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É natural que cada um tenha uma ideia do que é a Igreja.
É admissível que cada possua um catálogo de desejos que gostaria de ver realizados pela Igreja.
Tudo isto é respeitável. Mas será que tudo isto é possível?
O cardeal Carlo Maria Martini, sempre acutilante na sua magna sapiência, notou que «a Igreja não satisfaz expectativas, celebra mistérios».
Os mistérios não devem variar conforme as nossas expectativas, as nossas expectativas é que se devem conformar ao mistério.
É por isso que Chesterton sonhava com uma Igreja que não mudasse com o mundo, mas que contribuísse para mudar o mundo.
A Igreja não existe para que façamos a nossa vontade.
A Igreja existe para que a nossa vontade coincida com a vontade de Deus!
Vazia seria uma fé soporífera ou levemente sedosa. O seu horizonte não pode ser, pois, a mera satisfação, mas a nossa permanente conversão.
O discurso crente não é aquele que passa por cima dos problemas, mas aquele que «aterra» totalmente nos problemas.
É bom não esquecer que a fé acontece sempre na realidade, não fora da realidade.
Não falta, porém, quem faça constante publicidade a uma «fé fácil».
No fundo, é uma fé que não encara a vida como ela se mostra nem acolhe Deus como Ele é.
A fé inclui, obviamente, a confiança em que tudo pode ser melhor. Mas não exclui a predisposição para aceitar as adversidades.
Ou seja, quem seguir os Seus ensinamentos tem de se dispor a seguir a totalidade dos Seus passos. E aqui é preciso contar com a perseguição, a condenação e até a morte.
Um «Cristianismo de eventos» é claramente insuficiente. Reduz-se a momentos que se esgotam quando terminam. Não parece haver «antes» nem «depois».
Como há-de fermentar o compromisso?
Os eventos ganham alma quando pré-existe — coexiste e pós-existe — uma vivência. Afinal, não será a vivência quotidiana da fé o mais belo evento de fé?