por Zulmiro Sarmento, em 04.01.12
Um destes dias cruzei-me na rua com uma figura política conhecida no espaço onde agora vivo. Depois de breves frases de circunstância, o senhor rematou: ‘boas festas!’
Fiquei a pensar no que podia significar tal desejo, visto que – tanto quanto se sabe – o senhor que tal expressão manifestou não é crente em Deus, embora ocupe um lugar de destaque na sociedade politico-autárquica... e pretenda ser bom cidadão.
- Embora este desejo de ‘boas festas’ ande no andar: que poderá significar tal pretensão, à luz do (não) Festejado no Natal?
- Se bem que este desejo de ‘boas festas’ possa resumir uma espécie de anseio: que alcance poderá ter para quem não reconhece que o (tal) Aniversariante nos faz irmãos?
- Atendendo a que o desejo de ‘boas festas’ pode incluir um (quase) ritual social: que significado poderá envolver, se fazemos festa a nós mesmos, desconhecendo Quem motiva a pretensa festança?
= ‘Boas festas’ de quem?
Na medida em que a sociedade se foi descristianizando, urge recolocar as referências do Natal nas palavras e no comportamento pessoal, familiar e coletivo: este é o aniversário do nascimento de Jesus, acontecido em Belém da Judeia... com o qual se fez a divisão da era histórica e social – antes de Cristo e depois de Cristo – Ele é a marca divisória inclusiva e universal. Com efeito, por muito que se enfadem certas correntes filosóficas, culturais e/ou exotéricas, ninguém divide o tempo da História entre antes ou depois de Marx, de Freud ou de Nitzeche, de Sócrates ou de César... Nem certas correntes agnósticas e (pseudo)-ateias conseguirão excluir da mentalidade as referências a Jesus Cristo, pois, muitas vezes, fazem-no por oposição a Ele, tendo de reconhecer a Sua existência e a sua influência na cultura... desde há mais de vinte séculos.
Nem a bizarra figura do ‘pai natal’ conseguirá interferir na prossecução do advento de Cristo, pois quem está subjacente àquela figura é – nem mais nem menos – um bispo católico (São Nicolau), embora explorado, no início da década de trinta do século vinte por uma marca de refrigerantes americana. Não deixa de ser sintomático que possamos refletir – neste nosso tempo dito de ‘crise’ – sobre essa ‘grande depressão’, que se abateu sobre o mundo entre as duas grandes guerras. Pode(re)mos agora exorcizar esse símbolo do consumismo, dando espaço e oportunidade ao verdadeiro sinal que celebramos no Natal.
= ‘Boas festas’, porquê?
Quando tantos e muitos dos nossos concidadãos passam dificuldades de vária ordem – económica e financeira, familiar e de emprego, alimentar e sobre as rendas de casa, etc. – porque havemos de desejar ‘boas festas’, se estas são mais alienação do que motivo de celebração. De fato, quando a ‘crise’ faz encolher os gastos e turvar o semblante das pessoas, será sinal de que as ‘boas festas’ estavam, sobretudo, centradas em coisas e não ideais ou sob objetivos de vida consentâneos com a fé.
Efetivamente, as luzes eram mais para nos seduzir e enganar e não para nos alumiar a partir de Cristo, luz do mundo e centro da nossa fé cristã.
Eis chegada, então, a oportunidade de viver o espírito do presépio – esse espaço de pobreza e de desafio à complexidade do nosso mundo – numa atitude de simplicidade, vivendo centrados no essencial, sem enfeites ou papel luzidio... onde muito se vende e tão pouco se vivencia.
Queira Deus que saibamos aproveitar este momento histórico e espiritual de entrarmos no novo ano com nova energia – 2012 é o ‘ano internacional da energia’ – dando nova condição à paz, educando – como diz o tema da mensagem do Papa Bento XVI para a celebração do dia mundial – os jovens para a justiça e para a paz.
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
AGÊNCIA ECCLESIA
Autoria e outros dados (tags, etc)