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A. Fechar os lábios para abrir os ouvidos
Acontece que nem nos apercebemos de que, para ter os ouvidos abertos, temos de dar algum descanso à nossa língua. Há momentos em que a boca tem de estar fechada para que os ouvidos se mantenham abertos. De facto, como consegue escutar quem não pára de falar? A rotina é tão envolvente que, por vezes, nem na Casa de Deus mostramos disponibilidade para ouvir Deus. Até na Casa de Deus a boca continua aberta. Até na Casa de Deus os ouvidos parecem continuar fechados!
Uma fé que não chegue ao chão da vida desfalece. Uma fé que não aterre na terra da existência desmorona-se. A fé, por natureza, é invasiva, é saudavelmente intrometida.
B. A fé será eloquente se não for apenas loquaz
3. Os lábios manifestam a fé. Mas o que prova a fé é a vida, são as acções que praticamos na vida. O acto de fé constitui, por isso, o maior certificado da linguagem da fé. Se a fé não se expressa em actos, então é porque falsamente se expressa nos lábios. Daí que já Sto. António tenha avisado: «Cessem as palavras e falem as obras. De palavras estamos cheios, de obras vazios».
As palavras só têm sentido quando são sufragadas pelas obras. As palavras de fé só merecem aceitação quando são apoiadas por obras que nascem da fé.
As obras são o melhor discurso da fé. As obras são o mais belo ornamento da fé. Não nos esqueçamos. Deus, um dia, não nos perguntará pela fé que dissemos, mas pela fé que vivemos.
C. A fé tem de ser amorosa
5. A vivência da fé tem o nome de amor e o sobrenome de caridade. A caridade é o ápice do amor. A caridade é o amor maior, o amor sem limites, nem fronteiras, nem condições. A caridade é o amor para todos, é o amor para sempre.
É por isso que Hans Urs von Balthasar entendia que «só o amor é digno de fé». E se o amor é digno de fé, a fé tem de ser sempre digna do amor. O amor é fidedigno e a fé tem de ser sempre amorosa. Se falta a fé, o amor não cresce. Se falta o amor, a fé desaparece.
O mundo não cresce com os que (apenas) falam; só cresce com os que agem. O bem agir é mais importante que o bem falar. Mas, graças a Deus, ainda há tanta gente que sabe agir, há tanta gente que sabe falar, agindo. Ouçamos os que falam, mas habituemo-nos a imitar os que agem, os que bem agem. Por conseguinte, bem-haja a quem bem age!
D. Crismados por Cristo
7. Jesus é aquele que age, é aquele sempre age, é aquele que bem age, é aquele que belamente age. Jesus é aquele que andou de lugar em lugar a fazer o bem (cf. Act 10, 38). É por isso que crer em Jesus implica procurar agir como Jesus. Daí que a profissão de fé não possa esgotar-se nos lábios. A profissão de fé tem de escorrer sempre pela vida, por cada momento da nossa vida.
A descoberta do Messias vem até nós pelos lábios de Pedro: «Tu és o Messias»(Mc 8, 29). Sobre Jesus, não basta repetir o que os outros dizem. Já naquele tempo havia quem dissesse que Jesus era uma espécie de reencarnação de João Baptista, de Elias ou de algum profeta (cf. Mc 8, 28). Jesus não é a mera continuidade do passado. Jesus é a transformação de toda a nossa vida. O futuro não é só o que vem depois. Há-de ser o que vem de novo.
Para que não subsistam dúvidas, Jesus esclarece Pedro sobre o que implica ser Messias, ser ungido, ser Cristo. A sua missão de Jesus só pode ser entendida à luz da Cruz, isto é, como dom da vida aos homens, por amor. Dizer que Jesus é o Messias — ou Cristo — significa dizer que Ele é o libertador esperado, para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva.
E. A Cruz não traz facilidade, mas conduz à felicidade
9. A resposta de Pedro está certa. No entanto, podiam subsistir alguns equívocos, dado que o título de Messias estava conotado com expectativas políticas. Por isso, os discípulos são impedidos de falar d’Ele. Antes de falar, era preciso aprender a conhecer bem Jesus É isso que Jesus vai fazer, logo de seguida.
Jesus não é semeador de ilusões. Ele alimenta a esperança, mas não alimenta dúvidas. A missão de Jesus passa pela Cruz e a missão de quem O quiser seguir também terá de passar pela Cruz. «Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo; pegue na sua cruz e siga-Me»(Mc 8, 34).
Fugir da Cruz seria fugir de Cristo. A Cruz não traz facilidade, mas conduz-nos até à felicidade. Não caiamos na tentação de Pedro, que gostaria de ter um Cristo sem Cruz. Façamos, antes, como, mais tarde, fez Pedro, que abraçou a Cruz de Cristo. A Cruz não foge de nós, mesmo que nós queiramos fugir da Cruz. Quem abraça a Cruz com amor tem sempre encontro marcado com o Senhor!
Do blogue THEOSFERA