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A. Deus não quer preferências entre pessoas
A Segunda Leitura deste Domingo tipifica uma situação em que falhamos frequentemente. «Pode acontecer que, na vossa assembleia, entre um homem com bem vestido e com anéis de ouro e entre também algum pobre e mal vestido. Talvez olheis para o homem bem vestido e lhe digais: “Tu, senta-te aqui, em bom lugar”, e ao pobre digais: “Tu, fica aí de pé”, ou então: “Senta-te a meus pés”. Porventura não estareis a fazer distinções entre vós?»(Tgo 2, 3-4).
B. Se houve preferências, que seja pelos simples
3. É bom que os bem-vestidos sejam estimados. Mas é muito mau quando os mal-vestidos são desprezados. Só que, infelizmente, é o que, muitas vezes, se vê. Olhamos para as aparências e valorizamos o aparato. Damos mais atenção à roupa do que à dignidade. Arranjamos os melhores lugares para os grandes e não mostramos o menor apreço pelos pequenos, pelos simples, pelos pobres.
Tudo isto mostra que não falhamos só nos preceitos da cortesia. Tudo isto mostra que, antes de mais, estamos a falhar na compreensão do Evangelho. S. Tiago pergunta: «Não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu àqueles que O amam?»(Tgo 2, 5).
É importante que sejamos respeitadores para com as autoridades. Mas é mais imperioso que respeitemos os humildes. Quem está em cima já tem muitas compensações. Já os que estão em baixo não costumam ser reconhecidos. Quem reconhece o trabalho e a dedicação das pessoas simples?
C. Ânimo para os desanimados
5. Jesus veio corrigir todas as assimetrias, que tresandam a injustiça. Jesus veio trazer as periferias para o centro. Jesus veio engrandecer o que é pequeno. Jesus veio trazer para cima o que está em baixo. Por isso é que Ele era apreciado pelos humildes e incompreendido pelos poderosos. Será que nós, seguidores de Jesus, procuramos dar continuidade às Suas opções? Ou não será que, muitas vezes, contrariamos as Suas escolhas?
A Igreja de Jesus é para todos. Mas eu diria que a Igreja é sobretudo para os humildes. A Igreja é para que todos nos tornemos humildes. Acabemos, pois, com as disputas por lugares e protagonismos nas nossas celebrações. Para a Casa de Deus, ninguém pode ser especialmente convidado, todos devem ser igualmente bem-vindos. E se alguma distinção fizermos, que seja para aqueles que mais sofrem, para aqueles que, habitualmente, são mais esquecidos. São esses os que mais precisam de um alento, de uma atenção, de um estímulo.
No meio da provação, Deus anuncia a proximidade da libertação: «Tende coragem. Não vos assusteis»(Is 35, 4). Eis o que Deus nos diz sempre, eis o que Deus nos diz a todos. Tenhamos coragem, não nos assustemos. E porque é que não nos devemos assustar? Porque Deus está connosco (cf. Is 35, 4). Deus nunca deixa de estar connosco. O Seu Filho é o Deus-connosco, o Deus para nós, o Deus em nós. Hoje, Deus continua a estar connosco na Palavra, no Pão e na Missão junto de cada Irmão.
D. Deus possibilita o próprio impossível
7. Em nós, Deus possibilita o próprio impossível: «os olhos do cego hão-de abrir-se, os ouvidos dos surdos serão abertos. O coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. As águas brotarão no deserto e as torrentes na aridez da planície; a terra seca converter-se-á num lago e a terra sequiosa tornar-se-á uma nascente de água»(Is 35, 5-7).
Acreditar é esperar o próprio impossível. Acreditar é fazer cair as correntes de todas as prisões. Jesus é a certificação maior de que o impossível se torna possível. Em Jesus, o surdo ouve e o mudo fala. Eis a grande doença de hoje: não conseguimos ouvir e não sabemos falar. Eis a grande urgência de hoje: aprender a ouvir e reaprender a falar.
É nesse contexto geográfico e humano que se insere o episódio da cura do surdo-mudo. As pessoas que trouxeram o surdo-mudo suplicaram a Jesus «que impusesse as mãos sobre ele»(Mc 7, 32). Lendo bem a narração deste episódio, ficamos com a sensação de que Marcos quer muito mais do que contar a cura de um surdo-mudo. Trata-se de uma catequese sobre a missão de Jesus e sobre o papel que Ele desenvolve no sentido de fazer nascer um homem novo. E, na verdade, tudo é novo a partir de Jesus.
E. Só Jesus deixa ouvir, só Jesus faz ver
9. Quais são, entretanto, os ingredientes desta novidade trazida por Jesus? Antes de mais, o próprio Jesus. Notemos que o surdo-mudo é alguém que tem dificuldade em dialogar, em comunicar, em relacionar-se. Acresce que estamos num meio que olha para as doenças físicas como consequência do pecado, pelo que o surdo-mudo é um «impuro», um pecador e um maldito.
É o encontro com Jesus que transforma totalmente a vida desse surdo-mudo. Jesus abre-lhe os ouvidos e solta-lhe a língua (cf. Mc 7, 35), tornando-o capaz de comunicar, de escutar, de falar, de partilhar, de entrar em comunhão. Tudo é novo neste homem a partir do encontro com Jesus. Em Jesus cumpre-se o que Isaías anunciara: os ouvidos soltam-se e os olhos abrem-se (cf. Is 35, 4-6). É Jesus que nos permite ouvir. É Jesus quem nos faz ver.
Jesus pronuncia a palavra «effathá»: «abre-te». Não se trata de uma fórmula mágica, mas de um convite ao homem fechado para que se abra à vida nova de relação com Deus e com os irmãos. Este é verdadeiro milagre: a renovação da vida. Daí o espanto de todos. De facto, tudo o que Jesus faz é admirável (cf. Mc 7, 37). Faz que os surdos oiçam e que os mudos falem (cf. Mc 7, 37). Não hesitemos em pedir a Jesus que nos cure. Ele é a cura e o curador. Só em Jesus conseguiremos ouvir. Só em Jesus conseguiremos ver!
Do blogue THEOSFERA