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A Quaresma vem ao nosso encontro

por Zulmiro Sarmento, em 16.02.12

 

A Quaresma faz-nos passar do «deixa andar» e do viver espiritualmente entorpecido ao estado da corda tensa

D.R.

Um dos mais espantosos apelos de Quaresma que conheço não foi assinado por um eclesiástico, nem por um teólogo, mas sim por um poeta. Escreveu-o T. S. Eliot em 1930, três anos após a sua conversão, e deu-lhe um nome austero, sem o cómodo encosto que por vezes é o dos adjetivos: chamou-lhe simplesmente “Quarta-feira de Cinzas”.

Nesse poema, dizem-se três coisas fundamentais. Se as soubermos ouvir, percebemos que elas correspondem a caminhos muito objetivos (a mapas pessoais e comunitários) de conversão. E não é esse o desafio da Quaresma, e desta Quaresma em particular?

 

1. A Quaresma vem ao nosso encontro para que nos reencontremos. Os traços que o poeta desenha coincidem dramaticamente com os do nosso rosto: damos por nós a viver uma vida que não é vida, acantonada entre lamentos e amoques, sem saber aproveitar verdadeiramente a oportunidade que cada tempo constitui, como se tivéssemos capitulado no essencial, e passássemos a olhar para as nossas asas (e para as dos outros) sem entender já o papel delas. “Esmorecendo, esmorecendo”.

 

2. A Quaresma vem ao nosso encontro para nos devolver ao caminho pascal. O que é que nos dá o sentido de redenção no tempo? – pergunta o poema. E o poema evangelicamente responde: o sentido de transformação é-nos dado quando aceitamos trilhar um caminho. O que nos permite passar do cerco das coisas triviais à revigoração da fonte, o que do sono nos dá acesso à vigília iluminada da vida é aceitarmos o desafio de nos fazermos de novo à estrada, e à estrada menos óbvia e mais adiada que é aquela interior. A Páscoa é a grande possibilidade de revitalização. Mas é preciso consentir naquela imagem brutalmente verdadeira do profeta Ezequiel: por agora somos mais uma sucata de restos, do que uma primavera do Espírito.

 

3. A Quaresma vem ao nosso encontro para que a tensão criadora do Espírito de Jesus redesenhe em nós a vida. Interessantes são os verbos que o poeta usa como prece: “que sejamos instigados”, “que sejamos sacudidos”. A Quaresma faz-nos passar do “deixa andar”, e do viver espiritualmente entorpecido ao estado da corda tensa. Aquela que é capaz de avizinhar da nossa humanidade reencontrada a música de Deus.

José Tolentino Mendonça

ECCLESIA

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publicado às 09:43

Diferenças entre céu e...

por Zulmiro Sarmento, em 15.02.12

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no
peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou-se. Quando voltou a
abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.

Ainda meio tonta, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas
vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender
bem o que estava a acontecer, a executiva bem-sucedida abordou um dos
passantes:

- Enfermeiro, eu preciso voltar com urgência para o meu escritório,
porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida
para cá por engano, porque o meu seguro de saúde é Platina, e isto
aqui está a parecer-me mais a urgência dum Hospital público. Onde é
que nós estamos?

- No céu.

- No céu?...

- É.

- O céu, CÉU....?! Aquele com querubins, anjinhos e coisas assim?

- Exacto! Aqui vivemos todos em estado de graça permanente.

Apesar das óbvias evidências, ausência de poluição, toda a gente a
sorrir, ninguém a usar telemóvel, a executiva bem-sucedida levou tempo
a admitir que havia mesmo batido a bota.

Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das
infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação
era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana iria receber o
bónus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de
presidente do conselho de administração da empresa.

E foi aí que o interlocutor sugeriu:

- Talvez seja melhor a senhora conversar com Pedro, o coordenador..

- É?! E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.


- Assim? (...)

- Quem me chama?

A executiva bem-sucedida quase desabava da nuvem. À sua frente,
imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o
próprio Pedro.
Mas, a executiva tinha feito um curso intensivo de approach para
situações inesperadas e reagiu logo:

- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...

- Executiva... Que palavra estranha. De que século veio?

- Do XXI. O distinto vai dizer-me que não conhece o termo 'executiva'?

- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.

Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima
autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em
modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante
currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma
posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.

- Sabe, meu caro Pedro. Se me permite, gostaria de lhe fazer uma
proposta. Basta olhar para essa gente toda aí, só na palheta e andando
a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para
dar um upgrade na produtividade sistémica.

- É mesmo?

- Pode acreditar, porque tenho PHD em reorganização. Por exemplo, não
vejo ninguém usando identificação. Como é que a gente sabe quem é quem
aqui, e quem faz o quê?

- Ah, não sabemos.

- Percebeu? Sem controlo, há dispersão. E dispersão gera desmotivação.
Com o tempo isto aqui vai acabar em anarquia. Mas podemos resolver
isso num instante implementando um simples programa de targets
individuais e avaliação de performance.

- Que interessante...

- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um
organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de
perfis psicológicos não consigam resolver.

- !!!...???...!!!...???...!!!

- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a
definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas
factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do
investimento do Grande Accionista... Ele existe, certo?


- Sobre todas as coisas.

- Óptimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing
progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de
procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de
produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico,
por exemplo, parece-me extremamente atractivo.

- Incrível!

- É óbvio que, para conseguir tudo isso, teremos de nomear um board de
altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa
assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e
mordomias da praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho
a certeza de que vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela
frente vai resultar num Turnaround radical.
- Impressionante!

- Isso significa que podemos partir para a implementação?

- Não. Significa que a senhora terá um futuro brilhante... se for
trabalhar com o nosso concorrente. Porque acaba de descrever,
exactamente, como funciona o Inferno...

Max Gehringer
(Revista Exame)



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publicado às 05:16

OS 10 MANDAMENTOS DO MATRIMÓNIO

por Zulmiro Sarmento, em 14.02.12

1. Amarás nas suas quatro dimensões

 

- Dimensão afectiva
- Dimensão espiritual
- Dimensão da amizade
- Dimensão sexual
2. Respeitarás o teu conjugue
O respeito perde-se:
- Pela palavra
- Pelo silêncio (silêncios que matam)
- Pelos gestos: (quando se chega a gestos violentos, acaba-se o matrimónio)
3. Conversarás com o teu conjugue
Saber escutar e falar
Não é mera tagarelice, mas partilha de tudo o que há no interior
4. Gastar-te-ás em detalhes para com o teu conjugue (essa flor, esse gesto, essa palavra que sabes que lhe agrada)
5. Cultivarás o sentido do humor. A vida não é uma comédia, mas também não uma tragédia. É um drama, com coisas boas e más.
6. Oferecerás ao teu conjugue um dia de passeio por mês, a sós, sem os filhos.
7. Viverás o matrimónio não como uma meta, mas como um caminho. Se o consideras uma meta, é como dizer “já cheguei”, então já tudo terminou, canso-me, aborreço-me, apoltrono-me e termino com outra.
8. Não falarás das ofensas, defeitos e falhas a cada momento. O que passou, passou.
9. Saberás perdoar, inclusivé a infidelidade.
10. Confiarás no teu conjugue. Os ciúmes matam o matrimónio.
Estes Dez Mandamentos devem sustentar-se em Deus, caso contrário são muito difíceis de cumprir.
Decálogo para ser fiel:
1) Reflectir sobre o sagrado do matrimónio aos olhos de Deus. É um caminho de realização pessoal e é sagrado porque vem de Deus, e o que Deus quer é sempre bom. É sagrado porque Cristo o elevou à dignidade de sacramento. É o símbolo do amor de Deus à humanidade. É muito proveitoso ler a carta dos Efésios.
2) Estar disposto a dar e a receber. Cada um tem um tesouro que deve estar disposto a compartilhar com o outro, cada um tem características próprias que deve por ao serviço do outro. A mulher é mais intuitiva, generosa, delicada, terna, com mais tacto. O homem é mais pragmático, racional, firme. Mutuamente devem compenetrar-se e complementar-se nas carências de cada um. Há que dar e receber. Se só damos, esvaziamo-nos, se só recebemos, somos egoístas. O amor é dar e receber.
3) Gastar-te-ás nos detalhes para com o outro. O detalhe é a essência, o extracto do amor. “Diz-me que detalhes tens com o teu esposo/a e dir-te-ei como é o teu amor”.
Detalhes que uma mulher pediria ao seu esposo:
· Não te queixes por estares esgotado pelo trabalho
· Não me interrompas quando estou a falar
· Depois de uma discussão, não passes três dias sem me falar, zangado
· Não me lembres continuamente as minhas faltas passadas
· De vez em quando diz-me que estou bonita e atraente
· Durante as refeições, presta-me atenção porque não sou uma parede
· Fala-me um pouco do que vais fazer, ainda que seja trivial
· Preocupa-te com os teus filhos quando chegas a casa
· Colabora nas tarefas domésticas
· Nalgum dia especial, leva-me a jantar fora
· Dá-me um beijo ao despedir-te.
Detalhes que um esposo pediria à sua mulher:
· Enche os meus tempos de descanso com paz e sossego e fala-me dos gastos no momento oportuno
· Gasta menos, sê mais económica
· De vez em quando elogia-me, elogia a minha carreira pois “o meu triunfo é também teu”
· Nunca compares o nosso matrimónio com outros
· Sê oportuna quando tiveres de me corrigir e nunca diante dos nossos filhos e amigos
· Não te queixes por tudo nem discutas por insignificâncias
· Não rejeites sistematicamente os meus programas de televisão, os meus gostos
4) Respeitar as características do outro. Não podemos mudar as características do outro, pelo contrário, devemos enriquecermo-nos com elas. O outro é diferente de ti, por isso respeita-o. O respeito significa capacidade de perdoar, abertura, não reparar nos defeitos do outro, compreensão. O respeito pode quebrar-se de três maneiras: com a palavra (dura, grosseira, ordinária), por actos (agressão física) ou com gestos (caras largas, desprezos, silêncios eloquentes). Há que saber ver as virtudes do outro e lisonjeá-las.
5) Evitar discussões desnecessárias. As discussões desnecessárias desunem e destroem a harmonia familiar. Não se deve discutir, deve-se analisar. Com as discussões ganham-se aborrecimentos, nervos, maus exemplos para os filhos, idas ao psicólogo ou ao psiquiatra.
6) Superar o passado para não voltar a antigos episódios de ofensas. ”Fugiste, disseste-me, deixaste de fazer, dizia-te”, são frases de censura. O passado há que perdoá-lo com magnanimidade. Sobre o passado deve-se construir um futuro de amor e perdão. Se se fala continuamente das ofensas, a ferida não cura, não cicatriza, continua a supurar e termina com lesões.
7) Dominar a tendência para controlar, vigiar o conjugue. “Que fizeste, com quem estiveste?”. O matrimónio tem de ter como base a confiança no outro. Se continuamente se desconfia do conjugue, se se tem medo da infidelidade, se se vive com zelos, esse matrimónio é um tormento. O conjugue não deve ser nunca polícia do outro conjugue, mas companheiro e amigo.
8) Cultivar o sentido do humor O bom humor oxigena o matrimónio. A vida não é uma tragédia nem uma comédia, é um drama com coisas boas e más. O humor alcança um bom nível de higiene mental. A pessoa sem humor torna-se desconfiada, mal-humorada, susceptível. O bom humor faz crescer o matrimónio em harmonia e paz.
9) Gratifica o teu esposo/a com um dia azul e cada ano com um bom presente. Há que romper com a monotonia, a rotina. Há que sair para passear com a esposa e filhos, levá-los a almoçar fora, oferecer-lhes algo de surpresa, sem ter de esperar por comemorações, aniversários, etc.
10) Integrar todos os aspectos do amor (afectivo, amistoso, sexual, espiritual). Afectivo: o amor afectivo comunica ternura. O que é a ternura? É esse meter-se no estado de ânimo do outro, partilhar esse ânimo. Como é possível que o esposo/a não se dê conta que o outro conjugue está doente, triste? Porquê? A ternura acerca-se da alma para dar compreensão ao outro, é altruísta, é desejo de compreensão, de aceitação do outro. Pelo contrário a sensualidade é egoísta, busca o seu próprio prazer, o seu próprio interesse de gozo. O amor efectivo no matrimónio manifesta-se através de uma carícia nobre, um sorriso. É desinteressado.
Sexual: O sexo é um instrumento que Deus criou com duas finalidades: procriar (comunicar a vida) e para crescer no amor, na entrega dentro do matrimónio. Deste modo o sexo converte-se numa linguagem interior profunda com a ânsia de transmitir ao outro o que somos. É a entrega de toda a pessoa, se não se dá isto, é pura satisfação. A pornografia distorce o sentido do sexo.
O corpo não é um bem de consumo, é instrumento de diálogo profundo de duas pessoas. Freud disse: “todos os males que nos acontecem, vêm-nos por reprimir o sexo” e aconselha dar-se o prazer. É evidente que esta afirmação é errada.
Mas por sua vez a Igreja tem a sua regra sobre a vida sexual a qual deve ser: serena, equilibrada, sã e dentro dos limites da dignidade humana. O sexo dentro do casal, não deve ser o mais importante, o único. Se estas relações começam assim vão por mal caminho já que divinizam, entronizam o sexo. O sexo é um meio para o fim que já explicámos antes. Converter o sexo num fim em si mesmo é um erro.
Amistoso: amar o outro como pessoa, respeitá-lo como tal. Encontrar no outro um outro eu com o qual partilhar alegrias, tristezas, consolos, dúvidas. É o amor que se dá ao outro na intimidade da pessoa. Revelamo-nos à pessoa a quem nos damos. Amar o outro buscando, querendo, protegendo, defendendo o bem do outro. O amor de amizade diz: eu quero-te porque és tu, faço-te feliz porque te quero, enquanto que o egoísta diz: fazes-me feliz porque me satisfazes. O egoísmo é o verme do amor. Ter um amigo é ter um tesouro, quem o encontre que não o perca. É um amor firme quando estamos débeis, alegre quando estamos tristes. Cristo é o nosso melhor amigo, logo deve seguir o conjugue com o qual vamos partilhar a nossa existência.
Espiritual: Amar o outro porque é filho de Deus, é irmão em Cristo e temos que o amar com as mesmas características do amor divino: com amor de perdão, aberto, que anima, que reparte tudo o que tem, que sabe ver detrás não só o esposo/a mas um filho de Deus. Deus ama a todos com amor espiritual e transmitiu-o à humanidade através de Cristo para que assim possamos amá-lo melhor e amar os Homens por amor a Deus. Este amor aumenta-se com oração e sacramentos. Quem mais ora, mais amor espiritual terá. Se não se dá esta dimensão espiritual, as outras dimensões caem.
P. Antonio Rivero

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publicado às 03:11

O dinheiro e a educação dos filhos

por Zulmiro Sarmento, em 13.02.12
«Por muito que me esforce, não consigo evitar que a minha casa se encha de coisas inúteis. Quando as vi pela primeira vez — tenho de o reconhecer — não duvidei de que eram necessárias. Com o passar do tempo, pelo contrário, vejo que poderia viver perfeitamente sem ter comprado muitas dessas coisas. O problema é que no momento não me lembro disto. Ou melhor, até me lembro, mas convenço-me de que necessito mesmo daquilo — e compro.
«Gostaria, sinceramente, de aprender a comprar com mais sensatez. Ainda mais agora que estamos a viver uma séria crise económica. Há tanta gente a passar necessidades! Gostaria de ter um estilo de vida mais simples, mais austero. No fundo, mais cristão. E ensinar esse estilo de vida aos meus filhos. Dou-me conta de que o excesso de bens estragou-lhes um pouco a educação. A minha mulher pensa o mesmo. E também estamos de acordo em que o exemplo é o primeiro modo de educar. Acho que ainda estamos a tempo de mostrar-lhes na prática que é possível viver melhor com menos coisas».
Palavras de um pai de família que nos fazem pensar. A ideia de consumir com mais ponderação parece estar na mó de cima. Sobretudo em virtude da crise que estamos a atravessar. Muita gente tem o desejo real de controlar melhor as suas despesas. Seria uma pena, no entanto, que fosse somente por este motivo. O consumo prudente não é uma simples medida para economizar — é uma condição fundamental para sermos felizes! Oxalá estas circunstâncias sejam um momento ideal para redescobrirmos isso.
Necessitamos do dinheiro para viver. Disso, ninguém tem dúvidas. Mas identificar a capacidade de gastar com a felicidade é um erro funesto. Uma vida feliz está muito mais relacionada com a qualidade das nossas relações com Deus e com os outros do que com as coisas que tenhamos ou que possamos vir a ter. Para um cristão — e também para qualquer pessoa sensata — não se trata somente de reduzir o consumo, mas de aprofundar em como vai a nossa relação com os bens materiais. Descobrir modos de usá-los como aquilo que são: instrumentos, não fins. Pedir a Deus que o nosso coração não se apegue àquilo que por definição é passageiro e caduco.
O dinheiro não garante a qualidade de vida. Nem garante, evidentemente, a qualidade da educação. Quantas vezes, na educação dos filhos, o problema não é a falta de dinheiro mas o excesso dele? Quantos pais enchem os seus filhos de presentes porque não têm tempo para estar com eles? Talvez a motivação para actuar deste modo seja boa — longe de mim pôr isso em causa! No entanto, não é um modo correcto de educar. Na educação, o tempo não se pode substituir pelo dinheiro nem pelos presentes.
O dinheiro mal gasto estraga a educação dos filhos — e estraga a capacidade dos pais para educarem correctamente. Quantos pais dizem que é preciso ter poucos filhos — um, no máximo dois — para poderem gastar mais com eles e dar-lhes assim uma melhor educação! Mais tarde, dão-se conta de que essa atitude complicou — e muito! — a educação dos seus filhos. Começam a pensar que os filhos teriam sido mais bem educados com menos dinheiro e mais irmãos.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

ECCLESIA

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publicado às 04:25

Tema do 6º Domingo do Tempo Comum - ANO B

por Zulmiro Sarmento, em 12.02.12



A liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos um Deus cheio de amor, de bondade e de ternura, que convida todos os homens e todas as mulheres a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Ele não exclui ninguém nem aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação ou de marginalização dos irmãos.
A primeira leitura apresenta-nos a legislação que definia a forma de tratar com os leprosos. Impressiona como, a partir de uma imagem deturpada de Deus, os homens são capazes de inventar mecanismos de discriminação e de rejeição em nome de Deus.
O Evangelho diz-nos que, em Jesus, Deus desce ao encontro dos seus filhos vítimas da rejeição e da exclusão, compadece-Se da sua miséria, estende-lhes a mão com amor, liberta-os dos seus sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do “Reino”. Deus não pactua com a discriminação e denuncia como contrários aos seus projectos todos os mecanismos de opressão dos irmãos.
A segunda leitura convida os cristãos a terem como prioridade a glória de Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo supremo deve ser o de Cristo, que viveu na obediência incondicional aos projectos do Pai e fez da sua vida um dom de amor, ao serviço da libertação dos homens.


Padres Dehonianos

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publicado às 04:38

DIA MUNDIAL DO DOENTE

por Zulmiro Sarmento, em 11.02.12

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publicado às 03:50

‘Famílias com esperança’ – projeto e desafio

por Zulmiro Sarmento, em 10.02.12

Atendendo às circunstâncias dos nossos dias e, sobretudo, aos momentos de debilidade em que muitas das famílias se encontram, surgiu, em consonância com a auscultação daqueles problemas, um projeto de resposta, intitulado: ‘famílias com esperança’.
Tem este projeto um espaço concreto: a Moita (paróquia, concelho e, talvez, a sua envolvência sócio-cultural)... embora aberto e, tanto quanto exequivelmente, atento à realidade expectante...

Embora possa não trazer grandes inovações, poderá, no entanto, colocar lembranças noutros grupos – sobretudo relacionados com as questões da família, tanto movimentos como iniciativas esporadicamente organizadas – em ordem a sabermos interpretar o mais ousadamente possível os sinais de cada tempo e a necessidades de cada lugar.

= Linhas do projeto
Partindo do diagnóstico feito às questões relacionadas com a família, o projeto ‘Famílias com esperança’ pretende apoiar famílias carenciadas com crianças até aos cinco anos, envolvendo ainda mães jovens e/ou adolescentes, através da oferta ou empréstimo de bens materiais para bebé e criança, bem como apoio jurídico, moral e espiritual.
Constituem ‘Famílias com esperança’ aquelas pessoas que sentiram a necessidade de dar resposta às carências de determinadas famílias com crianças e com problemas de solução mais adequada.
Bens que podem/devem ser entregues, doados ou emprestados: cama de bebé/criança, alcofa de bebé, banco de automóvel, calçado, roupa, carrinho de bebé/criança, material escolar, descartáveis, etc. Em geral, aqueles bens que ainda se encontram em bom estado e que sobram dos mais pequenos, que, entretanto, crescem...
A forma de participar neste projeto de ‘Famílias com esperança’ pode acontecer através da entrega e doação de bens, empréstimo, bem como através de donativos em dinheiro ou disponibilizando algum do seu tempo.

= Caridade inventiva e interventiva
Na linha dos ensinamentos do magistério da Igreja católica, este e outros projetos podem inserir-se na perspetiva da caridade inventiva, pois se os problemas são, cada vez mais, diversificados, também as respostas podem e devem ser melhoradas, tendo em conta os desafios de cada tempo, de cada terra e, mesmo, de cada sensibilização aos problemas próprios e alheios.
Temos – urgente, serena e habilmente – de criar novos espaços em que a linguagem da proximidade seja capaz de fazer milagres, pois, do coração atento, surgirão sempre novos sinais de caridade à maneira dos primeiros cristãos... tinham tudo em comum e não havia necessitados entre eles.
- Em cada rua temos de estar mais atentos uns aos outros, respeitando a vida de cada, mas interessando-nos muito para além do mero egoísmo bisbilhoteiro.
- Em cada prédio precisamos de viver mais em consonância – muito para além dos interesses do condomínio ou do controlo do barulho fora de horas – com as pequenas proximidades de vizinhança, dando e recebendo sem nada esperar em troca.
- Se tentarmos resolver os problemas à nossa porta, toda a aldeia, vila ou cidade poderá ser mais harmoniosa, pois do bem-estar de todos também nós colhemos os frutos e do sucesso alheio pode beneficiar cada um.

Não resistimos a citar, mesmo que de cor, esse pensamento lapidar do Padre Américo, da ‘Obra da rua’: cuide cada terra dos seus pobres... e teremos menos empobrecidos!
Basta de fazer do Estado o pai – mal-amado, defunto e enterrado – coletivo e social, pois com tal padrasto continuaremos a ser mal-tratados e andaremos em resmungice permamente.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)

ECCLESIA

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publicado às 04:41

NADA de NADA!

por Zulmiro Sarmento, em 09.02.12

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publicado às 10:52

Tempo para patriotas, não para cabeçudos

por Zulmiro Sarmento, em 08.02.12

 

Muitos portugueses ainda não terão entendido bem a gravidade da situação nacional, e o perigo de bancarrota que nos espreita, menos ainda as consequências de tal acontecimento. Seja qual for o desenlace, o certo é que vivemos uma mudança de paradigma, uma esquina da História, daquelas que inevitavelmente marcarão por muitos anos os manuais escolares do ensino obrigatório.
Agora, virem  os líricos que nos conduziram a esta desgraça liderados pelo herdeiro Seguro, reclamar contra o corte da "tolerância de ponte" do Carnaval, uma festa confrangedora, uma exibição patética de pobreza que algumas autarquias teimam em queimar euros que não possuem, parece-me trágico no mínimo. O mesmo juízo aplico aos que julgam a “medida certa no tempo errado”: num país em vias de extinção, dependentes por um fio de cabelo dos credores estrangeiros que vão mantendo dinheiro a circular nas nossas caixas de multibanco, numa república sem economia, sem qualquer autonomia energética, sem indústria, agricultura ou pescas, dependente dos outros nos bens mais básicos, que penhora o feriado da independência perante a indiferença geral, estas vozes parecem-me profundamente desafinadas com a realidade. Oh gente, que se lixe o Carnaval, deixemo-nos de cabeçudos, mãos à obra e restauremos Portugal!

 

P.S.: Hoje o Carnaval, com os seus traços de frivolidade, folgança e luxúria impera em todo o calendário de festividades: a mais radical diversão e toda a espécie de devaneios, fantasias e alienações, encontram-se disponíveis no mercado, todos os dias a todas as horas, para todas as bolsas. Isso explica o patético espectáculo em que caíram estas descontextuadas e incaracterísticas festas, alimentadas e mantidas em desespero por algumas teimosas autarquias. Um confrangedora exibição de pobreza.

 

Do blogue do Sapo, Corta-fitas

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publicado às 04:09

A sociedade das incertezas...

por Zulmiro Sarmento, em 07.02.12

Todos sabem que Eduardo Lourenço, um dos grandes pensadores do nosso tempo e um dos melhores expoentes da nossa cultura, foi galardoado recentemente com o “Prémio Pessoa”. Não sendo propriamente um católico assumido, bem ao contrário, ouvi-o há tempos afirmar numa rádio, assumidamente, a seguinte mensagem que me permito redigir ao meu jeito: Até ao protestantismo do século XVI e ao racionalismo do século XIX, havia regras de vida, certezas de pensamento, esperança no futuro, consolação nas tristezas e força nas dificuldades. Tudo tinha sentido. Tudo estava explicado. Nesses tempos, os portugueses tiveram força para ir pelo mundo levar a Fé e construíram igrejas por todo o lado. O homem vivia mais sereno e mais feliz: tinha consigo as certezas da Fé… as verdades da religião…e a esperança da eternidade. Quando o racionalismo pôs em causa essas verdades, contestou esses dogmas e fez ruir essas certezas, retirou às pessoas as referências fundamentais e lançou a humanidade numa era de dúvida, de incerteza e de vazio. Pensando bem, que nos deram eles em troca? Nada! Agora, não há certezas…não há verdades…não há Deus…não há nada de verdadeiramente seguro e certo. Estamos condenados ao vazio, mergulhados na incerteza, e somos herdeiros da desesperança. A confirmar estas afirmações, veio um estudo recente dizer-nos que cerca de 25% dos portugueses, incluídos muitos que católicos praticantes, já não acreditam na vida para além da morte. À dúvida metódica dos filósofos, sucedeu depois a dúvida existencial do homem da cátedra e da pessoa da rua. A verdade porém é que, se nos falta esta visão do futuro e esta perspetiva do amanhã, ficamos sem horizonte no viver e sem esperança no morrer. Se perdemos a fé em Deus, Criador, Pai, Amigo e Redentor, e desprezamos a Sua Mensagem e a Sua presença em nossas vidas, ficamos à mercê das opiniões dos filósofos, vamos a reboque dos nossos efémeros instintos, e caminhamos na obediência às nossas pobres veleidades. Se entretanto falharmos na vida e precisarmos de alento e de perdão, quem nos virá ajudar? E quando a nossa saúde se esvair, as nossas vaidades se diluírem, e os nossos anos se aproximarem do fim, o que vai esperar cada um de nós? Uma personagem de Hemingway, perplexa, perguntava a um dado momento: “Agora que não há Deus, quem nos perdoará? Agora que não há Deus, quem nos vai salvar e acolher”? Nós que temos a graça de acreditar em Deus e nas verdades eternas, sabemos de quem viemos, para onde nos dirigimos e por onde devemos caminhar. Nós, os que continuamos a crer e a adorar, sabemos que Deus existe, que Deus nos vê, que Deus nos ama, que Deus nos ajuda, que Deus nos perdoa, que Deus nos espera, e que Deus nos irá acolher um dia como um Pai acolhe um filho que regressa a sua casa. Como nos sentimos bem assim! Para mim, as opiniões dos filósofos não passam de opiniões: só as acompanho por curiosidade intelectual. Ao contrário, as verdades da Fé são a minha certeza profunda, o meu arrimo reconfortante, e o penhor seguro do meu presente pleno de sentido, e do meu futuro cheio de esperança. Dou graças a Deus! E sinto-me bem assim!

Resende, 2 de Fevereiro de 2012

J. Correia Duarte

ECCLESIA

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