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Nem eu...

por Zulmiro Sarmento, em 19.01.15

JE SUIS CHARLIE?... NÃO, EU NÃO SOU CHARLIE!

 


No domingo, dia 11 de janeiro, de cartazes na mão, chefiados e presididos por muitos chefes políticos de primeira linha, franceses e estrangeiros, alguns armados de alguma hipocrisia e outros carregados de muito oportunismo, desfilaram pelas ruas de Paris milhares e milhares de defensores da liberdade de expressão. Reagindo contra o atentado das vésperas, pretendiam os participantes manifestar-se contra a violência e o terror.
- JE SUIS CHARLIE! - gritavam.
Como eles, eu também me confesso defensor da liberdade: da de expressão e das outras.
A liberdade de pensar, de escolher e de viver é um dom sagrado de Deus, que ninguém deve menosprezar nem roubar seja a quem for. A liberdade de expressarmos as nossas ideias, de manifestarmos as nossas opiniões e de revelarmos os nossos pensamentos, é algo indispensável para sermos pessoas, para marcarmos os nossos caminhos, e para construirmos o mundo em que pretendemos viver.
Por isso é que não posso nem quero apoiar censuras, represálias ou boicotes, sobretudo quando as armas usadas são a violência e o crime, e por isso não posso deixar de condenar, veementemente, o ato de terror acontecido nas intalações do jornal “Charlie Hebdo”, causando a morte de pessoas inocentes que estavam no seu trabalho. Atos destes não têm desculpa divina nem perdão humano. Ninguém de bom senso poderá aprová-las ou concordar com elas.
Há porém outra face da moeda.
A liberdade tem limites e deve ter regras. Não vale tudo.
Esse CHARLIE, sai das regras e ultrapassa as fronteiras. Tive o cuidado de consultar na net alguns exemplares do mesmo jornal, com datas anteriores. E que vi eu?
Entre outras caricaturas, censuráveis, ou pelo menos muito discutíveis, pude ver a representação das Pessoas da Santíssima Trindade a ter relações homosexuais, com as seguintes legendas: Le PERE, LE FILS, LE SPRIT SAINT, MARIAGE HOMO; LE VINGT-TROIS A TROIS PAPAS.
Traduzo, para alguém que precise: Pai, Filho e Espírito Santo: Casamento Homosexual. O Arcebispo de Paris – Monsieur Le Vingt-Trois – tem três pais!..
Numa outra, está a Virgem Nossa Senhora, de pernas abertas em grande plano, em estado de parto, a ter “LE PETIT JESUS”.
Isto é de um péssimo mau gosto, de uma enorme irresponsabilidade, e vergonhosamente ofensivo para todos os crentes, e sobretudo para os cristãos! Para mim, pelo menos, é!! Ofende-me no mais íntimo do meu ser! Magoa-me nas minhas mais profundas convicções!
Eu aprecio e admiro muito as boas caricaturas... mas caricaturas destas, não. Nunca.
Infelizmente, em nome de uma falsa liberdade de expressão que esta Europa endeusou e agora adora e canta, que eu saiba, ninguém reagiu a essas caricaturas. Estamos numa sociedade anestesiada por um laicismo perigoso e doentio que, em nome de uma liberdade absoluta, mata todos os dias doutrinas, verdades, princípios e valores na mente e no coração dos cidadãos ocidentais. E, assim sendo, tudo se tolera e tudo se acha moralmente bom ou defensável.
Já nem a Igreja reage? Há muitos modos de reagir, sem usar insultos ou praticar terrorismos! Mas não reage! E assim, com o silêncio da Igreja, o laicismo prossegue livremente a sua campanha de destruição do que ainda resta, e toma conta de tudo, e de todos.
Esta deusa LIBERDADE foi posta num altar ou num andor pelos iluministas do século XVIII. E, desde então, incorporaram-se numa procissão cujo fim se não divisa, os jacobinos, os liberais, os maçons, os agnósticos, os laicos, os republicanos, e muitos, muitos mais.
Se eu me incorporasse nessa grandiosa “procissão” de Paris, o meu cartaz não diria “JE SUIS CHARLIE” mas antes “JE SUIS CONTRE LE TERRORISME”.
Como podia eu apoiar um jornal “Irresponsable” que se diz ateu confesso, que tem como programa zombar de todas as religiões, e como lema ridicularizar tudo o que é religioso? O seu conteúdo existencial é uma sátira constante e contínua à fé dos crentes.
Talvez sem o saberem, que fizeram esses milhões de manifestantes? Apoiaram o jornal, os seus fins e os seus métodos, puseram no pedestal o cartonista que esteve na origem da intervenção terrorista, e incentivaram-no fazer mais imagens do género para serem publicadas no jornal que se seguiu. E o jornal foi procurado por tantos, tantos, em longas filas indianas, indiferentes ao mau tempo, que não chegou para a procura!
Penso que não é este o caminho para a paz mundial e para o fim do terrorismo internacional. Pôr-mo-nos em bicos de pé e mostrar a nossa força, só pode causar mais ódios e provocar mais reações.
Neste campo, como noutros, bem anda o Papa Francisco ao favorecer o respeito por todas as diferenças e ao congregar os esforços de todas as religiões, na luta pela justiça e ela paz no mundo.
Concluo, dizendo bem alto:
Não! Eu não sou “Charlie”! Não quero ser “Charlie”!
Parem com o terrorismo!
Mas parem também com as injúrias e as ofensas aos valores e à fé dos outros!
Joaquim Correia Duarte, in Facebook

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publicado às 09:48

Terra de excelência...

por Zulmiro Sarmento, em 14.01.15

MAIS UM DIA C (CR7)


 
 O prémio atribuído a Cristiano Ronaldo encerra alguns ensinamentos. Descontando, pois, a compreensível euforia de momentos como este, destacaria sobretudo duas importantes lições.

Em primeiro lugar, fica provado que Portugal é terra de excelência. Há portugueses que ombreiam com os melhores e que são capazes de ser, inclusive, os primeiros na sua profissão.

 

Num universo tão competitivo como o futebol profissional, dá que pensar ver como o melhor nasceu neste nosso país. E repare-se que foi necessário singularizar a partir de um leque vastíssimo onde a competência é muita e a competição bastante.

 

Ser o melhor e ser português é, por isso, uma conjugação que nos deve encher de alegria. Numa altura em que a nossa auto-estima está a cair, faz bem olhar para estes fenómenos. Também em Portugal é possível emergir o que há de melhor.

 

Em segundo lugar (e, talvez, este dado contraste com o anterior), fica a ideia de que o português, para singrar, tem de sair.

 

Se Cristiano Ronaldo não tivesse saído do Sporting, alguma vez obteria o mesmo reconhecimento? O talento seria o mesmo, mas a projecção seria igual?

 

Diga-se o mesmo de Luís Figo. Também ele é português. Também ele foi considerado o melhor do mundo. Mas, para isso, também ele teve de sair de Portugal.

 

Especulativamente, podemos conjecturar. Se o Sporting, além de formar óptimos jogadores, tivesse condições de os segurar, onde não estaria ele? Se ao talento formativo aliasse capacidade financeira, não estaríamos em presença de um potencial dominador do futebol europeu? Já viram o que seria uma equipa com Cristiano Ronaldo, Quaresma, Simão, Futre, Figo, etc.?

 

Se pensarmos bem, é o que se passa em vários domínios. Eduardo Lourenço é português, mas vive fora de Portugal. António Damásio é português, mas afirmou-se longe de Portugal. D. José Saraiva Martins idem.

 

Portugal é capaz de produzir o que há de melhor. Mas só quando se sai de Portugal é que o reconhecimento chega. Seremos melhores lá fora? Teremos de sair para ser?

 

Fatalidade? Não quero crer. Realidade? Sim. Realidade que importa estudar e urge superar.

 

Fica claro que Portugal é terra de excelência. Que nos falta para conseguirmos cá dentro o que obtemos lá fora?

Fonte: aqui

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publicado às 10:51

Isto é, ou não é, o verdadeiro Islão?!

por Zulmiro Sarmento, em 12.01.15

 

O incidente com o jornal Charlie Hebdo chocou-nos a todos e gerou uma onda de solidariedade por todo o mundo, mas também fez sair cá para fora os lugares-comuns de sempre, que em nada contribuem para o debate.

 

Começo com um que ouvi esta manhã de um respeitado comentador de assuntos internacionais, quando questionado sobre a importância da religião neste fenómeno do terrorismo. Resposta pronta: “Isto não tem nada a ver com a religião! Isto é terrorismo puro”.

 

Desculpa? Um grupo de homens que se identificam acima de tudo como muçulmanos atacam um jornal conhecido por gozar com a sua religião (entre outras), gritando palavras de ordem como “Deus é Grande” e “Vingámos o profeta” e isso não tem nada a ver com religião?

 

No dia seguinte outro  homem que se identifica como muçulmano mata a tiro uma mulher polícia e, passadas 24 horas, entra numa loja judaica de produtos kosher onde faz reféns, e isto não tem nada a ver com religião?

 

Uma coisa é discutir se estes homens e os seus actos são verdadeiramente representativos da religião que dizem professar, (já lá vamos), mas dizer que isto não tem nada a ver com religião é absurdo. Claro que tem tudo a ver com religião. Pode haver outros assuntos à mistura, não nego. Pode ter a ver com imigração, com políticas de integração, com racismo, com muita coisa. A Ana Gomes até acha que a culpa é da austeridade... mas não me venham dizer que não tem nada a ver com religião.

 

Nunca é demais repetí-lo: A religião é um fenómeno potentíssimo, no sentido em que move o ser humano a fazer coisas de grande dimensão. Para o bem, como felizmente vemos tantas vezes em tantas pessoas fantásticas que se dão inteiramente para ajudar os seus irmãos e vizinhos, mas também para o mal, como já vimos muitas vezes na história e vimos por estes dias em Paris.

 

“Isto não é o verdadeiro Islão”

Antes de mais convém ver quem é que está a dizer isto.

 

Se for o Sheikh David Munir, como muitas vezes o faz, é uma coisa. Ele é uma autoridade na comunidade islâmica, é um conhecedor do Islão e um líder muçulmano com um longo passado de participação civil e em actos de diálogo inter-religioso. Podemos discutir com ele se tem razão ou não, mas aceito a autoridade que ele tem para dizer que o que aqueles dois irmãos fizeram não é representativo do verdadeiro Islão.

 

O que não aceito é que o Zé da Esquina, que aparece como convidado para falar no telejornal, mas sabe tanto sobre o Islão como eu sei sobre física quântica, diga que isto, ou qualquer outra coisa, é representativo do verdadeiro islão. Como não aceito que o diga o Obama ou o Cameron, ou o Passos Coelho, ou sequer o o Papa Francisco.

 

Não é representativo porquê? Acaso eles se consideram mais conhecedores dos ensinamentos islâmicos que os pregadores que radicalizaram estes e tantos outros terroristas? Sabem recitar o Alcorão? Sabem explicar as suas passagens? Sabem explicar as incongruências que existem no texto?

 

Não é o verdadeiro Islão porquê? Porque não vos apetece? Porque é politicamente correcto dizê-lo? Porque ouviram o Sheikh David Munir a dizê-lo? É que se for esse o caso então citem-no, mas não falem como se tivessem um pingo de autoridade para estar a dizer a dois muçulmanos qual deles é que é verdadeiro e qual é que é falso.

 

Eu não sei se isto é o verdadeiro Islão ou não. O que sei é que neste momento há uma divisão no interior do Islão (uma de muitas), entre as pessoas que acham que sim e as que acham que não.É um problema, e é grave, seria ingénuo negá-lo. É uma questão que mundo muçulmano tem de enfrentar e tem de tentar resolver. É um debate que tem de se travar a nível teológico e a nível filosófico, e não com slogans e frases bonitas. Não basta catalogar uma corrente como não-islâmica e esperar que desapareça. Não vai desaparecer.


“O Islão é isto mesmo”

Aqui aplica-se exactamente a mesma lógica, mas ao contrário. É isto mesmo, por alma de quem? Porque vêem alguns muçulmanos a comportarem-se assim? Então os milhares que vivem pacificamente, que defendem os seus vizinhos cristãos, que pagam impostos e não sonhariam olhar de lado para um polícia, quanto mais matá-lo a sangue frio... estão enganados?

 

Também aqui, não reconheço a 99% das pessoas que o dizem qualquer autoridade para o fazerem. Claro que podem ter a sua opinião, mas ninguém é obrigado a dar-lhes importância.

 

Mas esta frase tem uma agravante. É que enquanto a anterior corre o risco de ser demasiado ingénua, não é uma particular ameaça. Esta, pelo contrário, incita à divisão social e ao ódio e, acima de tudo, só pode servir para radicalizar ainda mais os muçulmanos que a ouvem.

 

Estes terroristas que atacaram o Charlie Hebdo odeiam-nos. Não odeiam só os que fazem caricaturas de Maomé, odeiam-nos a todos, as nossas religiões, o nosso estilo de vida, a nossa maneira de vestir, os nossos hábitos, a nossa democracia, os nossos valores, os nossos direitos. A pior coisa que podemos fazer, em resposta aos seus ataques, é incentivar divisão social e purgas que, levadas ao extremo, representam precisamente o mesmo que eles querem: separação, ausência de direitos e liberdades, morte e terror.

 

Então não podemos dizer nada?

Eu sei que custa muito, hoje em dia, assumirmos que não temos certezas, mas é um exercício de humildade que nos fica bem. Quando me pedem a opinião sobre estes assuntos eu digo sempre que não sei. Os terroristas e o Estado Islâmico representam o verdadeiros Islão? Ou são os Sheikhs David Munir e os milhares de muçulmanos, como é o caso em Portugal, que vivem a sua vida em paz, contribuem para a sociedade e não chateiam ninguém?

 

Não sei. Não sou muçulmano e por isso não tenho nada que opinar sobre isso, da mesma maneira que acharia de uma tremenda arrogância o Sheikh David Munir ou outro qualquer vir opinar sobre quem representa o verdadeiro Cristianismo, os católicos liberais, ou os conservadores, ou os protestantes, ou os lefebvrianos.

 

O que posso dizer é que sei muito bem de quais gosto mais! Disso não há a menor dúvida. Posso dizer que independentemente de quem tem razão nesse debate teológico interno, eu preferia sentar-me à mesma mesa com alguém da linha do Sheikh David Munir do que com alguém que abraça os ideias dos jihadistas. E isso já não é coisa pouca, a meu ver.

 

Porque aquilo que eu amo sobre a nossa sociedade e os nossos valores não são as caricaturas nojentas que jornais como o Charlie Hebdo tanto gostam de publicar, são os valores que permitem que eles o façam e que ao mesmo tempo protegem a minha liberdade de dizer que não os quero ler, não os acho piada e não quero ter nada a ver com eles. Os valores que eu amo são os que me permitem sentar à mesma mesa que um muçulmano e partir pão com ele e discutir com ele temas do Céu e da Terra, de vida ou de morte, em paz. A salvaguarda desta realidade é algo que é muito mais importante, nesta altura, do que a repetição de frases politicamente correctas, mas racionalmente ocas.

Fonte aqui

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publicado às 10:43

Coisas que acontecem na sacristia e na rua...

por Zulmiro Sarmento, em 11.01.15

Como penso que deveria ser um bom guia espiritual


 


Um dia destes uma paroquiana, com idade para ser minha mãe, entrou pela sacristia dentro só para me dizer que tinha uma admiração especial pelo padre da freguesia, sobretudo porque tinha sempre uma palavra, uma resposta, um caminho para apontar às suas inquietações. O senhor padre é um bom guia espiritual. Agradeci amavelmente e prossegui nos meus afazeres, para que a vaidade não subisse para cima da mesa de altar. No mesmo dia, porém, e talvez para o Senhor Deus reforçar a ideia de que o altar não tem espaço para vaidades, alguém se dirigiu a mim para uma outra palavra, num sentido quase igual, mas diametralmente oposto. Tinha idade para ser minha irmã, a senhora que me disse que não entendia como tinha sempre uma palavra, uma resposta para todas as perguntas que me eram feitas. Não se coibiu, inclusive, de acrescentar que lhe dava ideia de que eu tinha a mania que sabia tudo. Mas não sei. E também não sei se quero saber tudo, pois acho que no dia que soubesse tudo, deixaria de caminhar. Acabei por partilhar com esta segunda senhora o que há muito me parece uma verdade, ainda que não tenha a certeza. Um bom guia, inclusive ou sobretudo o guia espiritual, não é aquele que tem todas as certezas, mas aquele que as aponta.

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publicado às 11:16

Depois de Paris

por Zulmiro Sarmento, em 11.01.15

 

Imagem

 

Esta noite a angústia

não quis encontrar o sono

Toda a noite perguntei

como

Como levar paz onde há guerra

como levar concórdia

onde há cólera

sete de janeiro em Paris

diz-nos é impossível

para o amor não há lugar

tudo é ódio

Sempre acreditei

que ser muçulmano

é ser bom crente

que ser judeu é um privilégio

que o cristianismo é Cristo que se repete

de geração em geração dizendo

sede irmãos

Sempre acreditei

que quem não tem fé

não é um ateu

mas alguém à espera de testemunho

Sempre acreditei

que a paz é o caminho da vida

Não sou um iludido

nem mesmo hoje quando o mundo

grita vingança

 

Conversão é abertura

se não existe

o mundo é crime

é terrorismo

é lei do mais forte

 

«Onde há ódio, que eu leve o amor»

mas como

se estou paralisado

mudo

Ensina-me Senhor

um caminho novo

para falar de paz

para dizer de coração

somos irmãos

Confio-te Senhor

o meu medo

Tu que os paralíticos

fazes andar

os mudos falar


Ernesto Olivero
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins

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publicado às 02:22

15 DOENÇAS (CRÓNICAS, DE DIFÍCIL CURA). MAS FALTA A 16: TODAS AS 15 SÃO PARA O PADRE DA PARÓQUIA VIZINHA PORQUE NÃO SOFRO DELAS...

por Zulmiro Sarmento, em 07.01.15

No encontro de Natal com a Cúria Romana, o Papa Francisco elencou as 15 doenças que enfraquecem a Igreja e os homens que a formam. Um texto riquíssimo que se assume como verdadeiro exame de consciência.

1. Sentir-se imortal ou indispensável
“Uma cúria que não se autocritica nem se actualiza, que não procura melhorar é um corpo doente. O Papa recorda que uma visita aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver o nome de tantas pessoas que “talvez pensassem ser imortais, imunes às responsabilidades”. É uma doença daqueles que “se sentem superiores a todos e não ao serviço de todos. Deriva muitas vezes a patologia do poder, do “complexo dos Eleitos”, do narcisismo.

2. Excesso de activismo
A doença daqueles que, como Marta na passagem do Evangelho “se afundam no trabalho, negligenciando, a ‘parte melhor’; o sentar-se aos pés de Jesus. O Papa recorda que Jesus “chamou os seus discípulos a ‘descansar um pouco’ porque negligenciar o descanso conduz ao stress e à agitação.”

3. Petrificação mental e espiritual
Daqueles que “perdem a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e se escondem debaixo da correspondência transformando-se em ‘máquinas rotineiras’ e não em homens de Deus”, incapazes de “chorar com os que choram e rir com os que riem!”

4. Excessiva planificação
“Quando o apóstolo planifica tudo minunciosamente e acredita que assim as “coisas efectivamente progridem, transformando-se num contabilista. Preparar bem é necessário mas sem cair na tentação de querer controlar a liberdade do Espírito Santo… É sempre mais fácil e cómodo reclinar-se nas suas posições estáticas e imutáveis."

5. Falta de coordenação
É daqueles que “perdem o sentido da comunhão e o corpo perde a sua harmoniosa funcionalidade”, tornando-se “uma orquestra que produz ruído porque os seus membros não cooperam e não vivem o espírito de comunhão e equipa."

6. Alzheimer espiritual
Isto é, a “perda progressiva das faculdades espirituais” que “causa graves limitações às pessoas”, fazendo-as viver num “estado de absoluta dependência dos seus pontos de vista muitas vezes imaginários”. Esta doença identifica-se em quem “perdeu a memória” do seu encontro com o Senhor, em quem depende das suas “próprias paixões, caprichos e manias”, em quem “constrói à sua volta muros e hábitos.”

7. Rivalidade e vanglória
“Quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias se tornam o objectivo prioritário da vida… É a doença que nos leva a ser homens e mulheres falsos e a viver um falso ‘misticismo’ e um falso ‘quietismo’. ”

8. Esquizofrenia espiritual
É a doença daqueles que vivem “uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica da mediocridade e do progressivo vazio espiritual que os títulos académicos não conseguem preencher”. Atinge com frequência aqueles que “abandonam o serviço pastoral, limitando-se às papeladas burocráticas, perdendo deste modo o contacto com a realidade, com as pessoas concretas. Criam desta forma um mundo paralelo, onde metem de lado tudo aquilo que ensinam aos outros” e conduzem a uma vida “escondida” e ”frouxa.”

9. Murmuração e intriga
[a doença] Aproveita-se da pessoa e transforma-a numa “semeadora de discórdia” (como Satanás) e, em tantos casos “mata a sangue frio” a fama dos colegas e irmãos. É a doença das pessoas covardes que, não tendo a coragem de falar directamente, falam nas costas. Estejamos atentos ao terrorismo dos boatos!.”

10. Divinização dos chefes
A doença dos que “cortejam os superiores”, vitimas do “carreirismo” e do “oportunismo” e que “vivem ao serviço pensando unicamente naquilo que devem obter e não no que devem dar. São “pessoas mesquinhas”, inspiradas apenas no seu “egoísmo fatal”. Também pode contagiar os superiores hierárquicos “quando cortejam alguns dos seus colaboradores para obter a sua submissão, lealdade e dependência psicológica, mas cujo resultado final é uma verdadeira cumplicidade.”

11. Indiferença
“Quando se pensa apenas em si mesmo perde-se a sinceridade e o calor das relações humanas. Quando o mais experiente não coloca o seu saber ao serviço dos colegas. Quando por ciúme ou má fé se experimenta gozo por ver cair o outro, em vez de o animar e encorajar. 

12. Cara de enterro
É a enfermidade das pessoas “anti-sociais e desagradáveis, que entendem que, para serem respeitadas é necessário pintar a cara de tristeza, gravidade e tratar os outros – sobretudo os que são considerados inferiores – com rigidez, dureza e arrogância.”
“A severidade encenada e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e insegurança em si mesmo. O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortês, serena, entusiasta e portadora de alegria.” O papa Francisco convida a que sejamos cheios de humor e com capacidade de nos rirmos de nós mesmos: “O bem que nos faz uma boa dose de humor!”.

13. Acumulação

Verifica-se "Quando o apóstolo procura colmatar o vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade mas apenas para se sentir seguro.

14. Grupinhos
Quando “a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo e, em algumas situações, a Cristo. Também esta doença tem na sua génese boas intenções mas, com o passar do tempo, escraviza os membros transformando-se ‘num cancro’ “.

15. Exibicionismo
Verifica-se "Quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder, e o seu poder em bens para obter mais-valias ou ainda mais poder. É a doenças das pessoas que procuram, sem cessar, multiplicar poderes e, tendo em conta esse fim, são capazes de caluniar, de difamar e de descridibilizar os outros, mesmo nos jornais ou nas revistas. Naturalmente, o que pretendem é exibir-se e demonstrar que são mais capazes do que os outros.” Uma doença que “faz muito mal ao corpo porque conduz as pessoas a justificar o uso de qualquer meio para atingir determinado fim, muitas vezes em nome da justiça e da transperência.”

O Papa Francisco concluiu recordando que leu uma vez que os "sacerdotes são como os aviões, só fazem notícia quando caem, no entanto são muitos mais os que voam. Muitso são os que os criticam, mas são poucos os que oram por eles." Uma frase que Francisco considera "verdadeira porque mostra a importância e delicadeza do nosso serviço sacerdotal e o mal que poderia causar ao corpo da Igreja a queda de um só sacerdote."

 

 

Tradução e adaptação por Claudine Pinheiro a partir do texto publicado no Vatican Insider

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publicado às 12:56

Nostalgia de Deus

por Zulmiro Sarmento, em 07.01.15

 

Notamos uma busca de Deus neste mundo materializado em que vivemos. Há uma curiosa lenda que tenta explicar essa ânsia nostálgica de Deus no íntimo de cada ser humano.

Depois do primeiro fracasso com o primeiro homem, Deus decidiu criar outro. Fez um belo boneco de barro e depois de activá-lo com o sopro a vida iria modelar-lhe um rosto. Tomou o boneco nas suas mãos e animou-o. Mas o boneco, logo que se sentiu com vida, fugiu das mãos do Criador. Queria ser ele mesmo a escolher o seu próprio rosto. Andou, andou e, longe de Deus, parou para pensar qual seria o seu rosto.

Foi experimentando diversos rostos que viu à sua volta na Natureza. Tomou o rosto de águia e passou a viver orgulhoso, como ave de rapina. Tomou o rosto de réptil e a sua língua só lançava veneno. Tomou o rosto de leão e passou a viver à custa dos mais fracos. Tomou o rosto de flor, mas cansou-se de ser objecto de adorno. Tomou o rosto de pedra, mas não pôde resistir muito tempo a tanta passividade.

Continuou a fazer várias experiências, mas cada vez se sentia menos homem. Começou a ficar cada vez mais triste e a sentir saudades do calor das mãos que o tinham criado e lhe iam modelar um rosto. Mas não sabia o caminho do regresso...

Esta procura ansiosa de Deus que se vem observando no decurso da História e mais se observa actualmente pelo aparecimento de numerosas seitas e de movimentos de cariz religioso, esta procura do Transcendente revela-nos essa nostalgia. Mas nem sempre os homens encontram o caminho do regresso às mãos do Criador. Alguns desistem e dizem-se agnósticos. Outros, torturados por esse desencontro, acham mais fácil negá-lo. E dizem-se ateus.

Outros procuram identificar-se com o rosto de Jesus Cristo, rosto visível do Pai Criador de todas as coisas.

Esta é a imagem verdadeira do Deus-Pai apresentada por Jesus Cristo. Só esta imagem pode levar à verdade sobre a fé e a esperança.

Mario Salgueirinho

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publicado às 10:45

NÃO «ARRUMEMOS» O PRESÉPIO

por Zulmiro Sarmento, em 07.01.15
 

 

  1. A esta hora, muitos presépios já foram desmontados.

A lição da manjedoura porventura já estará esquecida. Alguma vez terá sido aprendida?

 

  1. O Natal mostra que Deus, quando vem até nós, não corre atrás dos poderosos.

Está disponível para todos, mas não alimenta dúvidas acerca de quem está mais próximo: dos pequenos. Tudo o que for feito a eles é feito a Ele (cf. Mt 25, 40).

 

  1. A Igreja de Cristo só pode estar onde Cristo esteve, onde Cristo está: aberta a todos, mas ao lado dos pobres.

Há uma nova ordem que se inaugura. Na base não está o poder, está o amor. Não está o mando, está o serviço.

 

  1. Na missão, não convencemos apenas pelas palavras.

Aliás, ninguém será convencido pelas palavras se os gestos não estiverem em conformidade com elas.

 

  1. Como Jesus foi sempre a transparência do Pai — «quem Me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9) —, não deveria a Igreja procurar ser sempre a transparência de Jesus?

Para tal, não basta ser o eco das Suas palavras. É fundamental procurar ser a reprodução das Suas atitudes, dos Seus gestos.

 

  1. Jesus é a Palavra feita vida e a vida feita Palavra. Palavra e vida estão plenamente sintonizadas em Jesus.

Num tempo em que se gritam tantas palavras, faz pena que a Palavra de Jesus seja remetida ao silêncio e atirada para o esquecimento. Se a memória ainda a guarda, a prática, muitas vezes, parece que não a acolhe.

 

  1. Ao desmontarmos o presépio, não atiremos para longe a manjedoura. Retenhamos a sua permanente lição.

A manjedoura é o certificado da humildade de Deus e o convite ao despojamento da Igreja.

 

  1. Deus não entra no mundo pela pompa. Deus vem pela simplicidade e pela pobreza.

Uma Igreja pobre será — sempre — a maior riqueza que teremos para oferecer.

 

  1. Estiquemos o Natal a todo o ano. Construamos um Natal para toda a vida. Não apaguemos a luz que Deus acendeu em nós.

Não eclipsemos o sorriso. Cubramos o cinzento dos nossos dias com a luz do presépio, com o encanto da manjedoura, com a paz de Belém.

 

  1. Deixemos brilhar, à nossa frente, a estrela da bondade. E deixemos, atrás de nós, um rasto de esperança.

Enfim, não arrumemos totalmente o presépio. Ele deixou de ser visível cá fora. Mas tem de continuar presente na nossa vida: aqui e agora!

 

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