Passou Agosto, mas ficou o gosto: o gosto provocado pelo primeiro cheiro a mosto.
É na vinha onde muitas pessoas passam muito tempo.
É na vinha onde tantos gastam — e se desgastam — tanto.
É na vinha onde as energias se consomem e os rendimentos como que se encolhem.
A vinha até dá muito, mas os mercados dão pouco pelo muito que se trabalha na vinha.
Na vinha, não se trabalha só agora, mas trabalha-se também agora, sobretudo agora.
Em plena época das vindimas, sabemos bem quanto custa trabalhar muito e receber pouco.
Em plena época das vindimas, sentimos bem o peso da injustiça e o (amargo) sabor da ingratidão. Afinal, gasta-se muito todo o ano a pensar nas vindimas. E acaba-se por conseguir pouco nas vindimas para o resto do ano.
O problema não está na terra, que até é generosa. O problema parece estar em quem teima em não valorizar devidamente o que se produz na terra.
Daí que o tempo das colheitas costume baloiçar entre a alegria e a frustração.
O que se recebe nem sempre compensa o que se gastou.
Resta-me, pois, augurar uma feliz colheita e desejar uma justa recompensa por tanto trabalho.