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A. Não basta ter olhos para ver
De facto, não basta ter olhos para ver até porque nem todos os olhos permitem ver. Nem todos os olhos permitem ver bem. Os olhos deste cego estavam fechados. Mas, muitas vezes, os nossos olhos podem permanecer tapados mesmo quando estão abertos. A cegueira não está só na impossibilidade. Pode estar também na ilusão.
Há muita cegueira quando nos recusamos a descer até à profundidade. Há muita cegueira quando não aterramos no que se mantém escondido. Ou, melhor, não é tanto a realidade que se esconde de nós; nós é que, muitas vezes, nos escondemos da realidade.
B. Também na fé precisamos de óculos
3. Não é por falta de aviso, porém, que nos comportamos assim. Antoine de Saint-Exupéry deixou-nos o alerta quando afirmou que «o essencial é invisível aos olhos». O que ele queria dizer é que o mais importante da vida não se capta com estes olhos, com os olhos que temos na cabeça. O mesmo Saint-Exupéry assinalou que «só se vê bem com o coração». Ou seja, não se vê bem apenas por fora. Só se vê bem por dentro. Só se vê bem quando conseguimos chegar dentro e aterrar na profundidade.
É por isso que, como muito bem percebeu o Papa Bento XVI, «o programa do cristão é o coração que vê». Só o coração vê onde «há necessidade de amor». E só o coração «actua em consequência».
A fé oferece-nos, pois, aqueles «óculos» que podemos colocar por cima dos nossos olhos. É pelos «ocula fidei» (óculos da fé) que conseguimos ver o invisível. Por conseguinte, Deus deixou-nos uns óculos para podermos ver, para O podermos ver: os «óculos da fé». Quem quiser pode usá-los.
C. Fora de Jesus não há luz
5. Não olhemos apenas com os olhos. Procuremos ver com os olhos do coração, com os olhos da alma. Procuremos ver com os olhos de Deus. Só na Sua luz vemos a luz (cf. Sal 36, 10). Só na Sua luz encontramos luz. Deus é uma luz que o Seu Filho Jesus acende em nós. É por isso que o Concílio Vaticano II proclama que «Cristo, o Verbo Encarnado, revela o homem ao homem». Isto significa que, para sabermos quem somos, temos e procurar a luz de Cristo. Só Ele desvela o que, fora d’Ele, está velado. Aliás, o próprio Jesus Cristo teve o cuidado de nos esclarecer ao dizer que Ele é a luz do mundo (cf. Jo 8, 12).
Que fique, portanto, bem claro. Fora de Jesus, não há luz. Fora da Sua verdade é só obscuridade. Esta luz nunca se apaga. Pelo contrário, esta é uma luz que se apega. Não admira, por conseguinte, que Jesus queira que todos nós, Seus discípulos, também sejamos luz. «Vós sois a luz do mundo»(Mt 5, 14) — eis o que Ele nos diz no Sermão da Montanha. Com efeito, na terra nós somos a luz acendida por Jesus. Nós somos a luz que traz a luz de Jesus, a luz que é Jesus. A fé, como aprendemos logo no Baptismo, é um mistério de luz, um mistério de iluminação.
Ao falar dela mesma no Concílio Vaticano II, a Igreja não diz que é luz. A luz dos povos («lumen gentium») não é a Igreja; a luz dos povos é Cristo, presente na Sua Igreja para chegar a toda a humanidade.
D. Não tenhamos medo de gritar
7. Temos, portanto, que perceber que, por nós, não conseguimos nada. Sem Jesus, nada conseguiremos fazer (cf. Jo 15, 5) e nada conseguiremos ver. Sem Jesus, é só escuridão. Temos de fazer como este homem. Temos de ir ao encontro de Jesus.
Não tenhamos receio de chamar por Ele. Não tenhamos medo até de gritar por Ele. Ainda que muitos nos tentem calar, como tentaram calar o cego (cf. Mc 10, 47), gritemos por Jesus e nunca cessemos de gritar Jesus. Evangelizar também é gritar. Evangelizar é gritar Jesus. É que, se neste mundo há muita cegueira, também há nela uma persistente surdez. Não hesitemos, pois, em gritar. Gritemos Jesus com a voz. Gritemos Jesus com a alma. Gritemos Jesus com o testemunho de vida.
Este homem percebeu que, para continuar a ver, tinha de seguir Jesus. Nunca mais poderia largá-Lo. Nunca mais poderia afastar-se d’Ele. Jesus deu-lhe a luz. Jesus é a luz.
E. O caminho de Jesus é um caminho de luz
9. Aquele homem encontrou Jesus no caminho (cf. Mc 10, 46) e começou a seguir pelo caminho (cf. Mc 10, 52). É no caminho que se dá o encontro, é no caminho que se dá a mudança. Os caminhos de Jesus são os nossos caminhos para que os nossos caminhos sejam os caminhos de Jesus. Não foi Jesus quem (também) Se apresentou como o caminho (cf. Jo 14, 6)?
Não desanimemos. Enchamo-nos de coragem e levantemo-nos porque Jesus também chama por nós, também vem ao nosso encontro (cf. Mc 10, 49). Levemos esta palavra de ânimo a tantos que permanecem caídos. Deixemos que a Sua luz brilhe em todas as vidas.
Notemos que Jesus, aparentemente, não faz o que o cego pede. O cego pede «que eu veja»(Mc 10, 51) e Jesus responde «vai»(Mc 10, 52). Isto significa que a luz está em seguir Jesus. A luz está no caminho de Jesus. O caminho de Jesus é, pois, um caminho de luz. Para todos. Para nós também!
Do blogue THEOSFERA