer modo, "desde o início do século IV, a Igreja tornou-se um poder". Ora, "esta deriva perigosa", que durante muito tempo só a poucos causou choque, ainda não terminou.

A Igreja Católica "tem atrás de si um grande e belo passado de escritos religiosos sublimes, inumeráveis iniciativas caritativas e múltiplas obras de arte. Realizou uma obra civilizadora grandiosa e mundial. Deu à humanidade legiões de santos e santas, canonizados ou não, incansavelmente dedicados ao serviço do próximo. Mas a sua grande fraqueza foi ter-se constituído em poder... Ora, é preciso que de ora em diante abandone o poder, pratique a humildade para poder de novo convencer e dar-se a si mesma estruturas mais flexíveis do que no passado e, portanto, capazes de evoluir. Porque é necessário hoje aceitar e dominar evoluções inevitáveis".

Dever-se-á perguntar: como foi possível o movimento iniciado por Jesus ter hoje um Vaticano?! Seja como for, digo eu, a história é o que é e o que se impõe é uma revolução, para modos democráticos de governo eclesial, para a simplicidade, a transparência, o serviço. Cardeais e bispos não são "príncipes" nem podem viver como "faraós", diz Francisco. E as nunciaturas só poderão justificar-se enquanto serviços humildes de pontes para o diálogo e a paz mundiais.

 

Diário de Notícias 02 de janeiro de 2016

 

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/interior/a-sabedoria-em-tres-palavras-4961033.html

 

 

 

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publicado às 12:27

O pesadelo do teólogo

por Zulmiro Sarmento, em 03.02.16

 

  1. Bertrand Russell, para lá de ser um dos grandes matemáticos do século XX e filósofo, foi um escritor brilhante e irónico, Prémio Nobel da Literatura. No seu livro de Contos, há um, célebre, com "o pesadelo do teólogo". Vou resumir.

"O teólogo eminente Dr. Thaddeus sonhou que tinha morrido e seguido rumo ao Céu. Os estudos haviam-no preparado e não teve dificuldade em encontrar o caminho. Bateu à porta do Céu e foi recebido com um escrutínio maior do que esperava. Disse: - Peço admissão porque fui um homem bom e dediquei a vida à glória de Deus. - Homem? - exclamou o porteiro. - O que é isso? E como podia uma tão estranha criatura como o senhor fazer alguma coisa para promover a glória de Deus?

O Dr. Thaddeus ficou espantado. - O senhor decerto que não ignora o homem. Deve saber que o homem é a obra suprema do Criador. - Quanto a isso - tornou o porteiro - lamento magoá-lo, mas o que está a dizer é novo para mim. Duvido que alguém cá em cima já tivesse ouvido falar dessa coisa chamada "homem". No entanto, uma vez que parece tão desapontado, pode consultar o nosso bibliotecário.

O bibliotecário, um ser esférico com mil olhos e uma boca, pousou alguns dos seus olhos sobre o Dr. Thaddeus. - O que é isto? - perguntou ao porteiro. - Isto diz que é um exemplar de uma espécie chamada "homem" que vive num lugar chamado "Terra". Julga que o Criador tem um interesse especial por esse lugar e por essa espécie. Pensei que talvez pudesse esclarecer".

Depois de o teólogo ter explicado que a Terra é parte do Sistema Solar, que por sua vez é parte da Via Láctea, uma galáxia entre milhares de milhões, foi mandado chamar um dos sub-bibliotecários, especializado em galáxias e que tinha a forma de um dodecaedro. Assim, umas três semanas depois, com o trabalho exaustivo de cinco mil empregados, "o sub-bibliotecário voltou e explicou que o ficheiro extraordinariamente eficiente da secção galáctica da biblioteca lhe havia permitido localizar a galáxia como número XQ 321,762". O Dr. Thaddeus explicou então ao empregado especialmente interessado na galáxia em questão, um octaedro com um olho em cada face e uma boca numa delas, que o que ele desejava saber se referia ao Sistema Solar, uma colecção de corpos celestes que gira à volta de uma das estrelas da galáxia, chamando-se essa estrela "Sol".

"- Safa!" - disse o bibliotecário da Via Láctea. - "É difícil descobrir a galáxia, mas descobrir a estrela dentro da galáxia é ainda muito mais difícil. Sei que há cerca de trezentos mil milhões de estrelas na galáxia, mas não sei distingui-las umas das outras. Creio, todavia, que, uma vez, foi pedida pela Administração uma lista de todos os trezentos mil milhões e isso deve estar ainda guardado na cave. Se achar que vale a pena, arranjarei pessoal especial do Outro Lugar para procurar essa estrela."

Alguns anos mais tarde, foi um tetraedro arrasado de cansaço que compareceu diante do sub-bibliotecário galáctico, dizendo: "Descobri, finalmente, essa estrela especial sobre a qual foram feitas investigações, mas estou absolutamente desorientado quanto ao interesse que ela levantou. Faz lembrar muitas outras estrelas da mesma galáxia. É de tamanho médio, de temperatura média, e está cercada por corpos muito pequenos chamados "planetas". Após minuciosa investigação, descobri que alguns desses planetas, pelo menos, têm parasitas, e creio que essa coisa que tem estado a fazer perguntas deve ser um desses parasitas."

Nessa altura, "o Dr. Thaddeus desatou num indignado e apaixonado lamento: - Porque é que o Criador escondeu de nós, pobres habitantes da Terra, que não fomos nós que o levámos a criar os céus? Servi-O toda a minha vida, servi-O diligentemente, acreditando que Ele havia de reparar no meu serviço e recompensar-me com a Felicidade Eterna. E agora até parece que nem sequer sabe da minha existência. O senhor diz-me que sou um animálculo infinitesimal num minúsculo corpo que gira em volta de um insignificante membro de uma colecção de trezentos mil milhões de estrelas, colecção esta que é apenas uma entre muitos milhares de milhões. Não posso aguentar isto. Não posso mais adorar o meu Criador. - Muito bem - retorquiu o porteiro. Então pode ir para o Outro Lugar.

Aqui, o teólogo acordou. E murmurou: - O poder de Satanás sobre a nossa imaginação adormecida é terrível".

  1. Afinal, ocupamos um lugar periférico no Universo. Pascal perguntava: "O que é um homem no infinito? Apavora-me o silêncio dos espaços infinitos." Mas, por outro lado, é no homem que este processo gigantesco toma consciência de si. Somos reflexivos e temos autoconsciência: desdobramo-nos e reconhecemo-nos. Sabemos do bem e do mal. E levamos connosco a pergunta inevitável e triturante do sentido, do sentido último: qual o sentido de tudo?, porque há algo e não nada?, o que vale a minha vida?, existimos porquê e para quê? Transportamos connosco a questão da morte e de Deus, a dupla face do Absoluto.

 

Diário de Notícias 23 de janeiro de 2016-01-25

 

 

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/interior/o-pesadelo-do-teologo-4995098.html

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publicado às 12:26

A MEMÓRIA AFECTUOSA DE DEUS

por Zulmiro Sarmento, em 03.02.16

 

  1. A nós, os velhos, roubam-nos tudo: roubam-nos o passado e o futuro, a memória e a possibilidade de renovar o cartão de cidadão.

 É breve e para poucos a sobrevivência na memória afectuosa dos familiares e amigos. Chegamos tarde em relação ao passado e demasiado cedo em relação às maravilhosas promessas da ciência e da técnica.

Por outro lado, a louca persistência das guerras e os absurdos que as provocam, impondo a lei de matar, ser morto ou fugir, geram cepticismo acerca da possibilidade global de humanização da história[1].

A verdadeira vida e a morte dependem dos afectos. Fora deles, há apenas estatística.

Os mais idosos vão sofrendo a desertificação das relações de familiares e amigos. Mário Brochado Coelho, a propósito da morte de Nuno Teotónio Pereira e do desaparecimento de outros companheiros, manifestou aos amigos, de modo comovente, que embora tudo seja natural, ficamos com o sentimento de uma grande orfandade.

Há outras pessoas que alimentam o desejo de um Deus de memória afectuosa, transfiguradora e universal, para si e para os outros, um coração que as acolha.        

  1. Em relação ao Nuno Teotónio Pereira, muitas coisas foram ditas e escritas, quer sobre a sua sólida e premiada obra arquitectónica, quer sobre a sua evolução política e religiosa: de uma família monárquica e salazarista para militante da transformação da Igreja na linha de João XXIII e do Vaticano II, da luta contra guerra colonial, das metamorfoses políticas radicais até à entrada no PS.

Cada uma dessas fases e faces deixou imagens diferentes naqueles que com ele conviveram. No entanto, o próprio se explicou longamente sobre os tempos e acontecimentos que viveu. Quem voltar a ler as suas crónicas no Público[2], a última entrevista a José Pedro Castanheira, publicada no Expresso[3] e o testemunho ditado para o Encontro do ISTA e do NAM[4], pode formar uma opinião mais abrangente, não apenas acerca dele, como da sua primeira mulher, a extraordinária Maria Natália Duarte Silva.

É conhecido que ambos, nos anos 60, me associaram à criação do Direito à Informação, à Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, à Iniciativa dos Terceiros Sábados e ao trabalho de encontrar esconderijos para clandestinos.

O Nuno ajudou-me também a encontrar, em Portugal, a pista das pessoas percursoras do Vaticano II, algumas das quais marcaram a sua mudança de rumo e as expressões militantes do seu profundo catolicismo.

Tentei, quando ainda não havia quase nada estudado a esse respeito, apresentar um esboço nas Artes de ser católico português[5]. Desde a Voz de Santo António (1895-1910) até D. António Ferreira Gomes, passando pelos irmãos Alves Correia (Manuel e Joaquim), pelo Movimento e edições Metanoia, dos anos 40-50, pelo Padre Abel Varzim e pela aceleração dos anos 50, em vários ramos da Acção Católica, podem-se encontrar tentativas, obras e correntes que foram reconhecidas no Vaticano II e abafadas pela hierarquia portuguesa, com raras excepções.

  1. Ao reler o seu itinerário espiritual, deparei com uma crónica do Público, de 1995, onde reflecte sobre a Igreja Católica e o Partido Comunista, seus problemas actuais e seu futuro[6]. (…) «O Bem da Igreja», que tantas vezes ouvi invocar contra a liberdade das pessoas e contra os preceitos evangélicos e o «Bem do Partido», que espezinhou direitos humanos, têm de ser banidos numa e noutra instituição.

 « (…) Pode ser que seja necessário passarem uma ou duas gerações para que isto aconteça: são acontecimentos para o próximo século. Mas talvez suceda que a mensagem evangélica, por um lado, e a crença numa sociedade mais justa e solidária, por outro, sejam dois fachos que não se apaguem na marcha da Humanidade e que poderão até ser convergentes, com surpresa para muitos. (…) É preciso que qualquer coisa renasça ou nasça de novo para nos devolver a esperança».

O texto do Papa Francisco, sobre a «Igreja de saída», que transcrevi no passado domingo e apresentei no funeral de Nuno Teotónio Pereira, parece-me o começo de realização desta esperança.

José Pedro Castanheira, na última entrevista, perguntou-lhe:  deixou de ser crente? «A certa altura, sim, muito por causa do episódio da morte da minha mulher. Não foi imediato, mas ficou sempre uma ferida. Depois meti-me na política e acabei por chegar à conclusão que o sobrenatural não me dizia nada. Mas, olhando para toda a minha vida e para a minha formação, acho que sou católico, ainda que não praticante. Sou crente».

Santa coerência.

        Frei Bento Domingues, O.P.

Público, 31.01.2016

https://www.publico.pt/sociedade/noticia/a-memoria-afectuosa-de-deus-1721809

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publicado às 12:24


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